Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

domingo, 27 de junho de 2010

Comming Soon...


AGUARDEM

Stella, a Trilha Sonora



Stella pra mim foi um conto estranho, bucólico, descompromissado, passageiro e irresponsável. Foge totalmente ao meu estilo. Eu que gosto de retratar o fantástico, o absurdo, de repente resolvi contar a história de uma vadia que acaba virando modelo meio que sem querer. Não me canso de dizer a vocês que sinto uma inveja mortal da Stella. Stella é o tipo de garota "viva e deixe viver", ela está pouco se lixando pro que vai comer amanhã, está pouco se lixando se vive socada num apartamento sujo ou se gasta milhares de dólares numa pulseira de diamantes que no futuro vai colocar no pescoço de uma gata. Ela está dando uma banana pro mundo, está cagando e andando (desculpem a expressão), pra tudo, para emprego, pra escola, pras pessoas, pra sua imagem. E mesmo assim, a vida agracia esta mulher de todas as maneiras, a vida abre portas para ela, a vida derruba muros, derruba barreiras, o acaso alça ela pra cima, ela é uma puta duma sortuda. Eu invejo ela por isso. Invejo ela por não ter feito esforço nenhum para chegar onde chegou, enquanto eu, o criador dela, choro toda noite com medo de ficar reprovado em física e repetir o terceiro ano, passo quatro dias da semana socado dentro de uma sala de aula, de manhã e tarde, ouvindo coisas que entram por um ouvido e saem pelo outro, mesmo que eu faça um esforço GIGANTESCO pra que elas fiquem fixadas ali na parede da minha cabeça.


Ah, não, mas isso não importa pra Stella. Ela tem o mundo nas mãos, ela consegue tudo o que ela quer sem o mínimo dos esforços, ela é abençoada, ela é agraciada. Eu até tentei, eu prometi pra mim mesmo que não ia deixar barato, ia dar um jeito de fazer a Stella sofrer, mas de nada adiantou, ao Andrew e seu personagem Lucas que "não morreu! quem te deu o direito de matar o meu personagem de uma maneira tão pobre e vulgar?" , acabei deixando barato pra Stella e o amor da vida dela, afinal, está vivo e não morreu estuprado nos becos de Paris coisíssima nenhuma. Mas isso é uma coisa que o nosso amigo Andrew vai ter de dar um jeito de explicar, porque a primeira aparição de Lucas mostra a morte dele num beco! ENFIM, aqui vou eu e a trilha sonora desse conto que tem tanto em comum com a sua personagem principal: é vulgar, é simples, é irresponsável, é descompromissado e é sortudo. Enfim, um verdadeiro prostituto esse meu conto.






Stella, a Trilha Sonora:




1 - New York - Cat Power.


2 - You Know I'm No Good - Amy Winehouse.


3 - Trouble - Christina Aguilera.


4 - Can I Go Now - Jeniffer Love Hewitt.


5 - 22 - Lily Allen


6 - Picture Perfect - Nelly Furtado.


7 - Hurricane Drunk - Florence + The Machine.


8 - La Vie En Rose - Edith Piaf


9 - Venus As a Boy - Björk.


10 - Mansion Song - Kate Nash.


11 - Happy Up Here - Royksöpp.


12 - So Happy I Could Die - Lady GaGa.


13 - Stella - Ida Maria.

Epílogo - Pour Quelqu'un Très Spécial, Stella



A gata pulou da almofada e caiu de pé, é claro, com classe. Esticou seu felpudo rabo comprido e caminhou cheia de ginga até a porta que havia acabado de se abrir. Um caminhar único, um caminhar sexy, os passos de felino. Desviou dos móveis, pulou uma mesinha de centro e finalmente alcançou ao par de saltos em vinil de vermelho-neon. Sua dona voltara de viagem. Um mês não fora o bastante para apagar da curta memória daquele animal o rosto portador de rara beleza, o rosto estranho de Stella. Seus cabelos escuros e seu cheiro forte de álcool. Mas não álcool de bebida, álcool de perfume, um aroma que remetia à Índia e ao oriente. Cheiro de vadia humanizada, cheiro de Stella.


- Baby! Baby! Que linda que você está! - a mulher abaixou-se, jogou sua Louis-Vuitton para o lado como se fosse um mero saco de supermercado e catou a gata no colo. Uma gata gorda de cara, pés e rabo preto. Engana-se quem disser que talvez fosse uma siamesa. Aquela gata era filha de vagabunda, era uma miscigenação, a mais bela miscigenação existente. Baby, filha de Mariella.


Baby poderia perguntar a sua dona como fora de viagem. Baby poderia perguntar se a dona trouxera algum presente. Mas seus sentimentos estariam apaziguados e devidamente expressados com um longo misto de miado e ronronado.



- A Rita cuidou bem de você, meu amor? A Rita cuidou? - Stella transferiu sua pulseira de ouro cravejada de diamantes para o pescoço da felina - aqui, esse presentinho, só porque eu esqueci de comprar algo pra você. - desceu a gata no chão. - tomara que essa safada não vá perder a minha pulseira...


- STELLA! - Rita surgiu no corredor, ligando os abajures feito um vulto, uma visagem de máscara facial e touca, surgida das trevas para assombrar a recém-chegada. - minha filha!Porque não avisou que viria, meu amor?! Cadê o Ítalo?


Stella calou a boca da sua "mãe" com um abraço.


- Rita, Rita! Porque tanto nervosismo?! Tá com homem no quarto é? Sua danada!


Rita deu uma risadinha e em seguida um tapa de leve nas costas de Stella.


- Me respeita, menina! - alertou - sabe que eu teria arrumado tudo isso aqui e preparado uma janta! A viagem é longa, o estresse é muito!


- Eu sei, Rita, to de zueira... - Stella pegou um porta-retrato de dentro de um armário de vidro e deu um beijinho de leve, devolveu para o lugar. Na foto, uma gata rajada. Mariella, a bela Mariella, gata matreira, esperta, falecida há um ano e meio, logo depois do seu quarto parto de seis grandes filhotes, dos quais Stella preferiu a única semi-siamesa, Baby. - Só coloca o almoço no micro-ondas e põe à mesa, to morta de fome!


Rita correu para a cozinha. Stella puxou uma poltrona branca, abriu uma garrafa de vinho da adega, encheu uma taça pela metade, abriu as cortinas da vidraça por completo e se largou diante da vista infinita e luminosa da cidade de Nova York. Os prédios e suas luzes piscavam para Stella, os carros ali embaixo comemoravam seu retorno, e os helicópteros, tão receptivos, passavam pra lá e pra cá, desviando das torres de sinalização no alto dos edifícios. Nova York, Nova York, o celeiro da vaca Stella, em alta definição, se estendendo de um lado a outro no seu cinema particular, que só exibia filmes da vida real. Tão íntima era aquela vista, tão íntimas aquelas vidraças gigantescas da fachada de vidro da cobertura no último andar. Sempre com uma garrafa de vinho, de um bom vinho.


Outra poltrona pediu espaço.


- Sua mãe ligou mais cedo, pediu pra que eu avisasse que o dinheiro acabou e ela não tem como voltar de Dubai. - Rita encheu sua taça de vinho também. Baby pulou no colo da dona subitamente.


- Vamos deixar a velha um pouco desesperada... - Stella riu, abriu os primeiros botões do seu cardigã para ventilar - vamos fingir que eu ainda não voltei de Paris e que eu não estou em nenhum dos meus telefones.


Rita gargalhou e brindou com a filha de criação.


- Haroldo tem visitado?


