As três novas Wítcharmeds são Stefani (Akasha), Aeon (Fogo e Ar) e Cha-cha Zero (Terra e Água), a garota-robô. A primeira vilã declarada das três é a Feiticeira de Porcelana, um espírito maligno preso num manequim de porcelana cujo único objetivo é destruir o que restou da raça humana. Seus filhos são os Soldados das Trevas, sombras usando máscaras feitas de crânios de animais mortos nascidas das lágrimas da própria feiticeira. A única maneira de destruir o País Flutuante Mecheye é invocando a dragoa ancestral Tiamat, e isto havia custado o corpo físico da feiticeira antes dela tornar-se espírito, porém, na última batalha entre ela e as três Wítcharmeds, seu objetivo é atingido graças à sua falta de corpo físico, e isto a torna portal para a dragoa ancestral, que invade este mundo e junto de seus filhos, domina toda a cidade de Mecheye e escraviza os humanos. A Feiticeira de Porcelana agora é passado...
As Wítcharmeds então fogem do seu país flutuante e acabam descobrindo o País Naufragado de Acqualiss, nas profundezas do oceano logo abaixo da sua cidade! Lá, elas são recebidas com festa, relatam o ocorrido e descobrem que os habitantes daquela bolha gigantesca sempre souberam da existência de outras cidades como aquela que flutuava acima das suas cabeças, mas não sairiam de Acqualiss por ser muito perigoso, mas a elas indicam onde podem encontrar toda ajuda que precisam: nos outros países sobreviventes à catástrofe.
O segundo lugar visitado é o País Lunar Cavios, um palácio chinês colossal construído sobre uma montanha, atormentado frequentemente por uma enguia gigante que de cara é derrotada pelas três garotas. É chamado de País Lunar por possuir uma cidadela tecnológica flutuante que orbita ao seu redor, onde o clã rival vive. A paz então é restaurada naquele lugar, e as três passam a ter um novo companheiro, o misterioso Guerreiro Zero.
O terceiro lugar visitado é a Ilha Le'Monster, um lugar abandonado, morto, esquecido, onde jaz uma mansão velha em ruínas. Para a surpresa dos quatro viajantes, ali habita uma mocinha muito "simpática" chamada Lilly, que vive entre ursos de pelúcia parcos e encardidos. Após uma cerimônica do chá "de brincadeirinha", Lilly concorda em acompanhar os viajantes e lutar contra a tal dragoa malvada, talvez ela não fosse páreo para seus ursos de pelúcia. Lilly tem o poder de dar vida ao inanimado, e anda sempre acompanhada de um coelho rosa gigante que come tudo o que vê, um coelho preto ninja de olhos vendados por um "X" feito de esparadrapo e um coelhinho branco de colo com olhos tristes.
No sótão daquele lugar, o Guerreiro Zero encontra uma bola de pêlos com orelhas de gato e asas de morcego, que quando furiosa vira um monte de dentes afiados violentos. O único som que ela produz é "Berry", por este motivo Cha-cha Zero o batiza com este mesmo nome.
O último lugar visitado é Sky Piear, um lugar onde vivem os anjos e as fadas que foram banidos de seus reinos por tentarem ajudar os seres humanos destruidores da sua própria e merecida destruição. Juntos construíram um país de paz e douçura onde residem até hoje, velando pelos homens através de uma bola de cristal gigante. Lá, o grupo de viajantes Wítcharmed recebe a última benção antes de partir para Mecheye e lutar contra dragoa Tiamat. Trata-se de Straw, uma bola de pelos cor-de-rosa com asas de anjo e orelhas de coelho que só diz o próprio nome. Torna-se companheira de Cha-cha Zero.
Ao retornar encontra árdua, dura batalha, mas enfim eles vencem com a ajuda de Straw e Berry, que se fundem para formar o Grande Usabu, que lhes concede um desejo; o oceano então seca e os seres humanos voltam a viver em terra firme, mas talvez tenha secado demais...
A última saga escrita por mim em 2007 chamada "Wítcharmeds - Alabaster" mostra o que aconteceu ao mundo após o oceano ter secado...
Stefani tornou-se o pilar do planeta terra, protegendo o nosso mundo da desgraça e da destruição, mas quando o poder das suas orações não foi o suficiente, os mares secaram tanto que o mundo inteiro tornou-se um grande deserto sem fim, e toda a vida na terra morreu ou se adaptou de forma estranha. Suas filhas gêmeas, Charlotte e Plasticeen, viviam em paz juntas até que em seu aniversário de 15 anos, Plasticeen revoltou-se, trancou a mãe numa pequenina ampola de vidro com ajuda de magia negra e lançou a irmã na terra, para morrer no deserto. Porém ela não sabia que a mãe havia presenteado a Charlotte o Medalhão da Flor Lilás, que lhe daria sorte em sua jornada. Charlotte perdera a memória, mas fora encontrada pelos caçadores da vila Cogumelo do Deserto (um conjunto de cabanas e prédios construídos a partir de esqueletos de cogumelos mutantes fossilizados) e com alguns cuidados, acabou sendo adotada por dois gentis velhinhos, tornando-se uma caçadora também, sem conhecer outra vida além daquela.
