Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Stella Visita Ítalo

- Aqui estou eu, Bob, você venceu - ela tocou a campainha. - e onde está você agora, seu palhaço impertinente?



- Alô? - uma voz facilmente reconhecível, grave e máscula, a surpreendeu pulando de dentro do interfone feito uma Mariella raivosa e cheia de fome. Stella levou um susto e tanto.

- A-a-alô! Alô! Sou eu, Stella! - ela aproximou sua boca do interfone. - eu vim para a sessão de fotos...

- ISSO É INCRÍVEL!
A exclamação seguiu-se de sons pesados e apressados de pasos furiosos descendo as escadas laterais. O portãozinho estava trancado, mas a porta estava aberta. Stella foi rapidamente surpreendida pelo franzino Ítalo e sua voz de locutor de rádio.

- Isso é incrível! Incrível! Você veio mesmo! - ele estava ofegante, todo sem jeito, como um adolescente no seu primeiro encontro. Stella gargalhou por dentro.

- Eu vim, mas espero que isto realmente seja uma sessão de fotos e não uma roubada! - exclamou a jovem logo de primeira, pouco ligando se estava sendo totalmente grossa e mal-educada - se eu subir essas escadas e encontrar com um grupo de tarados com cordas e filmadoras em mão, juro que uso o que aprendi nas aulas de Muai-Thai no começo desse ano!

Ítalo riu nervoso e arregalou seus dois olhões castanhos. Era incrível como as feições dele lembravam as feições de Lucas.

- Oh meu Deus! - mugiu Stella - vai me dizer que tem mesmo um grupo de tarados me esperando aí em cima?!

Ela fez uma posição comum no karatê, posição de defesa.

- Isso aí é karatê, Stella, e não Muai-Thai! - foi o que ele conseguiu rir forçadamente. Estava catando alguma coisa nos bolsos.

- Está procurando por aquilo?

Ela apontou para uma bombinha para asma jogada dois degraus acima. Ítalo subiu correndo, inalou o gás, meteu o aparelho no bolso e desceu.

- Vamos, Stella, suba! O estúdio está pronto.

As escadas brancas sujas de terra dos sapatos imundos dos vizinhos eram apertadinhas, e os corredores também o eram, mas ao finalmente adentrar no apartamento de Ítalo, que era a primeira porta à esquerda, Stella foi surpreendida por um espaço amplo e relativamente confortável. A sala, é claro, estava quase vazia, exceto pelos utensílios comumente usados pelos fotógrafos, a iluminação adequada, a arara com os figurinos, o "camarim" da modelo, com a maquiagem necessária e o espelho rodeado de luzes fluorescentes brancas. De repente, ela sentiu-se "In a Breakfast at Tiffany's". "Bonequinha de Luxo feelings", como diria Haroldo.

Para Stella, era um lugar abafado e úmido, mas para Ítalo, tinha a iluminação perfeita e o espaço perfeito para suas melhores criações. Havia ali dois sofás que há algum tempo eram vermelho-vinho, e hoje em dia eram marrons e desbotados. Havia ali também duas poltronas brancas encardidas e algumas réplicas baratas dos quadros de Andy Warhol nas paredes. Marilyn Diptych estava lá, é óbvio, ao lado do ciclo de latas de sopa Campbell's e de algumas ilustrações da série sobre homoerotismo.

E então a jovem suspirou tranquila ao ver aqueles quadros. Ítalo e sua voz máscula provavelmente eram gays.

- Pode ficar à vontade, os figurinos são seus, a maquiagem é sua, é tudo seu.

Stella foi surpreendida.

- Tem certeza disso?! - ela exclamou, foi pega de surpresa, estava admirando os quadros. - Você não tem um tema para suas fotos? Não tem toda aquela coisa de preparação, maquiadores, essas coisas de fotógrafo fresco?

Ítalo riu, e quase derrubou um holofote. Estava descaradamente nervoso. Era a primeira vez que recebia uma garota ali, sozinho. Ele sempre pedia a ajuda da equipe, mas naquele dia, queria um trabalho totalmente pessoal.

- Não hoje. - disse - pedi a sua ajuda naquele dia no Side's porque você me chamou atenção, pelos traços diferentes do seu rosto, pela sua maquiagem, pelo figurino criativo...

- Como assim? Do que você está falando?

- Estou falando que você é autêntica Stella.

