- Max, você está delirando! – disse a mãe
- Max, você está louca! – disse o pai.
- Deixem a menina falar! – gritou o avô – vão para o quarto, meninos! Vão! – ele sacudia o DiscoStick cintilante para os irmãos mais novos de Maxine, ordenando que subissem e ficassem lá em cima. A garota se derramava em lágrimas no colo do velho. – agora conte para o vovô, o que você viu? – fez Christopher Umbrella, doce e calmo, apaziguando o coração da jovem.
- Era terrível, vovô! Terrível! Terrível!
- A Tifa chegou a ver isso? – perguntou o velho, sério. Seu rosto cheio de rugas iluminado pelo brilho que emanava dos cristais na ponta da sua bengala, um DiscoStick como o da cantora vanguardista Lady GaGa, viva até os dias atuais através de aparelhos sofisticados que proporcionam-lhe o poder da fala e dos movimentos através de braços e pernas artificiais. Vez ou outra ela solta uma das suas pérolas, e continua compondo para quase todos os cantores conhecidos da década de 50 do século XXI, é como um Guru da Pop Music.
- Não, não deixei que ela visse, mandei ela correr!
- Alguém viu vocês?
- Não, não sei... As câmeras, talvez... Sei lá! – ela voltou a enterrar seu rosto no colo do avô.
- Havia mulheres penduradas como frangos... mesmo?! – gaguejou Dominick. Stéphanie lhe deu um tapinha na nuca.
- Não seja tolo, Dominick! Não está vendo que ela só está impressionada?! É o que eu sempre digo! Hoje em dia o sistema alivia muito pra esses meninos! – e a mãe de Maxine iniciou seu discurso rotineiro, dando voltas pela sala – no meu tempo havia guerra civil, assassinato em massa, homicídios planejados a sangue frio, tráfico de drogas, gangues...! Eu cheguei a contar pra você, Max, das favelas no Rio de Janeiro?! Das baixadas de Macapá?! Das facadas diárias e dos corpos que vez ou outra encontravam por aí?!
- Pare com isso, Stéphanie, sua tola! Você nem é desse tempo, sua estúpida! – ralhou o velho, eticando-lhe o brilhoso DiscoStick no meio da cara. – eu que vi tudo isso pela TV no meu tempo não fico fazendo pressão psicológica na menina! E você que só soube dessas coisas porque a Augusta te contou, fica falando besteira! Você é igualzinha à sua avó Misty, aquela velha hipócrita!
- Olha lá como você fala comigo! Seu velho! – ela abaixou o cajado com violência. – não mexa com a minha família!
- Não sei como uma mulher tão boa como a Augusta foi ter uma filha como você! – o velho mantinha sua vara psicodélica esticada em direção ao rosto da mulher, com o nariz em riste e os olhos julgadores, carregados pela idade e pela sabedoria. E então voltou-se para a pequena Maxine.
- Conte-me, meu anjo, o que você viu lá?
À meia luz daquela sombria sala de tempos remotos, Maxine iniciou seu relato.
----
As luzes do laboratório foram ligadas, e 21km de extensão de túneis circulares acenderam como um aro subterrâneo resplandecente. A equipe técnica estava por toda a parte.
- Qual o diagnóstico? – perguntou Mariana, com a prancheta em mãos.
- Na verdade, não é nenhum milagre que este lugar e toda a parafernália nele contida estejam intactos, Senhora Hesketh. – começou o chefe de exploração. A caneta de Mariana fuzilava o papel – foi uma estrutura de milhões investidos, é um verdadeiro abrigo anti-nuclear! Temos 90% desses 21km de tecnologia em perfeito estado, mas vamos ter de fazer algumas substituições de peças e viemos preparados para isso, fique tranquila.
- Acho melhor você me tranqüilizar mesmo. Aquela mulher lá em cima tá que não se agüenta, ela quer ver essa coisa ligada até o final dessa semana... – Mariana suspirou.
- Não se preocupe, Senhora Hesketh, ela o terá sem dúvidas!
- E quanto tempo vai demorar esses reparos?
- Um ou dois dias, talvez, dependendo do desempenho dos robôs que trouxemos...
- Então, quer dizer que se os robôs executarem a tarefa melhor do que o esperado, podemos ter tudo pronto amanhã?
- É uma possibilidade, minha senhora.
- Quero essas máquinas ligadas já! – e virou as costas.
O homem arregalou os olhos.
- Mas, Senhora Mariana! Não podemos fazer isso! Os técnicos ainda estão terminando a análise, o diagnóstico vai demorar talvez a semana inteira! É uma máquina gigantesca, temos muito ainda que olhar!
