Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Stella e a Segunda Feira

- Diga a verdade Mariella, você está grávida?
A acusada ficou muda.
- Mariella, não faça essa carinha fofa para mim, eu não caio nos seus truques covardes! Essa barriga toda não quer dizer comida!
A acusada continuou olhando para ela, com aquele olhar suplicante, infantil, de quem se pergunta o que está realmente acontecendo, boquinha pintada de preto, um biquinho macio e adorável. Duas esferas azuis, agora quase totalmente tomadas pelo negro das pupilas dilatas. Que criatura incrível e graciosa era Mariella, tão cheia de maldade, mas ao mesmo tempo tão delicada, inocente.
- Mariella! Se você continuar calada, vai admitir que é verdade! Você fez sexo e não usou preservativos! Que cara de pau!
Haroldo apareceu segurando uma caneca com suco de laranja de caixinha, parado no vão entre a cozinha e a sala de estar, em desordem e caos constantes. Colchões se misturam à mesinhas de centro cujos bibelôs jazem quase todos quebrados, sofás estão tortos e cortinas de miçangas nas janelas já estão quase totalmente destruídas pelas ações terroristas de Mariella.
- Senso de organização é igual a zero, Falta de Noção está em alta nesta casa, você sabe... - resmungou Haroldo por debaixo do seu bigodinho saliente da cor das avelãs.
- Cale a boca Haroldo, estou tentando fazer Mariella confessar seu crime! Ela transou sem proteção e agora tem de sofrer as consequências! - retrucou Stella, irritada.
- Não seja idiota Stella, Mariella é uma gata, uma felina, o que ela pode fazer? É necessidade animal fazer a cópula, abortar os filhotes ela não vai...
Stella desistiu e soltou a gata siamesa ao chão. A bichana miou alto e saiu correndo para o banheiro, era hora das necessidades fisiológicas, caixinha de areia grita por urgência.
- É, gatos não tem tanta sorte quanto eu imaginava... - mugiu Stella, preguiçosa, estalando a coluna, imaginando a sorte que seus únicos dois abortos tiveram em não vir ao mundo em meio àquela bagunça que ela chamava de apartamento.
- Você estava na delegacia? Wanda me ligou hoje cedo fazendo um pedido expresso de correr para cá, só pra certificar de que você não ia se meter em outra encrenca...
- Você acaba de responder à sua pergunta, Haroldo, seu viado intrometido.
- Não seja tão desbocada Stella, sabe que eu e a Wanda só queremos o seu bem, e você não se esforça nem um pouquinho assim que seja para sair dessa vida de vadia! - ia começar o discurso, ele largou a caneca, chutou umas caixas de pizza e algumas latinhas para dar voz ao seu bom senso - veja só, você está morando sozinha no meio de uma lixeira particular com uma gata que está prestes a parir e não procura arranjar um emprego! Onde você quer chegar com isso?!
- Na #$%¨*& que pariu... - ela disse, naturalmente, quase de modo poético e orgulhoso, como se o lugar asqueroso que ela havia citado quase fosse destino para se almejar com todas as forças. Usando calças apertadíssimas, um Converse que não é lavado há quase um ano, um top preto e uma jaqueta de couro dourado que reluzia como um sol, ela não se preocupou em prender o cabelo, pegou a bolsa e as chaves e partiu para o elevador de serviços. Stella morava no último andar de um hotel decadente, de modo que sua porta de entrada e saída era um elevador velho e carcomido, usado para transporte de lixo e roupas sujas. Mesmo nestas condições, Stella nunca perdia o rebolado, de peito pra cima, ela cruzava o saguão lotado de velhos fumantes viciados em café e crianças filhas de mexicanos clandestinos no país.
- Quer dar uma passada no Side's, Haroldo? Peguei uma boa quantia na delegacia esta manhã - gabou-se ela, cuspindo seu chiclete no chão em frente ao hotel.
- Menina mal educada! - resmungou uma velha.
- Ora, e tem como recusar? Tenho que ficar de olho em você Stella, esses últimos tempos você está impossível, e Wanda está ficando irritada - ele se esforçava para acompanhar a serelepe Stella, que sempre parecia uma garotinha saltitando até a loja de doces da esquina, mesmo na pior das situações, nunca perdia o seu ar juvenil e inocente.
- E quem liga para o que aquele sapatão pensa? Vamos bater umas carteiras hoje para darmos uma voltinha nas boates do Upper East Side, quem sabe eu encontre Isabela e as meninas...
- É, meninas que te largam numa boate qualquer bem no meio da madrugada sem ter como voltar pra casa.