- Vai sonhando... Desde que se meteu com aquele macho dele... o tal Ed...


- NÃO! Não diga o nome completo dele, podemos ser processadas! - ironizou Stella, lembrando-se da ameaça que o namorado de Haroldo fez a ela se caso seu nome tão conceituado acabasse sujo por um incidente de tal tipo. - ele é famoso demais, famoso demais para ser gay.


Rita gargalhou, e as duas vararam a noite gargalhando.


- Vai assumir o relacionamento com o Ítalo de uma vez por todas, Stella, minha filha? - perguntou Rita, já bêbada - acho que está demorando demais, você está ficando velha e está mais do que na hora de se casar. Envelhecer solteira não é nada legal. Eu que o diga! Não dou uma rapidinha sequer desde que o Geraldo morreu!


- Não fale besteira, Rita! - Stella jogou uma almofada na mulher, que capotou pro lado de lá, rindo feito uma hiena. A queda de Rita acordou a gata dorminhoca que voou feito vento pra debaixo do armário, com medo. - pare de rir, sua tola, a Mariella até fugiu assustada! Eu não vou me casar com o Ítalo, ele é meu agente, meu empresário, e nas noites vagas, meu boneco inflável!


- A Mariella morreu, Stella! - disse Rita, se levantando - Você e o Ítalo são solteiros, desimpedidos e independentes, e aliás, bonecos infláveis furam, não duram pra sempre...


- Ai, não seja tão cruel! - Stella virou a poltrona pra parede.


- Mas é a verdade! O Ítalo não vai ficar aqui pra sempre e...


- NÃO, sua boba! Eu quis dizer com relação à Mariella! Eu sei que ela morreu! Eu sei eu sei eu sei!


Stella começou a chorar. Rita foi a seu encontro para consolar.


- Oh, meu anjo, desculpe... Vamos pra cama, vamos? Acho que já está tarde demais. Amanhã podemos ir ao MET de manhã cedo e depois passar na SAX para fazer umas compras, que tal?


Stella parou o choro e riu.


- Acho ótimo. Acho gay e ótimo! - ela se largou no chão, foi mais difícil assim para Rita levantá-la. - vamos chamar o Haroldo também.


- Tudo bem, tudo bem! Chamaremos o Haroldo então!


O relógio de pêndulo bateu as quatro da manhã. Stella estava no banheiro, fazendo xixi. As últimas lágrimas da noite caíram no piso do banheiro, junto à maquiagem e às suas unhas pintadas de vermelho. Ela tinha de retomar a vida. De uma maneira, ou de outra.


Batidas na porta.


A voz de Rita retumbava alguma coisa.


Voz negra, voz forte.


Voz afro.


- O que é Rita?! Eu to mijando!!


- Minha filha! Tem um Lucas no telefone! Já pensou? Uma hora dessas? É hora de ligar?! Pelo amor da Virgem Santíssima!


O coração de Stella praticamente explodiu dentro do peito. Ela levantou a calcinha e cambaleou até a porta do banheiro, correu até a sala, pegou o telefone e, tremendo dos pés à cabeça, colocou no ouvido.


- Alô? - fez Stella.


- Olá? Stella? Meu anjo, você me escuta? Me escuta?


Naquele momento, não se sabe exatamente o por quê, Stella lembrou-se exatamente do que havia escrito quando assinara o caderninho daquela frenética adolescente, há um dia apenas, em uma loja de conveniências qualquer de Paris. Talvez porque a cara que ela estava fazendo ao telefone era exatamente a mesma cara que a amiga tímida e descrente da jovem fazia naquele momento. Há controvérsias, sim há. Mas o fato foi que ela lembrou-se do aparelho saltado da boca do balconista, e talvez porque estivesse bêbada ou talvez grávida, vomitou no carpete. A remoção da mancha ia custar caro.


Havia apenas uma certeza em tudo isso: as surpresas de Stella só estavam começando. Daqui há uma semana, ela vai descobrir o que carrega no ventre. Daqui há uma semana, Ítalo vai morrer de overdose. Daqui há uma semana, Wanda vai se casar com uma fazendeira. Daqui há uma semana, Rita vai voltar pro Brasil.


Daqui há uma semana, seu amado Lucas vai bater à sua porta.


E ao que me cabe contar à vocês já foi contado, pois modelos tão famosas assim como Stella não autorizam a se aprofundar tanto assim em suas vidas particulares, são cheias de estória, cheias de não-me-toques, cheias de frescura, com seus advogados, seus agentes e seus Dolce&Gabbana. Quem te viu, quem te vê, Stella. Uma vadia das boates mais sujas de Nova York, às vezes brinquedinho das ricaças do Upper East Side, nas sextas e nos sábados. Eu tenho uma puta inveja de Stella, confesso a vocês pela segunda vez. Uma criatura tão simplória e sem profundidade alguma, sem ambição nenhuma, acaba assim, por um acaso, rica e famosa. Cheia de complicações, mas ainda assim, rica e famosa.


Ah, Stella, Stella...



Clique para conferir a OST deste conto.



sábado, 26 de junho de 2010

Stella, a Fortaleza Humana

- Uma carteira de cigarros por favor... - elaestendeu as moedas. O dia estava bem frio, tão frio a ponto de forçá-la a esconder seus cabelos, a esconder seu rosto atrás de óculos escuros totalmente dispensáveis. Pra falar a verdade, havia um tempo que Stella não tinha coragem de andar por aí tão largada quanto andava antes, se jogando pelas calçadas, batendo carteiras, virando uma garrafa de vodca, na vida. Agora Stella passava horas olhando para a cidade, a cidade com seus gigantes de concreto cinza, rústicos e selvagens, cortando a paisagem sem nenhum remorso, lutando para se sobressaírem. O comportamento dos prédios ali do alto era exatamente o mesmo dos humanos ali embaixo. A cobertura no último andar daquele hotel não era o bastante para Stella, era um mundo sofisticado demais para ela, mas ela agora estava presa àquilo, ela não podia mais ser a Stella que ela era, não mais.




- Oh, meu Deus! - exclamou uma daquelas duas adolescentes irritantes que entraram na loja falando alto, cataram as revistas adolescentes às gargalhadas, e deram gritinhos admirando as típicas fotos dos ricos e famosos. Stella gelou dos pés a cabeça, arrepio na espinha. Aquele "oh, meu Deus" com toda a certeza veio em sua direção, o sexto sentido de vadia estava bem alerta.



Passos às suas costas. Uma cutucada leve.



- Com licença... Por um acaso você seria...



Stella virou-se. Estava gelada, mesmo debaixo de toda aquela roupa.



- É sim, é ela! - gemeu a amiga que se aproximava tímida - é Stella Vazjekovzka! é Stella Vazjekovzka.



O cara do caixa, que fazia um tipo meio nerd com os cabelos na cara, caindo por sobre seus óculos de aros enormes arregalou os olhos e foi forçado a colocar a franja pra trás, levantou-se da cadeira e sorriu de orelha a orelha. Seu coração acelerou, ele estava sem palavras.



Uma das garotas puxou um bloquinho em formato de coração, um bloquinho felpudo, rosa-chiclete, bem nojento, asqueroso como diria Stella.



- Stella, você não sabe o quanto eu te amo! Não sabe o quanto eu esperei pra te conhecer! - exclamava a menina, vermelha, quase lagrimando. Aquilo fez com que Stella ficasse vermelha também, e um pouco constrangida. Fazia um tempo que aquilo não acontecia. Uns três meses talvez. - autografa pra mim, Stella? Autografa?