- Então apressem-se, se ainda quiserem a cabeça sobre o pescoço. – disse Mariana, fria, olhando de cima. Deu as costas ao homem que tinha as duas mãos no pescoço, prevendo um final trágico para sua equipe e para si próprio.
- Max, você está louca! – disse o pai.
- Deixem a menina falar! – gritou o avô – vão para o quarto, meninos! Vão! – ele sacudia o DiscoStick cintilante para os irmãos mais novos de Maxine, ordenando que subissem e ficassem lá em cima. A garota se derramava em lágrimas no colo do velho. – agora conte para o vovô, o que você viu? – fez Christopher Umbrella, doce e calmo, apaziguando o coração da jovem.
- Era terrível, vovô! Terrível! Terrível!
- A Tifa chegou a ver isso? – perguntou o velho, sério. Seu rosto cheio de rugas iluminado pelo brilho que emanava dos cristais na ponta da sua bengala, um DiscoStick como o da cantora vanguardista Lady GaGa, viva até os dias atuais através de aparelhos sofisticados que proporcionam-lhe o poder da fala e dos movimentos através de braços e pernas artificiais. Vez ou outra ela solta uma das suas pérolas, e continua compondo para quase todos os cantores conhecidos da década de 50 do século XXI, é como um Guru da Pop Music.
- Não, não deixei que ela visse, mandei ela correr!
- Alguém viu vocês?
- Não, não sei... As câmeras, talvez... Sei lá! – ela voltou a enterrar seu rosto no colo do avô.
- Havia mulheres penduradas como frangos... mesmo?! – gaguejou Dominick. Stéphanie lhe deu um tapinha na nuca.
- Não seja tolo, Dominick! Não está vendo que ela só está impressionada?! É o que eu sempre digo! Hoje em dia o sistema alivia muito pra esses meninos! – e a mãe de Maxine iniciou seu discurso rotineiro, dando voltas pela sala – no meu tempo havia guerra civil, assassinato em massa, homicídios planejados a sangue frio, tráfico de drogas, gangues...! Eu cheguei a contar pra você, Max, das favelas no Rio de Janeiro?! Das baixadas de Macapá?! Das facadas diárias e dos corpos que vez ou outra encontravam por aí?!
- Pare com isso, Stéphanie, sua tola! Você nem é desse tempo, sua estúpida! – ralhou o velho, eticando-lhe o brilhoso DiscoStick no meio da cara. – eu que vi tudo isso pela TV no meu tempo não fico fazendo pressão psicológica na menina! E você que só soube dessas coisas porque a Augusta te contou, fica falando besteira! Você é igualzinha à sua avó Misty, aquela velha hipócrita!
- Olha lá como você fala comigo! Seu velho! – ela abaixou o cajado com violência. – não mexa com a minha família!
- Não sei como uma mulher tão boa como a Augusta foi ter uma filha como você! – o velho mantinha sua vara psicodélica esticada em direção ao rosto da mulher, com o nariz em riste e os olhos julgadores, carregados pela idade e pela sabedoria. E então voltou-se para a pequena Maxine.
- Conte-me, meu anjo, o que você viu lá?
À meia luz daquela sombria sala de tempos remotos, Maxine iniciou seu relato.
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As luzes do laboratório foram ligadas, e 21km de extensão de túneis circulares acenderam como um aro subterrâneo resplandecente. A equipe técnica estava por toda a parte.
- Qual o diagnóstico? – perguntou Mariana, com a prancheta em mãos.
- Na verdade, não é nenhum milagre que este lugar e toda a parafernália nele contida estejam intactos, Senhora Hesketh. – começou o chefe de exploração. A caneta de Mariana fuzilava o papel – foi uma estrutura de milhões investidos, é um verdadeiro abrigo anti-nuclear! Temos 90% desses 21km de tecnologia em perfeito estado, mas vamos ter de fazer algumas substituições de peças e viemos preparados para isso, fique tranquila.
- Acho melhor você me tranqüilizar mesmo. Aquela mulher lá em cima tá que não se agüenta, ela quer ver essa coisa ligada até o final dessa semana... – Mariana suspirou.
- Não se preocupe, Senhora Hesketh, ela o terá sem dúvidas!
- E quanto tempo vai demorar esses reparos?
- Um ou dois dias, talvez, dependendo do desempenho dos robôs que trouxemos...
- Então, quer dizer que se os robôs executarem a tarefa melhor do que o esperado, podemos ter tudo pronto amanhã?
- É uma possibilidade, minha senhora.
- Quero essas máquinas ligadas já! – e virou as costas.
O homem arregalou os olhos.
- Mas, Senhora Mariana! Não podemos fazer isso! Os técnicos ainda estão terminando a análise, o diagnóstico vai demorar talvez a semana inteira! É uma máquina gigantesca, temos muito ainda que olhar!