- Pode ficar caladinho, ou então não vai ter café da manhã para o senhor Haroldo, nem hoje nem nunca mais!
- Não seja tão malvada, Stella - Haroldo deu um tropeção para dentro da lanchonete, estava quase vazia naquela manhã. Havia mais velhos ali do que no hotel. - sabe que eu te amo, só não gosto dessas suas amizades, que te alugam de noite só pra fazer barraco nas boates e ter do que rir no dia seguinte...
Stella ficou calada, sentou-se feito um cowboy num dos bancos de frente para o balcão e imitou um grosseirão do Oeste, até entortou a boca e fez a voz carregada dos antigos figurões do deserto.
- Aí! Gostosa! Uma garrafa de urina de vaca!
Rita veio preparada, como sempre: uma bandeja com ovos mexidos, duas fatias de salsicha, bacon e panquecas fresquinhas com um pouco de mel.
- Aqui está seu café da manhã, Stella - riu a senhora negra de batom vermelho berrante, usando um coque no topo do cocoruto, era tão gorda quanto Wanda, a lésbica, mas era bem mais delicada e materna do que o sapatão. Aquela era Rita, e Rita costumava ser a melhor amiga de Stella às vezes, quando Mariella fugia pela escada de incêndio para fazer a cópula com os gatos da vizinhança. - como foi esta noite?
- Uma bosta, é claro - sorriu Stella, sarcástica, atacando as panquecas de primeira.
- Não estava na delegacia, estava minha filha? - Rita puxou um prendedor de cabelos, pulou o balco com a ajuda de um banquinho e pôs-se a prender os cabelos desgrenhados de Stella como uma avó prende os cabelos da netinha desleixada.
- Ai, vai me dizer você também que a Wanda te ligou?! - Stella revirou os olhos e tomou de um só gole quase meia caneca de suco de uva.
- É claro que ligou, ela é tão preocupada com você quanto eu e o Haroldo, não é meu filho? - ela olhou para o rapaz de dezoito anos, magricelo e de regata suja, usando calças surradas e tão largas que o faziam parecer um palhaço. Haroldo só balançou a cabeça.
- Não seja tola Rita, a Wanda é afim de você já faz um tempão! - debochou Stella, toda malandra. Rita arregalou os olhos e se benzeu várias vezes.
- Deus me livre, menina! Não fique dizendo essas coisas assim! Ora! - os cabelos de Stella estavam presos, e assim Rita pôde voltar para trás do balcão, não sem antes dar um tapão na cabeça de George, seu filho e garçom da lanchonete, que ria como uma mula da piada de Stella. O riso cessou imediatamente.
Haroldo e George namoravam há um bom tempo, mas disso só Stella sabia. Rita mataria os três se soubesse.
Depois do café da manhã, Stella passou o resto do dia andando de lá pra cá na rua, com Haroldo na sua cola, batendo carteiras loucamente e correndo depois. À tarde, Stella trancou-se em seu quarto para jogar um pouco de video game, e à noite, recebeu três telefonemas de Isabela, que fez questão de ir buscá-la no moquifo fedorento onde ela morava para levá-la à um clube particular de riquinhos feios, como de costume. Ali, Stella beijou três, mas não transou. Acabou espancando uma garota que derramou martini na sua tão conhecida jaqueta dourada, e foi arrastada para fora pelo restante da turma. Mais uma vez, Stella estava vagando sozinha pelo Upper East Side, com um pouco de cecê, como ela pôde constatar mais tarde, enquanto estendia o braço para os táxis, tentando fazê-los parar para uma garota vestida feito uma prostituta. Estava na hora de tomar um banho, pensou. E está na hora de arranjar uma caixa de papelão para Mariella, que teria filhotes logo em breve.
E estava também em cima da hora de se ajeitar na vida.
Stella chorou dentro do táxi, no caminho pra casa. Chorou o caminho todo praticamente, lágrimas roxas de maquiagem. Tropeçou para fora do táxi e foi levantada por ninguém menos que Wanda e Haroldo, eram cinco da manhã, ou quatro talvez.
- Você não tem jeito mesmo - cacarejou Wanda.
Stella mugiu alguma coisa inaudível antes de ser jogada para debaixo da ducha fria. Já amanhecia na verdade.
Assim começava uma terça-feira na vida de Stella.
E por algum motivo, ela se lembrava da vez que sua tia Fúlvia lhe dera um banho daqueles, em tempos remotos, tempos franceses, tempos de pão quentinho e de saias curtíssimas. De boinas e de lambretinhas cor-de-rosa. Stella na França. Ela gargalhou antes de pegar no sono, e dormiu praticamente o dia inteiro, não havia dormido durante quase 48 horas.
Stella, o que eu vou fazer com você?

