Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

THE BIG MACHINE - PARTE 1!

- Eu sinceramente nunca tinha visto o Pietro daquele jeito! – disse Maurice, sentado na mesinha da carteira de Augusta. Estavam todos sentados em uma grande roda de carteiras, comum nos intervalos entre uma aula e outra, onde a conversa pode ser num volume pouco mais alto e mais abrangente. Ali são comuns as conversas paralelas em sala de aula, o que deixa os professores muitíssimo irritados, mas nada se pode fazer, pois estes são os ossos do ofício para quem tem amor à profissão, afinal de contas, os alunos de hoje em dia já não são os mesmos de antes, já não estão tão preocupados assim em assistir às aulas e tirar boas notas. O importante hoje em dia, com tanta tecnologia à disposição e oportunidades diversas, é passar de ano.
- Ele estava completamente desesperado! Andou em círculos durante um bom tempo no meio da multidão, quase chorando – enfatizou Augusta – e depois estragou total o passeio, porque ficou fazendo cara de quem chupou limão a noite inteira...
Maurice riu.
- O mais engraçado disso tudo era a cara dele quando a gente perguntava se ele ia apanhar!
- “Eu vou! Eu vou!” – imitou Augusta.
- “Do teu pai ou da tua mãe?” – perguntou Maurice.
- “Dos dois! Dos dois!” – e Augusta caiu na gargalhada.
- Esse show da Cláudia Leitte foi uma loucura... a Lois perdeu o sutiã, a Mary Ann caiu no bueiro, num instante ela tava lá, e no outro, procura a Mary, procura Mary, olha pra baixo, lá está a Mary Ann encolhidinha dentro do buraco, quê isso Mary Ann?!
Todos explodiram na risada.
- Ei, eu soube também que, numa briga, duas garotas viraram o carrinho de batata frita, e o óleo quente praticamente as fritou! – comentou Christopher, com os olhos esbugalhados.
- Foi! E na hora da muvuca, o isopor da tia da cerveja virou, e aí foi gelo pra tudo quanto é lado! – riu-se Augusta – e a tia ainda tentou espantar o pessoal que tava pulando do lado do carrinho dela, coitada!
- Mas esse Pietro... Só ele mesmo pra perder um celular de mil e quinhentos reais daquele tamanhão numa micareta dessas! – disse Christopher – como pode uma pessoa não sentir que alguém meteu a mão no seu bolso?
- Sei lá né, na hora da confusão, ninguém vê nada! Até eu pensei que fosse morrer! – argumentou Maurice – era um empurra-empurra dos diabos, pressão de todos os lados, gente sendo pisoteada, jogando cerveja, caindo uma por cima das outras...
- É por isso que eu O-D-E-I-O essas coisas... Festa, micareta, isso não dá futuro, é só gasto de dinheiro num abadá que não passa de pano velho que depois vai servir pra passar pano na casa. Além do mais, só se vai pra essas coisas quem quer ter prejuízo, como perder o celular no caso do Pietro – proclamou Christopher, quase num discurso – toda aquela gente suada, pulando, se esfregando... CREDO! Nojinho disso!
- Ah, mas isso é que o bom, hum... – piou Augusta, assanhada como sempre...



