Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sábado, 3 de julho de 2010

The Big Machine II - Parte 1!



A grande fusão cultural de 2012 deu origem a uma geração de seres humanos totalmente evoluídos, todas as culturas e todas as religiões do mundo sofreram uma convergência harmônica que tornou o ser humano mais globalizado e menos individualizado, estabelecendo o verdadeiro significado de cooperação, coletividade e respeito. Surge então a sociedade perfeita, onde crimes são punidos de acordo com o seu grau de gravidade e justamente, onde há realmente direitos iguais para todos.
O mundo sofreu um “boom” cultural e artístico, os jovens da década de 50 do século XXI são influenciados pela cultura do exagero e do exibicionismo da década de 80 do século XX. O dito “glam rock” fundiu-se com o synth-pop, o indie, o Punk e o Dark, dando origem ao estilo de vida (e musical) Dark-Pop, que dita às regras neste não tão distante futuro.
A capital mundial da arte e da cultura, sendo consequentemente o olho industrial do mundo, chama-se NEON CITY, uma cidade que levou 40 anos para se auto-construir a partir dos destroços do Apocalipse Social do final da primeira década do século XXI, atingindo o seu grau de perfeição tendo como base a infraestrutura auto-sustentável perfeitamente calculada pelo cérebro gigante chamado ESFERA em 2050.
Isso tudo só foi possível após a fusão do cérebro humano ao cérebro da máquina, a união do útil ao agradável, uma convergência evolutiva que uniu todo o mundo numa super rede cerebral que interliga a todos por meio de impulsos eletromagnéticos. NEON CITY como o nome já diz, é a cidade de neon, onde todos os prédios, os carros, as casas, os postes e até mesmo as pessoas são cobertas por neon, numa espécie de futurismo absoluto feito de cor e expansão cultural. Nesta cidade repleta de cinemas, teatros, museus, casas noturnas, shoppings e centros culturais é onde nossa história começa...




Selva de Neon. Vinil e couro. Metal por toda a parte, cobrindo os corpos, cobrindo os esqueletos dos carros. Penteados coloridos, cabelos exuberantes, colares exagerados, óculos psicodélicos, piscando suas luzes hipnotizantes sem parar. Eletrônica no último volume, corações faiscantes nas paredes, colunas dóricas e coríntias como em ruína aqui e ali. Dançarinos suados em cima de palcos improvisados. Danças frenéticas e moicanos absurdos.

- Eu simplesmente não acredito! Isso por um acaso é um Rayban Wayfarer?! Que ridículo, ninguém mais usa isso Maxine! – exclamou a garota gordinha de penteado Chanel azul curtíssimo.

- Ninguém usa isso há mais de 40 anos, você quer dizer! – chegou cheia de ginga, do tipo mais estranho, uma garota de gargantilha metálica e jaqueta coberta por pequenos espelhos quadrados que em conjunto formavam uma verdadeira couraça refletora que parecia incendiar juntamente àquela cabeleira vermelha farta da garota. – sério, Maxine, toma cuidado com isso. Além de ser ridículo, também é uma raridade, não se vê um em tão perfeito estado desde 2014, quando sua avó andava em jipes pelo deserto!
Na parede principal da casa noturna Octopus o relógio universal em forma de octágono marcava a data: 17 de Setembro de 2057.

- Fala Gabrielle! – as duas fizeram seu toque particular, choca os cinco de cá e choca os cinco de lá, elas se abraçaram – Vai ver isso vale uma fortuna e eu nem sei! – os olhos castanhos de Maxine iluminaram-se feito duas grandes estrelas apocalípticas num céu escuro. As três amigas viraram suas taças de bebiba fumegante e mostraram a língua gargalhando. Fosforescentes elas estavam agora.

- E a que horas você troca de lugar com o DJ, Maxine? – perguntou a gordinha bebendo mais um pouco do Néctar de Afrodite. Assim era chamada a bebida mais famosa da década de 50 do século XXI.

- Falta meia horinha só... Duas e meia da madrugada eu entro – Maxine vibrou dos pés à cabeça, quase cuspiu a cereja de Afrodite na cara das amigas – vocês não fazem noção do remix que eu fiz pra essa noite! Não fazem mesmo! Eu peguei uma música muito antiga, muito antiga MESMO! Meu avô guarda umas coisas muito tensas na torre lá de casa! Tem um baú cheinho de CDs! Ouviram? CÊ-DÊS!

Gabrielle foi forçada a levantar os seus óculos de arame trançado que imitavam um gradeado de tela para olhar bem na cara da amiga, piscando rapidamente seus cílios postiços gigantescos e azuis que lembravam borboletas fulgurantes.

- Tá de brincadeira?! – fez ela. – eu nunca cheguei a ver um CD na minha vida! O meu avô tem uma porcaria de um computador de HD mole no quartinho dele que só tem músicas em formato MP3, nunca vi um CD!

- E nem vai! Essas relíquias não saem do sótão! – Maxine alisou um dos garçons que passava ali por perto, calça de couro, gravata borboleta, sem blusa, cabelos espetados para trás. – Miguel, querido, vá buscar uma bebida para nós, sim?
O cara bufou, pegou as taças e saiu pisando firme.

- E ajeita essa cara! As clientes não gostam de caras mal-humorados! – gritou Gabrielle, sem olhar pra trás.

- Vai se danar, ô alegoria! – gritou ele de volta. Gabrielle lhe devolveu o dedo do meio bem alto.

- Esse garoto me irrita. – fez.

- Ele é legal, mas não sabe levar as apostas na esportiva – Tifa, a gordinha de Chanel azul deu de ombros. – quem aposta com Maxine Fernandes não tem noção do perigo.

E então houve mais um toque de amigas. As duas deram risadinhas.

- E então, Max, faltam 5 minutos pra você subir na SpaceCowboy... Vai mostrar o tal do remix?

- É claro que vou! Hoje à noite isso aqui vai pegar fogo!

Gabrielle fez um bico e se abanou. As três riram.

Maxine ajeitou-se dentro do vestidinho curtérrimo Giorgio Armani New Generation, prateado, aerodinâmico e todo trabalhado no futurismo, alisou suas botas e escalou a escada na parede que levava à cabine do DJ, para encarar o monstro eletrônico que era a mesa SpaceCowboy. O Pen Drive da garota era sua alma, o que ela tinha de mais importante, era sua essência pura, tudo o que havia de mais importante estava ali. Fotos da família, músicas, vídeos, filmes, livros inteiros, uma biblioteca digital, programas dos mais variados e por último e mais importante, seus remixes. Tudo isso em quase 400 gigas, mal cabia em um terço da palma da sua mão. Um pequeno pingente triangular encaixava perfeitamente nas novas entradas USB da nova era.

- Não acredito! – o queixo de Tifa praticamente caiu. O pirulito azul que ela chupava foi pra dentro da lixeira que estava ao seu pé.

- E eu muito menos! – Gabrielle jogou seu cabelo pro lado – mas é Remedy, da Little Boots! De onde ela desenterrou isso?! O pessoal vai adorar, o povo daqui do Octopus tá numa onda retrô...

A festa rolou madrugada adentro, enquanto o enorme móbile de neon cor-de-rosa em forma de polvo girava vagarosamente esticando seus tentáculos elásticos sobre o público lá embaixo. A psicodélica Octopus era um palácio do qual Maxine Fernandes era a princesa. Ali, e em mais nenhum outro lugar, ela se sentia em casa de verdade...


FIM DA PRIMEIRA PARTE!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E então? O que achou?