segunda-feira, 29 de março de 2010

Stella, uma Vadia Suja



Quando perguntaram para a Stella na diretoria do colégio qual era o problema dela, a jovem foi bem sincera em dizer que era falta de sexo, e assim foi expulsa da sua terceira escola. Ninguém nunca conseguiu segurá-la. Sempre inteligente, sempre astuciosa, as melhores notas nas provas, mas também as piores atitudes que uma garota de família poderia tomar. Aos doze anos de idade, deu seu primeiro beijo, num cara de 25 anos que era vizinho e fumava umas pedras de crack de vez em quando, mas o namoro não foi adiante e Stella, sofrendo sua primeira desilusão amorosa foi mandada para fora de Nova York, para morar na casa da avó num condado ali próximo, no sul da Virgínia, onde se planta milho e onde o sol é mais amarelo do que em qualquer outro lugar. Mas ali Stella tocou o terror como ninguém. Em um ano, a vizinhança estava envolta numa verdadeira guerra civil entre pais conservadores e filhos revoltados que acabaram de conhecer um pouquinho da libertinagem do subúrbio Nova Iorquino. Foi então que Stella levou o seu primeiro tapa e foi xingada pela primeira vez em toda a sua vida.

- Vadia Suja! - disse a senhora Letterman do 98, irada porque sua filha havia chegado em casa seminua, com o cabelo mal cortado na altura dos olhos, coberta de ovos e farinha dos pés à cabeça, pobre Magda, coitada. Sempre foi a mais popular do colégio, a mais bonita, a mais inteligente, a mais inspiradora musa de garotos e garotas pelos corredores. Porém, isto não foi o bastante para que toda aquela cidadezinha deixasse de notar o estilo de vida irreverente da pequena Stella, que com catorze anos percorria aquelas ruas ensolaradas aos gritos em sua bicicleta personalizada, gritando palavrões e cantarolando suas músicas sujas de rock e pop, tanto faz. O fato era: Stella tinha nascido com o estigma da confusão, Stella era aquela que pensava demais e agia demais ao mesmo tempo, coisa incomum nos seres humanos, que comodamente preferem fazer mais um do que o outro.


E agora, ali, sentada mais uma vez no banco da delegacia, algemada ao lado de uma travesti, Stella lembrava-se da primeira vez em que fora chamada de vadia suja; Que coincidência, também foi a primeira vez que Stella desacatou uma autoridade, uma autoridade mais velha ainda por cima. A senhora Letterman era a xerife na época. Pobre senhora Letterman, morreu de ataque do coração na mesma noite em que a rameira enrustida da filha dela chegou em casa grávida, anos após Stella ter visitado a França e causado horrores por lá também.

- Tem um cigarro aí, vadia? - perguntou a travesti.

- Não tenho não, vaca de pênis - respondeu Stella, pouco se importando com tudo aquilo. O caminhão estava algemado mesmo, pouca coisa poderia fazer. Uma garota de treze anos entrou pela porta, escoltada por dois policiais, que pareciam estar se divertindo muito ao arrastar aquela pobre criança pra lá e pra cá. Ela havia roubado uma garrafa de vodca. Stella sorriu, viu-se mais uma vez em seus anos dourados. O que era idiotice da parte dela, aquelas coisas só haviam acontecido há sete anos atrás.

- Stella Vazjekovzka - gemeu a policial gorda no balcão. Os policiais pegaram Stella pelas axilas e arrastaram-na em direção ao balcão cinza e frio, abarrotado de papéis.

- Fala Wanda - relinchou Stella, com a sua voz de bêbada de sempre.

- Fala Stella - mugiu a policial gorda de volta. A mulher não usava maquiagem nenhuma, era o dragão em pessoa, mas tinha uma namorada, uma namorada magrinha e deliciosa que morava em Manhattan com os pais. Wanda sapatão ordinário, pensou Stella. - e então, é a terceira vez este mês não é? Tá pegando muita largura só porque aqui a gente te conhece das antigas, desde que tu eras aquela garotinha ali.

Wanda apontou para a jovem ruiva, descabelada, usando roupas de menino, algemada ao banco agora, debatendo-se com força enquanto a travestia xingava de todos os nomes que ela conhecia por estar bagunçando seu penteado.

- O que foi dessa vez? - perguntou Wanda, pegando a ficha para dar uma passada rápida de olho - ah, como esperado... Onde estão aquelas suas amigas ricas que te levam para o lado Vip da cidade nessas oras hein?

- Não me venha com as suas ironias Wanda, ou a Stefani vai saber o que você andou fazendo há dois anos atrás em Hemingway...

Wanda engoliu em seco e prosseguiu.

- Pois bem, semana passada foi encontrada jogada em frente a um restaurante caro na manhã de segunda feira, te trouxeram pra cá, e agora você tenta bater a carteira de um ricaço que te oferece carona? Qual o seu problema afinal?

- Acabou a batata frita em casa e... - Stella relinchou de novo - ora Wanda, você sabe que aquele cara tem mais dinheiro na conta que o Barack Obama, e pode muito bem comprar outra carteira e enchê-la da porcaria do dinheiro dele quantas vezes ele for assaltado ou tiver perdido!

- Não adianta discutir com Stella - resmungou Wanda para si mesma - Stella é sempre Stella... Mas e a sua mãe?

- Vai muito bem, obrigada.

- Coitada da Mariana com uma filha que nem você... - os policiais tiraram as algemas de Stella.

- E a sua mãe, Wanda, sabe que você é sapata?

Os policiais conteram o riso.

- Coloquem essa vadia suja pra fora daqui, agora, antes que eu a mande para a penitenciária de vagabundas!