Certo dia, ela encontra um velho baú enterrado, onde jaziam lacrados duas estranhas pelúcias, uma preta e outra rosada, que acionadas pelo poder do medalhão em seu pescoço, criam vida e se apresentam como Straw e Berry, contam-lhe a história das Wítcharmeds e da revolta de sua irmã. Imediatamente, Charlotte volta à vila decidida a invadir o distante Castelo de Rubi para salvar sua mãe montada na carcaça de um pequeno avião ultra-leve, porém Valentine, sua melhor amiga tenta impedi-la e acaba indo junto.
Valentine é uma feiticeira cega, filha do Sultão capaz de produzir água com a ponta dos seus dedos, consequente guardiã da água, mas isso não foi o bastante para manter o avião nos céus. Caíram cedo e logo foram acudidas pela famosa caravana Violet Flag, uma cidade de tendas ambulantes que cruza o mundo levando iguarias, especiarias, artefatos, bebidas, mulheres e muita festa por onde passa. Lá elas conhecem a odalisca Sophie, controladora dos ventos, que impede a aproximação das perigosas tempestades de areia. Torna-se a guardiã do ar e junta-se as duas viajantes e seus bichos de pelúcia falantes.
Por ironia do destino, o tanque do avião estava furado, e as três são forçadas a fazerem uma parada num oásis onde encontram animais de todas as espécies e, ora vejam só, uma tenda de circo! A dona desse circo é ninguém menos que Lilly Le'Monster, uma mulher sem memória que vive para entreter os viajantes que ali se perdem. Desperta o poder da terra e relembra tudo o que viveu no passado como Wítcharmed, segue viajem com as garotas.
Numa cidade digna de faroeste, elas encontram o Guerreiro Lilás, filho de Aeon e do Guerreiro Zero, imediatamente entra em desavenças com a bruta Charlotte que acha que pode mandar sendo uma forasteira, como cherife, ele tinha de dar um basta nela, mas acabou perdendo a aposta e se juntando ao grupo, partindo da cidadezinha de 20 habitantes para o Castelo de Rubi, logo após a Cordilheira da Morte. Torna-se o guardião do fogo.
O grupo invade o Castelo de Rubi e tenta resgatar Stefani, o pilar do mundo, em vão. São capturados e presos em ampolas de vidro como ela. Plasticeen e sua comparsa Princesa Do-ré-mi (que havia sido lacrada num sarcófago abaixo da Esfinge de Gizé e fora libertada recentemente para servir à Plasticeen) então tomam posse do Medalhão da Flor Lilás, a chave para a Cidade Proibida de Mecheye que guarda todos os Ídolos, objetos sagrados que guardam as almas de antigos deuses e que juntos dão poder e vida eterna a quem os possuir. Mas as desavenças entre as duas ocasionam numa batalha perdida pela mimada Plasticeen, a portadora do Olho do Gato, e por muito pouco, Do-ré-mi não abre as portas da Cidade Proibida. Aeon, o Guerreiro Zero e Cha-cha Zero surgem para libertar as novas Wítcharmeds e ajudam na batalha final contra Do-ré-mi, selando-a para sempre em uma dimensão de onde ela jamais poderá voltar.
A ordem mais uma vez foi reestabelecida, os oceanos enchem-se pouco a pouco e a terra floresce de novo, a natureza estava em paz mais uma vez, e cabia ao homem agora manter a paz eterna...
FIM?
Provavelmente NÃO, a ideia principal de As Wítcharmeds era ser uma coisa bem maluca sem pé e nem cabeça exatamente como Power Rangers, sem começo, nem meio, nem fim. Fica a pergunta depois de tudo isso: "isso aí é o que? Uma série televisiva? Um livro?" na verdade, As Wítcharmeds chegaram a ser uma história em quadrinhos que eu desenhava meio que por hobby mesmo. E a ideia principal deste especial de Halloween era assustar àqueles que morrem de medo de leitura! E aí?! Esse texto gigantesco assustou vocês?! Espero que sim, porque escrever tanto o dia todo me deu muito sono! Boa noite e doces pesadelos com letras que não acabam mais!