- Então apressem-se, se ainda quiserem a cabeça sobre o pescoço. – disse Mariana, fria, olhando de cima. Deu as costas ao homem que tinha as duas mãos no pescoço, prevendo um final trágico para sua equipe e para si próprio.
- Não era coisa da minha imaginação! Não era! Será que ninguém me escuta?!
- Maxine, pra ser sincera, acho que você está ficando maluca! – Gabrielle fazia o estilo retrô naquela manhã, usando franjinha curta sobre os olhos, cabelos compridos, calça apertada, salto alto e jaqueta de couro coberta de cristais. Os corredores daquela área da escola eram sempre vazios. O colégio em forma de disco ficava no alto do edifício mais alto de neon city, com vista panorâmica para toda a cidade, sempre girando a 2km/h, proporcionava uma visão ampla e mutável das paisagens exuberantes da selva de neon, agora uma selva de concreto e metal: era dia e toda a iluminação artificial estava apagada, a luz usada nos prédios era totalmente natural. Projetados com tetos e enormes fachadas de vidro, os edifícios e construções daqueles tempos visavam a sustentabilidade, a economia e a preservação das matrizes energéticas. A escola não fugia a esses padrões.
- Porque será que ninguém acredita em mim?! – Maxine chutou a parede. – eu juro que eu vi! A Tifa estava comigo, ela entrou lá! – a garota apontava para a amiga que olhava o céu, distraída e sonhadora enquanto chupava seu costumeiro pirulito azul.
- Sim, mas você me mandou correr depois que ficou pálida feito uma múmia – respondeu.
- Vocês querem uma prova? Então vocês a terão! Venham todos comigo após a aula, vou mostrar pra vocês que o que eu estou falando é verdade!
- Vamos ser pegos, com toda a certeza – pronunciou-se Fernando, soltando uma baforada do seu cigarro eletrônico. – o sistema não tem falhas, Max, se vocês entraram naquele lugar era porque alguém queria que vocês vissem algo. As câmeras teriam dado o alarme.
- Sei lá, ainda acho que as duas estão piradas, essa história está muito mal contada! – dessa vez foi Miguel a se pronunciar. – eu voto por irmos todos lá depois da aula.
- Sabe que não posso ir, tenho supletivo e vou ficar por aqui até as nove da noite – afirmou Fernando, o único dali que cursava o terceiro ano. Gabrielle estava no segundo juntamente com Maxine enquanto Tifa fazia o primeiro ano ao lado de Miguel.
- Então você que fique!
Dito e feito: sete da noite estavam todos usando seus chapéus de caubói, dando voltas por dentro do Shopping Center da comida, se divertindo com os robôs em forma de vaca que passeavam pelo local cantando uma bela canção e tirando fotos dos visitantes, comendo amostras grátis até enjoar e tentando a sorte no disputadíssimo touro mecânico. Primeiro foi Fernando, que conseguiu fugir do supletivo. mas acabou caindo de cara após três segundos em cima do touro...
- Vai Gabi! Vai! Você consegue! – gritava a torcida organizada. Gabrielle lutava contra a criatura de metal ferozmente, com toda a garra que a raça negra sempre teve, girando seu chapéu no ar e gargalhando alto. Ao final da sessão, seu recorde foi sete minutos em cima do touro mecânico.
- Parabéns menina, você tem espírito de vaqueira! – cumprimentou um dos funcionários.
- Meu avô tinha um sítio antes de tudo virar um deserto, acho que herdei dele o sangue de fazendeira!
A turma seguiu caminho rindo alto. Apenas Maxine fazia cara feia pra todo mundo. Eles estavam fugindo do foco, se perdendo do objetivo.
- Max, ajeita essa cara, por favor, você está estragando o passeio – Fernando segurou o queixo da garota. Ela afastou sua mão.
- Nós não viemos aqui a passeio, Fernando, você sabe muito bem!
Uma funcionária passou oferecendo espetinhos de carne. Miguel estendeu a mão.
- Eu se fosse você não comeria isso! – fez Max, apontando para a bandeja. A loira continuou sorrindo.
- E porque não, senhorita? È carne de alta qualidade feita nos laboratórios da Fazendinha da Tia Alberta, especialmente para vocês.
Gabrielle meteu a mão num dos espetos e mordeu com vontade a carne.
- Vocês não sabem do que isso é feito, vocês não sabem de que é essa carne, ou de QUEM.
Fernando começou a ficar sem graça.
- Me desculpe, moça... – fez, arrastando Maxine para uma conversa particular. – o que você está pensando?!
- VENHA COMIGO! – foi sua vez de arrastá-lo. – esperem aí, vocês! Nós já voltamos!