Stella foi enxotada feito um cachorro, mas não saiu de mãos abanando. Havia uma carteira em seu poder, não tinha tanto dinheiro quanto a do ricaço que havia oferecido a carona mais cedo, porém pagava um bom café da manhã no Side's.

- Sai da frente vadia! - gritou um cara de bicicleta. Stella mandou ele para aquele lugar.


A semana de Stella só tinha começado.


domingo, 28 de março de 2010

Alice In Wonderland


A trilha sonora Almost Alice está arrasando, isso é fato, foi feita para agradar a todo mundo, e eu já me apaixonei completamente, e sinto no fundo do meu coração que vou chorar horrores assistindo esse filme. Aí vai o link para a trilha completa:




Stella



Na calçada, de maquiagem borrada, Stella pôs-se a pensar.


O sol já vinha nascendo atrás dos grandes monumentos de concreto, e os mais ricos iam para casa de limousine, levando hordas de prostitutas e gigolôs no banco de trás. Champagne, vinho e whisky por favor, ela ouviu o garoto dizer. Aquele rapaz deveria ter no mínimo 15 anos e já fazia parte daquilo tudo tanto quanto ela, mas Stella esta noite não tinha um alguém, nem um gigolô nem uma prostituta, Stella estava há quilometros de distância de casa e não havia como voltar. Sua saia estava rasgada logo na parte de trás, a alça da sua blusa já não existia, e sua jaqueta havia ficado em algum dos banheiros de todas as boates e bares que ela visitou naquela madrugada tão curta, mas ao mesmo tempo tão longa. Stella pensou. Stella espantou-se por estar pensando, julgava-se incapaz de pensar naquela situação. Ela teria de dormir na rua, ela sabia, e sabia que seria acordada por policiais que a levariam para uma daquelas celas provisórias de delegacia, e lá ela ficaria até seu avô dar as caras usando o costumeiro chapéu côco que já saiu de moda há séculos.


Stella, o que seria de Stella? Ela retirou a coroa de falsos brilhantes e atirou-a longe, ela atingiu um latão de lixo. Um rato enorme passou correndo ali próximo dela. Mas aquilo pouco importava agora.


Havia câmeras e flashes estalando do outro lado da rua. Alguma celebridade saía acompanhada de uma das boates. Não adianta, ninguém notaria Stella sentada ali.


-Vai um cigarro? - perguntou uma voz desconhecida, vinda de cima. Poderia ser Deus, mas não era, Deus não ofereceria cigarro e muito menos usaria sapatos Raphael Steffens, o que a fez pensar onde ela teria perdido o outro lado do par de Jimmy Choo's que ela usava naquela noite. A bolsa fora de carona no carro de Isabela, como uma bagagem que foi despachada primeiro que o seu proprietário. Isabela estava usando drogas naquela noite e estava descontrolada quando as garotas a carregaram feito uma porca abatida e a atiraram no fundo do carro, usando aqueles óculos Rayban Wayfarer e brincos dourados enormes reluzentes, calças de borracha apertadíssimas. Essas eram as amigas de Stella, e eram as amigas de Isabela também. Batom vermelho sangue, pó e sombra azul. Blush. Penteados exuberantes que naquela altura não representam mais do que um emaranhado de fios que mais parece um ninho.


- Tanto faz - respondeu Stella estendendo a mão. Ela pegou o cigarro e meteu na boca. O cara sentou-se ao seu lado e acendeu o bastão branco. Stella ainda não havia olhado diretamente no rosto dele, e agora virando-se, ela percebeu que ele era p0uca coisa de bonito, mas tinha bastante dinheiro, Dolce & Gabbana gritava isso do botão dourado da sua casaca.


Os dois fumaram juntos até que o sol iluminar toda a rua. Velhas senhoras desciam do seu apartamento para pegar o leite e o jornal, crianças de cara inchada metiam os rostos na janela e cachorros reviravam restos da noite passada, restos de comida e restos de pessoas. Havia uma garota dormindo calmamente num beco, ao lado de um contêiner de lixo.


- Bom, poderia ser pior, eu poderia ser ela - resmungou Stella.


- Tem razão, gata. - respondeu o estranho.


- Tudo bem, eu quero ir pra casa, estou ficando com odores desagradáveis embaixo dessa roupa...


- E onde a gata mora?


- Brooklyn... - gemeu Stella entre uma tossida e um suspiro.


- Tá de sacanagem né? Como veio parar pra cá?


- Amizades.


Fez-se silêncio.


- Agora vai me dizer que não quer mais me levar em casa porque eu moro no Brooklyn? Meu bairro não quer dizer que eu sou pobre sabia?


- Tudo bem, não esquenta, não esquenta, eu te levo onde for...


Stella levantou-se com a ajuda dele. Bom, pelo menos ele tem dinheiro, pensou ela. A limousine dele era branca como a neve, e reluzia mais do que a própria debaixo do sol escaldante do verão. E então Stella pensou e pensou e pensou várias e repetidas vezes enquanto cruzava Nova York tendo doces delírios com lofts lotados e banheiras de hidromassagem. Ele é feio, mas pelo menos tem dinheiro.


