Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Lenda da Princesa Kaguya



Há muito tempo atrás, vivia um pobre lenhador que cortava bambus para vender na cidade. Certo dia, no meio do bambuzal, ele avistou um bambu que brilhava como o ouro, tão radiante como sol!

Achando aquilo um mistério, aproximou-se e cortou um pedaço do bambu… Para seu espanto, no interior havia uma pequena e adorável menina!!! Até então, o velho homem e sua esposa ainda não haviam tido filhos, então ele decidiu levar a menina para sua casa e o casal com muito Amor e Carinho, criariam a linda menina, que foi adotada com o nome de Kaguya Hime.

Desse momento em diante, algo mágico começou a acontecer… Sempre que o lenhador voltava ao trabalho, encontrava em cada bambu, muitas moedas de ouro e logo tornou-se um homem rico.
Três meses depois, para espanto do casal, Kaguya Hime cresceu e tornou-se uma linda donzela. Em pouco tempo o país inteiro tomou conhecimento da beleza inigualável de Kaguya Hime. Assim, os pretendentes começaram a aparecer para pedir a mão de Kaguya Hime, mas ela recusou a todos.

Só que haviam cinco nobres rapazes que não desistiram de conquistar Kaguya Hime, então para livrar-se deles ela pediu um presente para cada um e prometeu casar-se com o primeiro que lhe trouxesse o que ela havia pedido…

Para o primeiro, ela pediu um Vaso feito de pedras na qual seria encontrado num templo, bem no alto de uma montanha… O rapaz foi em busca do vaso, mas não conseguiu subir a íngreme montanha…

Então, para não perder a moça, resolveu levar uma falsificação do vaso. Kaguya Hime, logo percebeu o malogro e assim, recusou-se casar com o rapaz.

Para o segundo foi pedido um Ramo de Ouro que dava frutos de pérola, na qual seria encontrado na montanha Horai… O rapaz, por ser rico, poupou seus esforços e mandou que um ouríves fizesse uma réplica perfeita do ramo. Kaguya Hime, impressionada, resolveu dar seu consentimento, mas na hora de dizer sim, apareceu o joalheiro cobrando pelo serviço feito e assim, a jovem descobriu que fora enganada e desistiu do noivado.

Para o terceiro rapaz, foi pedido o Manto Invisível de Tengo… O Tengo é uma planta mágica que habita a floresta… Mas o rapaz fracassou também.

Para o quarto rapaz, foi pedido a Moeda que brilha no pescoço do dragão… Para chegar até o dragão, o rapaz enfrentou uma violenta tempestade e acabou desistindo também.

Finalmente para o quinto rapaz, foi pedido um ninho de pássaro de espécie rara, mas o rapaz não conseguiu realizar a tarefa.

Kaguya Hime chorou muito e pediu perdão aos pais por não ter encontrado seu futuro marido … Os pais, muito compreensivos, consolaram a filha, dizendo que o mais importante era tê-la como filha e que um dia ela arrumaria alguém que a Amasse de verdade.

Passaram-se três anos e Kaguya Hime ainda continuava cada vez mais bela…

Numa noite de primavera, Kaguya Hime estava triste olhando fixamente para a lua cheia… Ela abaixou a cabeça e lágrimas caíram de sua face. Os pais, preocupados, perguntaram o que havia de errado com ela. Kaguya Hime olhou novamente para o céu e respondeu:

Eu Amo Muito Vocês e sou muito grata pelo grande Amor que dedicaram à mim… Mas já está na hora de vocês saberem a verdade:

Eu pertenço a um mundo diferente… Sou a Princesa da Lua. Fui enviada pelo meu rei
para viver aqui na Terra e dar uma vida mais digna à vocês… Mas agora fui comunicada que devo partir, pois minha Missão está cumprida…

Os pais choraram desesperadamente e pediram para que a filha não os abandonassem, mas foi em vão…

Kaguya Hime agradeceu aos velhinhos e despediu-se…

Em seguida, a Lua começou a brilhar…

Mensageiros vestidos com roupas brilhantes desceram sobre as nuvens… Kaguya Hime vestiu um Manto de plumas, olhou para os pais adotivos, deixou uma lágrima rolar em seu rosto… e subiu aos céus…

Assim, desse dia em diante, em todas as noites de Lua Cheia o casal olha para o céu e vê o rosto de sua adorada filha, sorrindo e deixando a Lua cada vez mais bela...






FONTE: Sailor Moon Brasil















Caros leitores, aguardem por novidades.
Não demorarei muito a retomar Space Oddity de onde parei ^^

domingo, 22 de janeiro de 2012

PARTE SETE: LUA SANGRENTA - A BATALHA DE HYEOL-AEG!


Repentinamente ele se viu sem saída. Seu salvador misterioso havia desaparecido, e Ray Ann estava aos berros agarrada ao chifre de um tipo estranho de rinoceronte – a criatura tinha três pares de pernas, era verde e repleto de listras róseas! – ele tentou se aproximar, salvar a vida de sua aluna, mas seus esforços foram em vão, pois uma espécie de misto entre avestruz e pavão partiu para cima dele grasnando e cuspindo um muco azul ácido que abria pequenos buracos no piso da arena, transformando a areia branca de praia em vidro imediatamente!

A garota até que estava lidando bem com a situação, um surto de adrenalina fez com que ela furasse os dois olhos da fera, desnorteando-a imediatamente. Ela aproveitou para saltar longe enquanto o animal enfurecido – e cego – estrebuchava no meio da arena chifrando tudo o que encontrava pelo caminho. A luta não se limitava ao chão, e Christopher Umbrella só percebeu isso quando uma espécie de pterodátilo de escamas vermelhas reluzentes como rubis desceu sobre o avestruz-pavão que o perseguia e o arrebatou para os ares. Foi uma chuva de penas e carne pavorosa.

Seu velho amigo musculoso com cabeça de tubarão, companheiro de jaula e nada amistoso estava numa luta ferrenha contra um par de gorilas albinos sem rosto. Isso mesmo. As criaturas não possuíam olhos nem narizes, no lugar da face dos bichos um tipo estranho de arcada dentária sem lábios abria e fechava furiosamente o tempo inteiro, como se os bichões nunca fechassem a boca, numa eterna careta! A saliva deles era verde, sua carne era roxa, mas pelo visto nada nele era venenoso ou corrosivo como em algumas criaturas na arena. Também pudera! Com dentes como aqueles e braços fortes daquela maneira, quem precisa de veneno?!

A coisa se complicava mais ao longe, no outro extremo da arena, onde uma briga de insetos gigantes havia começado sem hora para acabar. O besouro-zebra que o havia atacado estava tentando chifrar uma espécie de lacraia de couro holográfico! Exatamente: a lacraia além de mudar de cor podia ficar invisível como um camaleão. E isso de longe era a parte mais estranha daquela criatura, pois ela possuía uma cabeça humana com barba, bigode e cabelo! Como um velho chinês de olhos sempre fechados.

Isto era só o que estava no campo de visão de um atordoado Christopher, que não tinha forças para sequer chorar. Aquela cena digna de um filme de ficção científica era o bastante para tirar qualquer tipo de reação humana a tal situação, ele mal conseguia raciocinar. Como isso era possível?!

- Professor! Professor! Aqui! – uma voz conhecida despontou em meio aos rugidos e urros da batalha. Ele saiu do meio do caminho antes que um dos macacos dentuços o esmagasse em meio à briga contra o homem tubarão. E a multidão delirava!

Christopher procurou a origem da voz e encontrou uma mão acenando... Da lateral da arena, como se estivesse saindo do próprio chão! Logo ele calculou o óbvio: havia uma espécie de vala circundando a arena, um sistema de escoamento para onde os restos da luta eram empurrados e levados ao esgoto após a lavagem, e alguém estava escondido ali o oferecendo ajuda!

Não pensou duas vezes, correu até lá sem ser visto pelos monstros que lutavam, estes estavam mais preocupados em derrotar os maiores e mais fortes do que em esmagar os menores, que só procuravam se esconder e encontrar um lugar escuro onde esperariam pacientemente os mastodontes se matarem para depois devorá-los um a um. Este lugar era aquela vala. Tinha seis metros de profundidade, e um espaço grande o suficiente entre uma grade e outra para que Christopher pulasse lá dentro. Acima da sua cabeça a multidão o xingava em diversas línguas.

Milhares de braços, várias mãos, suspiros e exclamações de alívio invadindo seus ouvidos e por fim, uma luz! A luz de uma espécie de sabre fluorescente... Ele já havia visto isso em algum lugar!

- Professor Umbrella! Não acredito que você está vivo! – Donnick foi o primeiro a dar um abraço suado e sujo em Christopher, depois dele vieram Fábia e Augusta ao mesmo tempo e por último Pietro, que revelou-se seu salvador misterioso logo em seguida, pedindo desculpas por tê-lo deixado para trás daquela maneira. Um dos monstros havia entrado em seu caminho e era preciso despistá-lo, ou então ele teria devorado os dois!

- Ray Ann! Ray Ann está lá em cima! Ela vai morrer! – Christopher tentou escalar a parede de volta para a arena, mas foi puxado para o fundo da vala novamente pelas mãos de seus companheiros de viagem ao som dos apelos.

- Não se preocupe com ela! Ela está segura, já me certifiquei disso! – exclamou um arfante Pietro, embainhando dois sabres turcos na cintura.

- O quê?! Ela está perdida no meio daquela batalha louca!

- O cara de tubarão está do nosso lado!
Aquilo realmente pegou Christopher de surpresa.

- Mas...

- Não se deixe levar pelas aparências, Chris – era a primeira vez que um aluno o chamava pelo apelido, e este foi Fábia, o abraçando logo em seguida, pálida e desanimada com suas madeixas em lavada despenteadas ao extremo, suas vestes completamente rasgadas. Ela mal sorria. Parecia ter lutado muito. Por um instante, Christopher sentiu remorso por achá-la tão irritante em suas aulas de astrofísica na terra, há meses atrás. Agora sua vida terráquea parecia mais uma memória distante e mal vivida, lembranças que não eram mais suas.

- Ele que nos trouxe para a vala, é o único lugar onde estamos seguros, só poderemos sair daqui quando o sistema de esgoto começar a circular de novo, a corrente vai nos levar para o sistema de túneis do subterrâneo deste planeta, lá acharemos uma saída! – explicou Donnick, nervosamente.

- E quando isso acontece?!

- No final de cada batalha!

- Eu não queria perguntar isso, mesmo... – Christopher abaixou a cabeça, decepcionado, já prevendo a resposta – mas, quanto tempo dura uma batalha?!

- Pode levar dias, dependendo dos jogadores em campo – rebateu Pietro, já um pouco mais descansado. – aqui a aristocracia interplanetária aposta sistemas estelares inteiros nos peões... Foi assim que a tal Aib’Somar conquistou toda a área que corresponde à constelação de Taurus. Apostando nos jogadores!

- Como vocês ficaram sabendo disso?! – Christopher estava abismado com a quantidade de informação que seu grupo havia recolhido enquanto estivera fora do ar.

- Quem contou isso a vocês?!

- Hikikomori – respondeu o grupo, quase em uníssono.

- Mas essa maldita...

Um estrondo sacudiu a arena de cima a baixo. Alguma coisa quebrara o crânio na grade logo acima da cabeça dos refugiados. Um dos gorilas dentuços havia morrido pelas mãos do poderoso homem-tubarão.

- Isso acontece sempre, não se preocupe – tentativa falha de acalmar o nervoso professor da parte de Donnick. – segundo Hikikomori, há uma espécie de máfia por trás dos jogos que sempre faz Aib’Somar vencedora das apostas, por isso a constelação de Taurus está sempre sob seu poder. Aquele cara de tubarão é o peão favorito dela, e ele sempre vence todas as lutas porque o sistema facilita a vitória dele. Por algum motivo, ele foi com a nossa cara...

Fábia ficou vermelha.

- Com a nossa cara não, com a dela! – exclamou Augusta, apontando para a garota.

- Que seja! Ele fingiu estraçalhar cada um de nós, e disfarçadamente nos lançou na vala. A essa altura Aib’Somar acha que nós viramos patê! – concluiu Pietro, olhando para cima. Ray Ann caiu do céu aos berros, derramando rios de lágrimas exatamente no colo de Donnick que a acalmou imediatamente. Foi recebida com abraços e suspiros de alívio assim como o professor fora recebido logo mais, e a ela foi explicada a situação assim como fora explicado anteriormente à Christopher. Logo todos estavam a par da situação.

- Precisamos sair dessa vivos, tudo bem?! – eles fizeram um círculo ao redor de Donnick – então, por favor, mantenham a calma e fiquem juntos! O cara de tubarão disse que hoje a batalha não dura muito, ele acha que esses adversários fracotes foram escolhidos justamente para que ele ganhasse a partida!

- SE ELES SÃO FRACOTES, IMAGINEM OS FORTÕES! – gritou Ray Ann, ainda atordoada.
Lá fora, um a um, os monstros foram aniquilados.

O besouro foi esmagado pelo rinoceronte cego, o rinoceronte cego foi transpassado pela lança do homem tubarão, e este aproveitou a leva para aniquilar as outras criaturas terrestres com a mesma agilidade e destreza anteriores. A parte difícil foram os monstros voadores. Um bando de libélulas roxas, um pterodátilo, uma serpente alada, e outras criaturas tão estranhas quanto. Ele acertou um a um usando as lanças e espadas abandonadas na arena pelos adversários derrotados e por aqueles que haviam desistido da luta, lançando-as em direção aos alvos como dardos e acertando em cheio na primeira tentativa: a criatura era uma máquina de guerra treinada para matar, seus golpes e suas estratégias eram infalíveis e isso deixava a plateia louca.

Os seres estranhos que estavam nas arquibancadas do coliseu gritavam, jogavam coisas para o alto, cantavam em coro, erguiam bandeiras e faixas coloridas num carnaval enlouquecido, eles estavam adorando o espetáculo, era tudo o que eles queriam na final do circuito de combates de arena da região de Taurus, o favorito do público vencendo com estratégia e agilidade. Ele havia lutado contra todos os pesos pesados do universo até então, trazidos das regiões mais remotas do espaço só para derrotá-lo, e até então nada nem ninguém o havia parado. Seu último adversário era uma espécie de dragão alado de duas cabeças, a criatura mergulhou num rasante em direção ao cabeça-de-tubarão, foi pego no ar pelas suas mãos poderosas e teve as duas cabeças arrancadas fora a dentadas num banho de sangue!