E FELIZ HALLOWEEN!
domingo, 31 de outubro de 2010
Especial de Halloween - As Wítcharmeds - Parte Final
Especial de Halloween - As Wítcharmeds! - Parte 2
Entre outros vilões enfrentados em 2004 os principais foram a Fada do Mal e Omega Saurus, a vingança de Mr. Saurus que veio para o nosso mundo muito mais poderoso. 2004 foi um ano fraco para a minha imaginação na verdade, eu fiquei mais preocupado com as minhas notas e outras coisas, conhecemos novos amigos e nos distanciamos um pouco, e foi quando eu comecei a criar As Dellabóboras, então me desprendi um pouco das Wítcharmeds para em 2005 voltar com tudo. As primeiras "temporadas" de As Wítcharmeds foram inspiradas em Wítch, Charmed, As Aventuras de Jackie Chan, Digimon, Sakura Card Captors e outras séries animadas e histórias em quadrinhos, a partir de 2005 conheci outras séries que influenciaram bem mais a minha imaginação para continuar brincando de Wítcharmed com as meninas... Vejam só e tentem encontrar as séries inspiradoras...
É o momento em que ela mostra sua verdadeira face e as coisas viram de cabeça pra baixo! Aos poucos, Beatriz e Naiara perdem a memória até esquecerem de tudo o que passaram juntas como guardiãs, até esquecerem aos poucos do próprio Antonio! É o momento em que o Coração da Amizade brilha de novo e elege Pedro, um dos amigos mais íntimos do grupo e pesquisador especializado em bizarrices desde a série anterior, como um guardião, dando a ele o poder do ar, antes pertencente à Beatriz.
Especial de Halloween - As Wítcharmeds! - Parte 1
sábado, 30 de outubro de 2010
2011 vem aí!
Dia 31 é Halloween e eu estou preparando uma postagem bem legal, enquanto isso vou bolando aqui umas ideias!
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Cof, cof
Uma Gucci Baleada
“O mundo da moda parou” – The Sun.
“O tão esperado do ressurgimento da diva das passarelas, Stella Vazjekovzka, termina de forma trágica com o assassinato do veterano Lucas Lustat” – O Globo.
- Foram encontrados no aposento exatamente seis objetos confirmadamente não pertencentes à vítima: uma fivela de sapato sob a marca de Coco Chanel, uma pulseira em ouro assinada por Christian Dior, um relógio de pulso Dolce&Gabbana, um vestido Versace, e um par de sapatos sociais Armani. Os dois restantes, uma carteira porta cédulas da Gucci e um aparelho celular touch-screen assinado pela marca Prada também foram recolhidos e caracterizados como as principais pistas para o começo da nossa investigação. A vítima foi executada com dois tiros, um deles acertou a porta cédulas e o outro, a jugular de forma transversal, atravessando a língua e acertando o cérebro em cheio, Lucas Lustat morreu instantaneamente.
Fez-se silêncio. As canetas arranhavam ferozes seus blocos de anotações, mãos e dedos nervosos escreviam firmes e apressados, quase furando as folhas de papel, os flashes vindos das câmeras fotográficas eram separados por longos intervalos de tempo, como se esperando mais um pronunciamento, cautelosos, com medo de atrapalhar a coletiva de imprensa. Os burburinhos aparentavam o barulho de milhares de moscas zumbindo ao mesmo tempo sobre a carniça. Óculos de grau sendo ajeitados por dedos secos para cima de narizes oleosos. E então a gritaria recomeçou. O lounge da delegacia central de polícia de Paris estava lotado naquela manhã
- Detetive Mimieux! Detetive Mimieux! Eu tenho uma pergunta! Detetive Mimieux! – uma repórter baixinha loira e de terno vermelho pulava feito uma saúva nervosa escondida por óculos gigantescos de fundo de garrafa.
- Sim, fique à vontade – fez o Detetive Mimieux, maneando a cabeça com delicadeza.
Ela sorriu nervosa, pigarreou duas vezes e tirou o cabelo da cara. Estava respirando com dificuldade, pois um fotógrafo e um câmera estavam praticamente prensando-a contra a bancada dos chefes de polícia.
- Quem é a principal suspeita do assassinato do veterano das passarelas, Lucas Lustat? – arregalou os olhos com esperança. Ela ouviria o nome que queria ouvir? Teria sua matéria de capa? O Escândalo dos escândalos, com E maiúsculo, é claro, o caso mais intrigante e instigante da história da moda na face da terra.
- Temos nossos palpites, querida, pessoas não autorizadas estavam dentro do prédio no momento do assassinato, foram presas e estão sob custódia policial... Porém, não podemos descartar a hipótese de que Stella Vazjekovzka seja a culpada, tendo em vista que a porta do quarto estava destrancada no momento em da batida ao apartamento, contrariando o único álibi que ela tinha: sua neta que afirmara ter trancado a porta antes de sair.
