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terça-feira, 20 de julho de 2010

O Rally Feminino de Natação.


Yara, Camilla e Dara, na outra ponta do riacho cristalino que corta o pé da encosta. Há mais ou menos 500 anos, ele cortava lá pelo alto, mais pra lá da casa de madeira de dois andares do Seu Careca e da esposa dele, que é um amor de pessoa. O sítio é enorme, vai até onde a vista alcança. Pasto do gado de um lado, plantação de maniva do outro, árvores gigantescas na floresta infinita que o cerco. E o riacho, o riacho cristalino que parece falar e respirar e conversar apenas por olhar, passar para nós a sabedoria de milhões de anos correndo por entre as mesmas árvores, na mesma direção. E ali eu estava de novo, como há alguns meses atrás, com a mesma terra embaixo dos meus pés. As mesmas nuvens sobre a minha cabeça e o mesmo cheiro de mato no meu nariz, entrando por uma narina e saindo pela outra, a água gelada do riacho enrijecendo todos os meus poros, deixando-os bem apertados.
E então lá vem elas, uma após a outra pularam do tronco e se deixaram levar pela correnteza, mas isto não foi o bastante, pernadas, braçadas, impulsos na vegetação aquática lançaram a pequena Yara para frente e para frente e para frente, até alcançar o ponto mais claro da água, onde não há sombra de árvore alguma, onde o sol bate com toda a força. Papai pegou ela nos braços. Ela uivou de felicidade.
- Uhuuu! Eu sou a campeona! A campeona!
Todos riram.
- Como assim campeona, Yara?! - perguntei eu.
- Sim, cheguei primeiro, né padrinho?! - perguntou ela para o papai - eu sou a campeona! A campeona do Rally Feminino de Natação!
Todos riram de novo, mais ainda, eu não conseguia me controlar. Acho que ninguém conseguia. Minha prima havia acabado de criar o primeiro Rally aquático e sem jipe de toda a história do planeta terra.
- Não é campeona, Yara, é campeã! - papai corrigiu.
- Mas se existe campeão existe campeona! Assim como do ladrão tem a ladrona!
Rimos todos de novo. Uma ventania forte arrebatou todas as árvores do sítio e por um instante eu achei que elas estivessem rindo também. E a água riu também, e um galo cantou ao longe. Eu mergulhei para o mundo profundo, e lá encontrei comigo mesmo mais uma vez. E ri para os peixes e submergi para a superfície. Um universo maravilhoso estava lá fora, sorrindo para mim. Por um instante eu esqueci do inferno que era a minha sala de aula e do quão horrível eu estou indo na escola e do risco que eu corro de reprovar em física, e o mundo pareceu perfeito por um único instante.

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