- Ah, não mesmo! – Gabrielle foi logo atrás. Sobraram Miguel e Tifa que logo se entretiveram numa sala de jogos. – eu também quero ver essa parada aí, não me deixem pra trás!
Encabeçado por Maxine, o grupo chegou a sessão de gelados logo em seguida, e para surpresa de todos, a porta estava interditada e guardada por dois seguranças robóticos. Maxine gelou dos pés à cabeça.
- Rápido, disfarcem!
Os três pegaram produtos das prateleiras e começaram a analisar em grupo. Os guardas de metal estavam ali, parados, com cara de pateta, mas estavam muito atentos a tudo o que estava acontecendo ao redor, e estavam de olho nos três suspeitos que conversavam ao lado da geladeira de iogurtes.
- Será que eles descobriram a nossa invasão?! – Max suava frio – não é possível! Ali não tem câmeras!
- Alguém deve ter visto vocês entrando lá ontem né – sussurrou Gabrielle – vocês duas são muitíssimo discretas, com toda a certeza – fez, sarcástica.
- Não enche o saco, Gabi, a coisa é séria. Se tem guardas reparando a entrada do frigorífico um dia depois que nós invadimos o lugar, é porque o que eu vi era real!
- Ou talvez eles estejam apenas tentando reparar uma falha de segurança, Max!
Os imponentes robôs-segurança com cabeça de vaca e cara de cavalo deram um passo à frente, dando um susto e tanto no trio. Gabrielle caiu sentada. Os olhos de brilho verde das máquinas mudaram para o vermelho. O robô com cabeça de vaca pronunciou-se:
- Maxine Fernandes, por favor, nos acompanhe!
Os garotos em desespero tentaram fuga, mas para cada um que tentou correr, outros pequenos robôs que imitavam cabritos fecharam seu caminho. Os dois maiores pegaram Maxine pelos braços e arrastaram-na para dentro do frigorífico, agora com a porta aberta. Os outros robôs menores agarraram Fernando e Gabrielle, levando-os para o escuro do depósito gelado logo em seguida. Os três gritavam, esperneavam, chamavam por socorro, tentavam apoio nas prateleiras e em tudo o que houvesse pelo caminho onde eles pudessem segurar, mas de nada adiantava, o mercado pareceu vazio e sem vida repentinamente, como se nunca aberto antes, um silêncio mortal imperava na ala dos frios sendo cortado por gritos de socorro.
- Nunca gostei de cabras! Nunca gostei dessas malditas cabras! – Gabrielle tentava se defender com o salto do sapato, inutilmente, o que lhe prendia era de metal reforçado.
Mal sabiam eles, fora tudo planejado. Outros robôs menores interditaram os corredores de aceso à ala de produtos congelados com a falsa afirmação de piso molhado, por isso ninguém os via os ouvia, no resto do prédio a festa rolava solta com música alta e diversão, ninguém jamais os escutaria.
Do lado de dentro do frigorífico, Robert, o capataz de Alberta esperava pelo grupo seqüestrado com um sorriso maligno no rosto oculto por uma cortina de lingüiças penduradas num varal, ladeado por um homem e uma mulher vestidos de branco dos pés à cabeça.
- Você! – gemeu Max, com ódio.
Robert tinha em mãos duas provas do crime, duas provas de que Maxine e Tifa estiveram lá: um pirulito azul dentro de um saco plástico conservante e um fio de cabelo escuro no outro.
- Sua idiota! Olha o que você fez! Você nos trouxe direto para a boca do lobo! – gritou Gabrielle.
- Sua amiga tem toda a razão, Max – riu Robert, sarcástico – você voltou à cena do crime, você voltou direto para a minha boca!
- Você não pode! Você não vai! Eles vão sentir a nossa falta! Vamos ser dados como desaparecidos! Eles vão nos procurar em todo o lugar! Você e a sua Alberta estão perdidos se não nos deixarem sair daqui!
Robert gargalhou alto, sua voz retumbando feito trovão pelos quatro cantos do galpão gelado.
- Tola! Você é uma tola! Assim que você virar carne e estiver nas prateleiras desse super mercado, todos os seus registros e o dos seus amiguinhos aqui serão apagados da ESFERA, será como se vocês nunca tivessem existido!
- Eu vou acabar com você! – Fernando lutava contra os braços mecânicos que o prendiam, se contorcia feito um animal capturado, violentamente, chutava e socava, sem obter efeito algum. A cabra que o segurava forte torceu seu braço e o fez gritar de dor, isso foi o bastante para fazê-lo parar. Gabrielle estava chocada demais para fazer alguma coisa, parecia tão robótica quanto a máquina que a prendia.
Os olhos de Maxine saltaram, seu grito sofrido cortou o mundo naquele momento, mas a música era alta demais para que alguém pudesse ouvi-la.
Fim da Parte Seis!
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