A amiga olhava ainda tímida por cima do ombro da suplicante, ainda não havia assimilado a situação completamente, era um verdadeiro sonho. Stella Vazjekovzka estava ali, perambulando pelas ruas do seu bairro!



Stella gaguejou um pouco, a frase criou vida própria e forçou saída pelos lábios como um pássaro que escapa da boca de um gato.



- É claro que eu autografo, querida, com todo o prazer! - ela riu sem graça, pegou o bloquinho e assinou. Ela não podia explodir agora, ela não podia começar a chorar justamente agora. Ela estava guardando tudo para si, estava entupindo sua alma até o gargalo com todo aquele sentimento, estava guardando tudo pra si. Entregou a assinatura. Foi surpreendida por um grito. Era o balconista nerd.



- STELLA! AUTOGRAFA MINHA BARRIGA!



Foi a vez de Stella arregalar os olhos, de espanto. O aparelho verde do garoto, cravado em seus dentões de cavalo, estava praticamente saltando da sua boca, era uma coisa assustadora. Stella sorriu sem graça e assinou a barriga dele, que sentou-se tão cheio de emoção que não cabia em si. Stella estava se sentindo uma Megan Fox, uma Megan Fox triste, ferida e magoada.



A amiguinha tímida da garota do caderninho de coração pediu um abraço, e era tudo o que Stella precisava, foi a chave para que o choro descesse numa cachoeira infinita que manchou todo o veludo do casaco da garota. Ela apertou a jovem o mais forte que pôde, ela precisava de um colo urgentemente, aquilo a estava matando. Percebendo o choro de seu ídolo, a pobre moça também começou a chorar, e em pouco tempo o choro tornou-se coletivo, as únicas quatro almas vivas daquele pequeno mercadinho de poucos metros quadrados estavam chorando rios.



- Me desculpem! Me desculpem!



Stella livrou-se dos braços da garota bruscamente e saiu correndo da loja, com os gritos dos jovens ficando pra trás, pedindo calma, espera, chamando pelo seu nome. Ela correu, se escondeu, se fosse uma cobra teria engolido o próprio rabo até se acabar dentro da própria boca. Se fosse uma avestruz, esconderia a cabeça debaixo da terra, para fazer companhia às toupeiras. Ou, no caso de Paris, que era onde ela se encontrava no momento, faria companhia aos ratos do esgoto. O túmulo de um tal Lucas ainda estava muito nítido em sua cabeça, a imagem da cruz, do nome. É, dona Stella, quem procura, acha.



- Sim senhor, o comentário da semana ainda é o beijo lésbico trocado entre a modelo internacional Stella Vazjekovzka e a cantora Florence Welch na premiação das últimas semanas. As duas afirmam serem apenas amigas, e Stella jura que o beijo foi pura encenação, era atuação para as câmeras, mas nós aqui da redação do "Ora Vejam Só" achamos que tem muito coelho escondido nesse mato... Ou seriam caixas de sapato?



- Ora, não sejam tão maldosos, seus filhos da puta - exclamou Ítalo desligando a televisão direto no botão. - Stella meu amor, tem certeza de que não quer voltar pra Nova York? Podemos embarcar agora mesmo, é só guardar as coisas e estamos lá em poucas horas.



- Cale a boca Ítalo, me deixe em paz - fez ela, dura. - tenho uma sessão de fotos amanhã de manhã, depois eu volto pra Nova York. Sei que você está louco pra voltar pra lá por causa de alguma vagabunda, então trate de ficar calado!



- Mas...



Ela sentou-se na cama, furiosa.



- Ou se preferir pode ir tocar uma no banheiro, seu estúpido.



Stella levou um tapa.



- Não fale assim comigo. Eu não sou nenhum moleque.



Ítalo começou a catar as coisas espalhadas pelo chão, a meter todos os seus cosméticos, as roupas, os acessórios de fotografia, tudo o que era de sua propriedade, socados dentro de uma valise vermelha.



- Estou indo pra Nova York, pode ficar à vontade agora! SOZINHA, como você gosta de ficar. Foi assim que eu te encontrei, SOZINHA, no Brooklyn.



- Cale a boca! Cale a boca! CALE A BOCA! VOCÊ NÃO SABE NADA DO QUE ESTÁ SE PASSANDO COMIGO!



Ela gritava. Seus cabelos longos e escuros todos desgrenhados. Seu rosto magro, ressecado pelos anos de trabalho. Cansaço.



- PORQUE VOCÊ NÃO SE ABRE COMIGO! NÃO SE ABRE!



Ele largou a valise.



Ela largou-se na cama, tirou o roupão escuro e se abriu.



- Estou aberta agora! Era isso o que você queria?! - ela estava chorando.



Ele a abraçou também chorando, e assim eles ficaram por um minuto inteiro, abraçados na meia-luz da cobertura de luxo do hotel mais caro de Paris. Ali estava a torre Eiffel, do outro lado da janela, era só tocar. Viver em Paris era como tocar o céu. Era como caminhar entre as estrelas, dançar com os astros, respirar o pó cósmico das nebulosas, seus olhos sugam um brilho sem igual. Garrafas de vinho e vodca, pérolas negras e brancas, colares e joias raras, veludos e crânios de diamante. Abelhas de ouro preto e esmeralda. Seda da mais fina. Sexo toda noite. Essa era a Paris de Stella. A nova Paris de Stella.



- Um tio o enterrou, você diz?



- Sim, um tio que nem o conhecia. - a voz dela ainda estava um pouco chorosa - Paris é cruel, muito cruel.



- O que você descobriu sobre esse Lucas durante todo esse mês em que estivemos aqui?



- Descobri que ele veio a Paris por um acaso, com um ricaço, há muitos anos atrás. Descobri que ele viveu com esse ricaço num hotel por aqui durante uns cinco anos talvez, tempo em que eu já havia sido mandada de volta para Nova York...



- Depois daquela noite, vocês nunca mais se viram? - Ítalo tomou um gole audível de vinho tinto.



- Não, nunca mais, foi um caso de uma noite só que eu nunca esqueci... Lucas... - os olhos de Stella brilharam em refração junto ao lustre. Seus olhos pareciam uma extensão das pedras ali em cima. - naquela manhã, eu me levantei primeiro e o deixei pra trás, parti, eu era assim. Eu era como uma visão, como um fantasma. Eu estava ali, do lado de quem fosse, por uma noite apenas, e na manhã seguinte já havia sumido. Com a carteira do pobre coitado... Mas no caso do Lucas, foi muito diferente, foi algo incrível, foi mágico. Em poucas horas de uma madrugada fria, descobrimos tudo um sobre o outro, despimos nossas roupas e nossas histórias, uma a uma as peças do nosso passado... Mas eu era do mundo...



- E você teve de o deixar. - concluiu Ítalo, sendo compreensível e óbvio.



- Sim, eu tive. Mas não tive coragem de levar a carteira dele, depois de saber que ele dependia do dinheiro que o seu corpo rendia, assim como eu... Nos tempos da baixa Paris. - ela suspirou, tomou um pouco de vinho também, e depois levou seu colar de pérolas à boca. - eu não seria capaz de uma covardia daquelas. Pelo menos ele era sincero, ele se vendia sinceramente, ele não precisava enganar os caras e as mulheres que o contratavam. Eu não, eu escolhia quem eu queria, me fazia de amiga, fingia ser alguém que não era...



- Mas e como ele acabou... Como acabou? Foi Aids? - a voz de Ítalo falhou. Ele estava com medo de ferir os sentimentos de Stella.



- Não, ele foi estuprado. Pelo menos foi o que as "companheiras de trabalho" dele me disseram...