Seriam os anjos feios, mas cheios da grana? Pensou Stella.


Então, eu quero morrer agora mesmo.


sábado, 27 de março de 2010

Confissões da Meia Noite


Sozinho na sala, tarde da noite, cabeça à mil, voando longe, o sono chegando. Provas semana que vem. Simulado subjetivo. Ele não me ligou, e nem apareceu à minha porta. O comércio de hoje à tarde, o sol quente, material pra confecção de grandes fantasias, fofocas, perfis provocadores, a melhor amiga que retornou, tudo girando só de uma vez ao som de Men In This Town, da Shakira. Estas são as minhas reflexões da meia noite e também um resumo básico do que vem acontecendo desde a quarta feira, dia fatídico em que a Rayanne me chamou para ter a conversa, a conversa em que todo o ódio que ela sentia por mim se transformou em amor, e todo o medo que eu tinha dela se transformou em falta, falta daquela companhia, falta daquela pessoa fixa ali do teu lado.

O Anderson é o nosso anjo da guarda, o incentivo para a conversa foi dele, só podia ser dele aliás, alguém tinha de tomar alguma atitude, já que nem eu nem a Ray íamos tomar ela mesmo. Fomos dois cabeças duras idiotas ignorantes e fizemos um ao outro sofrer sem motivo aparente nenhum, mas este período separados fez agent pensar em um monte de coisas, fez vermos que existe sim um mundo sem um melhor amigo, afinal vamos precisar nos adaptar para um longo futuro sem a companhia um do outro. A experiência da separação foi como a experiência da pequena Lyra Belacqua no último volume da saga Fronteiras do Universo, o momento da separação de seu daemon, o momento em que ela deve atravessar o lago e não pode levá-lo, levar aquilo que faz parte dela. Foi mais ou menos assim que aconteceu, só que sem um grande motivo relevante.

No final das contas parece que tudo se ajeitou agora, e somos o que éramos antes, até parece que nunca paramos de nos falar, e para aprendermos a lição, o post sobre distúrbio bipolar emocional não será apagado, rs.

Hoje pela manhã, ou ontem pela manhã se preferir, ocorreu o tão esperado passeio ciclístico da escola, e para ser sincero, o que tivemos foi sol quente, muito sol quente, asfalto quente, e mais sol quente ao som de um axé do diabo, daqueles que você sente vontade de arrancar a cabeça e comer a própria se possuísse dentes no pescoço. Me disseram que tocou Lady GaGa bem lá no final, mas a essa altura eu já estava rodando o centro loucamente com o Andrew atrás de mim, entrando e saindo de loja, comprando o material para fabricar nossas deslumbrantes fantasias monstruosas que serão apresentadas ao mundo em nossos corpos no grande Baile dos Monstros, peça de teatro escrita e produzida por nós dois. Até agora temos 3 atores confirmados, cinco dançarinas prometidas, miçangas, papel cartão, arame, nylon e cola branca. diga-se de passagem que 20% do caminho já foi andado pelo menos.



Papai já foi comunicado e semana que vem ele estará na cidade para resolvermos alguns pontos a respeito. Garanto que quem for assistir o musical Canavarlar - O Baile dos Monstros, não vai se arrepender. Não vou contar a história para não estragar a surpresa, só posso dizer que é algo totalmente novo e nunca antes visto na história do teatro do nosso estado, ninguém nunca pensou tão longe, ninguém jamais foi além da regionalização. Visitamos outros universos e possibilidades infinitas. É esperar pra ver.


Bom, agora mudando de assunto, acho que todo mundo aqui já teve problemas com fofocas né? Pois é, estamos no último ano do colegial e mesmo assim não escapamos das línguas afiadas de anônimos e de conhecidos que nos rodeiam e estão em todas as partes. O formspring virou o verdadeiro berço de todos os grandes barracos, não só na escola como na cidade toda, tem gente usando o sistema de perguntas e respostas anônimas ou não para detonar com todo mundo, e ninguém, ninguém mesmo está sendo poupado. Grandes alvos somos Bia, Rebeca, eu, e acho que até mesmo a Desirée e mais um ou dois da minha sala. Pouco sabemos quem são essas pessoas, mais cedo ou mais tarde alguém vai dar com a língua nos dentes e eu VOU saber, porque eu não preciso correr atrás da informação, ela vem até mim, e pode ter certeza, vão apanhar um por um, não só de mim mas de todos os que tem o nome ali naquela porcaria. E eu já tenho as minhas suspeitas de quem sejam.
Não devem ser mais altos nem maiores do que eu, como metade daquela escola aliás, o que quer dizer que não vai ser muito dificil pegar uma daquelas sequinhas ou um daqueles pseudo-malacos de porrada. Mas, esqueçamos as fofocas, e fica a dica aliás. Não vou passar o endereço das passivas porque elas vão ficar se achando né? Então tá!




Agora deixa eu ir que eu to com sono!