O público estava enlouquecido. O favorito da soberana – e consequentemente do seu povo – havia vencido a luta das lutas e urrava de braços para cima, escancarando sua bocarra cheia de dentes prateados para as arquibancadas, correndo em círculos feito um cachorro enfurecido, seu plano começava a entrar em ação. Ele havia se preparado para aquele momento, era a única maneira de terminar a batalha antes que as plataformas subissem com mais criaturas monstruosas trazidas de selvas distantes nas luas dos gigantes gasosos de Draco. Usou então as duas pernas traseiras para tomar impulso e lançou-se contra as arquibancadas do coliseu, onde a alegria e o furor tornaram-se o pânico e pavor de uma multidão em fuga.

- Vocês estão ouvindo isso?! – Christopher olhou para cima. Um corpo inerte e ensaguentado caiu com um baque surdo acima das suas cabeças, batendo contra a grade de proteção da vala.

- A multidão está gritando... Mas eles não estão comemorando, estão em pânico! – exclamou Fábia, tentando escalar a parede para ver o que estava acontecendo lá em cima.

- Era esse o plano secreto... – Donnick semicerrou os olhos e levou a mão ao queixo – ele disse que tinha um plano para encerrar a batalha à força, mas não imaginava o que seria. Ele está nas arquibancadas neste exato momento!

Lá fora, as sirenes soavam alto. As luzes, hora brancas, agora estavam vermelhas como sangue girando sem parar. Um batalhão de dinossauros uniformizados como os que foram vistos no porto entrou na arena, todos armados até os dentes, segurando longas lanças elétricas que faiscavam furiosas nas extremidades pontiagudas. A esta altura a grande maioria daqueles que compunham a plateia já havia evacuado as arquibancadas da arena, mas uma pequena parte deles ainda corria e gritava em círculos procurando uma saída alternativa: a enorme criatura com cabeça de tubarão e corpo de homem estava encurralando-os, de quatro e rugindo ferozmente, perseguindo-os através dos bancos, arrancando as cadeiras da base e esmagando tudo o que encontrava pelo caminho numa fúria implacável. Seus braços eram como dois tsunamis arrastando tudo o que havia em seu caminho, e sua mandíbula uma máquina trituradora esmigalhando carne, ossos e couro sintético.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA MINHA ARENA?! – Aib’Somar estava tendo uma síncope, a pequena chama vermelha entre seus chifres agora era uma verdadeira labareda enlouquecida.

- O seu favorito, senhora! Ele enlouqueceu! – Arganack havia entrado pela porta dos aposentos reais esbaforido, tremendo da cabeça aos pés. Estava a pouco no coliseu, e viu de perto a situação sair totalmente do controle dos organizadores do evento, havia sido mandado para lá a fim de fiscalizar e se certificar de que sua soberana venceria as apostas mais uma vez, como sempre. Desta vez, os planos de Aib’Somar foram frustrados.

- O QUE DEU NESSE CABEÇA DE PEIXE IDIOTA?! EU TINHA UM ACORDO COM AQUELE ESTÚPIDO! – a pele amadeirada de Aib’Somar foi ficando cada vez mais vermelha, e seus pequeninos olhos escuros tingiram-se de um amarelo vivo como ouro. Uma arcada dentária extra desceu sobre seus dentes amarelados e encavalados, estes novos dentes eram prateados e pontiagudos, seus cabelos ondulavam ao redor da cabeça como serpentes venenosas malignas, uma aura vermelha pairava ao seu redor exalando o fogo, a fúria. – ACABAREI COM A VIDA DAQUELE INÚTIL COM AS MINHAS PRÓPRIAS MÃOS! – até a voz da soberana de Taurus havia mudado: estava grossa e demoníaca, como um eco vindo das profundezas do Tártaro. Flutuou então a trinta centímetros acima do chão e saiu pelas portas dos aposentos reais explodindo tudo o que encontrava pelo caminho.


- Onde está aquela maldita Hikikomori quando precisamos dela?! – exclamou Chris, ainda dentro da vala, tendo como plano de fundo os gritos de pavor da multidão lá fora.

- Provavelmente ela não está se comunicando conosco para não levantar suspeitas. – fez Pietro, olhando para cima, também estava apreensivo demais para ficar ali esperando – se ela está mesmo interligada à irmã, Sybila Papillon captaria qualquer onda cerebral que Hikikomori enviasse, e se infiltraria nas nossas conversas. Logo Aib’Somar saberia que não estamos mortos de verdade...

- Tem razão... Droga! Estamos num beco sem saída!

“Acalmem os ânimos, Apocalipse Club”

Era a voz de Hikikomori, foi recebida com exclamações de espanto e alívio ao mesmo tempo. Foram surpreendidos então pela figura fantasmagórica e transparente da Sybila na escuridão: era uma projeção astral, ela havia meditado o suficiente para ter controle total sobre seu espírito e projetá-lo conscientemente para fora do corpo.

- Eu sabia que ela não nos abandonaria! – vibrou Fábia. Por um momento seu rosto pareceu recuperar a cor.

“Meu corpo está anestesiado e aprisionado dentro de uma cápsula no laboratório da nave mãe do império de Taurus. Sybila Papillon foi mandada para uma missão nos Pilares da Criação e o exército de andróides retornou à base na capital do império. Temos pouquíssimo tempo para executar este plano...”

- Espera um pouco! Espera! – Ray Ann interrompeu a conversa no meio colocando as mãos para cima – você não quer que nós invadamos a nave da chifruda, quer?!
Hikikomori sorriu de leve.

“Sequestraremos a nave mãe do império de Taurus”

O restante do grupo entreolhou-se apreensivo. O que estaria por vir agora?

- Você enlouqueceu!? – exclamou Chris, vermelho feito um pimentão e espumando de raiva! Quem aquela mulher pensava que era?! Ele havia desenvolvido aversão àquela maldita Hikikomori que havia surgido de supetão no quarto da enfermaria onde ele descansava após o desmaio e mudado para sempre o rumo da sua vida! Se ela não houvesse interferido, se ela não houvesse se metido, se ela ao menos houvesse se entregado e não os envolvido naquilo tudo! A vida dos seus alunos não estaria em perigo, nada daquilo estaria acontecendo! Era tudo culpa dela.

“Entenda que isso é necessário, não temos outra alternativa, Christopher Umbrella”

- Não temos outra alternativa?! NÃO TEMOS OUTRA ALTERNATIVA?! Você pirou, sua maluca?! Pra começo de conversa, se você não tivesse se escondido dos seus cobradores na Cosmogony nada disso estaria acontecendo!

“Isso vai muito além da minha fuga, Cavaleiro, vai muito além das contas que tenho a acertar com Aib’Somar, isso envolve cada um de vocês. Você e seus alunos são peças importantes para o quebra-cabeças universal, e cabe a mim colocá-los no lugar certo.”

- Ora, faça-me o favor! Não me venha com essa besteira de Cavaleiro de novo! Eu não sou nada disso que você está dizendo, eu não faço parte disso e me recuso a fazer! Eu sou apenas um professor idiota de astrofísica sem vida social nenhuma que adora café amargo e que quer, que exige voltar à Terra, exige a segurança dos seus alunos! – ele berrava, sua voz talvez estivesse mais alta até que o furor da confusão lá fora, acima das suas cabeças – olhe para o rosto desses jovens, Sybila! – ele puxou Fábia pelo braço, uma garota antes animada e agora totalmente abatida e fraca – acha que eles têm condições PSICOLÓGICAS de lidar com isso?

“Isto só o tempo dirá, Cavaleiro. Por enquanto, vocês só têm a mim, e eu só tenho a vocês. Se querem realmente voltar para o lar, se querem realmente se ver livres deste inferno e em segurança, devem me seguir e fazer o que digo... Ou permaneçam nesta vala para toda a eternidade. O que me dizem?”

Apesar da explosão de nervos de Christopher Umbrella, Sybila Hikikomori permanecia calma e impassível, nada lhe afetava. A impressão que eles tinham era a de que ela se tratava de um cubo de gelo de tão fria. Alienígenas tinham sentimentos?

- Eu não sei vocês, mas eu to com ela! – Pietro foi o primeiro a passar para o lado de lá. Os outros apenas deram de ombro e o seguiram. Apenas Christopher e Ray Ann permaneceram parados onde estavam, tremendo dos pés à cabeça de tão estressados. As lágrimas escorriam sem parar do rosto da garota, apesar de ela não expressar emoção alguma. Por fora parecia muito controlada, mas por dentro estava uma tempestade de emoções.

- Não temos escolha, Professor – disse Donnick, num misto de rendição e dó. – já que estamos aqui, ela é a única que pode nos tirar dessa.

- Ele tem razão – fez Augusta – vamos, vocês dois! – e estendeu a mão para Ray, que a pegou com desconfiança, mas logo cedeu por se sentir em segurança. Aos poucos o grupo foi avançando no interior da vala de escoamento, Hikikomori estava procurando uma das bifurcações de evacuação do esgoto, o que não foi muito difícil. Difícil foi abrir a comporta com o restinho de força que ela possuía, estava usando toda a sua energia para se projetar fora do corpo. Logo eles estavam se aventurando pelas tubulações colossais e infinitas do circuito subterrâneo daquela distante e pequenina lua, orbitando um planeta qualquer na constelação de Touro.

Ray Ann olhou para trás uma única vez, para a escuridão que os banhava em um silêncio mortal de respiração suspensa. O único som ali eram seus passos e os de seu grupo, peitos arfantes e corações batendo a todo vapor feito locomotivas procurando um rumo, um destino nos trilhos errantes onde haviam sido colocadas por acaso. Destino? Talvez. O que seus olhos viram jamais será esquecido, disso ela tinha certeza, mas o que a estava deixando em pedaços por dentro era mais do que estar perdida no meio do espaço há bilhões de quilômetros de casa. Era muito mais do que estar sozinha e desamparada numa constelação distante rodeada de criaturas alienígenas...

O que a destruía por dentro era se lembrar de que eles não foram os únicos a serem sequestrados da Cosmogony durante o ataque. Ela viu muitos rostos humanos retorcidos de dor em desespero contra o vidro dos caixotes, ouviu muitos gritos e choros altos durante o trajeto de porto em porto nestes sistemas solares distantes. Eles foram diminuindo com o tempo, e o silêncio da morte que ficava após cada um dos portos era exatamente como aquele das tubulações. Para onde aquelas pessoas foram enviadas? Ela não queria pensar nisso. Ao menos ela estava a salvo... Pelo menos por enquanto.


- KRHAS! – Aib’Somar materializou-se feito um espírito maligno no meio da arena, envolta em chamas e lava incandescente. – NÓS TÍNHAMOS UM ACORDO, SEU PEIXE MALDITO! AGORA ACABAREI COM AQUILO QUE VOCÊ CHAMA DE VIDA, SEU VERME TRAIDOR!

A mandíbula da Arquiduquesa endemoninhada deslocou-se como a de uma serpente, e um urro diabólico ecoou de lá de dentro. Foi o suficiente para que o cabeça-de-tubarão parasse o ataque aos dinossauros-guardas e voltasse sua atenção exclusivamente para ela: a pequenina chifruda estava dobrando de tamanho, ficando cada vez maior. Rapidamente seus longos chifres pareceram pequenos perto do seu corpo. Krhas pôs-se de pé então nas suas pernas e rugiu para o alto, estufando seu peito branco e musculoso enquanto levantava os braços para o ar, numa demonstração de audácia e ausência de medo, chamando seu adversário para a luta! Ele estava pronto para o que vinha, havia sido treinado para lutar contra a mais maligna das criaturas do universo se fosse necessário.

Da bocarra escancarada de Aib’Somar raios fulminantes de uma energia vermelha maciça acertavam a arquibancada um após o outro, mirando seu alvo, tentando acertá-lo. Krhas era muito mais rápido: ele saltava com uma agilidade e velocidade nunca antes vistas, impossível para uma criatura com o porte como o seu. Estava esperando a hora certa de atacá-la, seria fácil para ele saltar a uma distância tão grande com suas pernas poderosas, mas enquanto a oportunidade certa não aparecia ele continuaria esquivando dos ataques.

O enorme demônio vermelho encontrava-se exatamente no meio da arena, e as armas utilizadas no combate que fora encerrado há pouco ainda jaziam cobertas de sangue fresco ao lado dos corpos das criaturas derrotadas, totalmente fora do alcance do guerreiro-tubarão, ele não tinha outra opção se não esquivar-se dos raios cuspidos pela verdadeira forma da soberana de Taurus, que mantinha uma área inteira do universo sob o seu comando graças a sua máfia suja e trapaceira.

- CONTINUE FUGINDO, KRHAS! SÓ ESTÁ RETARDANDO SEU DESTINO COMO PEIXE ASSADO! – a força do impacto de um palmo colossal abriu um buraco gigantesco em forma de mão nas arquibancadas, parando o guerreiro-tubarão em meio a sua estratégia de fuga. Ele virou-se imediatamente na direção contrária, mas foi parado exatamente pelo mesmo movimento. O minotauro vermelho de vinte metros de altura havia destruído mais um lado do coliseu com seu punho poderoso, através das enormes frestas era possível ver todo o vale de pedras pontiagudas e irregulares que brotava do chão até onde a vista alcançava. Frotas inteiras de naves ainda estavam em fuga daquele lugar, serpenteando entre os espigões rochosos do asteróide terraplanado.

Krhas estava preso entre uma morte e a morte. Não tinha saída. Era hora de enfrentar Aib’Somar com as suas próprias mãos.