- Stella, meu amor - Ítalo puxou o queixo da mulher para mais perto e fez um carinho em seus cabelos - quantos cabarés você visitou aqui em Paris todas as noites em que você esteve fora?
Fez-se silêncio.
- Ínfimos, perdi as contas. Elas me disseram que num belo dia o ricaço não estava mais na cama com ele, tinha partido e o deixado pra trás. Viveu nas ruas por uns tempos, foi adotado por um cafetão que o fez de brinquedinho por um ano inteiro, que depois que enjoou dele, botou o cara pra trabalhar... Lucas estava economizando para voltar para os Estados Unidos e ficou três meses sem prestar contas... Acabou como acabou.
Ela contava a história trágica de Lucas sem nenhum tipo de remorso ou mágoa. Stella era uma fortaleza humana, que tinha seus momentos de fraqueza. Ela prometeu não chorar mais.
- Está pronta pra voltar pra Nova York agora? - perguntou Ítalo, tímido.
- Estou. Tenho que deixar essa cidade pra trás. A visão daquela torre me dá nos nervos, me faz querer chorar - ela apontou para o monumento do outro lado da janela.
- Então vamos...



(...)



Sete longos anos se passaram desde que Stella conhecera Ítalo. Sete longos anos se passaram desde que Stella estava na capa de todas as revistas, em todos os out-doors pela cidade, nas laterais dos ônibus, na tela da tevê. Aquele rosto de beleza estranha, quase alienígena, estampava quase todos os cantos da cidade no final do ano de 2004, e mais tarde, em 2005, o mundo inteiro. Em 2006, após posar para várias câmeras, dentro e fora dos estúdios, Stella foi pega de surpresa por um contrato súbito para um filme, que a deixou conhecida como uma nova Audrey Hepburn.



- É claro que eu não estou à altura da Audrey, ela era uma respeitável atriz, uma profissional incrível, uma mulher respeitável, eu sou apenas mais uma vadia - foi a primeira declaração de Stella para uma revista sem a supervisão do seu agente, Ítalo Rivera. Isto gerou grande polêmica.
- Está despedida Stella, é impossível trabalhar nesse lugar tendo você como garota do caixa. - foi isso o que Mr. Side disse para ela, poucos meses depois de ter sido admitida como funcionária da cafeteria Side's. Ela simplesmente lotava o estabelecimento todo dia, e as pessoas estavam indo pra lá só para vê-la, não consumiam porcaria nenhuma. - pode continuar frequentando as nossas mesas como você faz desde os 15 anos de idade.
- Quem diria, hein! Stella! Uma verdadeira top model a nível de mundo! - gargalhava Wanda - você tem que me apresentar algumas amiguinhas suas, Stella, eu ando solteira e solitária...
- Não seja tão lésbica, Wanda! - gargalhou Stella de volta, brindando o uísque no copo da sapatão.
- E não me deixa de fora dessa, Stella, eu sei que 90% dos modelos do mundo são gays - fez Haroldo, capotando por cima do novo pufe dourado que agora enfeitava a sala de Stella.
- Vai dormir, viado, tu tá capotando! - foi a vez dela de capotar. Tropeçou em Mariella. Só Wanda continuou de pé, rindo sozinha até perceber que todo mundo estava dormindo.
- Stella! Stella, minha filha! - era a querida mamãe. - estou indo para Nova York essa semana! Eu sei que o seu namoradinho tirou um apartamento novo pra você bem no meio de Manhattan! Nós vamos sair da porcaria do Brooklyn de uma vez por todas!
- Mas, mamãe, e o seu marido? E o filho dele?
- Aqueles dois são uns trastes! Eles que fiquem nessa droga de fazenda! A minha filha agora é rica! Que se dane!
- Você precisa de responsabilidade mocinha, responsabilidade e disciplina! - foi a primeira frase das aulas de etiqueta com a garçonete Rita. - você agora é uma profissional de nível elevado a celebridade mundial e tem de comportar como tal!






- Stella!



- Stella!



Flash.



Fashion.



- Stella! Stella! Stella!



Maquiagem.



Glamour.



Pérolas.



Batom de cereja.



- Stella, Stella!



Rock.



Cultura Pop.



Jeans, couro.



Vinil.



E então a luz...




sexta-feira, 11 de junho de 2010

Stella Visita Ítalo

- Aqui estou eu, Bob, você venceu - ela tocou a campainha. - e onde está você agora, seu palhaço impertinente?



- Alô? - uma voz facilmente reconhecível, grave e máscula, a surpreendeu pulando de dentro do interfone feito uma Mariella raivosa e cheia de fome. Stella levou um susto e tanto.

- A-a-alô! Alô! Sou eu, Stella! - ela aproximou sua boca do interfone. - eu vim para a sessão de fotos...

- ISSO É INCRÍVEL!
A exclamação seguiu-se de sons pesados e apressados de pasos furiosos descendo as escadas laterais. O portãozinho estava trancado, mas a porta estava aberta. Stella foi rapidamente surpreendida pelo franzino Ítalo e sua voz de locutor de rádio.

- Isso é incrível! Incrível! Você veio mesmo! - ele estava ofegante, todo sem jeito, como um adolescente no seu primeiro encontro. Stella gargalhou por dentro.

- Eu vim, mas espero que isto realmente seja uma sessão de fotos e não uma roubada! - exclamou a jovem logo de primeira, pouco ligando se estava sendo totalmente grossa e mal-educada - se eu subir essas escadas e encontrar com um grupo de tarados com cordas e filmadoras em mão, juro que uso o que aprendi nas aulas de Muai-Thai no começo desse ano!

Ítalo riu nervoso e arregalou seus dois olhões castanhos. Era incrível como as feições dele lembravam as feições de Lucas.

- Oh meu Deus! - mugiu Stella - vai me dizer que tem mesmo um grupo de tarados me esperando aí em cima?!

Ela fez uma posição comum no karatê, posição de defesa.

- Isso aí é karatê, Stella, e não Muai-Thai! - foi o que ele conseguiu rir forçadamente. Estava catando alguma coisa nos bolsos.

- Está procurando por aquilo?

Ela apontou para uma bombinha para asma jogada dois degraus acima. Ítalo subiu correndo, inalou o gás, meteu o aparelho no bolso e desceu.

- Vamos, Stella, suba! O estúdio está pronto.

As escadas brancas sujas de terra dos sapatos imundos dos vizinhos eram apertadinhas, e os corredores também o eram, mas ao finalmente adentrar no apartamento de Ítalo, que era a primeira porta à esquerda, Stella foi surpreendida por um espaço amplo e relativamente confortável. A sala, é claro, estava quase vazia, exceto pelos utensílios comumente usados pelos fotógrafos, a iluminação adequada, a arara com os figurinos, o "camarim" da modelo, com a maquiagem necessária e o espelho rodeado de luzes fluorescentes brancas. De repente, ela sentiu-se "In a Breakfast at Tiffany's". "Bonequinha de Luxo feelings", como diria Haroldo.

Para Stella, era um lugar abafado e úmido, mas para Ítalo, tinha a iluminação perfeita e o espaço perfeito para suas melhores criações. Havia ali dois sofás que há algum tempo eram vermelho-vinho, e hoje em dia eram marrons e desbotados. Havia ali também duas poltronas brancas encardidas e algumas réplicas baratas dos quadros de Andy Warhol nas paredes. Marilyn Diptych estava lá, é óbvio, ao lado do ciclo de latas de sopa Campbell's e de algumas ilustrações da série sobre homoerotismo.

E então a jovem suspirou tranquila ao ver aqueles quadros. Ítalo e sua voz máscula provavelmente eram gays.

