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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Pequena Crítica a Respeito de Alejandro, o Vídeo. - Por Antonio Fernandes


De repente todo mundo virou evangélico, e eu não entendi muito bem o porquê. Aqueles hipócritas que idolatravam Lady GaGa agora estão se voltando contra ela repentinamente por causa do vídeo de Alejandro, que saiu essa semana. Acredito do fundo do meu coração que as pessoas que antes a amavam e agora estão dizendo que "ela é uma condenada" ou que "ela vai pro inferno" são falsos moralistas, porque bateram milhares de palmas vendo Stefani Germanotta beijando garotas no sofá em Paparazzi, saindo de um caixão branco em Bad Romance e envenenando clientes de um restaurante inteiro, um verdadeiro assassinato em massa encenando, e nem por causa disso se voltaram contra ela. Tinham em mente (ou não) que tudo aquilo era puramente artístico e interpretado, metáforas em forma de vídeo. Com a reação do público esta semana vemos que 50% dos atuais (ou ex-fãs) de Lady GaGa na verdade eram um bando de leigos, e o vídeo-arte de Alejandro serviu de crivo para deixar cada vez mais seleto o círculo dos "Little Monsters" como a artista costuma chamar aos seus fãs.

Vemos inúmeras críticas e simbologias neste video incrível, de arte impactante e impecável, totalmente calculado para chocar a sociedade em todos os aspectos, estamos diante de uma verdadeira obra de arte do século 21, uma espécie de releitura dos clássicos quadros de estampagem de Andy Warhol que retratavam a morte de forma simples e ao mesmo tempo bizarra, chocante. Vemos referências claras à Madonna ao longo de todo o vídeo, tanto à Rainha do Pop quanto ao Rei do Pop Michael Jackson.

No começo vemos uma GaGa angustiada, em seu covil rodeada por seus soldados, relembrando a história de "Alejandro": GaGa carrega à frente do caixão onde seu amado Alejandro repousa, um coração sangrento coberto de cacos de vidro, parafusos, agulhas e pregos, representando seu coração partido, e ao desenrolar do vídeo ela recorda épocas passadas em que fazia de Alejandro, Fernando e Roberto seus escravos sexuais que por serem claramente gays (representação dos saltos usados pelos dançarinos), eram forçados a manterem relações sexuais com ela. Nota-se também que, a cena do exército de dançarinos num pátio onde são exibidas cenas de uma suposta guerra aos fundos trata-se de soldados tentando entrete-la, ela os observa relembrando seus amados.

Na segunda fase do vídeo, vemos GaGa entregando-se ao convento, aderindo ao celibato para tentar esquecer o desejo sexual pelos seus amados gays que tanto a fizeram sofrer, mas nada disso acaba adiantando e as lembranças sempre vem à tona e ela se torna cada vez mais sofredora. Vemos GaGa implorando aos céus para esquecer de uma vez por todas de Alejandro, mas isto tem pouco efeito, ela o deseja mais de que tudo. O que mais chama a atenção neste segundo ciclo do vídeo é a forma chocante como ela utiliza as representações da igreja católica e todo o seu simbolismo. Alguns podem chamar de blasfêmia, mas eu chamo de crítica, uma crítica feita de modo artístico e impactante feita para chamar MESMO a atenção.

Neste ciclo do vídeo vemos claramente GaGa mostrar a hipocrisia toda que existe por trás da santidade, e é exatamente isto que me fez apaixonar pela simbologia pesada e agressiva de Alejandro, finalmente GaGa mostra-se mais visual do que musical. A mensagem que isto passa é clara: ninguém é santo 100%, sempre há desejos ocultos, vontades proibidas, segredos escondidos e tentações, coisas das quais não podemos escapar, e coisas contra as quais ela reza pedindo libertação, mas são fatos que ela não pode negar nunca, ela está presa.

Isso nos remete aos abusos sexuais cometidos contra pobres crianças que ocorrem frequentemente nos bastidores da Igreja Católica. Os Padres não são fortes e santos o bastante para repreenderem sua tentação doentia e sexual, o que resulta nestes crimes hediondos cometidos por eles contra pobres inocentes. É uma crítica clara como a água contra toda a hipocrisia da Igreja, que prefere fechar os olhos e ocultar casos sérios do que combater isto em sua instituição. De modo geral, ela critica também a posição da igreja quanto aos homossexuais, a proibição do amor e a repreensão da libido, a transformação de tudo em pecado. Mas realmente o que atrai todos os olhares nestas cenas são os crucifixos invertidos, e em especial um deles, que está exatamente sobre a sua vagina.

