Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Um pouco sobre Mitologia Canavar...


O Baile dos Monstros é o estopim, o pai e a mãe da Mitologia Canavar.

Seu conceito foi criado em meados de Março de 2010 e desenvolvido ao longo do ano, sofrendo diminuições e acréscimos em seu texto e seus detalhes, transformando-se aos poucos na obra final, na peça de teatro “Canavarlar – O Baile dos Monstros”.

Antes de qualquer coisa, você precisa saber a origem da palavra Canavar, que vem do turco e quer dizer “monstro”, tendo “Canavarlar” como seu plural, ou seja, “monstros”. O primeiro personagem a ser criado foi Lilith, o Rei dos Monstros, que surgiu para mim num delírio noturno sob uma febre alta que me fez enxergar as estrelas e o espaço. Ele já havia feito outras aparições em meus devaneios aleatórios que geralmente ocorrem em casa deitado na cama ouvindo música ou dentro do ônibus na volta para casa. Mas nada a seu respeito havia sido registrado antes, sua aparência, seu significado ou seu conceito, exceto uma pequena metáfora feita por mim em um dos meus manifestos escritos para este blog, que relatam um pouco da minha vida e refletem a respeito do acontecimento. O excerto da postagem “Monstro”(http://antonioquem.blogspot.com/2010/03/monstro.html) deste mesmo blog diz o seguinte:

“Às vezes vejo a minha arte como um grande monstro, um monstro perigosíssimo e sanguinário, confinado na gaiola que essa cidade calorenta é, e sem nenhuma esperança de fuga, me sinto preso, sinto na minha alma uma fera acorrentada, uma fera em quem atiram frutas e pedras o tempo todo. E enquanto o ônibus Buritizal-São Camilo faz a curva numa esquina, saindo da Avenida FAB, imagino esse monstro se soltando da corrente para correr o mundo, se alimentando da alma e da essência do que é belo e do que é magnífico, alimentando-se da música, do conhecimento, da arte e da cultura. Meu monstro interior está faminto por liberdade e por poder. E ao se soltar das correntes, tenho certeza de que irá dominar o mundo (...)”

“Eu poderia comer arte, respirar a arte, viver somente dela. Poderia largar tudo pela arte se meu futuro e meu sucesso fosse certo, e com o meu poder eu esmagaria a cabeça de todas as serpentes que silvam pra mim quando eu atravesso a sala de aula.

Parece tudo tão brilhante e grandioso.

Às vezes eu fecho meus olhos e imagino tantas possibilidades. Acho que isso vai acabar me matando um dia.

Mas e então? Como fica meu monstro? Se eu não sonhar com a arte, ele vai passar fome, e é capaz de, num acesso de raiva, ele dilacerar-me por dentro.

O que fazer a respeito?”.

Sinto que no momento em que escrevi isto, havia dado vida a algo que eu próprio desconheço até hoje. Esta foi a primeira citação, a gênese de Lilith, o Rei dos Monstros, uma manifestação de mim mesmo, um alter-ego, uma das minhas múltiplas personalidades, uma metáfora criada a partir de um sentimento meu, de um desejo por liberdade (contrariando o que a minha professora de Sociologia da Arte defende com afinco em suas aulas: a arte pensada, e não sentida, fruto do pensamento e não do sentimento. A arte pode ser fruto do sentimento sim, e assim ela se torna infinita, sem começo nem fim, como meu Lilith, eu Lilith).

Aos poucos fui trabalhando aquela ideia, aquela metáfora, e dando forma ao personagem, contextualizando-o. Surge então o primeiro ato da peça, embalado ao som de Pagan Poetry de Björk, Lilith aparece pela primeira vez concretizado em minha mente, acorrentado pelos tornozelos e pulsos por pesadas correntes. Vestido em seu quimono branco, vendado por uma renda vermelha de onde pendem sementes rubras de Lágrimas-de-Nossa-Senhora, muito encontradas nas calçadas da cidade, uma alma torturada, vítima do conformismo e do controle mental exercido pela sociedade, coroada por uma coroa magistral onde quadro círculos dourados se encaixam perfeitamente em sua áurea, brilhando de forma divina e ao mesmo tempo demoníaca.