- Pode ficar à vontade, os figurinos são seus, a maquiagem é sua, é tudo seu.

Stella foi surpreendida.

- Tem certeza disso?! - ela exclamou, foi pega de surpresa, estava admirando os quadros. - Você não tem um tema para suas fotos? Não tem toda aquela coisa de preparação, maquiadores, essas coisas de fotógrafo fresco?

Ítalo riu, e quase derrubou um holofote. Estava descaradamente nervoso. Era a primeira vez que recebia uma garota ali, sozinho. Ele sempre pedia a ajuda da equipe, mas naquele dia, queria um trabalho totalmente pessoal.

- Não hoje. - disse - pedi a sua ajuda naquele dia no Side's porque você me chamou atenção, pelos traços diferentes do seu rosto, pela sua maquiagem, pelo figurino criativo...

- Como assim? Do que você está falando?

- Estou falando que você é autêntica Stella.

- Autêntica, tipo inovadora?

- Sim, é isso que eu estou querendo dizer.

- Bom, eu não vejo nada demais no modo como eu me visto...

Stella largou sua bolsa no sofá e se jogou na cadeira diante do "camarim". Estava até bem casual naquela manhã. Blusa branca bem solta e curta, calça de vinil vermelho apertada, um salto preto básico e uma bandana com um laço. O mais básico que ela conseguiu arranjar para não assustar Ítalo, para que o fotógrafo não pensasse que ela era algum tipo de maluca procurando desesperadamente alguma maneira de aparecer.

- Só acho que as pessoas deveriam ser um pouco mais criativas na hora de se vestir.

Ítalo bateu duas palmas.

- Está certíssima, Stella. Foi exatamente por esse motivo que resolvi escolhê-la para esta sessão de fotos, você caiu do céu para mim, e pelo que vejo, não escolhi errado.

Ele parecia empolgado até demais.

Pegou a arara com o figurino sobre rodas e arrastou-a mais para perto do camarim.

- Fique à vontade, finja que está em casa, finja que está indo para um festa, para uma das festas que você costuma frequentar.

Ítalo afastou-se, indo em direção a uma grande porta vermelha do outro lado da sala, provavelmente o acesso ao quarto escuro onde as fotos são reveladas. E foi então que Stella caiu em si. Algo ali era suspeito demais. Um arrepio subiu pelas suas costas.

- Parado aí!

Ela se levantou. Ítalo parou e virou-se para ela.

- Como você sabe das festas que eu frequento?! Eu não entrei em detalhes a respeito da minha vida noturna na nossa conversa!

Pego no ato!

O cara parou, estático, procurando algo para dizer, mas nada encontrou. Stella correu até a sua bolsa, toda desconfiada e arisca como era, não ia ficar mais nem um minuto com um homem que andava espionando sua vida privada.

- Espera Stella! Espera! - Ítalo correu para a porta e trancou-a.

- O que você vai fazer comigo?! - Stella subiu numa mesinha de centro. - fique onde está! Vou pegar meu celular e vou ligar para a polícia.

- Calma, Stella, por favor! Você entendeu tudo errado! Tudo errado! - ele deu três passos lentos até a mesinha de centro. Stella pulou para o sofá.

- Eu estou entendendo tudo, isso sim!

Ele parou.

- Demorei muito tempo pra te encontrar, não vou deixar que você fuja agora!

Stella fez uma careta e tirou seu salto. Tinha de se defender daquele tarado de alguma maneira.

- Quem é você?!

Fez-se silêncio.

- Meu nome é Ítalo Rivera, fizemos o último ano do colegial juntos! - ele tentou se aproximar. Stella virou para trás junto com o sofá. Ítalo bem tentou segurá-la, mas não adiantou, Stella estava de pernas para o ar agora. - você está bem?! oh, meu Deus...
- Eu estou bem! Eu estou bem! Fique longe!

Mais desastres: Stella arrastou-se de costas pelo piso de madeira do apartamento, tentando ficar o mais longe possível do estranho que agora lhe reveleva um segredo íntimo seu, uma referência a ele da qual ela nem sequer lembrava. Quem era Ìtalo, por Deus? Foi então que o vaso com flores sobre o criado mudo virou assim que sua nuca deu de encontro no mogno. Stella agora estava encharcada.

- Venha, levante-se! Antes que você se machuque!

Aquilo realmente doeu, ela não tinha como negar ajuda.

E mesmo com todo aquele figurino ali do lado, pendurado na arara, esperando o corpinho de Stella para ser vestido, o latino-americano Ítalo Rivera preferiu tirar sua blusa preta de botões e oferecê-la para uma Stella sentada no sofá, que tinha a cabeça ainda girando, chamando palavrão como se este fosse o último momento da sua vida.

- Você está bem?

Quando Stella deu por si, já estava tirando a blusa molhada. E Ítalo estava tirando os sapatos. Peças de roupas masculinas e femininas nem estavam voando quando os dois se beijaram pela primeira vez naquela manhã, e então aconteceu. Aconteceu exatamente aquilo que Stella havia previsto, exatamente aquilo que ela havia alertado a Bob, o Palhaço. E lá estava, nos braços do "caliente" Ítalo, sentindo um pouco do calor mexicano...


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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Pequena Fábula: A Morangueira e o Pé de Capim



Era uma vez uma Morangueira


Que era muito admirada e rodeada pelos seres mais cultos da floresta.


- Que frutos mais lindos! - dizia a coruja.


- Essa Morangueira sabe o que faz! - dizia o jabuti.


- Olhem, olhem como ela é criativa! Seus frutos são tão diferentes e tão lustrosos! - gamava o coelho.


- E que alta que ela é! - admirava-se o pardal.


- Dê-nos mais, Morangueira, seja muito mais! - pediam os seres cultos da floresta.




- Que Morangueira exibida! - diziam os seres incultos da floresta.


- Olha como ela é grandona e enxerida! - piava a codorna.


- Olha como ela nasce no meio da clareira sem escrúpulo algum! - cacarejava a galinha do mato.


- Olha como ela é ridícula, se aparecendo! - debochava a cotovia.


- Nascendo onde nenhuma outra planta nasceu! Que Morangueira atrevida! - ruminava o jumento.




Mas nada disso importava, porque a Morangueira era grande, lustrosa e sempre tinha um fruto diferente pra mostrar, apesar de quase metade da floresta odiar seu atrevimento de brotar e crescer no meio da clareira.


Tanto que um belo dia, ali no pé da Morangueira, brotou um Pé de Capim bem ali do lado pra pentelhar a vida da Morangueira completamente.


No começo era tudo uma verdadeira maravilha, o Pé de Capim era até bem amigável, sociável e expansivo, os dois juntos nunca ficavam sem assunto, tinham quase sempre as mesmas opiniões a respeito dos seres da floresta e das coisas que aconteciam por ali, e isso era bem divertido, porque eles ficavam horas a fio tricotando sobre tudo, tudo mesmo.


Mas chegou um tempo em que o Pé de Capim não deu-se por convencido com sua vida de capim e suas funções de capim, acabou se inspirando até demais na amiga Morangueira, e quando os seres da floresta deram por si, o Capim já estava imitando-a em quase tudo! Se a Morangueira crescesse um centímetro a mais, o Capim lutava pra alcançar, e quando não podia alcançar, vinha com conversa furada e críticas politicamente corretas a respeito de todas as atitudes da lustrosa e frutífera morangueira que olhava pra baixo, dava de ombros e seguia a amizade respirando bem fundo, porque ela sabia que no coração do capim havia alguém realmente legal. Apesar das críticas invejosas e sem fundamento, a Morangueira não queria desfazer-se do Capim, e mesmo quando todos já estavam falando mal do Capim, ela continuou sendo amiga dele, uma amizade normal.