E então nos vemos retornando à questão dos simbolos, da simbologia. Como já foi dito no início, hipócrita daquele que deixou de ser fã de Lady GaGa argumentando que ela virou uma verdadeira satanista. Ora, vamos parar um pouco para refletir sobre tudo o que já vimos nos videos desta artista? Em todos eles sempre vimos de exposição sexual a assassinatos, e isto como está escrito na Bíblia, é pecado altamente condenável, então vejamos: por que vocês, POSERS, não odiaram GaGa desde o primeiro video? Porque somente quando viram crucifixos invertidos ficaram com medo, revoltados? Porque não ficam revoltados com os casos de pedofilia nos bastidores do Vaticano? Porque violar uma criança é tão pecado quanto usar do sagrado para se promover, como ela está fazendo, E ALIÁS, acho que os ditos "pastores" e até alguns padres dos dias atuais usam muito mais do sagrado para se promover do que a própria GaGa, e estão aí cheios da grana iludindo multidões. Pelo menos ela está sendo sincera, não acham?

Olhando novamente pelo lado artístico, de um modo estranho, este vídeo me lembrou também ciclos de obras assinadas por Andy Warhol, o gênio da Pop Art, cujo tema girava sempre em torno da morte, da catástrofe e da banalização atual do que é sagrado (Em especial a "Cruz Vermelha" de Warhol). E realmente, neste video, Lady GaGa atua quase como o próprio Warhol, ela captura perfeitamente elementos já existentes no mundo da música e da multimídia transformando-os em algo totalmente contextualizado. Em outras palavras, vemos as referências à Madonna, o que mostra que GaGa está no caminho certo, evoluindo sua arte a um nível além.

Aqui eu abro um espaço para argumentar contra aqueles que estão catalogando "Alejandro" como cópia de Madonna. Que fique bem claro a diferença entre uma cópia descarada e uma referência: A CÓPIA É PERFEITA, imita o original em todos os aspectos, exceto pelo fato de não se tratar do original. Quando você faz uma fotocópia na máquina de xerox ou copia um arquivo de uma pasta para a outra, o que vemos é a reprodução perfeita do que ali estava, idêntico. E quando se usa de referências para fazer algo, CAPTURA-SE ASPECTOS desta tal coisa, do objeto da inspiração, UTILIZA-SE DE ASPECTOS, que foi o caso de Alejandro, que utilizou aspectos que passeiam claramente por todo o braço polêmico do corpo composto que é o Pop mundial, que já foi feito. Uma coisa é você transformar o que viu em algo novo e outra coisa é reproduzir aquilo que já foi feito. Deve-se se ter isso em mente antes de cometer a ignorância de abrir a boca para falar besteira.

Enfim, Alejandro é sem dúvida o vídeo mais marcante até agora de toda a carreira de Lady GaGa, e já deixou uma ferida e tanto na cultura mundial nestes míseros três dias em que foi lançado. Sinceramente, acho que está na hora de revermos conceitos e de estarmos abertos a novas perspectivas, devemos analisar minuciosamente cada ponto de vista que nos é exposto de modo artístico para que as coisas não fiquem confusas. Os leigos que se diziam fãs estão esquecendo de ler as entrelinhas artísticas desta bela obra visionária de agressão e libertação, Alejandro é um vídeo que vai render muito pano pra manga ainda, e acredito do fundo do meu coração que esta pobre crítica feita por mim até agora não abordou e nem sequer analisou os inúmeros temas e perspectivas que nos são expostas no vídeo, e não é nem um terço do que eu poderia me dispor a discutir, do que eu ainda tenho para falar. Esta crítica está olhando apenas por uma das faces deste dado psicodélico e complexo que é o video de Alejandro, e creio que se me dispusesse o bastante, poderia muito bem redigir um verdadeiro dossiê a despeito do tema, desfiando fio a fio esta teia que a nova deusa da música pop atual teceu estrategicamente para que debatêssemos a respeito.

E digo mais a vocês. Estamos fazendo exatamente o que ela quer. Estamos desesperados para tentar entendê-la, outros desesperados por explicar o porque de condená-la, outros desesperados para explicar o porquê de amá-la, mas a vocês digo: Lady GaGa nasceu incógnita e morrerá incógnita, e esta humilde crítica feita por mim como Antonio Fernandes e não como Louie Mimieux jamais será o bastante para ela, este monstro complexo e sem sentindo, tão faminto pela fama.

Particularmente enxergo esta mulher como um quadro de Picasso, com tantas maneiras de ser interpretada, e aqui estarei eu, sempre usando meu senso crítico para interpretar esta rara pintura.

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