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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Pequena Fábula: A Morangueira e o Pé de Capim



Era uma vez uma Morangueira


Que era muito admirada e rodeada pelos seres mais cultos da floresta.


- Que frutos mais lindos! - dizia a coruja.


- Essa Morangueira sabe o que faz! - dizia o jabuti.


- Olhem, olhem como ela é criativa! Seus frutos são tão diferentes e tão lustrosos! - gamava o coelho.


- E que alta que ela é! - admirava-se o pardal.


- Dê-nos mais, Morangueira, seja muito mais! - pediam os seres cultos da floresta.




- Que Morangueira exibida! - diziam os seres incultos da floresta.


- Olha como ela é grandona e enxerida! - piava a codorna.


- Olha como ela nasce no meio da clareira sem escrúpulo algum! - cacarejava a galinha do mato.


- Olha como ela é ridícula, se aparecendo! - debochava a cotovia.


- Nascendo onde nenhuma outra planta nasceu! Que Morangueira atrevida! - ruminava o jumento.




Mas nada disso importava, porque a Morangueira era grande, lustrosa e sempre tinha um fruto diferente pra mostrar, apesar de quase metade da floresta odiar seu atrevimento de brotar e crescer no meio da clareira.


Tanto que um belo dia, ali no pé da Morangueira, brotou um Pé de Capim bem ali do lado pra pentelhar a vida da Morangueira completamente.


No começo era tudo uma verdadeira maravilha, o Pé de Capim era até bem amigável, sociável e expansivo, os dois juntos nunca ficavam sem assunto, tinham quase sempre as mesmas opiniões a respeito dos seres da floresta e das coisas que aconteciam por ali, e isso era bem divertido, porque eles ficavam horas a fio tricotando sobre tudo, tudo mesmo.


Mas chegou um tempo em que o Pé de Capim não deu-se por convencido com sua vida de capim e suas funções de capim, acabou se inspirando até demais na amiga Morangueira, e quando os seres da floresta deram por si, o Capim já estava imitando-a em quase tudo! Se a Morangueira crescesse um centímetro a mais, o Capim lutava pra alcançar, e quando não podia alcançar, vinha com conversa furada e críticas politicamente corretas a respeito de todas as atitudes da lustrosa e frutífera morangueira que olhava pra baixo, dava de ombros e seguia a amizade respirando bem fundo, porque ela sabia que no coração do capim havia alguém realmente legal. Apesar das críticas invejosas e sem fundamento, a Morangueira não queria desfazer-se do Capim, e mesmo quando todos já estavam falando mal do Capim, ela continuou sendo amiga dele, uma amizade normal.


As atitudes do Capim começaram a ser invasivas e grosseiras, em pouco tempo ele estava por toda a parte da clareira, perturbando a vida de todo mundo! Os animais da floresta, tanto os cultos quanto os incultos já não aguentavam mais, alguém tinha de fazer alguma coisa com o abelhudo do Pé de Capim. Porém, ninguém tinha coragem o bastante para chegar até ele e dizer na cara dele que ele estava sendo um chato de galochas tentando a todo custo tomar espaço. A Morangueira continuava ali, parada, lustrosa, respirando bem fundo e agindo normalmente com o capim, mesmo quando ela se distanciou um pouquinho por causa das chuvas, eles continuaram se falando.


A diferença entre o Capim e a Morangueira é que a Morangueira sabia como perturbar os animais da floresta com classe, sem usar de agressão, apenas suspirando e colocando seus esquisitos, porém belos frutos para fora. E o Capim partia para a ignorância, tentando chamar a atenção a qualquer custo.


E então houve grande rebuliço na floresta, quando o Capim já estava tão alto que ninguém mais aguentava. E então veio o bicho homem e cortou tudo com suas máquinas e sua tecnologia. Mas a Morangueira foi poupada, porque seus frutos eram únicos e deliciosos. Foi posta num vaso e presenteada a uma Senhora das redondezas como uma Morangueira Silvestre, enquanto o capim tornou-se fezes de boi e ajudou a adubar a terra do fazendeiro...


Bom, pelo menos pra alguma coisa ele serviu, não acham?

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