As atitudes do Capim começaram a ser invasivas e grosseiras, em pouco tempo ele estava por toda a parte da clareira, perturbando a vida de todo mundo! Os animais da floresta, tanto os cultos quanto os incultos já não aguentavam mais, alguém tinha de fazer alguma coisa com o abelhudo do Pé de Capim. Porém, ninguém tinha coragem o bastante para chegar até ele e dizer na cara dele que ele estava sendo um chato de galochas tentando a todo custo tomar espaço. A Morangueira continuava ali, parada, lustrosa, respirando bem fundo e agindo normalmente com o capim, mesmo quando ela se distanciou um pouquinho por causa das chuvas, eles continuaram se falando.


A diferença entre o Capim e a Morangueira é que a Morangueira sabia como perturbar os animais da floresta com classe, sem usar de agressão, apenas suspirando e colocando seus esquisitos, porém belos frutos para fora. E o Capim partia para a ignorância, tentando chamar a atenção a qualquer custo.


E então houve grande rebuliço na floresta, quando o Capim já estava tão alto que ninguém mais aguentava. E então veio o bicho homem e cortou tudo com suas máquinas e sua tecnologia. Mas a Morangueira foi poupada, porque seus frutos eram únicos e deliciosos. Foi posta num vaso e presenteada a uma Senhora das redondezas como uma Morangueira Silvestre, enquanto o capim tornou-se fezes de boi e ajudou a adubar a terra do fazendeiro...


Bom, pelo menos pra alguma coisa ele serviu, não acham?

Pequena Crítica a Respeito de Alejandro, o Vídeo. - Por Antonio Fernandes


De repente todo mundo virou evangélico, e eu não entendi muito bem o porquê. Aqueles hipócritas que idolatravam Lady GaGa agora estão se voltando contra ela repentinamente por causa do vídeo de Alejandro, que saiu essa semana. Acredito do fundo do meu coração que as pessoas que antes a amavam e agora estão dizendo que "ela é uma condenada" ou que "ela vai pro inferno" são falsos moralistas, porque bateram milhares de palmas vendo Stefani Germanotta beijando garotas no sofá em Paparazzi, saindo de um caixão branco em Bad Romance e envenenando clientes de um restaurante inteiro, um verdadeiro assassinato em massa encenando, e nem por causa disso se voltaram contra ela. Tinham em mente (ou não) que tudo aquilo era puramente artístico e interpretado, metáforas em forma de vídeo. Com a reação do público esta semana vemos que 50% dos atuais (ou ex-fãs) de Lady GaGa na verdade eram um bando de leigos, e o vídeo-arte de Alejandro serviu de crivo para deixar cada vez mais seleto o círculo dos "Little Monsters" como a artista costuma chamar aos seus fãs.

Vemos inúmeras críticas e simbologias neste video incrível, de arte impactante e impecável, totalmente calculado para chocar a sociedade em todos os aspectos, estamos diante de uma verdadeira obra de arte do século 21, uma espécie de releitura dos clássicos quadros de estampagem de Andy Warhol que retratavam a morte de forma simples e ao mesmo tempo bizarra, chocante. Vemos referências claras à Madonna ao longo de todo o vídeo, tanto à Rainha do Pop quanto ao Rei do Pop Michael Jackson.

No começo vemos uma GaGa angustiada, em seu covil rodeada por seus soldados, relembrando a história de "Alejandro": GaGa carrega à frente do caixão onde seu amado Alejandro repousa, um coração sangrento coberto de cacos de vidro, parafusos, agulhas e pregos, representando seu coração partido, e ao desenrolar do vídeo ela recorda épocas passadas em que fazia de Alejandro, Fernando e Roberto seus escravos sexuais que por serem claramente gays (representação dos saltos usados pelos dançarinos), eram forçados a manterem relações sexuais com ela. Nota-se também que, a cena do exército de dançarinos num pátio onde são exibidas cenas de uma suposta guerra aos fundos trata-se de soldados tentando entrete-la, ela os observa relembrando seus amados.

Na segunda fase do vídeo, vemos GaGa entregando-se ao convento, aderindo ao celibato para tentar esquecer o desejo sexual pelos seus amados gays que tanto a fizeram sofrer, mas nada disso acaba adiantando e as lembranças sempre vem à tona e ela se torna cada vez mais sofredora. Vemos GaGa implorando aos céus para esquecer de uma vez por todas de Alejandro, mas isto tem pouco efeito, ela o deseja mais de que tudo. O que mais chama a atenção neste segundo ciclo do vídeo é a forma chocante como ela utiliza as representações da igreja católica e todo o seu simbolismo. Alguns podem chamar de blasfêmia, mas eu chamo de crítica, uma crítica feita de modo artístico e impactante feita para chamar MESMO a atenção.

Neste ciclo do vídeo vemos claramente GaGa mostrar a hipocrisia toda que existe por trás da santidade, e é exatamente isto que me fez apaixonar pela simbologia pesada e agressiva de Alejandro, finalmente GaGa mostra-se mais visual do que musical. A mensagem que isto passa é clara: ninguém é santo 100%, sempre há desejos ocultos, vontades proibidas, segredos escondidos e tentações, coisas das quais não podemos escapar, e coisas contra as quais ela reza pedindo libertação, mas são fatos que ela não pode negar nunca, ela está presa.

Isso nos remete aos abusos sexuais cometidos contra pobres crianças que ocorrem frequentemente nos bastidores da Igreja Católica. Os Padres não são fortes e santos o bastante para repreenderem sua tentação doentia e sexual, o que resulta nestes crimes hediondos cometidos por eles contra pobres inocentes. É uma crítica clara como a água contra toda a hipocrisia da Igreja, que prefere fechar os olhos e ocultar casos sérios do que combater isto em sua instituição. De modo geral, ela critica também a posição da igreja quanto aos homossexuais, a proibição do amor e a repreensão da libido, a transformação de tudo em pecado. Mas realmente o que atrai todos os olhares nestas cenas são os crucifixos invertidos, e em especial um deles, que está exatamente sobre a sua vagina.

E então nos vemos retornando à questão dos simbolos, da simbologia. Como já foi dito no início, hipócrita daquele que deixou de ser fã de Lady GaGa argumentando que ela virou uma verdadeira satanista. Ora, vamos parar um pouco para refletir sobre tudo o que já vimos nos videos desta artista? Em todos eles sempre vimos de exposição sexual a assassinatos, e isto como está escrito na Bíblia, é pecado altamente condenável, então vejamos: por que vocês, POSERS, não odiaram GaGa desde o primeiro video? Porque somente quando viram crucifixos invertidos ficaram com medo, revoltados? Porque não ficam revoltados com os casos de pedofilia nos bastidores do Vaticano? Porque violar uma criança é tão pecado quanto usar do sagrado para se promover, como ela está fazendo, E ALIÁS, acho que os ditos "pastores" e até alguns padres dos dias atuais usam muito mais do sagrado para se promover do que a própria GaGa, e estão aí cheios da grana iludindo multidões. Pelo menos ela está sendo sincera, não acham?

Olhando novamente pelo lado artístico, de um modo estranho, este vídeo me lembrou também ciclos de obras assinadas por Andy Warhol, o gênio da Pop Art, cujo tema girava sempre em torno da morte, da catástrofe e da banalização atual do que é sagrado (Em especial a "Cruz Vermelha" de Warhol). E realmente, neste video, Lady GaGa atua quase como o próprio Warhol, ela captura perfeitamente elementos já existentes no mundo da música e da multimídia transformando-os em algo totalmente contextualizado. Em outras palavras, vemos as referências à Madonna, o que mostra que GaGa está no caminho certo, evoluindo sua arte a um nível além.