A gritaria recomeçou ainda mais forte, os flashes agora vieram com mais intensidade, sem intervalos, um atrás do outro, cegando a bancada, transformando tudo em luz, luz branca incandescente e desnorteante, perturbadora como aquele caso pesado e de grande renome mundial que o detetive Mimieux tinha em mãos naquele momento. Era muita responsabilidade acusar a rainha das passarelas. E muita audácia também.
- Mas testemunhas afirmam que ela foi encontrada dormindo! – gritou um homem que estava ao fundo, pulando, tentando sobressair-se da multidão.
- Ela não estava dormindo, parecia estar em uma espécie de transe, surto, estava delirando até mais ou menos às oito da noite do mesmo dia. – ele riu para si mesmo, baixinho, como se sádico, um tanto sarcástico, levantou seu queixo outra vez para os repórteres que esperavam ansiosos pela continuação da réplica. Eles se inclinavam cada vez mais sobre a bancada, quase escalavam-na – os mais veteranos que aqui estão, acredito eu, acompanharam a vida de Stella Vazjekovzka no auge da sua juventude, também no auge da sua carreira, quando sua estrela mais brilhou, por tanto com certeza possuem ao menos uma pequena noção da relação amorosa complicada que os dois viviam e como pararam de se encontrar bruscamente alguns meses após se conhecerem, ou se reencontrarem, como dizem as más línguas. O fato é que ela tinha todos os motivos para matá-lo, para se vingar de uma possível traição sugerida pelas revistas sensacionalistas da época... Não posso ir além do que já disse aqui, sinto muito, tenham uma boa manhã.
Levantou-se da cadeira em meio aos flashes e aos gritos da multidão, pedindo para que ficasse, que explicasse, que lhes contasse, que desse mais detalhes, estavam famintos pelo caso, representantes das revistas mais sérias do mundo estavam ali, assim como também das principais revistas criadoras de caso de toda a Europa e das Américas também, os sensacionalistas, aqueles que aumentavam, que criavam, que repuxavam e distorciam as histórias até elas se tornarem verdadeiros “Godzillas” dos casos de polícia envolvendo celebridades. Mesmo assim, o Detetive Mimieux deu as costas para eles, ainda com o sorriso sarcástico no rosto. Faria de tudo para descobrir a verdade sobre Stella Vazjekovzka.
- Aline, você está sendo injusta com a sua avó, e sendo desrespeitosa para comigo! Cale-se, ou vou ser forçado a levantar a mão para você! Coisa que eu jamais fiz alguma vez! – o tom de voz de Stefan estava ficando cada vez mais alto. A Mansão Vazjekovzka estava em completa penumbra, escuridão total, até as luzes da propriedade foram apagadas para despistar os paparazzi inconvenientes, para enganar os repórteres que se esparramavam aos montes nos pés do portão da chácara, montando guarda, acampamento, como um exército esperando a hora certa de atacar.
O mar francês abaixo do penhasco lá fora estava calmo, sereno, e a lua cheia com a eterna luz azul, nervosa. A propriedade sob o nome de Vazjekovzka era gigantesca para ser uma chácara, era mais uma fazenda, porém raramente era chamada assim. Ao norte da França, próxima a uma cidadezinha calma e serena, era compreendida por campos verdes intermináveis onde os cavalos da família corriam livres e pastavam, um pomar de maçãs e outro de uvas, uma pequena granja onde Stefan criava aves raras, uma pocilga para os porcos e um curral para algumas vacas leiteiras.
- Mas a porta do apartamento estava destrancada! – Aline aumentou uma oitava na voz, mas logo corrigiu o erro e diminui a voz, chegando a ponto de rosnar bem baixinho – Deixei-a trancada e quando a polícia foi fazer a vistoria e a evacuação, estava simplesmente aberta, encostada! Ninguém mais tinha a chave exceto...
- Veronica – Stefan pronunciou o nome com acidez.
Iluminados apenas pela luz do abajur noturno voltaram seus rostos pálidos para uma velha senhora de 87 anos deitada numa luxuosa e suntuosa cama, embrulhada por dezenas de cobertas, com sua cabeça cinzenta perdida entre almofadas, travesseiros e algumas pelúcias. Um gato persa branco de cara cinza dormia sob o peito da figura semi-morta. Era Alejandro, o velho gato tataraneto de Mariella, estava quase para morrer também, como a sua dona, suas noites de sono costumavam durar muito mais que o normal, ambas as animações estavam se suspendendo pouco a pouco. O leve subir e baixar do peito rijo e liso da velha, levantando e baixando o gato, dava a certeza de que ela estava viva.
- Está preparada para o seu depoimento, Aline? – a voz de Stefan cortou a madrugada de novo – porque a polícia está interessadíssima em saber como a fivela do seu sapato foi parar no camarim de Lucas Lustat... Duvido que vocês só tenham discutido! Duvido muito!
- Maldita hora em que entrei naquele quarto... – cruzou os braços e fechou os olhos, franzindo a testa. Era puro estresse.