- Vocês estão sentindo esses tremores esquisitos? – Augusta perguntou, olhando para trás várias vezes, tentando se certificar de que todos estavam ali. Seu maior pavor no momento era ficar sozinha naquela escuridão apavorante. O azedume ali embaixo era insuportável, a incursão através do subterrâneo não estava sendo nada agradável: vez ou outra alguém escorregava em um trecho mais liso ou afundava até os joelhos em passagens mais fundas, pisoteando detritos de todas as formas, de todos os tamanhos, coisas indistinguíveis no escuro, mas que Christopher podia imaginar muito bem, levando-se em conta as atrocidades que aconteciam logo acima das suas cabeças.

Com certeza ali embaixo, naquele limo grosso e turvo, boiavam restos de carne e ossos, membros triturados e decepados de criaturas vindas de todas as galáxias, e a sensação de estar pisoteando-as arrepiava todos os pelos da sua nuca. O barulho de gosma sendo revirada a cada passo era nauseante, e para não piorar a situação ele decidiu permanecer em silêncio e não verbalizar qualquer conclusão a respeito das coisas nas quais eles estavam pisando. Imagine andar sob os dejetos de um matadouro. Era esta a exata sensação.

“Algo importante está acontecendo na arena do Coliseu” – esclareceu a transparente Hikikomori, apenas um vulto luminoso à frente do grupo – “estou usando todas as minhas forças para projetar meu espírito aqui, então não posso elevar meu pensamento até lá e ver o que está acontecendo. Mas posso sentir mesmo assim.”

- Espero que o cabeça-de-peixe esteja bem... – chiou Fábia, baixinho, sua voz quase sumindo.

Eles permaneceram em silêncio por um tempo, até Hikikomori quebrar o gelo dando explicações às perguntas que o capitão Donnick fazia vez ou outra em meio ao revolver da gelatina abaixo dos seus pés. Vez ou outras eles tinham de desviar de grandes corpos perdidos na tubulação, coisas horríveis e escamosas, peludas ou encouraçadas, repletas de espinhos ou lisas e lustrosas. Mortas e já quase totalmente decompostas. O fedor era insuportável.

Hikikomori falava sobre Aib’Somar em geral, contava sua história e o que a levou a ser uma procurada da justiça do império de Taurus. Disse ao grupo também que se encontravam atualmente em Hyeol-Aeg, uma espécie de asteroide terraplanado para abrigar o maior de todos os coliseus do Circuito de Taurus, esporte sangrento e cruel praticado por todos os que viviam naquela área da constelação e arredores, muito semelhante ao que acontecia no Planeta Terra nos tempos de Roma, como eles mesmos puderam perceber. Aquele corpo celeste era pouco menor que a nossa lua, sua única superfície relativamente plana fora envolvida por uma cúpula gigantesca onde as grandes máquinas instaladas fabricaram uma atmosfera artificial. A única saída daquele lugar era através dos portos, que tinham sua face voltada para o espaço lá fora.

Ao ser questionada por Fábia, explicou-lhes também que era uma Sybila, descendente de uma raça muito mais antiga que a contagem do tempo nas diferentes esferas, raça que tanto havia evoluído – espiritual e biologicamente – a ponto de nunca envelhecerem e só morrerem no momento que lhes convinha. Morte não existia para elas “juntar-se às estrelas” ou “estelar-se” era um termo muito utilizado por seus ancestrais quando as galáxias eram jovens e a maioria das estrelas ainda estava nascendo numa confusão colorida de poeira cósmica restante do nascimento do universo.

- Mas isso é impossível, você tem certeza do que está nos contando? – fez o capitão, caminhando agora ao lado do espírito luminoso da Sybila – isso vai além da imaginação de qualquer especulador ou cientista que já nasceu! Como é possível criaturas como vocês viverem bilhões de anos, como as estrelas?!
Hikikomori riu, um riso sonoro e distante.

“Vocês humanos são tão curiosos... consideram tanto o tempo, a contagem, a cronologia.” – ela respirou fundo – “isto é mera ilusão. O universo é atemporal, somos todos atemporais, nosso espírito é muito mais do que os anos conferidos pelas voltas que seu planeta dá ao redor daquela estrela jovem e fulgurante. O tempo é tão relativo de criatura para criatura, de homem para homem, de planeta para planeta! Um ano em seu planeta pode parecer longo e duradouro para você, mas para uma criatura que vive nas luas do gigante gasoso Nepherats do outro lado do universo é apenas um dia tranquilo e efêmero... Tão relativo! O tempo é pura ilusão. Passado, presente, futuro, tudo a mesma coisa, e eles estão lado a lado num trançado complicado e intrincado como vocês logo verão...”

Todos permaneceram em silêncio durante o discurso. É claro, sem diminuir o ritmo dos passos, por vezes até acelerando quando sons estranhos vinham dos tubos periféricos ou das passagens que ficaram para trás.

- Já estamos chegando? Isso aqui não tá me agradando muito não... – Ray Ann afastou-se das paredes quando percebeu que estranhas protuberâncias cor de ameixa foram surgindo. Elas possuíam um estranho furo no meio semelhante à cloaca de uma galinha, através da qual uma língua roxa, fina e asquerosa como a de uma serpente vinha para fora provar o ar de tempo em tempo.

“Não se preocupem com estas criaturinhas, elas são como as plantas do seu planeta, mas estas necessitam do gás metano para sobreviver...” ela fechou os olhos por um momento “estamos perto, falta mais um pouco... Porém algo me preocupa, é como se eu estivesse deixando passar alguma coisa...”

Os companheiros se entreolharam receosos.

Ray fez uma cara de nojo e soltou um gritinho quando uma das línguas roxas veio a roçar na sua bochecha. As paredes estavam totalmente cobertas por aqueles seres asquerosos. Christopher imaginou que eles eram como as cracas no fundo do mar, vindo para fora das suas conchas para se alimentar dos pequenos seres que vagavam despreocupados no ambiente ao redor.

- Pára Fábia, isso faz cosquinhas! – exclamou Pietro, se contorcendo todo no escuro.

- Mas o que é que eu to fazendo?! – desta vez a garota foi pega de surpresa.

- Tudo bem, eu sei que você está assustada, mas não precisa ficar tateando a minha blusa assim, isso faz cócegas!

O grupo se entreolhou confuso. Pietro era o último da fila, vinha tranquilo lá atrás se apoiando nas paredes, enquanto que a confusa Fábia estava de mãos dadas com Ray Ann logo à frente de Augusta, muito distante do rapaz.

- Pietro, eu não estou pegando na sua blusa! Eu sequer estou perto de você!

Todos congelaram naquele exato momento e olharam para trás, Pietro tentava tirar alguma coisa das costas sem nenhum progresso. Os olhos se arregalaram imediatamente, o Professor Umbrella deu um grito seguido de um pulo.

- TINHA ALGUMA COISA SUBINDO NA MINHA PERNA! ALGUMA COISA SUBIU NA MINHA PERNA! – certa vez, um bicho preguiça havia escalado a sua perna numa trilha pela floresta: a sensação era idêntica.

As garotas iniciaram a gritaria no mesmo instante, acompanhando Chris num coro de berros e pulos, espalhando o lodo fétido em todas as direções.

- ALGUÉM ACENDE UMA LUZ! ACENDE UMA LUZ! – berrava Augusta chutando o vazio. Nada havia tocado nela, mas era melhor prevenir do que remediar.

Hikikomori então aumentou seu brilho e o concentrou nos olhos, os quais abriu em seguida iluminando tudo. Logo seu corpo astral se dissolveu na escuridão enquanto seus olhos iluminavam como dois sóis, o facho de luz que eles produziram focalizou Pietro no exato momento em que ele virava de costas pedindo ajuda, mostrando para todos o que rastejava sobre a sua coluna vertebral. A princípio a coisa que estava pendurada em sua camisa pareceu uma enorme e gorda estrela do mar, já que parecia espalmada nas costas de Pietro, negra como a noite tão lisa e lustrosa que seu corpo refletia a luz. Porém, olhando atentamente, o modo como se mexia e articulava pernas e braços lembrava exatamente o que Christopher previra: um bicho preguiça!

A “cabeça” da coisa girou vagarosamente para trás em direção ao grupo estarrecido. Pasmem, pois o que deveria ser a face era tão negro e liso quanto o resto do corpo... Pelo menos era o que eles pensavam até um enorme e amarelo globo ocular abrir-se naquela superfície escura, tomando toda a extensão do seu rosto, piscando duas vezes timidamente as suas pálpebras horizontais.

A gritaria recomeçou. Augusta então franziu o cenho, pescou do lodo um longo e esverdeado osso com o qual acertou a coisa em cheio, atirando-a longe das costas de Pietro. Este respirou aliviado! A criatura então revolveu-se na água, ambiente qual ela parecia dominar, pois seus movimentos tornaram-se mais rápidos e objetivos: pôs então a cabeça para fora d’água e iniciou uma espécie de cantoria em direção ao teto. O som que ele produzia lembrava o barulho de bolhas de sabão estourando, um “BOOP” sonoro delicioso que no momento tornou-se aterrorizante porque sons idênticos estavam sendo produzidos pela escuridão acima das suas cabeças.

Logo, toda a extensão dos túneis estava pontilhada de enormes olhos amarelos sem pupila.


- PREPARE-SE PARA MORRER! – Aib’Somar escancarou sua bocarra para cuspir mais uma labareda do seu mortal laser vermelho. O homem-tubarão estava sem saída, completamente encurralado, e sabia que de nada adiantaria se esconder atrás das cadeiras restantes ainda presas à arquibancada do coliseu. Ele era grande demais, e de qualquer modo aquilo explodiria como um ataque atômico, ele não tinha escolha.

Seguindo um reflexo de última hora, ele escalou um dos brancos e enormes postes de iluminação que incidiam seus fortes fachos de luz sob a arena para elevar-se acima da cabeça de Aib’Somar. Esta ainda estava a uma distância considerável, mas se ele fosse rápido o bastante... Não houve tempo, na metade da subida o laser vermelho atingiu a estrutura restante da arquibancada abrindo uma enorme cratera flamejante perfeitamente redonda. A pilastra rangeu e inclinou-se para frente! O destino estava a seu favor, era exatamente isso o que ele precisava! Usando seus braços musculosos e suas pernas poderosas, ele urrou furioso e escalou a toda velocidade, usando suas enormes mãos brancas para içar. As veias estavam a ponto de estourar para fora dos bíceps, seu peitoral envolvia e praticamente engolia o poste de iluminação, afinal de contas seu tamanho era pouco menor que o de um carro.

Em um último esforço, saltou para o topo da estrutura, equilibrou seu pesado corpo em cima do estrado metálico que sustentava os holofotes e inclinou-se para frente propositalmente. O poste rangeu novamente, e desta vez definitivamente. Tombou sem cerimônias em direção ao centro da arena, as mãos vermelhas e malignas de Aib’Somar assomavam sobre ele. Num movimento rápido e preciso, antes que a estrutura horizontalizasse, ele tomou impulso nas pernas grossas e lançou-se em direção ao rosto de Aib’Somar, pousando entre seus olhos, agarrou-se ao nariz da Arquiduquesa metamorfoseada em satanás.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?!

Com as mãos em formato de espátula, ele apertou o nariz da criatura adversária com os joelhos para pegar apoio e perfurou os olhos amarelos de Aib’Somar num movimento tão preciso e ágil que durou menos de um segundo. Estava acabado, a soberana de Taurus expelia lava vulcânica pelos olhos enquanto urrava, sua voz demoníaca sacudiu aquele pequeno planetinha, aquela lua, aquele meteoro disforme de uma ponta a outra.

Com um tapa, a furiosa e agora cega Aib’Somar retirou Krhas de seu rosto. O homem tubarão já não tinha mais forças para lutar e sequer resistiu, não tinha mais nada a fazer, o que deveria ser feito foi executado com sucesso: estava vingado por todo o sofrimento que a ambição da arquiduquesa causara, por ter sido tratado com um animal durante um tempo interminável, por quase ter morrido em inúmeras batalhas no circuito de Taurus, batalhas estas das quais algumas pareceram intermináveis e infernais. A lava dos olhos do demônio havia chamuscado suas mãos até os ossos, quase todas as costelas estavam quebradas, e sua coluna cervical havia se partido em duas no impacto contra um enorme pedregulho pontiagudo, restos do coliseu parcialmente demolido. Este era o fim do guerreiro tubarão.


“Vamos! Pra cima! Pra cima!” incentivava Hikikomori. Apenas seus olhos se distinguiam da escuridão.

- ELES ESTÃO CHEGANDO! ESTÃO VINDO PELA ÁGUA! – ao longe Pietro via o lodo pastoso revolver-se com a passagem de milhares de corpos lisos como os dos leões marinhos, mais de uma centena de criaturinhas negras como a noite nadando a toda velocidade produzindo doces “boops” enquanto se aproximavam, cobrindo a distância que eles percorreram com muito esforço sem um pingo de cerimônia.

- Está emperrada! – Fábia usava seus poderosos punhos robustos para esmurrar o alçapão da saída. Sua única saída, a esperança do Apocalipse Club. Hikikomori os havia levado até ali com grande esforço, e após o encontro com os estranhos habitantes dos esgotos o esforço foi redobrado, muitos atalhos tiveram de ser tomados bruscamente para despistar as rápidas preguiças peladas que os perseguiam a nado com seus enormes globos oculares amarelados brilhando como ouro na escuridão deixada para trás.

- Saia da frente! – Pietro a pegou pela cintura e a devolveu à plataforma abaixo, pouco elevada acima do lodo. Escalou às pressas a escadinha e empurrou com toda a sua força para cima. Com um “CREC” sonoro, o alçapão quebrou-se em dois, era feito de um material sintético que imitava o metal, porém frágil. Foi então o primeiro a pular para fora dos esgotos afoito e esbaforido, os outros o seguiram na mesma velocidade, Christopher foi o último a alcançar a saída. Este ainda tinha fresca em mente a memória das bolotas pretas caindo do teto aos montes, chovendo sobre eles e agarrando-se as suas roupas esticando seus membros pegajosos e sem dedos, cobertos de ventosas na parte inferior.

- RÁPIDO, EMPURRA AQUELA CAIXA PRA CIMA DO BURACO! – gritou Augusta, apontando para um grande caixote de metal que estava avulso por ali. Pietro e Donnick foram rápidos e antes que o primeiro monstrinho colocasse a cabeça para fora do buraco, tamparam-no com a pesada caixa. Os sonoros “boops” ainda ecoavam alto vindos de baixo de seus pés, o que arrepiava o pelo das suas nucas com vigor.