Aqui eu abro um espaço para argumentar contra aqueles que estão catalogando "Alejandro" como cópia de Madonna. Que fique bem claro a diferença entre uma cópia descarada e uma referência: A CÓPIA É PERFEITA, imita o original em todos os aspectos, exceto pelo fato de não se tratar do original. Quando você faz uma fotocópia na máquina de xerox ou copia um arquivo de uma pasta para a outra, o que vemos é a reprodução perfeita do que ali estava, idêntico. E quando se usa de referências para fazer algo, CAPTURA-SE ASPECTOS desta tal coisa, do objeto da inspiração, UTILIZA-SE DE ASPECTOS, que foi o caso de Alejandro, que utilizou aspectos que passeiam claramente por todo o braço polêmico do corpo composto que é o Pop mundial, que já foi feito. Uma coisa é você transformar o que viu em algo novo e outra coisa é reproduzir aquilo que já foi feito. Deve-se se ter isso em mente antes de cometer a ignorância de abrir a boca para falar besteira.

Enfim, Alejandro é sem dúvida o vídeo mais marcante até agora de toda a carreira de Lady GaGa, e já deixou uma ferida e tanto na cultura mundial nestes míseros três dias em que foi lançado. Sinceramente, acho que está na hora de revermos conceitos e de estarmos abertos a novas perspectivas, devemos analisar minuciosamente cada ponto de vista que nos é exposto de modo artístico para que as coisas não fiquem confusas. Os leigos que se diziam fãs estão esquecendo de ler as entrelinhas artísticas desta bela obra visionária de agressão e libertação, Alejandro é um vídeo que vai render muito pano pra manga ainda, e acredito do fundo do meu coração que esta pobre crítica feita por mim até agora não abordou e nem sequer analisou os inúmeros temas e perspectivas que nos são expostas no vídeo, e não é nem um terço do que eu poderia me dispor a discutir, do que eu ainda tenho para falar. Esta crítica está olhando apenas por uma das faces deste dado psicodélico e complexo que é o video de Alejandro, e creio que se me dispusesse o bastante, poderia muito bem redigir um verdadeiro dossiê a despeito do tema, desfiando fio a fio esta teia que a nova deusa da música pop atual teceu estrategicamente para que debatêssemos a respeito.

E digo mais a vocês. Estamos fazendo exatamente o que ela quer. Estamos desesperados para tentar entendê-la, outros desesperados por explicar o porque de condená-la, outros desesperados para explicar o porquê de amá-la, mas a vocês digo: Lady GaGa nasceu incógnita e morrerá incógnita, e esta humilde crítica feita por mim como Antonio Fernandes e não como Louie Mimieux jamais será o bastante para ela, este monstro complexo e sem sentindo, tão faminto pela fama.

Particularmente enxergo esta mulher como um quadro de Picasso, com tantas maneiras de ser interpretada, e aqui estarei eu, sempre usando meu senso crítico para interpretar esta rara pintura.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Stella e Bob, O Palhaço



Madrugada alta, a sede é tanta, ela não vai aguentar ficar na cama por muito tempo, vai ter de se levantar e vai ser agora. Essa é uma noite rara em que este espécieme em extinção dos becos e bares de Nova York resolve passar a noite em casa, de preferência, dormindo, o que é absurdamente incrível tratando-se de Stella, uma porraloca qualquer num apartamento qualquer, no derradeiro horário de quatro da manhã.

Ela praticamente galopou até a cozinha, abriu a porta da geladeira quase vazia e puxou uma garrafa de água bem gelada, lá do fundo. Desenroscou a tampa e sequer procurou por um copo, bebeu ali no gargalo mesmo. Soltou uma expressão de alívio quando já estava satisfeita, feito um animal que percorreu o deserto há dias, fechou a porta da geladeira e deu de cara com quem ela menos esperava, olhando para ela, ali no escuro, fixamente, com seus estranhos olhos em cruz, sua boca pintada e seu cabelo ruivo, chapeuzinho verde e macacão de bolinhas amarelas.

- Olá Stella!

- Ah não, você de novo não! Eu precisei de três anos de terapia pra te esquecer da primeira vez, e não vou te aturar de novo! Não vou!

Stella tapou os ouvidos e começou a cantarolar uma cantiga tirada de "A Noviça Rebelde" enquanto o palhaço chegava mais perto.

- Ora, Stella! Vamos! Onde está toda a sua animação, menina?! Sorria! Vamos! Sorria! Deixa a tristeza de lado, vamos curtir a vida! Vamos sair e ver o mundo! Vamos dançar e cantar!


- Dóóó é pena de alguéééém, Rééé eu ando para trááás...

- É assim que eu gosto de ver! Mais animação nessa música! Vamos!

Aquela estranha criatura vestida para animar uma festa infantil estava realmente pulando de um lado para o outro na cozinha enquanto Stella cantava! Era aterrorizante! Ela então fechou os olhos e começou a cantar mais alto, tentando ignorar as gargalhadas do palhaço que subira na mesa para dançar folkstrot com um cabo de vassoura. Sua canção estava virando um quase chorar. E então ele desapareceu, e tudo se calou.

- Isso é bom, muito bom - suspirou, aliviada, relaxando os ombros. - eu não sou louca, repita comigo Stella, eu não sou louca... - caminhou vagarosa e pausadamente para o quarto, certificando-se de que não ia mais encontrar o medonho ser colorido pulando no escuro ali do lado, repetindo a mesma frase talvez umas trinta vezes, ela deitou-se na cama tremendo de medo, e começou a rezar. Talvez a mãe dela estivesse certa quando disse, há alguns anos atrás, que com relação a esta alucinação do palhaço, ela poderia estar sendo perseguida por espíritos malignos.

Então sua boca cansou e seus olhos também cansaram e foram fechando aos poucos.

- Steeeeeeeeeeeeeeeeeellaaaaaaaaaaaaaaaaaa... - sussurrou a voz.

- Steeeeeeeeeeeeeeeeeellaaaaaaaaaaaaaaaaaa... - sussurrou a voz outra vez.

- Estou dormindo, estou dormindo, estou dormindo - grunhiu a jovem, virando para o lado de lá.

- Steeeeeeeeeeeeeeeeeellaaaaaaaaaaaaaaaaa... - sussurrou a voz, de novo.

Stella abriu os olhos. Aquele rosto estava encarando-a próximo demais. Rolou assustada para fora da cama, bateu de cabeça no piso e se escondeu feito uma rata embaixo da cama.

- Tem certeza de que não quer conversar sobre o assunto, Stella? - ali estava o palhaço, embaixo da cama, com todas as suas bexigas coloridas, bem do seu ladinho.

Stella tapou os ouvidos.

- Olha Bob, você está cortado da minha lista de amizades, excluído da minha vida, apagado de todas as minhas lembranças, e quero que continue assim, tudo bem?! Estávamos indo muito bem sem você, estávamos sim! - esbravejou ela.

- Não seja tão grossa assim, Stella, minha melhor amiga! Somos Best Friends Forever, se lembra?!

- Não me venha com essa agora! Está tarde, você ERA, repito: ERA meu amigo imaginário, agora eu já sou uma mulher adulta e não preciso dividar as minhas frustrações com um cara de boné verde usando maquiagem!