- Ai, que merda, que merda, que merda! – Pietro ainda se lamentava do ocorrido, dois dias após a festa, e não fazia ideia de como contar aos seus pais sobre a perda do tão caro telefone. A turma inteira copiava a atividade do quadro, entre comentários em chiados e risadinhas animadas pouco mais altas que um cacarejo. – nesse começo de ano eu tinha dois celulares e um MP5, agora já tenho mal um computador de HD mole! E o pior de tudo é que meus pais nem sabem que eu perdi nenhuma dessas coisas, se eles souberem, meus segundos estão contados a partir de agora!
- Tensa essa história Pietro – chiou Christopher – eu não sei por que vocês são desse jeito, os pais de vocês têm bons empregos, recebem bem todo mês, dão pra vocês tudo o que vocês querem e até coisas sem necessidade como, por exemplo, um celular de 1.500 reais, e vocês, o que fazem? Perdem, quebram, deixam levar! Na minha opinião, vocês não dão valor as coisas que tem!
- US PESSUAL NUM DÃO VALÔ ÀS COISA QUI TEM! BY CARMEN PARAFUSO! – todo mundo caiu na gargalhada. Ray Ann estava imitando a garota protestante fanática de pernas finas que vive sondando por aí, muito amiguinha de Maurice, mas que procura não se misturar com o resto do pessoal, só porque se acha melhor do que todo mundo, por ser convicta de que já tem o seu lugar no céu garantido.
- Não me venha com esse papo batido, Christopher, isso já está ficando chato! – reclamou Augusta, deixando seu caderno e sua caneta de lado por alguns instantes para se ver incluída na conversa.
- Mas é verdade, sempre que eu falo vocês me acham um chato, mas é verdade, vocês são muito folgados, deviam dar mais valor pras coisas que têm... – Christopher também largou a caneta por alguns instantes, olhou para a cabeceira da fila de cadeiras e depois para o final. – ué, a Carminha não veio hoje...
No mesmo instante, todos os outros integrantes do grupo que conversavam avidamente fizeram vistoria nas duas fileiras que pertenciam ao Apocalipse Club dentro da sala de aula, onde ninguém, apenas eles, sentavam. Era verdade, Carminha Parafuso e toda a sua magrice não compareceram à aula naquela terça-feira.
- Sabe de uma coisa? Vou dar de faltar igual uma louca agora também! – Fábia Paola que se mantivera calada até o presente momento deu uma pedrada com seu caderno tão maltratado, assustando todo mundo só de uma vez, como ela costumava fazer quando estava revoltada com alguma coisa – a Carmen quando tem feriado começa a enforcar desde quarta feira, quando na verdade o final de semana começa na sexta, e no final do ano ela ainda passa! – Fábia cruzou seus bracinhos pesados sobre seus enormes seios.
- A Paola tem razão, o professor de Geografia ainda teve coragem de passar a Carminha com sete ou oito parece, isso é uma puta duma sacanagem! – chiou Augusta.
- Por mim que se exploda Caminha e suas notas... O que eu não faria para ter meu celular de volta! O que eu não faria para não apanhar! O quê, meu Deus, o quê? Hoje eu vou pegar uma taca de peão-roxo, ai minhas costas!
Todos riram de Pietro, que permaneceu esfregando suas mãos nas costas, já sentindo a dor que estaria por vir mais tarde, quando ele resolvesse abrir o jogo com seus pais.
- Sabe de uma coisa? Sabe o que eu faria? – começou Pietro quando todo mundo já estava concentrado no assunto de história outra vez. – Quem dera eu ter uma máquina do tempo! Um dia, eu juro por Deus que vou voltar e pegar esse celular de volta! Nem que isso custe a minha vida! Quem sabe eu não viro o inventor da máquina do tempo?
- Com essas notas, eu acho difícil! – começou Maurice puxando o boletim de Pietro de baixo do caderno dele. – olha só, nem abriu o caderno ainda pra escrever o assunto!
- Ah, Maurice, não enche o saco! – Pietro puxou seu boletim de volta e prosseguiu na sua viagem de ficção científica – não, pensando melhor, eu voltaria no tempo e alteraria todo o meu passado, pra que o meu presente fique do jeito que eu quero. Eu fiz muita coisa que não queria ter feito, e me aconteceram muitas coisas também que foram cruciais pra o momento... Eu faria tudo diferente, desde o meu nascimento até agora!
- Eu também pensava assim antes! – pulou Christopher todo animado, aquele era um de seus assuntos preferidos, por isso sempre foi considerado o doido da turma, o mais retardado, porque sempre pensa muito além de todas as possibilidades, em resumo, o garoto viaja – eu sempre quis voltar no tempo e impedir que os meus pais se separassem, impedir a morte da minha bisavó, mas hoje eu vejo que essas coisas só me aconteceram para que eu me tornasse a pessoa que sou atualmente... Eu tenho medo de mudar alguma coisa e acabar como o Alexandre Amido...
Todos voltaram seus olhares felinos e disfarçados para o lado de lá da sala, para os riquinhos que vivem em festas, têm carros bonitos, dinheiro e muitas namoradas. Alexandre era o líder deles.
- Tem razão, já pensou o Christopher igual àqueles garotos? – riu Pietro, imaginando Christopher sem seus longos cabelos escuros e suas roupas extravagantes. – ia ser uma piada!
- Não se vocês me conhecessem daquele jeito... – Chris deu de ombros.
- Sem contar que tu nunca saberias se teus pais iam ser felizes juntos... – argumentou Maurice – vai ver eles tinham de se separar mesmo para não sofrer...
- É outra hipótese... Mas, que seja, eu sempre quis voltar no tempo, desde que me entendo por gente, é um dos meus grandes sonhos – os olhos de Christopher brilhavam.
- Não se preocupe, quando eu inventar a máquina do tempo, vamos todos fazer uma viagem juntos, e eu recuperarei meu celular e não levarei uma surra! – disse Pietro levantando seu punho no ar.
- É claro que vai levar uma surra, Pietro! – todos olharam confusos para Christopher. – é claro gente, vejam só: o Pietro do futuro iria até o passado, na noite e na hora em que o Pietro do passado perdeu o celular, e pegaria o aparelho antes que ele perdesse, no caso, se caísse no chão, e levaria de volta para o futuro, e então estaria explicada a situação: Pietro nunca perdeu seu telefone, o Pietro do futuro foi quem voltou e o pegou antes que alguém pisasse nele no meio da multidão e o levou para a sua época...
- E assim eu continuaria sem telefone e pegaria uma surra mesmo assim! – admirou-se Pietro, arregalando seus olhões brancos – que legal!... bom, quer dizer, só tecnicamente, porque eu continuaria condenado a apanhar...
- Isso deu foi um nó na minha cabeça isso sim! Vamos estudar manos! – começou Augusta.
Aquele dia passou rápido demais, e antes que Christopher percebesse, já estava dormindo...
Nunca em toda a sua existência, ele foi capaz de se preparar para o que viria. Nunca, jamais, em suas viagens imaginárias entre dimensões e hipóteses e mundos diferentes ele pode chegar a conclusões tão absurdas e catastróficas como aquelas que a maldita manhã seguinte lhe guardavam. É tudo tão caótico e tudo tão confuso. Tudo parece tão cômico, mas tão desesperador... Abrir os olhos numa quarta feira normal e ensolarada na cidade infernal e calorenta de Macapá, onde o sol te queima até os ossos, se olhar no espelho e dar conta de que já não é mais o mesmo...

Fim da Primeira Parte!


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