- Estamos salvos! – Fábia abraçou Ray com força, dando pulinhos com a amiga sufocada em seus braços. Pietro arquejava sobre seus joelhos e Donnick havia se escorado à parede metálica do lugar onde eles haviam emergido para se apoiar. Estavam sujos, suados e fedendo a cocô.

Demorou um tempo para que eles percebessem que os olhos de Hikikomori haviam desaparecido sem deixar vestígios, só o tempo de recuperarem o fôlego e notarem que uma multidão de toupeiras peludas com os narizes feito mãos usando uniformes vermelhos borrachudos haviam parado o serviço naquele colossal galpão-oficina e agora os observavam estáticas, com curiosidade.

- Ótimo – Augusta gemeu entre os dentes – o que são essas coisas?
O grupo amontoou-se imediatamente contra uma parede às costas deles, pressionando o capitão Donnick com força contra ela.

- Ei, pessoal! Assim vocês vão me sufocar! – ele se debatia sem ar. Ainda não havia percebido seus observadores – Oh-oh...

Ali eles permaneceram durante um tempo que parecia se arrastar, corpos retesados uns contra os outros, nervosos e apreensivos esperando um ataque vindouro daqueles monstrinhos uniformizados... Nada aconteceu.

- Cadê a Hikikomori?! Maldita Sybila... – o Professor Umbrella vasculhava ao redor com os olhos, girando-os feito kamikaze nas órbitas. Deste modo foi possível também esquadrinhar e avaliar o ambiente onde eles se encontravam; tratava-se de um grande galpão de ferro, e quando digo grande não me refiro aos depósitos dos portos terráqueos ou às quadras esportivas que comumente são encontradas por aqui. Quando digo grande, me refiro a monstruosidade de uma área enorme, como a de um parque ou a de um bairro inteiro. A distância entre o teto e o chão era tão grande que o céu parecia cinzento, metálico e repleto de pontinhos luminosos que eram as lâmpadas de iluminação. As paredes eram lisas e frias e incrivelmente altas, repletas de cadeias infinitas de holofotes que iluminavam o conteúdo daquele gigantesco armazém. Aquela era a garagem do império de Taurus: a frota inteira se encontrava em repouso, recebendo reparos e ajustes da trupe de toupeiras uniformizadas que usavam seus narizes como mãos e suas longas garras como chave de fenda. E exatamente no centro do galpão encontrava-se a nave-mãe.

“Eu estou aqui” a voz da Sybila ecoou pelo galpão, mas o grupo de humanos pareceu ser o único a ouvi-la. “minhas forças estão quase no final, não posso mais me projetar fora do corpo, mas posso guiá-los através de pensamento! Sigam em direção à nave-mãe, a porta está aberta. Os mecânicos não farão nada contra vocês”

- Bom, se ela está dizendo... – Augusta foi a primeira a dar um passo à frente, dando de ombros e abrindo caminho entre a multidão confusa de toupeiras estranhas e humanóides. A maioria dela carregava ferramentas ou operava máquinas esquisitas como armaduras robóticas ou pequeninas versões das empilhadeiras motorizadas que encontramos aqui na terra, levando e trazendo caixotes de ferramenta e combustível. O restante do grupo se entreolhou e seguiu a determinada Augusta, tomando muito cuidado para não encostar-se àquelas coisas que acompanhavam seus movimentos com os focinhos. Mesmo sendo completamente cegas, elas tinham plena consciência de que havia pessoas ali, e de que elas estavam se movendo.

- Tem certeza de que essas coisas não vão fazer nada contra nós?! – Fábia torcia a boca em uma série de caretas, com os braços pra cima, fugindo daqueles dedinhos pegajosos que a acompanhavam como antenas ondulando no ar, tentando tocá-la. Era como visitar uma colônia espacial de toupeiras!

- Eu to com uma sensação esquisita... – Ray Ann era a única fora Augusta que parecia não ter medo ou repulsa daqueles pequeninos seres, ela tinha um expressão mista de confusão e naturalidade ao olhá-los mais de perto – certa vez eu sonhei que ia para a lua, e essas coisinhas moravam lá...

- Veja pelo lado bom, seu sonho se realizou! – fez Pietro, ainda com uma das mãos nas costas. Talvez ainda sentisse uma das criaturinhas rastejando por ali.

- Haha, engraçadinho...

Um estrondo seguido do som de uma enorme lata sendo atirada a distância ecoou pelo galpão inteiro, reverberando nas paredes de ferro e batendo contra os tímpanos dos que ali estavam com força total. Todas as toupeiras mutantes voltaram seus focinhos na direção de onde o som viera, e os humanos que caminhavam rumo à nave-mãe do império de Taurus fizeram o mesmo, constatando o horror: o caixote colocado sobre a tampa de bueiro arrebentada foi lançado longe pela pressão vinda de baixo proporcionada por milhares, milhões de seres asquerosos, escuros e pequeninos! As criaturinhas que os perseguiam no esgoto agora eram tantas e estavam tão unidas e homogêneas que mais pareciam um único ser, gigante e salpicado de pontinhos amarelos.

Antes que alguém gritasse “CORRAM”, o Apocalipse Club já havia ativado o modo “pernas pra que te quero”, atropelando as pobres toupeiras-operárias que estavam no caminho e atropelando a si próprios, agarrando-se uns às roupas dos outros no desespero de não ficar para trás. A nave-mãe parecia um vulto distante, e aquela onda negra de monstrinhos-preguiça vinha logo atrás, na cola, engolindo tudo o que encontravam pelo caminho. Nem as toupeirinhas foram poupadas, e as naves da frota de Taurus tombavam sob o peso da massa em movimento frenético. Os esgotos daquele pequeno corpo celeste terraplanado estavam infestados daqueles monstros, e eles estavam furiosos!

- COMO? COMO?! – berrava Pietro logo à frente do grupo. De todos era o mais desesperado.

- CONTINUE CORRENDO E CALE A BOCA! – Augusta deu um tabefe na nuca do rapaz e tomou a frente na correria. Algumas toupeirinhas mais espertas os acompanhavam na fuga chiando como ratazanas apavoradas logo ao lado, o que fez Fábia ter um ataque de risos histérico em meio à crise.

Quando atingiram as proximidades da nave-mãe, seguiram as toupeiras uniformizadas. Pelo visto elas sabiam que caminho tomar para fugir daquela maré da morte, e eles não estavam equivocados na decisão: as touperinhas sobreviventes (umas quinze ou vinte no máximo) escalaram uma após a outra a escada lateral no casco da nave em forma de ferradura, como aquelas escadas de emergência que ficam encravadas na popa dos navios. Pietro foi o primeiro a subir num dos caixotes de ferro mais perto e pular rumo à escadinha, os outros seguiram seus movimentos, pouco depois de Fábia ter posto o último pé no primeiro degrau e abandonado o caixote para trás, a onda o engoliu levando-o pra longe! Essa foi por pouco.

- VAMO, PESSOAL! SUBAM MAIS RÁPIDO AÍ EM CIMA PELO AMOR DE DEUS QUE EU TO AQUI EMBAIXO E... AI! – uma das coisinhas saltou sobre a perna da garota e começou a escalada do seu corpo lentamente, ela chutava e esperneava estrebuchando aos berros tentando tirar o monstrinho das suas costas sem sucesso. Christopher que fora o penúltimo a subir a escada inclinou-se para socar o bicho tentando livrá-la do perigo, e arregalou os olhos quando percebeu que a boca da criatura ficava na barriga ao soltar-se das costas de Fábia e cair lá embaixo, em meio ao mar composto por seus iguais. Espantou-se também ao perceber que eles estavam se acumulando embaixo do grupo, escalando uns sobre o outros, formando uma espécie de pirâmide em direção a eles, tentando agarrá-los!

- GENTE! ELES ESTÃO SUBINDO ATÉ NÓS!

- NÃO PODEMOS IR MAIS RÁPIDO, A ÚLTIMA TOUPEIRA NÃO ESTÁ DEIXANDO O PIETRO ENTRAR NA NAVE! – berrou Augusta, que era a segunda na “fila de espera”.

- COMO É QUE É?! – berrou em coro os quatro logo abaixo.
Pietro discutia ferrenhamente com a nervosa toupeira que gesticulava violentamente contra ele, dando uma bronca em sua língua materna.

- NÃO SAI DA MINHA FRENTE POR BEM, VAI SAIR POR MAL! – pegou-a pelo colarinho do uniforme e lançou-a na multidão de monstrinhos do esgoto logo abaixo, lançando seu corpo pesado para dentro da nave e rastejando mais fundo logo em seguida. Os outros seguiram logo atrás enquanto a toupeira nervosa era engolida pela maré maligna.

- FECHA ESSA PORTA! FECHA! – Ray Ann gritava para Fábia enquanto tentava pôr-se de pé, o grupo agora arquejava no escuro, de quatro e sem fôlego, tentando levantar.
“Não parem por nada! Eles são muitos e estão escalando a nave aos poucos, logo não poderemos levantar voo!” a voz de Hikikomori ecoou mais uma vez. Era o estímulo que eles precisavam para continuar correndo.

- Onde fica a sala de controle?! – perguntou o capitão Donnick tomando a frente nos corredores em arco do interior vermelho da nave-mãe.
“Christopher Umbrella e os outros rapazes podem seguir até a sala de controle, no final deste corredor à direita. Garotas; preciso de vocês no laboratório, que fica um pouco mais longe.” Augusta, Ray Ann e Fábia se entreolharam confusas e deram de ombros “sigam para a esquerda, tomem a direita, sigam reto e peguem o elevador, vocês estarão no laboratório.

- Sim! – fizeram Ray e Fábia juntas – vamos! – tomaram então seu rumo. Os rapazes fizeram o mesmo, e logo o grupo estava dividido dentro da colossal nave-mãe do império de Taurus. Era hora de dar o fora daquele maldito asteroide.

Continua...










'Eita capítulo grande...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cale a Boca e Escute: SOPHIE ELLIS-BEXTOR


Hey, Pessoal! Espero que estejam curtindo Space Oddity, estou trabalhando para que a nova série do blog siga o mesmo padrão de qualidade das suas irmãs mais velhas: muita aventura e muita ação numa narrativa de fácil entendimento, que mesmo assim prende o leitor e o faz aguardar pelo restante da história, pelo destino final das personagens! Como já deu pra perceber, os protagonistas são os mesmos de The Big Machine e Draconius Nefastus: o Apocalipse Club. Mas dessa vez a história se passa num universo paralelo aos universos das histórias anteriores, o que me deu liberdade para começar tudo de novo e criar uma nova história, uma nova aventura! Logo em breve o blog estará entrando em hiato e, consequentemente, Space Oddity ficará suspensa por um tempo enquanto eu trabalho na correção dos volumes posteriores de "As Dellabóboras", saga que teve seu primeiro (e flopado) volume publicado pela All Print Editora ano passado. Mas estes são detalhes triviais, hoje estou aqui para falar da diva do nu-disco, Sophie Ellis-Bextor!



Sophie Michelle Ellis-Bextor nasceu em 10 de Abril de 1979 em Londres, Reino Unido, filha de Robin Bextor, um premiado diretor de cinema, e Janet Ellis, uma atriz, posteriormente mais conhecida como apresentadora na série de TV “Blue Peter” (na qual Sophie fez uma pequena aparição fofíssima aos 6 anos). Seus pais se divorciaram quando Sophie tinha quatro anos, mesmo assim é tão ligada à família que muitas vezes convidou seus irmãos e irmãs para trabalharem com ela. Seu irmão, Jackson Ellis-Leach é atualmente o seu baterista.

Ellis-Bextor começou sua carreira musical em 1997, como vocalista de uma banda indie chamada The Audience. Ela gravou um dueto com Manic Street Preachers, “Black Holes for the Young”. “A Pessimist Is Never Disappointed” talvez seja a sua única música mais conhecida. A banda se separou em dezembro de 1998.

Depois de se separar da banda, Sophie parou de cantar por um ano e em 2000 retornou ao mundo da música colaborando com o DJ italiano Spiller nos vocais da música “Groovejet”, seu primeiro trabalho gravado desde a separação. “Groovejet (If This Ain’t Love)” entrou nas paradas do Reino Unido em 1 º lugar, apenas batendo a ex-Spice Girl Victoria Beckham em sua primeira excursão solo ao ponto superior. Desde então, os duas têm sido descritas como rivais. Porém elas alegam que não há qualquer rivalidade entre as duas e até já apareceram juntas em algumas fotos. “Groovejet” ganhou vários prêmios: No. 1, Pop Top 20, No. 1, ILR; No. 1, Radio 1, n º 8, ” Dancefloor” no início de 2000 e o single do ano no “Melody Maker”.

Então pronta para a independência, em 2001, Sophie lançou seu álbum de estréia, "Read My Lips". Chegando ao segundo lugar nas paradas da Inglaterra, sua regravação da música “Take Me Home” da cantora Cher, assim como “Murder on the Dancefloor” (música pela qual ela ficou mais conhecida aqui no Brasil) se tornou a música mais tocada durante 23 semanas, consequentemente a canção mais tocada na Europa em 2002. Abaixo você confere letra e tradução de Take Me Home, acompanhado de seu delicioso video logo no final! Se você curte Kylie e Róisín provavelmente já ouviu falar de Sophie Ellis-Bextor, agora, se nunca ouviu falar... CARA, EM QUE MUNDO VOCÊ VIVE?! O que está esperando?! Leve-a pra casa!