Antonio Fernandes




;*

domingo, 21 de março de 2010

Ezequiel

Então, esta manhã eu prendi meu cabelo, tirei meu blusão e caminhei para o banheiro,
Mas mamãe parou-me no meio do caminho pedindo um favor...
Há uma casinha no fundo do quintal, nessa casinha, nasceu, há três semanas atrás, uma matilha de cãezinhos, filhos de Gabriela, a nossa cadela de guarda. Logo após o nascimento deles, a casinha foi forrada com papelão, que foi trocado apenas uma vez desde então, e por isso ultimamente o fedor estava insuportável, podendo causar doenças, micoses e infecções nos cachorrinhos que já tem lares reservados para eles em vários cantos da cidade, todos já estão prometidos para diferentes donos.
E eis o favor:
- Meu filho, vai tirar aquele papelão sujo de lá, por favor, aquilo tá uma imundice, coitados dos pequeninos!
- Mas agora mãe? Eu vou tomar banho...
- Justamente por isso, você tá sujo, vai logo vai, enrola um saco plástico na mão e vai...
Não estou em condições de negar as coisas por aqui, ganhei um celular novo recentemente, tenho de me comportar pelo menos até o final do ano, já que no começo deste também ganhei um computador novo e etc. Aconteceu que fui lá, e o fedor era realmente insuportável, era impossível que só urina e fezes de cãezinhos minúsculos como aqueles causassem tanto fedor. Tirei de lá um por um deles e coloquei no chão para brincarem por um instante, e pus-me a retirar aquela camada grossa, pesada e suja de papelão grosso e grotesco, o fedor era de doer a cabeça, aquilo virara uma crosta de alguma coisa que eu não identifiquei, mas o pior de tudo veio depois da retirada de todo o papelão.
Havia um rabo.
Um rabo cinza e enorme.
O dono dele era um bola disforme de carne branca e pêlos pretos, brancos e cinzas também, como é óbvio.
Grande patas eram senhoras de unhas pequeninas, mas afiadas e mortais. A coisa estava entalada numa das passagens de escoamento de água, feitas há anos atrás pelos primeiros moradores desta casa, que, segundo mamãe, tinham a intenção de construir um pequeno banheiro onde hoje nós guardamos entulho e coisas velhas, encarquilhadas agora pela ação do tempo e de dois partos animais, um de uma gata, e o outro mais recente, de uma cadela. O que havia do outro lado do buraco da parede? Uma grande lata de tinta que impediu a fuga do medonho rato cinza para o segundo "cômodo" da casinha, composta por duas celas, uma para os cães, e a outra para as inutilidades. Impedido de escapar por causa da pressão exercida pelo papelão sujo e pelos animais deitados em cima dele, e impedido de fugir para o outro lado por causa da lata de tinta, o animal que mais parecia uma cotia do que um rato, fico engatado, a cabeça presa embaixo da lata, por onde ele tentou se espremer para a fuga. Moscas verdes e amarelas começaram a fazer a festa após a levantada do papelão. O corpo gordo e em decomposição da criatura estava preso, completamente engatado, era grande demais para a passagem, e grande demais para um rato normal. Sugeri que talvez fosse um gambá, ou, como chamamos por aqui, uma Mucura.
Demorei um pouco para criar coragem e puxar aquilo dali, eu já o imaginava se desfazendo em tripas, carne, ossos, pelos e vermes, a minha cabeça já estava começando a dar voltas enquanto eu fazia um drama básico para a minha mãe. Mas, no final das contas, acabei dando um jeito de empurrar o cadáver do gordinho com um cabo de vassoura pelo outro lado da parede, desobstruindo a passagem para futuros ratos se aventurarem por ali, ratos mais magros e em forma, que não tenham exagerado tanto assim na hora de se esbaldar no lixo humano antes de tentarem uma fuga por buraquinhos tão apertados como aquele. Pobre rato, pensei, ao ver a pele do seu rabo vindo quando tentei o puxar, revelando a carne branca coberta de pequenos vermes furiosos.

