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quinta-feira, 3 de março de 2011

Pequena Crítica a Respeito de Born This Way - O Video, por Antonio Fernandes

No começo desta semana, tivemos o début de algo que entrará para a história da indústria musical (se já não estiver constando nos anais neste exato momento), e quem sabe, ou talvez com toda a certeza, entre para a história da arte visual contemporânea.
Lady Gaga provou mais uma vez que dela nós jamais saberemos o que esperar, esta mulher consegue se mostrar uma verdadeira caixa de Pandora, a esperança que veio salvar o mundo da pobre e superficial música pop do dito “mainstream”. O que víamos antes desta mulher aparecer em toda a sua bizarrice? Clipes repetitivos com coreografias manjadas e a visível falta de apelo visual, de produção dos grandes artistas. Como costumávamos ver nas décadas de 80/90, quando se faziam verdadeiras grandes produções para faixas musicais de determinado álbum. Devemos isto ao Rei Michael Jackson, que reinventou a música tornando-a também visual, dando um gosto e uma expectativa à mais para o que antes era simplesmente audível: agora é visível também.
Em resumo, do final dos anos 1990 pra cá não havia surgido nada tão marcante, nada tão impactante no mundo audiovisual. Os videoclipes não mais mexiam com o espectador como antes, nos tempos áureos de Michael e Madonna, quando os vídeos dos artistas eram uma experiência à parte da música, dando forma e cor a ela. Tudo estava muito parado, muito calmo, muito quieto. Duvido que alguém saiba me citar algum videoclipe que tenha marcado tanto ou que tenha sido diferente o bastante para ser relembrado como “Thriller” foi na década de 1980 neste período entre o começo dos anos 2000 até agora. Ninguém saberá, porque simplesmente não existe, porque tudo tornou-se obsoleto e enjoativo após a estreia de Lady Gaga.

Após a vinda desta mulher para os holofotes, o gosto pelo que era comum, pelo normal, o gosto pelo convencional característico das grandes massas foi esmaecendo (e ainda está em processo de esmaecimento), e o público agora quer mais e mais, mais apelo visual da parte de seus artistas. Se algo sai do forno simples demais nos dias de hoje, o público reclama, chia, sente falta daquele brilho, daquele glamour, e isso é visível em todos os fóruns da internet. O minimalismo está morto, e já entrou em decomposição.
Os vídeos de Lady Gaga foram um estalar de dedos para os artistas que faziam música simplesmente por fazer, ela veio com tanta paixão e tanta vontade que pegou a todos completamente desprevenidos. Inconscientemente ela estava dizendo: “Ei, acordem! O mundo mudou! Vocês estão perdendo o fio da meada! Acordem, porque vocês estão perdendo o espaço!”. Antes disso, tudo era o desenrolar de um novelo entediante e repetitivo de robôs coreografados pela mídia. Não se pode negar o impacto cultural que ela teve na cultural mundial, ela não só revolucionou o mundo da música como também o mundo da moda, ela está engatinhando ainda e já tem um nome de peso como ícone cultural.
Não estou dizendo que ela faz o que ninguém nunca fez. É claro que houveram outros antes dela, os pais, os padrinhos de Lady Gaga: Michael Jackson, Prince, David Bowie, Madonna, Kylie Minogue, Cindy Lauper e até mais recentes como Britney Spears, a eterna princesa do pop (embora alguns fãs leigos insistam em criar caso e incentivar uma competição imaginária entre as duas artistas, e que isto infelizmente esteja rendendo muito nos fóruns da internet), todos eles já fizeram coisas parecidas com o que Gaga está fazendo agora, no início de suas carreiras. O que eles fizeram foi tão impactante na época quanto o que ela está fazendo agora, o que acontece atualmente é a “reinvenção” do pop propriamente dito, o resgate do brilho anterior que o gênero possuía.
E levamos um soco daqueles, bem no meio da cara, quando assistimos ao mais novo trabalho da artista, “Born This Way”, e ouvimos comentários como “grotesco”, “nojento”, “ridículo”, “satânico”, “esquisito”, “horripilante”, “perturbador” e outros que me fogem à mente agora... Ora, querem mesmo saber? Da minha parte, eu não vi nada demais no vídeo, pelo contrário, achei ele delicioso de se ver, todo aquele jogo psicodélico e caleidoscópico de cores e formas me deixou em um estado de êxtase profundo, e pra falar a verdade, ali não havia nada que Björk ou Marilyn Manson já não tivessem feito anos antes.
O que vemos nele? Vemos Gaga de mãe alienígena parindo criaturas no meio do espaço, dando a luz àquilo que ela chamou de “a nova raça” ou “a nova geração” dentro da raça humana, uma raça feita de puro amor, sem preconceitos e livre de qualquer estigma ou dogma. “E o nascimento não era finito, era infinito, e quando percebeu-se a magnitude daquilo, viu-se então que era eterno”, diz Gaga na introdução de quase 3 minutos, nesta “intro” ela diz também que simultâneo a este nascimento, houve o nascimento do mal, e a mãe eterna viu-se em agonia girando entre duas forças poderosas (o bem e o mal), lutando para defender a sua cria (no caso, os fãs, que ela tanto ama) – pausa para Gaga tirando metralhadoras da vagina – mas então ela se perguntou: “como defenderei algo tão perfeito sem o mal?”. E este é só um resumo superficial do que ela chamou de “Manifesto Of Mother Monster” – uma espécie de resposta ao “Manifesto Of Little Monsters”, um interlúdio presente em sua turnê “The Monster Ball Tour 2.0” – logo no início do vídeo.
E então vemos o comum de todos os vídeos pop: uma coreografia e muita gente se esfregando no meio do escuro, até aí nada demais, exceto pelo fato que vinha sendo muito criticado desde a divulgação da capa do single: o uso de chifres e protuberâncias por Gaga em sua testa, rosto e ombros. Ora, será que a ficha ainda não caiu? “Born This Way” quer dizer “Nascido Assim”, e ela usa este artifício visual com a finalidade de mostrar que as aparências não importam, se você nasceu desse jeito, feio ou belo, se Deus lhe fez assim, porque não se amar do jeito que você é!