Take Me Home (A Girl Like Me)

Take me home
Take me Home
I know another place to be
Take me home
You deserve a girl like me

Come on
I Know somewhere
You can unwind
We can just disappear
Now's the time

Take me home
Take me home
Only fair I get my way
Take me home
Take me Home
Oh, it's gonna happen anyway

I Know what's good for you
Don't pass me by
I will look after you
You'll be fine

I'm heaven
I'll show you heaven
It's so much heaven

Let's make a move
Let's leave this world behind
I know you approve
By the look in your eyes

I'm in heaven
I'll show you heaven
It's so much heaven

Take me home
Take me home
And i will show you
Where to walk
Take me home
Take me home
Baby let the people talk

We'll get away from here
I'm reading your mind
We can just disappear
Now's the time

I'm in heaven
I'll show you heaven

Take me home
Oh take me home
Take me home

In this moment
One night with you
All alone
With nothing to lose

Let's make a move
Let's leave this world behind
I know you approve
By the look in your eyes

I'm in heaven
I'll show you heaven
It's so much heaven

Take me home
Take me home
Now's the time
To follow me
Take me home
Come and let
What ought to be

Take me home
Take me home...


Me Leve Pra Casa

Me Leve Pra Casa
Me leve pra casa
Eu conheço outro lugar para estar
Me Leve pra casa
Você merece uma garota como eu

Venha,
Eu conheço um lugar
Você pode voar
Nós podemos só desaparecer
Agora é hora

Me leve pra casa
Me leve pra casa
Apenas justo eu fazer da minha maneira
Me leve pra casa
Me leve pra casa
Oh,isso vai acontecer de qualquer forma

Eu sei o que é bom pra você
Não passe por mim
Vou atrás de você
Você vai se sentir bem

Estou no paraíso
Vou te mostrar o paraíso
Muito paraíso.

Vamos fazer um movimento
Vamos deixar esse mundo para trás
Eu sei que você aprova
Pelo olhar nos seus olhos

Estou no paraíso
Vou te mostrar o paraíso
Muito paraíso

Me leve pra casa
Me leve pra casa
E eu te mostrarei
Onde andar
Me leve pra casa,me leve pra casa
É hora de me seguir,me leve pra casa
Venha e deixe acontecer

Vamos fugir daqui
Estou lendo a sua mente
Nós podemos só desaparecer
Agora é hora

Estou no paraíso
Vou te mostrar o paraíso

Me leve pra casa
Oh, Me leve pra casa
Me leve pra casa

Nesse momento
Uma noite com você
Sozinhos
Com nada a perder

Vamos fazer um movimento
E deixar esse mundo para trás
Eu sei que você quer
Pelo olhar nos seus olhos

Estou no paraíso
Vou te mostrar o paraíso
Muito paraíso

Me leve pra casa
Me leve pra casa
Agora é a hora
Para me seguir
Me leve pra casa
Venha e deixa
O que deveria ser

Me leve pra casa
Me leve pra casa...








Sophie possui mais três álbuns posteriores, um deles batizado de "Make a Scene", foi lançado ano passado e é o resultado das colaborações da bela Sophie com vários DJ's e produtores (entre eles o renomado Calvin Harris que praticamente vomita hits) reunidas numa coletânea para não deixar ninguém parado. Pena que, como meu livro, também foi um flop, a faixa do album que alcançou pontos razoáveis no mainstream foi "Not Giving Up On Love" que tocou consideravelmente nas matinês do verão europeu de 2011. Mesmo assim, o álbum possui verdadeiras pérolas como Off & On (que é um cover da bela Róisín Murphy, que já esteve por aqui no blog) e a faixa-título Make a Scene, um batidão do babado feito pra descabelar MESMO. Enfim, fica aí a dica né.












~












quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

PARTE SEIS: LUTE! LUTE! LUTE!


- MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO LÁ FORA? – Ray Ann parou bruscamente em meio à sua corrida em busca do quarto da enfermaria onde o Professor Umbrella estaria se recuperando após o estranho desmaio de mais cedo, pela parte da manhã (seria pela parte da manhã se, mesmo no espaço, eles seguissem o calendário terrestre). Ela estava exatamente de frente para uma das enormes janelas triangulares da estação espacial, o restante do grupo que a perseguia e tentava pará-la chegou aos poucos, uns esbaforidos, outros nervosos, suados e arfantes, tentando recuperar o fôlego em vão diante do que viram através daquele portal.

Era uma das janelas internas do apêndice, de modo que mostrava o interior do anel principal que circundava a Cosmogony, ali era possível ver em detalhes o que estava acontecendo lá, de onde eles acabaram de sair: enormes esferas prateadas flutuavam ao redor da estação espacial, um verdadeiro enxame delas, que se aproximavam e atravessavam-na pelo lado de fora como se não fossem materiais. A movimentação lá dentro era grande.

O capitão colocou a mão sobre o ombro de Ray.

- Vamos! Agora mais do que nunca precisamos encontrar o Professor... – ele tinha o rosto sério e preocupado, diferente das expressões desesperadas e apavoradas do restante do grupo, era o único que poderia manter a situação sob controle àquela altura.

Foi quando uma das enormes esferas prateadas chocou-se contra a janela triangular, atravessando-a misteriosamente sem quebrá-la em milhares de pedaços. O grupo dispersou-se aos gritos enquanto o objeto alienígena tomava aos poucos a forma humanóide. Donnick não pensou duas vezes, puxou sua pistola laser e iniciou uma série de tiros sequenciais, que atravessaram o corpo da criatura sem efeito algum, era como se ele fosse feito de gelatina! Os raios o atravessaram sem o mínimo esforço, como tiros num boneco de massinha!

Sua figura era simplesmente assustadora, não possuía face e seu corpo era composto de uma substância espelhada gelatinosa que esticava e retraía conforme ele se movia, além de emitir uma pavorosa onda sonora que se assimilava a alguém manuseando erroneamente uma mesa de som. Isto agredia os tímpanos de qualquer um que estivesse por perto, o Apocalipse Club inteiro estava tapando os ouvidos com força.

- Ele está mandando uma mensagem! – gritou Donnick. – está chamando os outros, vejam! – e apontou para a janela atrás do vulto gelatinoso. Uma dúzia de esferas prateadas vinha a toda velocidade através do vácuo em direção ao anel-apêndice.

O socorro chegou muito mais rápido do que eles esperavam, e da maneira mais estranha o possível: uma nuvem de mariposas de asas negras e púrpuras envolveu cada um deles num manto composto do bater de asas e da total escuridão.

Quando as nuvens de mariposas se dissiparam uma a uma, eles se depararam com a estranha cena de um laboratório às escuras completamente destruído e um Professor Umbrella contorcido no chão, desmaiado, pálido, quase sem vida. Augusta correu ao seu socorro, ajoelhou-se imediatamente ao seu lado e checou os pulsos.

- Ele está vivo! O batimento cardíaco é fraco, mas ele está vivo! – ela tremia muito, e seus olhos estavam completamente esbugalhados. Estava num surto de adrenalina sem igual, se uma daquelas criaturas atravessasse seu caminho ela era capaz de lutar sozinha contra o monstro.

- O que podemos fazer por ele?! – exclamou Ray Ann, pegando o rosto de Christopher entre as mãos.

- Por enquanto, nada. – uma voz misteriosa ecoou pelo recinto, e o susto foi grande! Fábia recebeu-a com um grito apavorado – tudo a seu tempo. Primeiro, temos de dar um jeito de despistar Aib’Somar e sua tropa.

- QUEM ESTÁ AÍ?! – berrou Fábia, escalando as enormes costas de Pietro – E... E-E-E-EU NÃO TENHO MEDO DE FANTASMAS! – estava gelada como Plutão, que girava pacífico lá do lado de fora, alheio à situação, nada abalava o abalava.

- Eu não sou um fantasma... Não ainda – a nuvem de mariposas reuniu-se à luz dos monitores ligados no escuro, haviam resistido aos pulsos do coração de Azura despertando e chamando pelo seu cavaleiro. Um a um, os insetos, grandes ou pequenos, negros, azuis, púrpuras e amadeirados foram unindo-se dando forma a uma criatura extremamente alta, dotada de sinuosas curvas femininas. A luz espectral dos monitores acesos às suas costas tornava a cena mais macabra e curiosa ao mesmo tempo do que já seria vê-la normalmente. O grupo de cosmonautas assistiu àquilo boquiaberto, estavam estáticos.

- AI MEU DEUS UMA MULHER PELADA! – berrou Fábia às costas de Pietro, roendo as unhas de tão nervosa, quebrando o clima por completo. – AI MEU DEUS É UMA MULHER GIGANTE PELADA!

A última mariposa pousou em seu nariz, a qual ela pegou gentilmente na palma da mão e fechou-a cuidadosamente. Abriu os olhos dotados de longos cílios escuros para iluminar o ambiente ainda mais com seu olhar profundo e sábio. Suas pupilas oscilavam entre o roxo e o azul, um demônio ou um anjo?

- Eu sou Sybila Hikikomori, filha de Sybila Alethea, o último d’Os Nove – ela fez uma mesura singela e cortês, curvando-se para frente. – vim até aqui para guiá-los na jornada que começa.

- Mas do que você está falando?! – o capitão Donnick simplesmente não processava aquela situação, o que estava acontecendo estuprava a ordem linear da lógica violentamente. Eles acabaram de ser teleportados por uma nuvem de mariposas de uma ponta à outra da Cosmogony e estavam frente a frente com uma mulher de dois metros de altura que falava numa língua completamente estranha. Língua esta que eles entendiam perfeitamente!

- Haverá muito tempo para explicações, Donnick Wolfgang Hills, primeiro capitão da força aérea Russa, homem de confiança do Czar. – ela deu um passo à frente – preciso tirá-los daqui o quanto antes, enquanto Aib’Somar é ignorante quanto a existência de vocês. Ela não crê em profecias, ela despreza o metafísico, e isso nos ajudará a derrotá-la. Mas não podemos cair nas mãos dela, de maneira alguma.

- Aib’Somar é a que está nos atacando agora, não é?! – exclamou Pietro, tirando Fábia das suas costas à força. Ela estava atracada à ele feito um gato raivoso, suas unhas estavam praticamente fincadas à jaqueta! – o que são essas coisas que estão invadindo a Cosmogony?!

- São a terça parte do Exército de Azura, uma raça de androides metamorfos feitos com ajuda da nanotecnologia. São praticamente indestrutíveis, nada pode pará-los.

- Eles estão assustando as pessoas lá fora! – fez Augusta, com a cabeça do Professor desacordado em seu colo.

- Não vão feri-las, pelo menos por enquanto, estão me procurando. Sou prisioneira fugitiva da corte de Taurus. – fez-se silêncio, um novo bombardeio recomeçou, Aib’Somar estava começando a ficar nervosa, o chão subia e descia, as luzes dos monitores piscavam nervosas e os objetos voavam em todas as direções: o eixo inclinado da Cosmogony estava virando aos poucos, se nada fosse feito logo estaria na horizontal e milhares de pessoas morreriam esmagadas, isso desestabilizaria o controle da gravidade dentro da estação espacial! – se todos concordam, vou tirá-los daqui e levá-los para uma área segura onde poderei esclarecer algumas coisas...

- Mas se formos embora com você, o bombardeio vai continuar e os ataques também! – exclamou Ray, pondo-se de pé com dificuldade – logo milhares de pessoas morrerão! Já que essa Aib’Somar não vai te encontrar!

- Eles estão seguindo a frequência da minha vibração no universo, minha irmã os está ajudando e ela pode me encontrar onde quer que eu vá. Estamos conectadas como Sybilas.

- Mas o quê?! A sua irmã prefere ficar do lado dos bandidos?! – exclamou Fábia, transtornada.

- GENTE, PARA, PARA, PARA TUDO! – gritou Augusta, surpreendendo a todos repentinamente. Ela fora a única que se mantivera calada e estática sem proferir uma única palavra desde que Hikikomori havia se manifestado, parecia estar atordoada demais para reagir a qualquer estímulo quando de repente explodiu. – ESTAMOS DISCUTINDO COM UMA APARIÇÃO NO MEIO DO ESPAÇO ENQUANTO SOFREMOS UM ATAQUE ALIENÍGENA E VOCÊS AINDA QUEREM SABER PORQUÊS E COMOS?! EU QUERO É IR EMBORA DAQUI O QUANTO ANTES!

Ergueu o Professor Umbrella com a ajuda de Ray Ann e Donnick e olhou Hikikomori nos olhos:

- Leve-nos daqui para um lugar seguro!

- Escolha sensata.

A bela Sybila fechou os olhos e transformou-se numa nuvem de mariposas, mais uma vez o grupo viu-se envolto em escuridão para em seguida encontrar-se na área de acoplagem, onde várias naves e ônibus espaciais estavam em repouso, como numa enorme garagem com o teto abobadado feito de estrelas. Agora coroado por uma frota de naves alienígenas na espreita, sob o comando de uma enorme nave-mãe em forma de ferradura.

- Como pretendemos sair daqui sem que eles nos vejam? Eles estão por toda a parte! – o capitão Donnick e Pietro carregavam o Professor Umbrella nas costas enquanto avaliavam a situação lá em cima, no alto do fosso. Não havia saída, eles estavam perdidos.

- Confiem em mim, eu sei o que estou fazendo – respondeu Hikikomori, erguendo as duas mãos para o alto, ativando um dos ônibus espaciais com a força do seu pensamento. Ali ainda era escuro, mas claro o bastante para que o grupo a visse melhor: era realmente muito alta e tinha longos cabelos escuros. Para constrangimento da massa, estava seminua também como fora constatado anteriormente, e envolta em cordões de pérola por todo o corpo.

- Não tão rápido, Hikikomori! – o grupo de fugitivos sobressaltou-se àquela nova vibração.

- De novo não! – Ray Ann levou a mão à testa num tabefe. Outra voz misteriosa ecoou ao redor, da mesma forma como a anterior trouxe a misteriosa alienígena incrivelmente alta há poucos minutos atrás. O que estaria por vir agora? Olhos e ouvidos procuravam a origem do som, sem sucesso. O lugar estava vazio exceto pelas naves em estado de repouso!

Uma nuvem de borboletas azuis gigantescas desceu o fosso em espiral, dando um rasante sobre a cabeça dos cosmonautas em fuga, atingindo Hikikomori no estômago e lançando-a longe, seu transe para controlar o ônibus espacial foi quebrado e ela, transformada em uma nuvem de mariposas raivosas consideravelmente maior que a nuvem de frágeis borboletas azuis entrou em atrito com o enxame inimigo de insetos. O que aconteceu dali por diante não se sabe, os que tiveram coragem para ver o que iria acontecer e não taparam os olhos com medo de levarem “borboletadas” na cara viram uma nuvem indistinta em ebulição e rebuliço constante numa mistura violenta e sangrenta de cores quentes e cores frias. Vários insetos caíram mortos e logo o chão inteiro estava repleto de corpos despedaçados e asas soltas, espalhadas, havia um verdadeiro ciclone de lepidópteras enfurecidas se autodestruindo diante dos olhos de todos!