- Autêntica, tipo inovadora?

- Sim, é isso que eu estou querendo dizer.

- Bom, eu não vejo nada demais no modo como eu me visto...

Stella largou sua bolsa no sofá e se jogou na cadeira diante do "camarim". Estava até bem casual naquela manhã. Blusa branca bem solta e curta, calça de vinil vermelho apertada, um salto preto básico e uma bandana com um laço. O mais básico que ela conseguiu arranjar para não assustar Ítalo, para que o fotógrafo não pensasse que ela era algum tipo de maluca procurando desesperadamente alguma maneira de aparecer.

- Só acho que as pessoas deveriam ser um pouco mais criativas na hora de se vestir.

Ítalo bateu duas palmas.

- Está certíssima, Stella. Foi exatamente por esse motivo que resolvi escolhê-la para esta sessão de fotos, você caiu do céu para mim, e pelo que vejo, não escolhi errado.

Ele parecia empolgado até demais.

Pegou a arara com o figurino sobre rodas e arrastou-a mais para perto do camarim.

- Fique à vontade, finja que está em casa, finja que está indo para um festa, para uma das festas que você costuma frequentar.

Ítalo afastou-se, indo em direção a uma grande porta vermelha do outro lado da sala, provavelmente o acesso ao quarto escuro onde as fotos são reveladas. E foi então que Stella caiu em si. Algo ali era suspeito demais. Um arrepio subiu pelas suas costas.

- Parado aí!

Ela se levantou. Ítalo parou e virou-se para ela.

- Como você sabe das festas que eu frequento?! Eu não entrei em detalhes a respeito da minha vida noturna na nossa conversa!

Pego no ato!

O cara parou, estático, procurando algo para dizer, mas nada encontrou. Stella correu até a sua bolsa, toda desconfiada e arisca como era, não ia ficar mais nem um minuto com um homem que andava espionando sua vida privada.

- Espera Stella! Espera! - Ítalo correu para a porta e trancou-a.

- O que você vai fazer comigo?! - Stella subiu numa mesinha de centro. - fique onde está! Vou pegar meu celular e vou ligar para a polícia.

- Calma, Stella, por favor! Você entendeu tudo errado! Tudo errado! - ele deu três passos lentos até a mesinha de centro. Stella pulou para o sofá.

- Eu estou entendendo tudo, isso sim!

Ele parou.

- Demorei muito tempo pra te encontrar, não vou deixar que você fuja agora!

Stella fez uma careta e tirou seu salto. Tinha de se defender daquele tarado de alguma maneira.

- Quem é você?!

Fez-se silêncio.

- Meu nome é Ítalo Rivera, fizemos o último ano do colegial juntos! - ele tentou se aproximar. Stella virou para trás junto com o sofá. Ítalo bem tentou segurá-la, mas não adiantou, Stella estava de pernas para o ar agora. - você está bem?! oh, meu Deus...
- Eu estou bem! Eu estou bem! Fique longe!

Mais desastres: Stella arrastou-se de costas pelo piso de madeira do apartamento, tentando ficar o mais longe possível do estranho que agora lhe reveleva um segredo íntimo seu, uma referência a ele da qual ela nem sequer lembrava. Quem era Ìtalo, por Deus? Foi então que o vaso com flores sobre o criado mudo virou assim que sua nuca deu de encontro no mogno. Stella agora estava encharcada.

- Venha, levante-se! Antes que você se machuque!

Aquilo realmente doeu, ela não tinha como negar ajuda.

E mesmo com todo aquele figurino ali do lado, pendurado na arara, esperando o corpinho de Stella para ser vestido, o latino-americano Ítalo Rivera preferiu tirar sua blusa preta de botões e oferecê-la para uma Stella sentada no sofá, que tinha a cabeça ainda girando, chamando palavrão como se este fosse o último momento da sua vida.

- Você está bem?

Quando Stella deu por si, já estava tirando a blusa molhada. E Ítalo estava tirando os sapatos. Peças de roupas masculinas e femininas nem estavam voando quando os dois se beijaram pela primeira vez naquela manhã, e então aconteceu. Aconteceu exatamente aquilo que Stella havia previsto, exatamente aquilo que ela havia alertado a Bob, o Palhaço. E lá estava, nos braços do "caliente" Ítalo, sentindo um pouco do calor mexicano...


Próximo >>

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E então? O que achou?