Lilith foi acorrentado no começo da Era dos Monstros, quando um grande terremoto sacudiu a terra e trouxe as criaturas, seus discípulos, para este mundo, onde eles proliferaram e prosperaram, montaram cidades e ocuparam o lar que antes era dos humanos. Uma ditadura misteriosa estabeleceu-se após a queda de Lilith, e os monstros, criaturas selvagens, entidades míticas, espíritos mágicos, seres livres, foram forçadas a seguir as ordens superiores tendo em vista que agora seu soberano estava preso. Eles sequer protestaram, e logo se acomodaram a uma vida sem grandes festas, festivais e cerimônias em homenagem aos seus deuses e reis adorados, cheias de comes e bebes, danças, cânticos e o sagrado sexo (para os monstros, o orgasmo é uma forma de se conectar com o divino). Logo foram tomados por uma rotina constante e monótona, onde todos cooperam para uma sociedade capitalista e moralista cheia de regras e valores sem fundamento lógico que esbarram na liberdade de expressão, algo que passou a não existir.

E então, numa conversa pelo messenger, acabei soltando essa ideia para meu querido amigo, companheiro intelectual, Andrew Oliveira (que como eu também possui um alter-ego, Black Cherry), e juntos trabalhamos essa ideia e moldamos o que chamamos posteriormente de Canavarlar – O Baile dos Monstros. O segundo personagem a ser criado foi Corona Solaris, batizado por mim e caracterizado pelo próprio Andrew, Corona Solaris é o irmão mais próximo de Lilith: Lilith é filho das sombras, Corona é filho da luz. Um rege a Lua, o outro rege o Sol. Lilith é mais introspectivo, Corona é mais externo. Um é o contrário do outro. Assim, o segundo ato da peça foi escrito, mostrando o nascer do sol e a indignação de milhares de anos sendo posta para fora numa tempestade solar, um protesto contra seu irmão acorrentado.

Os outros personagens foram todos criados por mim aos poucos para montar o panteão do que mais tarde viriam a ser verdadeiras divindades de um novo folclore!

Pandora foi a terceira a ser gerada, é praticamente gêmea de Lilith, possuindo as mesmas longas garras douradas que o irmão mais velho ostenta, em tamanho menor. Trata-se de uma vampira oriental originalmente criada especialmente para ser interpretada por minha alto-estimada amiga Naomi Sakaguchi, carregando 10.000 anos de idade em suas costas, já alimentou-se de tanto sangue que já não precisa matar para viver, perdida nos séculos, acaba sozinha em uma velha mansão, precisando de companhia, e como o mundo neste futuro distante é habitado tão somente por monstros, ela decide optar pela companhia de uma máquina na ausência de um humano, e decide comprar um robô, pelo qual ela se apaixona.

Após várias tentativas, ela percebe que não há como fazer o coração de borracha de uma máquina sentir como um se humano, então ela decide procurar seu irmão mais velho, Lilith, acorrentado no princípio das eras no Templo Dourado da Montanha Auriel pela ditadura que abateu-se alguns séculos após a grande revolução que trouxe os monstros para a terra e difundiu as raça das criaturas através dos continentes.

A quarta criatura, ou a irmã do meio, é Akasha (antes Enkil, – homenagens à Anne Rice a parte – optou-se por uma personagem feminina para equilibrar a quantidade de homens e mulheres entre os Reis Monstros, tendo em vista que Lilith é hermafrodita, a intenção era manter um número par: dois homens, duas mulheres), uma criatura alienígena, princesa espacial e filha das estrelas, veio para a terra e tornou-se a mãe da arte clássica, inspirando artistas ao longo dos séculos em segredo; é calma, doce e delicada, possui um coração enorme e uma bondade divina, e por este motivo recusou-se a assumir um posto como deusa nos tempos antigos, como fizeram seus outros irmãos.

Estava em um sono profundo em seu sarcófago quando foi despertada pelo terremoto que sacudiu a terra e trouxe os monstros discípulos de Lilith para esta dimensão, e aos poucos foi se revoltando contra a postura cômoda perante a ditadura que surgiu após a grande revolução. Decidiu então libertar seu irmão Lilith das suas correntes, sua intérprete original é Raíssa Stéphanie.

A quinta criatura é um grande ponto de interrogação. Os quatro primeiros Reis Monstros são irmãos não de sangue, mas talvez de alma, fruto da mesma consciência, da mesma essência, seres que decidiram existir a partir do primeiro princípio da criação, uma única força de vontade que dividiu-se em quatro e gerou-os em pontos diferentes do infinito. Mas a quinta criatura é um grande mistério, gosto de chamá-lo de “irmão adotivo” dos quatro Reis Monstros. Essa criatura é Marduk, O Babilônio. Marduk era um deus do panteão babilônio que matou a draga Tiamat para vingar a morte de seu pai, e assim foi adorado pelo povo do oriente médio durante muitas eras, mas após a morte dos velhos tempos, ele se viu sozinho e sem súditos.