Por algum motivo, a rinha de insetos foi perdendo força, levou menos de segundos para que as nuvens se separassem e dessem origem às silhuetas humanas. De um lado do ringue surgiu Hikikomori, e do outro, surpreendentemente, outra Hikikomori apareceu, moldada pelo revoar de borboletas. Esta versão pouco mais baixa e menos esguia de Hikikomori tinha a pele de um azul cálido e os cabelos de um verde-limo intenso. O restante era a cara de uma, focinho da outra, ambas gravemente feridas nos braços e nas pernas, como se atacadas por uma matilha de gatos selvagens.

- Sybila Papillon!

- Olá, Hikikomori! Há quanto tempo! – até as vozes eram parecidas.

- Por quê? Por que você está quebrando o código das Sybilas? Por que você está contra sua própria irmã? Nós deveríamos estar unidas nessa jornada, Papillon!

- Não seja tola, Hikikomori, você sabe que essa é uma luta perdida! – a irmã da Sybila recompôs-se muito mais rápido do que ela própria, e num movimento rápido, puxou uma das pérolas brancas que também envolviam seu corpo e lançou-a no ar, esta explodiu em uma nuvem verde de pólen que colocou todos para dormir imediatamente.

- Se aproveitando de mim... Porque estou fraca! – Hikikomori tossiu, agredida, recurvada sobre si mesma – mamãe teria vergonha de você!

- Mamãe está morta!

Foram as últimas palavras que eles ouviram antes de apagarem por completo.


Abrir os olhos pela manhã parece uma tarefa simples, acordar parece uma tarefa simples. Mas há vezes em que está tudo tão pesado... Como se as pálpebras fossem de chumbo, e seus membros de ferro puro. Era assim que Christopher se sentia naquele momento, rodeado de escuridão, atento aos menores ruídos a sua volta, mesmo que tudo parecesse distante e obsoleto. Como ecos de um passado, não algo que estivesse acontecendo de verdade. Não chegava sequer a soar como um sonho.

- Não se preocupe, quanto mais tempo você permanecer dormindo, maiores chances você tem de sobreviver – era a voz de Hikikomori, já era conhecida.

Ele não podia responder, não tinha forças nem para formular um pensamento. Seu cérebro pedia com clemência que deixasse para depois.

O segundo pulsar de despertar veio mais rápido e mais potente. Seu corpo estava coberto por pontos doloridos, como se ele houvesse corrido uma maratona inteira sem descanso, se levantar estava fora de questão, mas abrir os olhos não era nenhuma dificuldade. Situar-se também não.

Christopher estava contorcido no canto de um tipo de contêiner, pelo menos era o que aquilo parecia. Ele sabia como um contêiner era por dentro porque ele já havia estado em um antes, para trabalho de pesquisa há poucos anos atrás, mas nunca como carga. Na outra extremidade do cubículo havia um enorme vulto alto e arfante, gigantesco oculto pelas sombras, e no momento em que ele percebeu que aquela coisa não era humana, ele sentiu um medo que nunca havia sentido antes. O medo que se sente ao estar trancado e sem saída diante do desconhecido.

Uma espécie de relâmpago iluminou tudo através das frestas que ficavam à altura do teto baixo daquela jaula, a figura do vulto revelou-se o forçando a fechar os olhos em espanto e pavor. Seu corpo retesou naquele exato momento, e arrepiou-se dos pés a cabeça como percorrido por um choque. O ser agachado e recurvado no outro canto do cubículo era humanóide, musculoso e branco, branco como um cadáver que havia boiado no mar durante dias a fio. Sua pele era úmida e líquidos indistintos escorriam por toda ela, como se ele houvesse tomado um banho há pouco tempo atrás.

Era musculoso, assustadoramente musculoso: seus bíceps e tríceps eram cobertos por veias roxas e azuis que davam a impressão de que seus membros superiores iriam estourar a qualquer momento. O mesmo valia para seu peitoral, costas e pescoço, já que aparentemente ele usava (estranhamente) calças camufladas e botas de combate. Mas o mais estranho não era isso, a pior parte estava por vir. Uma enorme cabeça de tubarão lhe escapava por entre os ombros, com barbatana e tudo, repleta de dentes e olhinhos inexpressivos perolados. Aquela coisa olhava fixamente para o teto sem sequer se mover, a única coisa que lhe atribuía vida era o seu peito subindo e descendo. Pavoroso.

- Não se assuste, apenas não se mova. – era a voz de Hikikomori outra vez – esta criatura faz parte de um exército de rebelião em algum planeta na área correspondente à região de Sagitário para os humanos. Aquele lugar habita seres bem estranhos, e este foi criado para atacar tudo o que se mover, por isso, fique quieto.

Foram aproximadamente três minutos de apreensão, ou cinco, que pareceram durar horas. Nesse meio tempo a coisa mudou de posição duas vezes fazendo a gaiola sacudir, ressonou alto e rosnou duas vezes no escuro. Outro relâmpago iluminou tudo e desta vez ele estava de costas para Christopher, que pôde analisar melhor seu torso musculoso: era cinza e listrado de azul. Criatura apavorante e fascinante ao mesmo tempo.

Logo ele compreendeu que o relâmpago se tratava da movimentação do contêiner entre os túneis que protegiam as esteiras de um tipo de área portuária de descarga em algum ponto do lugar em que ele havia chegado – seja lá que lugar seja este afinal.
Ele pouco se lembrava do que havia acontecido após a nuvem de mariposas o envolver. Exceto um intenso brilho dourado onde tudo acabava. Havia alguns flashes de memória que se passavam em um dos laboratórios da Cosmogony... E mais vozes...

A movimentação do contêiner parou e a porta se abriu, banhando o lugar com luz intensa, e isto deixou o monte de músculos nervoso o bastante para que ele saísse correndo de dentro da jaula balançando sua cabeça de peixe abrindo e fechando suas mandíbulas furiosamente contra seja lá quem estivesse do outro lado. Gritos numa língua desconhecida, algo entre coreano e árabe, tiros de laser, o som de correntes pesadas, choques elétricos, o partir de ossos e mais indistintos sons de corpo contra metal foram abafados pela queda de algo pesado contra o chão. A fera havia sido domada, ele já podia levantar.

E ao se levantar, piscou uma, duas, três vezes para se situar, mal acreditando no que via. Não estava acreditando no que seus olhos lhe mostravam. Parecia uma ilusão, algum tipo de fantasia, uma coisa anormal e viajada, típica dos usuários de alucinógenos.

Uma espécie de porto extenso repleto de contêineres aerodinâmicos semelhantes ao qual o mantivera em cativeiro se espalhavam a perder de vista em plataformas móveis que subiam e desciam sem parar num balé de gigantes. Foi involuntário, ele teve de descer os degraus da esteira para olhar para trás e analisar melhor a situação, deparando-se com um sistema intrincado de túneis e esteiras rolantes como numa montanha russa (sem loop), tudo isso dentro de uma espécie de série de galpões lado a lado, interligados, como uma área portuária genuína exige.

Mais à frente, no horizonte, após as plataformas móveis, uma série de rochedos pontiagudos variavam de tamanho e altura, formando arcos inacabados que serviam de portal para uma estranha espécie de coliseu branco amplamente iluminado. Milhares de hologramas gigantescos zuniam ao redor daquele prédio, orbitando ao redor de um holograma maior que parecia refletir exatamente sob o céu estrelado acima do “estádio”. Exibindo propagandas e imagens de combates e lutas sangrentas. O que diabos aquilo significava?

Filas de naves espaciais de todas as formas e tamanhos congestionavam o céu daquele lugar, rumo ao coliseu branco no horizonte.

- Isto é o Coliseu Intergaláctico de Taurus, o parque de diversões de Aib’somar. – a voz da Sybila inundava sua cabeça, Christopher respirou fundo aquele ar salgado – existem outros iguais a este espalhados por planetas-anões, artificiais ou terraformados nos arredores de Betelgeuse, mas este com certeza é o principal...

Ele não pode terminar de ouvir o que a Sybila tinha para falar, perdera totalmente a concentração quando aqueles enormes vultos brancos, após controlarem o homem-tubarão, partiram para cima dele com suas armas de choque e suas coleiras e correntes. Eram como dinossauros em máscaras de gás, usando uniformes brancos que cobriam até mesmo suas caudas, o que era uma maravilha, porque Christopher Umbrella não fazia questão alguma de ver o que estava oculto embaixo daquela roupa, levando em consideração que aquelas coisas eram donas de dois pares de braços com dois dedinhos nas extremidades.

Apagado pelo choque, ele só se acordou horas depois, com o rosto de Ray Ann olhando fixamente para ele no escuro, outra vez.


- Professor, eu preciso que o senhor se acalme – fez ela, com uma voz tremida num misto e ansiedade e ao mesmo tempo alívio. Alívio por ter finalmente encontrado um rosto conhecido que não estivesse gritando de pavor ou pálido e sem vida. Outras pessoas foram levadas da Estação Espacial pela horda de metamorfos fora os quatro novatos, que haviam ido cursar seu último ano da faculdade nos limites do Sistema Solar, ingênuos e cheios de sonhos, sequer imaginavam o que lhes esperava. Parecia um pesadelo nunca antes sonhado se concretizando aos poucos.

- Onde ele está?! – sussurrou Christopher.

- Ele quem?

- Aquele bicho com cabeça de tubarão.

- Está numa cela aqui ao lado, junto com um tipo de besta-gorila ou algo parecido. Eu não vi direito, mas sei que esses dois estão se matando desde que nos trouxeram para cá dentro dos caixotes de vidro eletrocutados para que não nos movêssemos... Não imagina como fiquei aliviada quando o vi, Professor!

- Onde estão os outros?! Os meninos, onde eles estão?!

- Espera aí, do que você se lembra? Você estava desacordado quando...

- Hikikomori salvou a vida de vocês os envolvendo numa nuvem de mariposas? Eu vi tudo isso enquanto dormia, ela projetou os pensamentos dela na minha cabeça... – ele foi se levantando com dificuldade, sua coluna estava rija e dolorida pela viagem.

- Essa tia é algum tipo de bruxa?

- Não sei o que ela é, mas espero que ela nos tire dessa enrascada em que nos meteu. Se ela não houvesse se refugiado na Cosmogony, os aliens nunca teriam nos atacado! – ele soltou exclamações de dor baixinhas, suas omoplatas pareciam estar trincadas de tanta dor. – onde estão os outros?

- Eu não os vejo desde que apagamos na área de acoplagem... Acordei e já estava sozinha dentro de um tipo de gaiola, ou jaula, sendo transportada de porto em porto – ela pegou-se pensativa, tentando lembrar onde sua memória voltava a ser linear e lógica. – pelos meus cálculos estamos a dias viajando nesses cruzeiros espaciais, indo de um planeta a outro, passando por estações espaciais de todos os tipos, vi coisas terríveis, seres estranhos e assustadores! Algumas vezes chorei de medo! – ela abraçou o Professor ao lembrar-se do que vira – pensei que nunca mais fosse ver ninguém conhecido! Eu fiquei tão assustada!

- Não se preocupe, agora temos a companhia um do outro e podemos sair dessa juntos! – ele apertou com força as mãos dela. É claro que eles não sairiam dessa, jamais escapariam daquele inferno, nunca mais veriam amigos, familiares, talvez nunca voltassem a ver o planeta terra outra vez, e Christopher Umbrella sabia disso, ele sentia isso no âmago da alma. Só Deus ou o próprio diabo saberiam o que os estaria esperando naquele lugar. – onde nos encontramos agora? Você viu o transporte?

- Vi! – ela animou-se repentinamente – eles nos colocaram nos caixotes de vidro como falei, nos empilharam na traseira de uma espécie de balsa cargueira flutuante puxada por dois lagartos cegos horrendos! Atravessamos um vale de pedras pontiagudas e finalmente desembarcamos numa espécie de garagem muito esquisita, atrás de uma enorme construção branca como um estádio de futebol, onde mais dinossauros uniformizados apareceram e nos puseram em esteiras... Foi então que lhe reencontrei, Professor! E nós seguimos pela escuridão na mesma esteira, até que nossos caixotes misteriosamente desapareceram ao nosso redor, se dissolveram do nada! Aí a esteira parou e essas quatro paredes se fecharam ao nosso redor...

Fez-se silêncio durante um tempo enquanto o clamor de uma multidão soava distante ao lado de estrondos, explosões e rugidos. Era algo que vinha de cima, como o urro de uma horda de fantasmas furiosos no último andar de um alto edifício.

- E esses sons?

- Estou ouvindo desde que chegamos!

Christopher contou-lhe então o que Hikikomori havia lhe transmitido através de pensamento logo que ele e seu companheiro cabeça de tubarão desembarcaram no porto daquele estranho planeta. Sobre o Coliseu Intergaláctico ser algum tipo de parque de diversões para a tal Aib’somar, cuja a identidade até então permanecia um mistério. Ray Ann pouco se importava com quem quer que ela fosse, o fato era que ela a encontraria e a esganaria até que ela pedisse clemência por ter estragado um momento tão importante em sua vida. Maldita alienígena.

- Acha que vamos ser postos pra lutar então?! – Ray Ann tremeu na base.

- Provavelmente... É o que se faz nos coliseus, não?

- Mas não temos armas!

Foi como ativar um comando secreto.

Escudos, espadas, lanças e elmos caíram da escuridão acima das suas cabeças, reluzindo nas sombras por serem feitos de material fluorescente. Os elmos estavam tão surrados e maltratados quanto os escudos: repletos de marcas de garras e dentadas, o que fez os dois engolirem em seco. Apesar disso, continuavam cintilantes e resistentes pelo que o Professor pode avaliar ao tocá-los. Não eram muito diferentes do material de batalha medieval encontrado na terra, a diferença era com certeza a matéria prima da qual eram feitos. Supostamente algum mineral não encontrado no planeta natal de Christopher e Ray.