Após isto tivemos de dar o primeiro banho da vida dos pequenos cachorrinhos. Já deu pra imaginar o escândalo conjunto das seis pequenas criaturas em seu primeiro contato direto com a água e o sabão. Na verdade, das cinco. O sexto cachorrinho, o sexto pequeno, não chorou ao tomar banho, não chorou ao ser esfregado, não chorou ao ser molhado várias vezes por jatos e mais jatos de água súbitos, jatos que deixaram seus irmãozinhos completamente desesperados. Não, ele não chorou, continuou sereno e calmo como sempre. Os três primeiros a ficarem lavados se espremiam no canto da parede, chorando alto de frio enquanto tremiam. Mas este cachorrinho se recusou a ficar lá, chorando frio, correu para a água de novo, e tomou mais um banho! Isto se repetiu pelo menos três vezes, até que todos estavam lavados e espremidos num só canto da área do lavatório gritando e ganindo de raiva, de frio e de medo.
Adivinhe só quem, mesmo molhado, ficou andando atrás de mim, pra cima e pra baixo, balançando o rabinho? Quem tomou a iniciativa de mexer com a Baby, nossa gata de estimação, que observava a cena com seu focinho em pé, toda esnobe, tentando não esboçar curiosidade em seus grandes olhos azuis enquanto lutava contra o impulso de mexer com aquelas pequenas criaturinhas choronas. Sim, o mesmo cachorrinho que sentou do meu lado e começou a lamber a água da minha perna, o mesmo cachorrinho que não esboçou medo ou desespero algum quando o peguei com as duas mãos e o ergui no ar, o único cachorrinho que olha diretamente para cima, para o céu, que não gira a cabeça freneticamente no ar tentando se libertar das minhas mãos, aquele que tem os olhos azuis escuros e semblante sereno, que estendeu a patinha para os meus pés e que abanou o rabinho para a Baby.
E ele já tem um nome.
Um nome de anjo.
Totalmente especial.
Duvido você adivinha qual é.


Antonio Fernandes
;*

sábado, 20 de março de 2010

Bj Bj ;*

Meu terceiro livro está no último capítulo e nada de sair...
Mas tudo bem, não tenho editora mesmo,
tenho todo o tempo do mundo
beijos!


Tem Coragem?

A questão é,
você está preparado para encarar
todos os seus
demônios interiores?



sábado, 13 de março de 2010

AHÁ!

Então, enfim alguém anda mesmo lendo essa porra... acabo de receber notícias quentinhas de um dos meus informantes favoritos a respeito de repercussões do post de distúrbio emocional...


causay? polemizay?
quem sabe...
Mas ninguém aqui está dizendo que você é louca...


quinta-feira, 11 de março de 2010

Mais Indignação?


Sim, mais indignação.
Eu fico completamente indignado com o povo me comparando com o Sérgio do BBB, vulgo, Sr. Orgastic.
Ave, gente, pelo amor de Deus né?
Nunca fui atirado na minha vida
Sempre fui completamente anti social (e me orgulho disso!), evito qualquer aparição pública demasiado expositiva.
Sempre fui de ficar no meu canto.
Quase não saio de casa, odeio festas.
A única vez em que curti uma festa de aniversário foi nos meus 17 anos, em Janeiro agora, e juro que nunca mais vou dançar que nem uma vagabunda daquele jeito de novo na minha vida.
Não sou atirado.
Só não vou dizer que sou discreto porque gosto de expor as minhas ideias bem alto e deixar bem claras todas as minhas opiniões sobre qualquer assunto pra todo mundo ouvir, gosto de falar muito e de impor as minhas ideias. Aliás, meu tamanho não é nada discreto e meu visual também não é nem um pouco discreto, mas isto faz parte do que eu sou e faz parte da minha arte, a minha roupa e a minha maquiagem são parte da minha arte, enfim, eu sou um puta dum esquisito então que se foda todo mundo e aquele tal de serginho!