Mas Stella estava ali, deitada na cama, perdida entre lençóis, realidade e sonho. Suas noites de sono eram assim, perdidas; enquanto ouvia as vozes de filho e neta, a realidade se misturava com o mundo onírico e a deixava desnorteada, entre o sono e o despertar, sempre perdida. A palavra Gucci ecoava dentro de sua cabeça, martelando sem parar, lembranças incontáveis. Lembranças. Lembranças do dia em que Ivan Vazjekovzka e sua mulher sofreram o acidente de carro. O dia em que seu filho morreu. Seu neto era muito jovem ainda, muito pequenino, de modo que passou a tratá-la como “mãe” em menos de três anos.
A perda do filho único daquela mulher fora uma grande tragédia. Mas porque ela estava sonhando com aquilo? Porque ela estava vendo o rosto fino e andrógino de seu único filho enrijecido, duro, petrificado e inexpressivo pela morte outra vez, dentro daquele maldito caixão? Stefan estava no colo da mulher de 54 anos. Ah, como Stefan estava sorridente naquele dia. Dois aninhos ainda, pensou. Nem sabe se está no mundo. Brincava com as flores do véu negro que Armani desenhara exclusivamente para ela, um anjinho, o Cupido em carne e osso. O deus Eros recém-nascido.
E então os olhos. Sempre aqueles olhos, fixamente presos a ela, um olhar profundo e piedoso, ao mesmo tempo em que implorava, necessitava do perdão dela, do abraço dela. Mas não, aquele olhar jamais teria coragem de trazer seu dono até sua amada. Ela estava num momento difícil, jamais a abordaria daquela maneira, jamais se aproveitaria daquela fragilidade. Lucas, sempre Lucas. Nos eventos de moda, nas comitivas de imprensa, nos coquetéis de cortesia, nos lançamentos de livros, de CDs, DVDs, nas grandes estréias de cinema. Lá estava Lucas, sempre tão bonito e charmoso, a admirá-la de longe. Ela fingia que não o via, e ele, tolo, acreditava que estava sendo o mais discreto possível. Acreditava realmente que ela não o percebia, não o via planando feito uma pomba inoportuna por todo o lugar, batendo suas asas. Idiota, pensava Stella. Grande idiota. Nunca, nunca voltarei atrás. Você me feriu, não esperou por mim, você se entregou para o primeiro que lhe sorriu e lhe ofereceu a cama, você nunca valeu nada. Você é volúvel, não serve para mim. Não serve.
E Gucci. Aquela porta cédulas maldita. Stella havia perdido aquilo no teatro. Na verdade, fora roubada. Roubada descaradamente, de cima da pia do luxuoso banheiro do prédio centenário em São Paulo. E o mais engraçado de tudo: fora esvaziada! Seus pertences estavam espalhados pelo mármore; cartões de crédito, dinheiro, documentos, tudo. Aquilo a deixou indignada, mas ela calou-se. Calou-se diante daquilo porque ela sabia quem o fizera, sabia quem o fizera com certeza porque o vira de relance, passeando por lá com cara de paisagem. Lucas pensa que me engana, pensa que é invisível. Eu o reconheceria até em Marte!
Mas não, ela não o denunciaria, não daria queixa à polícia. Não era necessário. Não agora, que ele havia sumido, para ressurgir agora, tanto tempo depois, e morrer desse jeito, com a porta cédulas da Gucci que lhe fora roubada há anos atrás, agora baleada.
- Está pronta, Senhora Stella Vazjekovzka, para dizer a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade? – perguntou o detetive Mimieux.
Ela tirou seu véu preto. Armani de novo. O mesmo vestido, o mesmo véu, o mesmo pássaro preto empalhado no alto da cabeça, exatamente como estava vestida no dia em que Ivan morreu. Os olhos marejados, inchados e pesadamente maquiados.
- Eu sempre digo a verdade, Detetive Mimieux, sempre.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
O Último Comentário Avulso...
Se Quiserem Esperar...
Foto: obra "Caveira", do mestre Andy Warhol
Enfim, Chuva!
I was so close to the edge I was falling down
You come and turn it around
And let me see again, let me see you again
Caught in the eye of the storm I was sure I'd drown
But you made me reach deep down
Assured of the strength I'd found, the strength I'd found yeah
Mighty rivers run right through me
I fall in if I dive in too deep
In the shadows swim with daydreams
As far away as they can take me, oh
There was the time I would go with the rolling tide
I wanted an easy ride
I thought it was all a game
The thunder struck and it changed
And then I was scared, I was scared I was terrified
But you made me reach inside
As certain that I'd survive, I'd survive
But all night i'm lying awake
It feels like my body's afraid to say
Too much to put into words
A dam about to burst, ohh-oh
Mighty rivers run right through me
I fall in if I dive in too deep
In the shadows swim with daydreams
As far away as they can take me, oh
Only you understand me
Want the truth not the fantasy
I'm as true as I can be
Hear me now
Mighty rivers run right through me
I fall in if I dive in too deep
In the shadows swim with daydreams
As far away as they can take me, oh
As far away as they can take me, oh
Mighty rivers run right through me
I fall in if I dive in too deep
In the shadows swim with daydreams
As far away as they can take me, oh
domingo, 24 de outubro de 2010
E a Semana de Halloween?