- Eu vou ficar com uma espada e um escudo, você pode ficar com a lança, Ray.

- Não, muito obrigada mas prefiro a espada!

- Tem certeza que quer isso?

- Eu fiz esgrima a minha vida inteira! Fui preparada para isso!

- Não sabemos contra o que vamos lutar ainda, você bem viu o cara com cabeça de tubarão...

- Vi sim, ele e muitas outras coisas que deixariam seus cabelos da nuca em pé se eu lhe contasse! Sei com o que vamos lidar então me dê a espada aqui logo de uma vez!
Antes que Christopher pudesse reagir, ela já havia lhe tomado a arma das mãos. Ele não teve chances de questionar aquela atitude rude: antes que pudesse abrir a boca, as paredes começaram a se fechar ao redor dos dois, e a plataforma sobre a qual seus pés estavam começou a se mover, a subir como um elevador!

- Estamos indo para cima! – exclamou Ray Ann, colocando o elmo e equipando o escudo de modo desajeitado e nervoso.

- Se prepare e fique atrás de mim...

- Nem pensar! Vou ficar é do seu lado, sei muito bem me defender sozinha!

Christopher olhou para a garota com uma expressão impaciente, mas que menina teimosa!
Ao mesmo tempo em que eles subiam, as outras celas ao redor também executavam o mesmo movimento em direção a uma fraca e distante luz branca acima das suas cabeças, e através das falhas entre os patamares durante a subida eles puderam ver vultos de coisas indistinguíveis, criaturas uivando, rugindo, praguejando em línguas estranhas, urrando e rosnando em selvageria e fúria, chocando-se contra as laterais do cubículo de modo violento. Esta última elevação de plataformas durou um minuto apenas, e ao atingirem o destino final tudo tornou-se confuso o bastante para que Christopher Umbrella sequer distinguisse o que estava acontecendo ao seu redor.

A luz ali era tão forte que ele nada via se não um branco total salpicado por um clamor incessante de uma multidão invisível e vultos indistintos correndo de uma direção a outra. Ray Ann gritou e fincou a espada em alguma coisa metálica, o impacto disso o lançou para o lado violentamente.

- Levante-se seu idiota! – uma mão grossa e poderosa o puxou pela gola da blusa e o arrastou para longe do caminho do que parecia uma locomotiva em fúria, que atingiu o chão numa explosão de areia, pedra e cacos de vidro. Que diabos estava acontecendo ali?! Seu misterioso salvador correu metros o arrastando junto dele, enquanto ele lutava para se por de pé, sem sucesso, acabava por ficar de quatro, puxado pela coleira como um cachorro.

Quando seus olhos se adaptaram a luz, ele finalmente pode ver a gravidade da situação em que se encontrava.

No meio de uma arena, criaturas gigantescas e minúsculas digladiavam em fúria constante, lutando pela vida, correndo, fugindo, lutando com todas as armas disponíveis contra seres terríveis. Peludos, escamosos, repletos de garras ou espinhos, negros como a noite ou coloridos como um arco-íris venenoso, lisos como enguias ou rugosos como lagartos. Insetos gigantes, macacos coloridos empunhando adagas. Anfíbios enormes batiam de frente com paquidermes listrados vestidos em armaduras surradas. Seres meio humanos, meio animais, monstros que sequer tinham uma forma definida se desmembravam como num carnaval de sangue combatendo com sede de sobrevivência.

E no alto, no céu, um enorme zepelim branco atravessava o espaço aéreo do coliseu com os seguintes dizeres brilhando em neon:


싸워라! 싸워라! 싸워라!



- Lute... Lute... LUTE! – berrou Christopher, ao perceber que havia sido deixado para trás por seu misterioso salvador enquanto um besouro do tamanho de um rinoceronte todo listrado em preto e branco vinha voando em sua direção, abrindo e fechando suas mandíbulas horizontais serrilhadas e vermelhas, sacudindo seus chifres pontiagudos furiosos.

Continua...


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

PARTE CINCO: COSMOGONY SOB ATAQUE!




- Porque você não acorda logo de uma vez?

Ele tentou mover os lábios, mas não conseguiu. Era como se eles já não fossem mais seus, era como se o corpo inteiro não lhe pertencesse mais. Haviam vários sóis minúsculos ardendo debaixo da sua pele, pulando e dançando feito gafanhotos. Ele conhecia isso como formigamento, amortecimento ou dormência, mas ali no meio do espaço era muito mais do que isso, era estar conectado, era estar recebendo uma frequência, um impulso magnético do sistema nervoso do universo.

Ele tentou mover os lábios mais uma vez, sem sucesso.

- Você não precisa abrir a boca para falar comigo, apenas pense.

“Hi... Kiko... Mori?”

- Sim, exatamente.

Porque ele sabia aquele nome? O que significava aquele nome? Pertenceria à dona daquela misteriosa voz, talvez? Ecoando no infinito da sua mente, no infinito do universo.

“Como? Porquê?”

- Seria difícil explicar seus “comos” e seus “porquês” sem deixá-lo louco, Christopher Umbrella.

“Você sabe...”

- Sim, eu sei seu nome, afinal de contas, você é o Cavaleiro da Libertação, O Guerreiro Intergaláctico, o Guardião do Coração.

Ele finalmente conseguiu abrir os olhos. Se encontrava deitado numa ampla cama de enfermaria. O cômodo inteiro estava banhado em total escuridão, exceto por uma parede transparente à sua esquerda que proporcionava uma vista espetacular do espaço sideral lá fora. Um vulto incrivelmente alto estava parado ali, de braços cruzados, de costas para ele. Tinha formas femininas, a luz das estrelas vinda de fora expunha suas formas sinuosas, e fazia com que seus cabelos de um negro intenso refletissem magicamente como fosse espelhado. Haveria possibilidade de algum tipo de assombração existir no meio do espaço?

“Do que você está falando?”

- Do que todo o povo oprimido em cada lua, em cada planeta e em cada espaçonave deste universo andou falando durante esses quase cinquenta mil anos terrestres, ou mais, cem mil talvez. O tempo pouco importa quando se vive nas estrelas. Alguns seres que vagam entre as galáxias são tão velhos quanto as próprias estrelas. Eu talvez seja um deles. Azura talvez também seja.

“Quem é Azura?”

- De certo modo, ela é você, ela faz parte de você, e você faz parte dela.

“Me desculpe, mas isso não faz sentido algum. Por acaso isso é um sonho? Porque parece tão real!”

- Se fosse apenas um sonho você não estaria se indagando disso. Quando estamos sonhando vivemos o sonho como se ele fosse real, como se ele fosse a realidade. Jamais nos perguntamos se ele é um sonho ou não. Raras vezes temos a certeza de que era realmente um sonho, e quando a temos ficamos calados.

“Isso é tão estranho! É como se eu já soubesse que você viria em algum momento! Eu sei que você é Hikikomori, a Sybila que foi fiel à Princesa Azura mesmo quando ela se tornou uma imperatriz cruel, e topou aliar-se a ela na conquista do universo inteiro mesmo indo contra todos os seus valores. Simplesmente por amá-la demais para deixá-la sozinha. Mas eu não deveria saber nada disso, porque eu não sei o que isso significa para mim.”

- Isso é algo que esteve adormecido em você, Cavaleiro. Algo que foi despertado pela minha presença... Minha presença... Eu não deveria estar usando a projeção astral, neste exato momento ela já deve ter pedido auxílio a uma de minhas irmãs para encontrar-me. Rastreando o Pulsar...

“Aib’somar!”

- Exato.

O cérebro do Professor estava em chamas! Como ele sabia de tudo aquilo? Porque sabia aqueles nomes e aqueles mitos sem nunca antes ter tido contato com algo semelhante em sua vida inteira? Porque ele conhecia Sybila Hikikomori tão bem quanto a palma da sua mão mesmo nunca tendo antes a visto? Era como um conhecimento estranho de uma infância nunca vivida, era como saber onde a avó de um desconhecido escondia os biscoitos sem nunca tê-la visitado. E isso era tão bizarro quanto tal analogia.

“Aib... Quer dizer... ESCOLHIDO! COMO ISSO É POSSÍVEL? COMO EU SEI DISSO TUDO?”

- Você... Simplesmente sabe. – enquanto a figura feminina assustadoramente alta falava, sua fantasmagórica figura movia-se aos poucos, girando na base como uma estátua, era assustador vê-la fazendo aquilo, porque seu corpo em si mal respirava, parecia um grande manequim sendo movido por alguma plataforma automática oculta. Apavorante.

Aos poucos, aquele corpo perfeitamente branco coberto de pérolas foi dissolvendo-se em mariposas, o que foi uma lástima, pois Christopher Umbrella desde pequeno sempre teve pavor de insetos. No mesmo instante em que uma enorme borboleta negra noturna bateu suas asas escapando dos cabelos negros de Hikikomori, o Professor saltou da cama aos berros tentando escapar do monstro, mas antes que ele tentasse sair do quarto, correr ou chamar por ajuda já era tarde demais: os cabelos da Sybila haviam se desfeito em milhares de mariposas de várias espécies (terrestres ou não), envolvendo-o numa nuvem de ruflares e bater de asas sem fim.

A própria Sybila estava se desfazendo em mariposas enormes e gordas, seu braço já não existia mais, muito menos suas pernas, ela estava se desfazendo como se fosse feita de areia soprada pelo vento, e aqueles insetos asquerosos estavam envolvendo Christopher numa nuvem de desespero. Ele urrava em agonia, mas os insetos ao seu redor abafavam seus gritos, e quando tudo aquilo teve um fim, quando a última mariposa afastou-se e desapareceu, ele abriu os olhos e já não mais se encontrava no quartinho apertado como um armário da enfermaria.

Ele estava numa ampla e espaçosa sala branca cheia de parafernália laboratorial e muitos computadores. Todas as telas estavam ligadas mas não havia ninguém ali, por causa disso uma luz azul melancólica banhava todo o local, já que as persianas estavam fechadas e a luz das estrelas não adentrava no recinto. Além do mais, aquela face da estação espacial não estava voltada para o sol, de modo que quase tudo ali era escuridão total.

- Olá? – ele conseguia falar, e o próprio som da sua voz o assustou, ecoando pelo laboratório vazio. Uma única luz acendeu-se, bem no centro do lugar. – mas o que está acontecendo? – ele arrepiou-se dos pés à cabeça imaginando a nuvem de mariposas o envolvendo outra vez no escuro, de supetão. Então apressou-se em se aproximar da luz. Para sua surpresa, tratava-se de uma bancada redonda protegida por um domo de vidro contendo um enorme e disforme objeto que retinha resíduos de poeira cósmica e gelo endurecidos em sua superfície multifacetada como um dado de milhares de faces. Estas faces triangulares faiscaram um segundo antes que o artefato começasse a flutuar no ar e emitir um brilho azul intenso.

O Professor deu um passo para trás.

A coisa girou várias vezes como um pequeno sol, e aos poucos o gelo que a envolvia foi derretendo. A crosta de resíduos também desfez-se aos poucos, como uma pílula para azia colocada num copo d’água, a poeira cósmica agrupada foi aos poucos se tornando uma nuvem cinzas flutuando ao redor do estranho objeto. Ele emitia ondas ritmadas, como um estranho retumbar. Era como estar ao lado de uma enorme caixa amplificadora que reproduzia batidas em uma frequência tão alta que fazia seu peito vibrar junto à música, retumbar como ela. Um, dois, três pulsares, no terceiro o domo isolador, espalhando cacos em todas as direções. Por mais estranho que pareça, eles sequer passaram perto de Christopher.

A caixa dourada que flutuava ali diante dele abriu-se como uma flor, revelando em seu interior um órgão flácido e retorcido como uma uva passa, conservada e congelada em alta tecnologia durante milhares de milhões de anos, talvez aquilo exista desde antes de a terra começar a formar-se. Era absurda a sensação milenar e ancestral que aquele órgão morto passava.

Mas ele não sentia medo, ou nojo daquilo, muito pelo contrário. Christopher Umbrella estava sentindo um amor que nunca havia sentido antes, uma ternura e compreensão sem precedentes, algo que crescia tão depressa e desabrochava violentamente como uma rosa capturada em quadros acelerados. Lágrimas salgadas escorreram pelo seu rosto, e o brilho azul intenso dobrou de força. Todo o sofrimento, toda a história de Azura passou por sua cabeça como um filme de mil anos em três segundos, tudo isso em meio ao soprar de um vento quente e pesado como os raios de uma supernova.

Por causa disto, ele sequer percebeu que o alarme havia soado, não fazia ideia de que um exército inteiro de oficiais à serviço da segurança de Cosmogony estava a caminho.

O transe só foi interrompido por um estranho pulsar sísmico, e aquilo não foi oriundo da caixa que guardava o coração. Havia vindo de fora, do espaço, algo gigantesco havia se chocado com a estação espacial pelo lado de fora. As luzes, o brilho, o vento, o alarme, tudo apagou-se após aquele estrondo que levou Christopher Umbrella ao chão. Até a tropa que estava a caminho parou.

- Continue bombardeando, Arganack! Hikikomori logo aparecerá! Ela não aceitaria que inocentes morressem por sua causa! – resmungava uma anã chifruda, na cabine de uma colossal nave espacial em forma de ferradura, cercada por uma frota inteira de monstruosas naves como ela.


Outro tiro, outro tremor, as luzes piscaram mais uma vez, e uma pressão externa fez os ouvidos entupirem.

- Mas o que está acontecendo?! – exclamou Augusta, confusa, levantando-se da cadeira do refeitório da enfermaria ao ver a agitação das pessoas, que aos poucos começavam a entrar em desespero.

- Acalmem-se, meninos, por favor, permaneçam sentados por medida de segurança – o capitão Donnick também estava à mesa com o resto do grupo, afinal fora ele quem socorrera o Professor Umbrella em seu desmaio. Estava estendendo os braços tentando conter aqueles que queriam debandar, assim como metade do refeitório levantava-se e corria para fora, para os corredores da estação espacial procurando respostas.