Decidiu então hibernar e esperar que as eras passassem e os velhos tempos voltassem, e realmente aconteceu, um grande terremoto sacudiu a terra e o despertou de seu sono. Pronto para ser adorado como deus outra vez, ele saiu finalmente, e deu de cara com um mundo habitado por criaturas que eram suas semelhantes, mas que estavam sob o domínio da ditadura. Boatos o levam até Auriel, onde a última esperança da raça monstruosa estaria acorrentada, lá ele encontra Lilith e decide libertá-lo.

Os quatro deuses então se reúnem no Templo Dourado no topo da montanha mais alta do mundo, aquela que desceu dos céus no início das eras e sacudiu a terra com a sua queda, aquela que os monstros chamam de Auriel. Lilith jaz como uma estátua, acorrentado. Os elos então são quebrados e uma grande tempestade se abate sobre os quatro cantos do globo, este é o sinal de que o Rei está livre, e os monstros ao redor do mundo se reúnem para uma grande comemoração. Para assumir sua coroa outra vez e assentar-se no trono como Rei dos Monstros, Lilith então decide dar um grande baile em homenagem ao seu povo (costumamos dizer que o personagem principal da peça é o Baile!), mas algo está errado, algo está estranhamente errado...

Esta é a base da Mitologia Canavar, a história ao redor da qual orbitam Yellow e Oráculo das Feras.

Ambientalização:

O ano é 3939 d.C., a cidade é Babel, uma grande fortaleza interdimensional. A peça se passa num futuro estranho e utópico, onde criaturas de todas as formas e tamanhos convivem sob uma ditadura em uma sociedade altamente tecnológica, são forçadas a usar branco no seu dia-a-dia e a se comportarem como os humanos se comportavam, trabalhar em empresas, frequentar a escola e aderir ao comodismo do capitalismo. Imaginem górgonas, ciclopes e ogros, entre outros monstros vivendo neste dia-a-dia humano banal e tedioso.

Quando criei o conceito de Babel, mais especificamente de seus habitantes, imaginei uma mistura do Mercado Troll de Guillermo Del Toro (Hellboy II – O Exército Dourado) com o vídeo “Stranger Than Kindness” da Fever Ray. Percebe-se em Oráculo das Feras que Babel estava bem longe de ser essa metrópole altamente desenvolvida descrita na peça: antes de vir para o mundo humano, Babel era uma cidade clássica habitada por diversas entidades menores que viviam em harmonia num constante festival. Repleta de feiras, bordéis, teatros, oficinas, funilarias, joalherias e grandes mercados de itens raríssimos, Babel não se trata somente de uma grande cidade ao velho estilo mercante como os grandes impérios gregos e persas: é também um grande país oculto que paira sobre o Mundo Oráculo. É descrita pela primeira vez em Oráculo das Feras Pt. 1, visitada pela personagem Minerva que vai até lá em busca de ajuda e acaba recebendo uma missão de seus deuses (http://www.soldeandrew.blogspot.com/).

No futuro, após descer ao mundo humano, a mescla de culturas e costumes transforma Babel numa grande metrópole altamente tecnológica, onde velhas construções milenares dividem espaço com edifícios futurísticos de arquitetura arrojada. Ou seja, algo inimaginável, quem sabe um dia algum diretor de cinema consiga adaptar esse mundo que nós criamos para as grandes telas! Enquanto isso, nós fazemos da nossa imaginação a produção cinematográfica e deixamos fluir...

Atualmente:

Nos dias de hoje, a Mitologia Canavar vem sendo muito trabalhada nesta parceria entre mim e Andrew, novos mitos, novos heróis, novos deuses, novos demônios, novas entidades e novas lendas são acrescentadas dia após dia, frutos da nossa mente doentia. Altamente inspiradas pelo surrealismo presente em grande parte do conteúdo visual contemporâneo de vídeo clipes, ilustrações e na moda, a Mitologia Canavar evolui e toma proporções gigantescas a cada nova palavra escrita na poesia e nos contos referentes aos Reis Monstros e sua cosmogonia. Temos uma pequena noção do que criamos, porém há a certeza da existência de algo muito maior por trás de tudo isso.

Eu em particular creio muito na existência do subconsciente coletivo, acredito que tudo o que criamos e imaginamos já exista em um outro plano, e nós, meros instrumentos do universo, servimos como portal para essas informações. Em algum lugar aí fora, os Reis Monstros aguardam a hora de reinar... Quem sabe o futuro da terra não seja realmente a Era dos Monstros?

2012 está chegando, é esperar para ver!





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