VSFBGS!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Monstro


Nem me perguntem o que andei fazendo estes últimos dias enquanto estive fora, a escola andou me tomando grande parte do tempo e eu estou completamente obcecado pela saga extraordinária e secular do Vampiro Lestat, escrito pela brilhante e geniosa Anne Rice, que soube muito bem como colocar tudo o que eu amo só num livro... Minto, num só não, numa série cheia de mistério, paixão, beleza, arte e sangue. Misto perfeito do excêntrico, do macabro, da beleza na morte, da essência do que é a vida, a extravagância, a benção e a maldição de viver para sempre, acho que esse livro tem influenciado muito, nos meus poemas reflexivos e nos meus desenhos principalmente, combinado com o som de The Fame Monster, aí já viu, o que nasce do casamento desses fatores é uma série de obras de artes belas, mas ao mesmo tempo assustadoras, macabras. Adoro isso, leio o livro e sinto que deveria ter nascido naquela época, sinto que deveria ter nascido no final do século XVIII, só pra experimentar aquelas roupas cheias de babados, o prazer de andar de nariz em pé, o prazer de sentir que a vida é só minha e que ninguém vai se importar muito com o que eu faço dela. Gostaria que fosse assim hoje em dia. Se bem que acho que as pessoas só se preocupam tanto com a vida dos outros aqui nesse fim de mundo, acho que o problema da minha vida é Macapá. Não é nem Macapá, são as pessoas idiotas que vivem aqui, parece que ninguém deu educação a ninguém por aqui, nem em Laranjal do Jarí me torram tanto a paciência quanto aqui, e olha que lá é interior...
É fato que uma vez um tiozinho quase caiu da bicicleta certa vez quando eu passeava na rua por lá, mas tudo bem, agent releva, afinal, acontece... rs.
Tanto faz, o que acontece é que eu to morrendo de saudade do aconchego de todas aquelas pessoas ao meu redor, do calor que eu sinto quando eu estou em Laranjal, na casa do meu pai, rodeado pelas meninas, pela tia Ana, pelo Kayan. E também de quando estou na casa da tia Adma, com a Jamile, o tio Gerson, o Tonho, a família que me acolheu e que é meu grande refúgio do mundo até hoje, e eu posso remontar a tempos bem mais distantes, tempos de Jamile, Brenda, Marcus e Raíssa, ou mais longe ainda, tempos de Rainá. Enfim, to sentindo falta de um xamego, rs.
A mamãe vai chegar daqui há pouco, vou pedir um abraço e vai ficar tudo bem.
*3*
Abraço de mãe resolve tudo, que delícia né gente?
Bem, o ocorrido de semana passada agora me parece somente um espectro, um fantasma de uma lembrança que não é minha, algo que eu pesquei de algum filme ou novela e que ficou um bom tempo na minha cabeça, me induzindo a fazer milhares de deduções sobre o que poderia ser feito a respeito, mas afinal eu decidi tocar a minha vida pra frente quando uma pessoa transmitiu a mim a seguinte mensagem:
"ela disse que pra ela tanto faz '-' "
O que significa QUE pra ela nossos momentos juntos não significaram muita coisa, foi um empurrão e tanto pra eu tirar qualquer peso que eu tinha na consciência, e agora é pra mim que tanto faz. Tenho gente mais importante e mais CONSTANTE que me quer muito melhor do que qualquer um que eu encontre dentro de uma sala de aula.
E assim acabou. E estamos todos bem e muito felizes, obrigado!
O dia foi um cocô, mas tudo bem, porque eu encontrei pessoas maravilhosas, tive conversas maravilhosas, dei risadas maravilhosas e mitifiquei a mim mesmo milhares de vezes no pensamento em um surto de Mania. Às vezes acho que ela me passou um pouco da Bipolaridade que ela tinha, o que me faz pensar... Problemas emocionais passam de pessoa pra pessoa? É algo a se pensar, e a se estudar.
Às vezes fico pensando em me vingar, às vezes fico pensando nas coisas que posso ou não fazer, às vezes fico pensando que vou repetir o terceiro ano e isso se torna quase uma certeza e me deixa com certo medo, mas se caso isso acontecer, adeus Brasil e olá Haiti.

Às vezes vejo a minha arte como um grande monstro, um monstro perigosíssimo e sanguinário, confinado na gaiola que essa cidade calorenta é, e sem nenhuma esperança de fuga, me sinto preso, sinto na minha alma uma fera acorrentada, uma fera em quem atiram frutas e pedras o tempo todo. E enquanto o ônibus Buritizal-São Camilo faz a curva numa esquina, saindo da Avenida FAB, imagino esse monstro se soltando da corrente para correr o mundo, se alimentando da alma e da essência do que é belo e do que é magnífico, alimentando-se da música, do conhecimento, da arte e da cultura. Meu monstro interior está faminto por liberdade e por poder. E ao se soltar das correntes, tenho certeza de que irá dominar o mundo. Foi basicamente isso o que eu disse ao Anderson, meu amigo de infância que retornou à escola após alguns anos, enquanto conversávamos sobre um desenho meio macabro que eu havia feito, porém com um ar de divindade, de santidade e de sacramento, mais um dos meus monstros interiores, um deus de mim mesmo. Mais uma das vozes que conversam comigo à noite na escuridão do meu mundo. Falávamos sobre como uma única imagem, uma cena, um filme ou uma música acabam nos deixando amplamente inspirados, serve como uma espécie de droga, alucinógeno, que nos põe pra cima, no pontinho para enxergar todas as possibilidades do futuro, e do quanto tudo pode ser grandioso e magnífico, e aquele desejo faminto pelo poder, por dominar o mundo.
Rimos juntos disso. Como é estranho encontrar alguém que tem a mesma sensação estranha que eu tenho.
Eu poderia comer arte, respirar a arte, viver somente dela. Poderia largar tudo pela arte se meu futuro e meu sucesso fosse certo, e com o meu poder eu esmagaria a cabeça de todas as serpentes que silvam pra mim quando eu atravesso a sala de aula.
Parece tudo tão brilhante e grandioso.
Às vezes eu fecho meus olhos e imagino tantas possibilidades. Acho que isso vai acabar me matando um dia.
Mas e então? Como fica meu monstro? Se eu não sonhar com a arte, ele vai passar fome, e é capaz de, num acesso de raiva, ele dilacerar-me por dentro.
O que fazer a respeito?
Agora eu finalmente entendo, entendo o que Lestat queria dizer com a beleza ser mortal, perigosa, agressiva, agora entendo o significado da expressão Jardim Selvagem...
Como se alguém lesse isso...

ANTONIO FERNANDES

I
WANT
MORE
TO
FEED
MY
POP
HEART
imagens:
1 - Capa (brasileira, editora Rocco) de Vampiro Lestat.
2 - Minha criação favorita de Alexander McQueen.
3 - Lady GaGa e seu estilo excêntrico.
4 - a cantora islandesa Björk encarnando um fauno.
5 - o monstro que vos fala
:)