- Poxa, assim você me magoa! - Bob fez um bico. Stella ficou com um peso enorme na consciência, afinal de contas, Bob pode ter perturbado bastante a paciência dela depois da morte do seu pai, e demorou um tempo considerável para que ele parasse de aparecer de madrugada no seu quarto cantando canções de programas infantis e oferecendo bexigas de animais para ela, mas ele realmente fora seu amigo num tempo remoto. A abraçara, a empurrara no balancinho, a ajudara a subir na árvore, ensinara a pequena Stella a andar de bicicleta, contara para a pequena Stella história e cantara canções animadíssimas que lhe tiravam todas as frustrações das brigas que aconteciam em casa naqueles tempos difíceis no interior, quando seus pais ainda eram juntos.

- Mas o psiquiatra me disse que você é apenas uma alucinação paranóica causada por grandes traumas, como as brigas em casa nos tempos de fazenda e a morte de papai por causa do tabaco!

- E por acaso o psiquiatra é especialista em amizades, Stella?!

A jovem rastejou para fora do esconderijo, o palhaço fez o mesmo.


- Então tudo bem, vamos pra cozinha que eu te faço um chá.

As luzes do apartamento foram acesas e a tigelinha de Mariella chei até o topo de ração. Bob sentou-se à mesa, Stella ofereceu-lhe a xícara, pegou a garrafa de chá gelado de dentro da geladeira e sentou-se para fazer companhia ao seu velho amigo.

- Você disse que ia ser chá, chá pra mim só serve se for quente!


- Não seja exigente Bob, você me acordou bem no meio de uma das minhas raras noites boas de sono. Tirei o dia hoje pra descansar e prometi não sair pra lugar nenhum, O QUE JÁ É BEM ESTRANHO, e aí você me aparece, ACHO QUE ESTOU REALMENTE FICANDO LOUCA.

Fez-se silêncio, o palhaço bebeu um gole.

- A propósito - fez Bob - não gostei do penteado novo.

- Ninguém pediu a sua opinião - retrucou Stella, tomando um gole de chá.

- Está grossa demais, Stella, onde estão os bons modos que nós ensaiamos?

- Enfiei no...

- POR DEUS! QUE BOCA SUJA! - Bob levantou-se da mesa com a mão na boca, uma das suas bexigas estourou.

- Está satisfeito? Acho que já conversamos o bastante, agora é hora de ir embora, Bob - fez Stella, levantando-se da mesa também e guardando a garrafa de chá.

- Ah, não mesmo! - o palhaço sentou-se de novo - não vou sair daqui enquanto não falarmos sobre o Ítalo!

- OH, MAS QUE... O QUE... COMO VOCÊ SABE SOBRE O ÍTALO? - berrou ela, assustada. Havia um palhaço espionando sua vida! - ah, esquece, você é uma alucinação minha, tem que saber tudo sobre mim mesmo... - deu de ombros e sentou-se - o que quer saber sobre ele? VAMOS, eu respondo! Estou disposta a encarar essa loucura toda! - deu um tapa na mesa.

- Você vai ou não, aceitar o pedido dele?


- Eu o conheci esta tarde, não posso revelar muita coisa a respeito disso - ela cruzou as perninhas.


- Mas a proposta que ele fez é irrecusável! Stella! É a sua chance final de mudar de vida para sempre!

- Eu não quero um homem me regulando

- Ele não vai lhe regular, ele só vai lhe mostrar as possibilidades de...


- Não, não me venha com essa, sou ativista feminista de carteirinha, não quero saber de homem!

- Então entra pro time da Wanda! - Bob deu um tapa na mesa.

- EU NÂO, DEUS ME LIVRE

- Então desencalhe!


- Também não quero, gosto de ser solteira e poder transar com um homem diferente toda noite sem compromisso. Sou totalmente independente!


- Você é uma pessoa carente, Stella, e aliás, ele não quer nada demais, ele só quer que você seja modelo por um dia, só isso, faça as fotos pro cara!


- Não, não e não! Eu sei muito bem o que ele vai querer depois!

- Vou te confessar uma coisa... - Bob se debruçou sobre a mesa e colocou a mão na frente da boca, olhou para um lado e para o outro antes de fazer sua declaração - eu acho que ele é gay!

- Não seja idiota, ele ficou de olho nos meus peitos! É só isso o que ele quer! Eu até posso dar, mas depois, é tchau e bença...


- Stella, não seja tão cabeça dura!

Stella pegou um garfo e estourou uma por uma das bexigas de Bob.


- Tem certeza que é isso o que você quer mesmo?

- Tenho sim, você bem sabe como eu sou!

E assim, Bob virou fumaça. Stella voltou correndo para a cama, um pouco assustada, rindo de si mesma, e pensando se realmente esta era a sua decisão, e sendo assim, rezou um pouco, caindo no sono logo em seguida.






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quinta-feira, 3 de junho de 2010

The Fatcat House de Cara Nova



O último tema da casa do gato obeso (-rs), foi inspirado na era da disco music e na psicodelia, este tema cinza e diabólico é inspirado nos filmes de terror de época, como Frankenstein e Nosferatu, espero que goste e espero que consigam enxergar melhor o texto assim -kk

próximo tema; galáxias e planetas *-*

Coração Binário?


Em uma das minhas estranhas tarde de filosofia, após uma tempestade fulminante que pegou a cidade em cheio bem no meio de um dia de sol, parei e refleti, liguei pensamentos uns aos outros, teci teias feito uma gorda aranha, como aquela que vive na casinha de entulhos no fundo do quintal, capturando suas moscas tranquilamente enquanto os últimos raios de sol tentam secar o que restou de um mundo lavado pela ira da chuva.

De algum modo, e eu não sei como, o que eu escrevo na série "As Dellabóboras" se reflete na minha vida. Estou passando por um período árduo da minha vida, onde os problemas parecem chover um atrás do outro, sem parar, decisões importantes sendo tomadas todas ao mesmo tempo, coisas das quais se precisa abrir mão, relações sociais, romances ruins, como um período de trevas, exatamente como a escuridão em que as primas Dellabóboras se encontram nesse momento do último capítulo do terceiro volume.

E então lembrei-me de algo: uma semana depois de Afonsa dar o seu primeiro beijo na trama, eu também tive tal experiência, foi aí que tudo ficou muito claro pra mim. Comecei a escrever esse livro ano passado, em fevereiro, está demorando tanto assim a terminar porque tratou-se de um trabalho árduo de pesquisa e encaixe de peças. Escrever um livro é como montar um quebra-cabeça de conhecimentos e situações, é um pouco complicado, mas se houver paixão envolvida, acaba dando muito certo, como essa série de nome peculiar e até um pouco engraçado, mas muito profunda, que começa simples e infantil e termina polêmica e séria.

Ao longo do ano passado, expus para meus personagens problemas, e pensei feito eles para poder resolvê-los, e assim foram extirpando-se cada um dos dilemas da vida de Afonsa, tanto no ramo mágico da história quanto no não-mágico, o lado mais humano, mais pessoal. E era exatamente assim que as coisas se resolviam pra mim: problemas vinham em uma certa ordem e eu tinha de resolvê-los num certo tempo, e no final das contas tudo acabava bem. E agora, na reta final deste livro, todos os problemas estão vindo juntos de uma só vez para as garotas, assim como acontece comigo aqui, na vida real.

E então, para acabar de vez com meu período sombrio, decidi por um fim nesta fase da minha vida terminando o último capítulo do livro neste final de semana! Espero que dê tudo certo, exatamente como em "Coração de Tinta"... Ou melhor dizendo, "Coração Binário", já que tudo aqui é na base do Word no computador...