O abuso visual do grotesco pela artista no vídeo é uma crítica visível à estética atual da valorização do belo, da ultra valorização do que é bonito, do que é visivelmente agradável, o que acarreta numa adoração da falsa imagem do perfeito, tendo em vista que nada é perfeito, e por este lado eu achei o videoclipe brilhante! Sempre fui um admirador de esquisitices e de coisas fora do comum, do “inconvencional”, e sempre critiquei a venda pela mídia da imagem dos rostos perfeitos, dos corpos perfeitos, do que é impecável. Ninguém é assim, então porque vender esta imagem? Ponto para Gaga, que está mostrando que o que é feio também tem espaço na mídia, e também pode ser vendido no mercado como imagem. A aceitação estética do feio pela nossa sociedade é uma meta ainda a ser alcançada num futuro não tão distante, e Gaga talvez seja o ponto de partida desta iniciativa, o pontapé inicial. Chegará um tempo em que o que é diferente ou feio não será mais marginalizado, será aceito porque assim foi feito.

Ora, essa revolução na estética começou há muitos anos atrás, ou até mesmo há séculos atrás, então porque está sendo criticada agora, a esta altura do campeonato? Os movimentos do modernismo e do cubismo quebraram totalmente aquele velho conceito das artes plásticas em que tudo o que era pintado nas telas tinha de representar fielmente a realidade nos mínimos detalhes, a dita perfeição. E quando surgiu, as críticas foram ferrenhas! As pessoas achavam aquilo pura insanidade! Um aglomerado de rabiscos e borrões sem sentido algum, diziam. E Pablo Picasso com suas pessoas deformadas? Achavam aquilo grotesco no começo, nojento, algo perturbador que não podia ser admirado por muito tempo sem enlouquecer tentando entender. E com o tempo esses velhos conceitos de estética foram mudando, e aqueles que foram tidos como loucos numa hora foram concebidos como gênios no futuro, alguns até mesmo depois da sua morte, como Hyeronimus Bosch e sua tríptica “O Jardim das Delícias Terrenas”. Ora vejam só, Bosch na idade média pintava coisas fantásticas e inimagináveis, monstros e criaturas aterrorizantes, paisagens perturbadoras para a mente pequena daquela época, no auge do domínio da Igreja Católica. Disseram que ele estava possuído pelo demônio ao pintar tamanha afronta como aquela!
Demônio? Ora, não me venham por a culpa em criaturas imaginárias do folclore cristão! Isto se chama visão de mundo, meus caros, o olhar fixo no horizonte, a cabeça no futuro, mil anos à frente das mentes pequenas e medíocres. No momento, o vídeo de “Born This Way” é tido como uma insanidade sem tamanho, como muitas telas pintadas pelos referidos artistas citados acima foram tidas: “grotescas”, “nojentas”, “asquerosas”, “ridículas” foram chamadas, e hoje são referência em cursos superiores!

Não será hoje nem amanhã e nem depois de amanhã, mas daqui há 30, 40, 50 anos, o que Gaga está fazendo agora será finalmente compreendido e valorizado pelas mentes evoluídas dos nossos netos e bisnetos, ou quem sabe até mesmo dos nossos filhos! Acreditem quando eu digo que num futuro não tão distante, nossos filhos irão conviver com coisas muito mais perturbadoras que “Born This Way”, e acharão isso a coisa mais comum da face da terra. Porque a tendência do homem é se elevar e compreender os pontos de vista.
O que mais me agrada em Lady Gaga é isso. Essa visão de mundo, essa visão mil anos a frente da nossa. Ela se desenvolve de uma forma a tornar-se universal, e está crescendo, tornando-se cada vez maior. O amor que ela tem para com os fãs também muito me comove. Tatuagens, vídeos, letras de música dedicadas a eles, manifestos e tudo aquilo. As críticas virão, cada vez mais, poucos serão os que vão entender o que ela faz até certo ponto, mas em breve o reconhecimento virá. E isso porque eu nem falei da geração pós-Gaga de artistas, filhas de Lady Gaga, aquelas que só tiveram espaço na mídia após o surgimento dela. Algumas são muito boas (Natalia Kills, Jessie J), outras nem tanto (Ke-cifrão-há)... Tá legal, essa aí não é boa mesmo, mas, enfim. Vocês entenderam o que eu quis dizer. Ou pelo menos tentaram.
O próximo single de Lady Gaga provavelmente será “Government Hooker”, e alguns remixes dessa música já estão rolando pela internet. É esperar para ver o que vem por aí!
Continuo admirando e sempre irei admirar o trabalho – tanto visual quanto musical – desta incrível artista do século XXI, banalizada ou não, sempre haverá um espaço no meu coração para Lady Gaga.

E quem falar mal dela perto de mim vai levar um fatality bem no meio do cú! u.u


2 comentários:

  1. Uma coisa é certa, ELA TÁ CONSEGUINDO O QUE QUER, ESCANDALIZANDO TODO MUNDO. Gaga safadinha...

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  2. Sem duvida o pior videoclipe de lady gaga...

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E então? O que achou?