E Sobre o Endereço Eletrônico?
Dame de Lotus
Contente de moi
Au-dessus des eaux stagnantes Contemple
Contemple-moi là
Dame de lotus
Je suis enterrée vivante
Contente de moi
Entre deux roseaux tu penches
Etanche
Regarde-moi là
Qu'importent les dames de lotus
J'effeuille les dames de lotus Ni moins ni plus qu'une dame de lotus
Je suis enterrée vivante
Contente de moi
Au-dessus des eaux stagnantes
Contemple
Contemple-moi là
Dame de lotus sous les roseaux
Dame de lotus penche sur l'eau
Ni moins ni plus qu'une dame de lotus
sábado, 23 de outubro de 2010
Querem Uma Dica?
Sangue na Louis Vuitton
- Stella – sua voz rouca era embalada pelo ópio macio e vicioso de uma espécie de nostalgia melódica que soava como música para os ouvidos da velha senhora que lhe estendeu sua mão.
Por um minuto, iluminados pelo lustre dourado e cheio de cristais em forma de gota, entre os móveis elegantes do hall do hotel, em meio à veludo vermelho, arabescos e sofisticação, um conto de fadas se realizou de forma metafórica ali mesmo, em meio a homens carregando cenários e mulheres arrastando araras cheias de roupas, fotógrafos e iluminadores cuidando da ambientação e diretores de fotografia gritando ordens por entre os holofotes, como nos bastidores de um cinema. A princesa havia encontrado seu príncipe, e a sua espera de longos anos havia terminado ali naquele hall, em meio ao caos.
Ele levantou Stella com muito cuidado, os dois estavam muito próximos então, olhares invasivos para dentro, para as cachoeiras dos olhos que levavam para o âmago da alma. Respirações e batimentos cardíacos sincronizados, braços e pernas bambas, e as mãos, as duas mãos idosas, masculino e feminino unidos. Ainda surpresa, tentou esboçar um sorriso. Um misto memórias e lembranças, momentos e recordações, brotavam em erupção de dentro do mais profundo de Stella para fora, se espalhando pelo chão. Ela era um verdadeiro vulcão de sentimentos naquele instante. Eles formavam uma pasta disforme que aos poucos se espalhava pelo carpete abaixo dos seus pés.
- Você continua a mesma, é uma aparição onde quer que esteja, é deslumbrante! – ele ria. Ela continuava muda, séria, tentando esboçar sorriso ou cólera. Não sabia como reagir. Sabia que o encontraria, mas não sabia como reagir, não tinha ensaiado sua reação, aquilo não era o cinema, era a vida real, aquele momento não seria registrado em fotografia. Não ficaria congelado para ser revivido. Ela tinha que dizer alguma coisa.
- Vovó quem é esse homem? – Aline surgiu, como se das sombras, surpreendendo aos dois. Stella quase caiu de volta à poltrona, tirada à força de seu sonho enquanto acordada, trazida de volta a realidade pela voz aguda da neta, que tinha um toque de dúvida e reprovação como tempero salpicado por cima. Era o tom de voz que um filho usaria com a mãe ao descobri-la em intimidade com algum outro homem que não era o pai. Era o tom dos ciúmes.
- Oh, meu Deus... Querida, este é Lucas... Seu tio Lucas, de quem tanto ouviu falar, mas nunca viu de perto... – ela sequer tirou os olhos do velho.
Aline olhou de um para o outro com sua fina testa franzida em desconfiança. O velho sorria para ela de um modo encantador, mas isto não foi o suficiente para quebrar seu escudo.
- Vamos vovó – tomou a mão dela das mãos do homem de forma brusca e repentina – o camarim já está pronto para recebê-la – fez um gesto com a cabeça para o velho e saiu levando a avó a tiracolo.
- Está é Lucas, querida – continuou repetindo Stella, com o olhar vazio e a boca ainda entreaberta – este é Lucas. – o som dela se perdendo a cada vez que o repetia. Como se desperta pela segunda vez, procurou por algo a tiracolo – espere um instante! Minha bolsa! Minha bolsa ficou na poltrona!
- Depois eu peço a Veronica que a traga até o camarim – Aline tinha a voz dura e inflexível, parecia um robô falando. Ou um soldado.
- Mas é uma Louis Vuitton! Eu...
Tarde demais, já haviam entrado no elevador.
Enquanto subiam, o papel se invertia: Stella agora era a neta e Aline mais parecia a avó. Com a expressão marmórea e dura por trás dos óculos escuros redondos gigantescos que escondiam seu rosto, Aline permanecia parada feito uma estátua com as mãos cruzadas sobre a saia enquanto Stella, a rainha da noite tinha o rosto espremido contra o vidro, com todas as palavras prontas, saída direto do forno de seu cérebro para serem despejadas sobre Lucas em alta temperatura. Porém agora os dois estavam distantes, separados por metros de altitude, comunicando-se pelo olhar. Stella com os olhos esbugalhados e cintilantes. Lucas com um sorriso encantador, o seu sorriso encantador por trás dos óculos meia-lua que agora usava. Parecia um príncipe. Ele era o seu príncipe.
- PORQUE ALINE, POR QUÊ? – berrava Stella. – PORQUE EU MESMA ME PRIVEI DE SER FELIZ? PORQUE EU TIVE DE DISPENSÁ-LO QUANDO EU MAIS PRECISAVA DELE? PORQUE FUI TÃO ORGULHOSA E PURITANA? E DAÍ SE ELE ANDOU SE ESFREGANDO COM O VIADO DO BLACK CHERRY?! ELE AINDA ERA O MEU LUCAS E PERTENCIA SÓ A MIM!
- Acalme-se vovó, por favor, o hotel inteiro deve estar ouvindo você a esta altura. – Aline havia retirado seus óculos escuros, revelando uma maquiagem preta pesada por detrás deles. Parecia mais séria e mais adulta do que nunca.
- EU SOU A MAIOR PUTA DA HISTÓRIA DAS CELEBRIDADES, MEU PASSADO É PODRE COMO UM RATO MORTO, E EU TIVE A HIPOCRISIA AUDACIOSA DE MANDAR PASTAR O AMOR DA MINHA VIDA PORQUE ELE TEVE UM ROMANCE HOMOSSEXUAL?! EU FUI UMA GRANDE IDIOTA!
- Pare de gritar vovó! Pare de gritar! – rosnou Aline por entre seus dentes de tubarão, afiados e pontiagudos, tão brancos quanto pérolas – o hotel está cheio de assistentes de fotografia e jornalistas autorizados! Eles vão ouvir tudo o que você está dizendo!
- QUE OUÇAM! QUE OUÇAM! – retirou o casaco e lançou-o com violência por sobre a neta, quase a atingindo. Retirou seus sapatos e atirou contra a parede do quarto com muita força, derrubando um quadro, puxou a barra do vestido e amarrou na altura dos joelhos, caminhando a passos firmes e decididos em direção à porta. Aline meteu-se em sua frente, impedindo a passagem.
- Aonde você vai?!
- Vou buscar a minha bolsa!
- Não, nada disso! Fique aqui! Eu mando Veronica buscar! – fez Aline, empurrando sua avó para trás com delicadeza, tentando afastá-la da porta.
- Mas EU quero ir lá! A bolsa é minha! – rugiu a velha.
- Você não quer a bolsa! Você quer falar com o Lucas! Eu sei que quer! Você não vai falar com ele! Você o odiava até alguns dias atrás! – ela trancou a porta e escorou-se nela.
- Porque ele havia se entregado sem pensar duas vezes para aquele maldito Black Cherry! – rosnou a velha avançando para cima da neta tentando alcançar as chaves nas suas costas.
- Então! Ora vejam só! Ele lhe traiu, ele não esperou por você! Ele não lhe ama de verdade!
- É, mas EU o amo e não tenho tempo a perder! Não importa o que ele tenha feito! – fez Stella, iniciando um choro doloroso e soluçado, agudo e intenso, poderoso, como se toda a sua tristeza estivesse escorrendo para fora com toda a força. Caiu sentada no chão, feito uma velha de asilo, desamparada, sozinha, sem família. Aline imediatamente a abraçou, mas foi empurrada para trás – saia de perto de mim! Sua ingrata! Você não sabe o que esse homem representa para mim! Eu passei anos e anos tentando digeri-lo, ruminando a existência dele, o que ele tinha representado para mim e o que ele fizera, como ele havia me traído! Mas só agora, vendo-o de perto percebi que estou velha! Praticamente morta! Meu brilho todo está se apagando, eu preciso de muita maquiagem para sair em público, antes eu não precisava nem de lápis de olho, meus cílios sempre foram grossos! Não posso mais me privar de ser feliz, não posso! Eu me recuso!
Ela se debateu feito uma criança no chão, privada de seu brinquedo.
- Vovó! A sua coluna! A sua coluna! Pare com isso! – Aline tentava segurar os pés da velha. Levantou-se. – fique aqui! Você não está em condições de ver ninguém, sequer de sair daqui! Vou buscar seu remédio para o coração. – puxou o celular e discou – Veronica, me encontre no elevador com a bolsa em mãos. – e desligou. Saiu do quarto às pressas e trancou a porta atrás de si, deixando sua velha e frágil avó, ferida emocionalmente, jogada no chão, afogando-se nas próprias lágrimas enquanto chamava por Lucas e chutava a porta. Não, ela não ligava para as dores agudas da sua hérnia, sua coluna gritando, seu coração oscilando, ela poderia morrer ali naquele chão, jogada e sem amparo. Mas naquele momento ela teve forças para levantar-se e deitar-se. Seu amor por Lucas a manteria viva até Aline voltar com os remédios.
Ela não soube exatamente o tempo em que passou jogada na cama, em um estado profundo de letargia, entre a realidade e o sonho, as dores agudas dando pontadas ferinas de cima abaixo por toda a extensão da sua coluna, fazendo-a tremer, estremecer de dentro pra fora. Enquanto as agulhadas a faziam gemer, enquanto seu coração descompassava e depois entrava em ritmo de novo, a visão de seu Lucas, eternamente jovem em sua memória lhe voltava, o passado e o presente se misturavam, ela o via como há anos atrás, deitado nu sobre a cama.
Mas não era a cama do hotel vagabundo onde eles passaram sua primeira noite, não, era a cama do hotel de luxo onde ela se encontrava agora, em um dos majestosos quartos assinados por Christian Lacroix, no Petit Moulin. Hotel onde a Vogue Paris estava organizando o seu ensaio fotográfico, talvez o mais comentado da história da revista. As curvas delicadas do corpo jovem de Lucas se misturavam às curvas desenhadas nos papéis de parede antigos, aos brocados, a textura da pele deliciosa e jovial se misturava ao toque do couro e do veludo ali utilizado, com um dedo lúgubre do barroco. Visões de um Lucas novo e um Lucas velho, lado a lado no hall, de braços dados, esperando por duas Stellas, uma nova e uma velha, que vinham feito rainha e princesa para o encontro. Uma dança. E depois a cama, e então vozes.
Ela abriu os olhos devagarzinho, ainda entre o sonho e a realidade. Viu uma Veronica chorosa e nervosa, viu uma Aline desesperada cheia de lágrimas nos olhos, viu homens de capa preta com lanternas em punho, viu cães invadindo seu camarim, mas não podia se mexer, não queria se mexer mesmo que pudesse, não queria acordar.
“Encontramos uma bolsa Louis Vuitton ensangüentada no local, chefe” gritou um aparelho na cintura de um dos homens. “Policiais”, pensou Stella. “Sangue na Louis Vuitton”, pensou ela de novo. “Não toquem em nada! Os detetives já estão subindo!” respondeu o homem, após tirar o aparelho da cintura e apertar no botão que fez a luz vermelha de transmissão acender.
- Não toquem nela! Ela precisa tomar os remédios! Ela estava passando mal há meia hora atrás! – berrava Aline, se debatendo feito um animal no braço de um policial gigantesco.
Um homem abaixou-se ao lado da cama, abriu um dos olhos da velha com o auxilio de uma luva e iluminou a pupila com uma pequena lanterna de pulso. Ela retraiu-se, e tudo voltou com um choque agudo para o mundo real. O baque. Stella levantou-se sobressaltada.
- O QUE É ISSO? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? – a dor na hérnia voltou mais forte. Ela gritou.
- Senhora Stella Vazjekovzka, sou o Detetive Mimieux, da Polícia Francesa – apertou sua mão – estamos esvaziando o prédio e precisamos que venha conosco.
- Por quê? O que aconteceu?! O que está acontecendo?! – ela ainda gritava nervosa, atordoada pela surpresa, pelas dores.
- Houve um assassinato, Senhora. Infelizmente devo informar que Lucas Lustat está morto, e precisamos do seu depoimento, assim como o da sua neta e o da sua empregada.
Os olhos da velha percorreram o quarto em um milésimo de segundo, dando de encontro com o rosto de porcelana de Gabriela estático do outro lado da porta aberta onde outros policiais esperavam.
- Mas o que você está fazendo aqui?! O que vocês estão fazendo no meu quarto?! – ela ainda não estava entendendo, era uma informação difícil de ser processada – não toquem no meu casaco! Não toquem! Tirem as mãos das minhas coisas! Tirem as mãos de mim! – ela estava sendo carregada para fora de seus aposentos, não sentia mais as pernas, mal se sentia viva. A inconsciência veio muito rápido, as coisas foram sumindo na velocidade da luz até que Lucas ressurgiu, e o baile do passado e do presente recomeçou, outra vez.