Pietro e Augusta já estavam praticamente de pé e se afastando da mesa, procurando a origem da agitação, o motivo dos tremores, enquanto Ray e Fábia permaneciam sentadas com os olhos maiores que quatro plutões espantados. Fábia em especial estava gelada dos pés à cabeça. Já havia perdido todo o sangue do seu rosto, de modo que estava pálida como uma assombração.

- Amigos, voltem para a mesa, por favor. Se estivéssemos sob algum tipo de emergência os alarmes já haveriam de ter...

Antes que o capitão pudesse terminar sua frase, as luzes vermelhas até então apagadas e quietas nas laterais do salão começaram a girar freneticamente, tingindo o ambiente branco de um rubro escuro. As plantas tropicais da ornamentação pareciam agora vultos banhados em sangue. Fábia começou a berrar no exato momento em que algum apressadinho passou correndo pela mesa e derrubou um vaso com uma pequena palmeira cuja copa foi parar em seu colo. Ray Ann começou a chorar enquanto Pietro e Augusta corriam para a saída.

- Aonde vocês vão?! – berrou o capitão em meio às sirenes – voltem aqui! Não vão! Vocês vão se perder! Devemos ficar juntos!

E foi como se alguém houvesse beliscado o traseiro de Ray Ann, que recompôs-se de supetão e pôs-se a correr.

- TEMOS QUE SALVAR O PROFESSOR! TEMOS QUE SALVÁ-LO! – ultrapassou Pietro e Augusta num piscar de olhos com suas canelas finas e curtas, porém rápidas o suficiente para que ela alcançasse a saída desviando de mesas derrubadas e cadeiras de pernas para o ar, além de pessoas retardatárias perdidas em meio à confusão.

- Ai, você também não! – o capitão tomou a frente na corrida para lugar nenhum, tentando puxar a garota pela jaqueta, sem sucesso. O empurra-empurra generalizado acabou afastando os dois significativamente, mas ele ainda podia ver a cabeça da garota desviando com agilidade dos corpos em agitação no meio do caminho. Pietro, Augusta e uma recém-esperta Fábia trataram de segui-los! Não iam ficar para trás sozinhos no meio daquela confusão de maneira alguma!

- Nós nem sabemos o que está acontecendo ainda! Porque estamos entrando em desespero? – berrava Augusta enquanto corria.

- EU NÃO SEI GUTA, MAS EU É QUE NÃO QUERO MORRER! – Pietro já estava pingando feito um picolé derretendo ao sol. Estava correndo e estava nervoso ao mesmo tempo, uma combinação maldita para quem costuma suar rios.

E de repente, as luzes vermelhas apagaram, as sirenes cessaram, e os tremores pararam. Reagindo por reflexo, todos os humanos desesperados sem motivo, que corriam para salvar suas vidas ignorando todas as medidas de segurança sob as quais foram treinados para sobreviver a situações parecidas (falta de tentativa de controle por parte dos guias da Cosmogony com certeza não foi) estancaram no meio do caminho.
Era como brincar de estátua valendo. Olhos muito abertos e músculos retesados ao longo de todos os corredores. Pessoas arfando violentamente.

- 안녕하세요, 인간! 당신에게 말할 Aib'somar은 주권 섹터 별의 황소입니다!

Silêncio absoluto.

- Porque estão falando em coreano nos auto-falantes?! – Fábia foi a primeira a se manifestar. Era perita no ramo oriental das coisas, de modo que conhecia um pouco de cada coisa daquele canto do mundo. Inclusive as línguas.

- A única coisa que eu entendi disso tudo foi Aib’somar... Que diabo de nome mais feio! – exclamou Pietro.

- E o que você entendeu, Fá? – Augusta estava desvairada, enlouquecida, se controlando para não surtar. Morrer no meio do espaço não estava em seus planos. E a lentidão de Fábia para traduzir aquele falatório estava deixando ela mais nervosa ainda! – VAMOS FÁBIA, TRADUZ LOGO ISSO AÍ!

- CALMA! Mas que coisa! Alguém deu saudações aos humanos e disse se chamar Aib’somar, soberana de alguma coisa em algum lugar aí...

- Ótimo, esclareceu tudo! – Augusta revirou os olhos e jogou os braços pra cima, revoltada. A confusão nos corredores e salões havia recomeçado, agora em forma de falatório. Um zumbir incessante de milhares de vozes cheias de perguntas ao mesmo tempo.

-이 쓰레기의 번역은 최소한에? 이런 무식한 내가 무슨 말을 해요의 아무것도 이해 못해! 이번 한번 Arganack 연결!

Mas que diabos?!

- SAUDAÇÕES, HUMANOS! – exclamou a voz mais uma vez, numa segunda tentativa de cumprimentar os habitantes da estação espacial. Era uma voz esquisita e carregada de sotaque, chiada demais – finalmente ligaram a porcaria do tradutor! MUITO BEM, HABITANTES DA ESTAÇÃO ESPACIAL COSMOGONY, é assim que chamam essa reles barcaça, não é mesmo? POIS BEM, VOCÊS ESTÃO NESTE EXATO MOMENTO SOB A MIRA DAS MINHAS TROPAS! OS QUATRO PRIMEIROS BOMBARDEIOS FORAM SOMENTE UM AVISO! UM QUINTO DESTRUIRIA O PARCO ESCUDO MAGNÉTICO DE VOCÊS EM UM SEGUNDO!

As exclamações de dúvida, pavor, medo e angústia logo tornaram-se gritos e berros, e a correria recomeçou. Na sala de controle da estação espacial, os comandantes tentavam contato com a então nave inimiga, sem sucesso. Eles haviam invadido o sistema e colocado seu sinal no lugar de qualquer outro tipo de transmissão que estivesse sendo feita. Até as sondas espalhadas pelo espaço ao redor e as naves exploradoras estavam recebendo aquela mensagem ameaçadora de voz.

- O MOTIVO DESTE ATAQUE É SIMPLES: VOCÊS TÊM ALGO QUE ME PERTENCE! ALÉM DE APROPRIAÇÃO INDEVIDA DO TESOURO DO IMPÉRIO, VOCÊS ESTÃO DANDO COBERTURA A SYBILA HIKIKOMORI. UMA PROCURADA DA JUSTIÇA ESPACIAL! – ela deu uma risadinha cínica. – AQUI QUEM VOS FALA É AIB’SOMAR, ARQUIDUQUESA DE TAURUS, SOBERANA DE ALDEBARÃ E SENHORA DE ARCTURUS! ENTREGUEM HIKIKOMORI E A CÂMARA CORONÁRIA E OS DEIXAREMOS EM PAZ!

- Ela tem razão, comandante, encontramos uma nave estranha escondida por algum tipo de escudo de invisibilidade na área da acoplagem – cochichou Elly Richter ao pé do ouvido de seu comandante. Além de guia da estação espacial, ela também costumava atuar na sala de controle nas horas vagas. – sequer tocamos naquilo, isolamos a área e estávamos esperando a reunião de hoje cedo acabar para lhe mostrar, e então o bombardeio começou...

- Encontraram o piloto desta nave?

- Nem sinal dele.

O comandante respirou fundo. Estava tremendo dos pés à cabeça e suando frio. Não havia sido treinado para este tipo de situação: a raça humana jamais suspeitara da existência de vida inteligente fora da Terra, de modo que isso parecia um absurdo para a grande maioria daqueles que estavam acompanhando a situação no momento. O maior problema estava na área do hotel, os hóspedes estavam descontrolados àquela altura. A única chance de saírem vivos daquela enrascada era entregar à Arquiduquesa sua procurada e tentar entender do que se tratava a câmara coronária da qual ela falara.

- Só pode ser o artefato que encontramos hoje. Não há outra explicação para eles terem nos encontrado. Precisamos devolvê-lo para os donos antes que eles façam dos nossos ossos poeira estelar. – Elly levantou-se e caminhou até o holograma gigantesco que mostrava a tropa de naves espaciais em forma de ferradura cercando a estação espacial de todas as direções. O escudo magnético repelente de corpos estranhos projetado para manter meteoritos à distância não aguentaria a potência daquelas armas nunca.

- Pois então mande que vasculhem toda a estação, peça que revirem cada pequeno canto deste lugar, ordeno que façam o que for preciso para encontrar a intrusa. Não podemos por a vida de toda essa gente em risco, jamais – o comandante cruzou os braços e fechou os olhos, preocupado.

Elly levou o pulso à boca e os dedos ao ouvido, sussurrou algo e voltou-se para a equipe de navegadores e especialistas da sala de comando.

- Nossos oficiais já iniciaram as buscas. Pode demorar algumas horas para que seja concluída. As câmeras de segurança registraram atividade suspeita na enfermaria e no laboratório de análise de amostras, o grupo de buscas já está a caminho para averiguação.

- Tomara que esses alienígenas tenham paciência...


- Vamos esperar que eles entreguem Hikikomori, Soberana? – indagou Arganack, voltando-se para sua superior com uma reverência.

Ela riu debochada.

- Claro que não, seu idiota. Nossos amigos queridos estarão invadindo em poucos minutos. – ela largou-se em seu enorme trono vermelho oval, relaxada – não confio nessa gente desse lado da Galáxia. Eles são uns trogloditas, poucos povos do universo têm coragem de manter contato com essa raça estranha... – Aib’somar fez uma careta de desgosto e nojo enquanto revirava os olhinhos suínos. Que criaturinha feia ela era. – eles são tão arcaicos e tão... Sujos! Eu tenho arrepios só de olhar para esse monte de vermes se contorcendo nos corredores disso que eles chamam de Estação Espacial! Olhem como eles são feios! Não possuem chifres, nem garras, nem tentáculos! São como fetos pelados e desprovidos de armas naturais, a natureza os castigou cruelmente quando os fez sem carapaça ou casco, pobres e miseráveis esses humanos! QUE NOJO!

Os três monitores gigantescos da sala de controle da CORNELIUS – nave-mãe do povo de Aib’somar, do qual ela era soberana – acenderam-se ao mesmo tempo, iluminando o salão vermelho de uma ponta à outra.

O vulto anão de Arganack revelou-se recurvado sobre a mesa de comando (que não era nada pequena), encabeçando uma equipe inteira de criaturas semelhantes a toupeiras usando uniformes alaranjados colados ao corpo. Eles estavam no controle da nave mãe, monitorando tudo, obedecendo fielmente às ordens da Arquiduquesa de Taurus, eram vinte ou trinta, estranhos gnomos com pelagem de foca e garras prateadas tão longas que os impossibilitava usar os botões, as alavancas e as telas de touch. Seus narizes assemelhavam-se muito aos de certas espécies de toupeiras terráqueas: como duas mãos unidas pelos pulsos, com uma narina em cada palma. Os “dedos” nas extremidades eram o que eles usavam para manusear o painel de controle.

Naquele momento, em algum lugar no interior da nave-mãe do império de Taurus – que era tão grande quanto a estação – o exército de androides se preparava para entrar em ação, tomando posição, inexpressivos e letais.

- Por favor, tripulantes, cosmonautas e hóspedes da Estação Espacial Cosmogony, mantenham a calma. As exigências dos invasores serão atendidas o mais rápido possível e a ordem será estabilizada, enquanto isso, permaneçam exatamente onde estão e mantenham a calma. – a mensagem na voz de Elly Richter foi repetida várias vezes em outras línguas. Enquanto isso, Ray Ann, Pietro, Fábia e companhia se entreolhavam nervosos e apreensivos.

- To pouco me lixando, eu vou é salvar meu professor! – Ray Ann gritou no meio de todo mundo, e foi abrindo espaço às cotoveladas, correndo em direção ao portão mais próximo para as pontes suspensas.

- Epa! Ray, não! Espera! Volta aqui! – o capitão Donnick tentou agarrá-la mais uma vez e impedi-la de se perder no meio da multidão, sem sucesso. Acabou apelando para o mesmo método que a pequena estava utilizando: cotoveladas e empurrões para segui-la. O resto do grupo, como não pretendia ficar para trás aderiu ao movimento, e observando aquela movimentação de gritaria e perseguição, a multidão ao redor voltou ao mesmo estado de caos em que havia parado, pensando haver algum tipo de emergência. Imediatamente todos passaram a correr na mesma direção em que Ray Ann estava correndo.

Não custou muito para que o grupo se encontrasse rapidamente fora daquela confusão, correndo atrás de Ray Ann através do corredor suspenso no meio do vazio, ligando o núcleo à apêndice da estação espacial. A vista era assustadora. Além de estar correndo através de uma espécie de tubo de vidro no meio do espaço – que por si só já era uma experiência apavorante – eles puderam averiguar o nível de gravidade da situação: a estação espacial estava cercada de estranhas espaçonaves por todos os lados. Intimidadoras e imponentes, lembravam besouros chifrudos graças às duas protuberâncias que cada uma delas possuía. Estes pares de chifres provocavam faíscas vermelhas nervosas. Sinal de que eles estavam prontos para o ataque.

E encabeçando a frota, exatamente em cima da estação espacial, estava a nave-mãe. Algo gigantesco no formato de uma ferradura dourada. Vista debaixo lembrava um par de chifres ameaçadores, esta possuía também uma esfera prateada como núcleo flutuando entre os cornos como se fixo ao resto da nave por uma energia misteriosa invisível. Ao atingir o bloco onde se encontravam os dormitórios e as enfermarias, o grupo seguidor de Ray Ann percebeu tarde demais que o panorama era o mesmo: caos e correria. O quarto para onde Christopher Umbrella foi enviado não estava muito longe, era logo por ali, um dos primeiros graças à influência e insistência do capitão Donnick, que aliás era muito conhecido por ali.

- É por aqui, vamos! – Ray só parou um instante no meio do caminho para se virar e chamar pelos companheiros que aos poucos estavam ficando para trás, vencidos pelo cansaço e pelos obstáculos – Não parem!

- Droga, garota! Fica parada! – esbravejava o capitão. – não podemos...

Tarde demais, algo estranho estava começando a acontecer.

A esfera prateada no centro da nave em forma de ferradura estava dando origem a milhares de outras esferas pequenas que desciam vagarosamente em direção à estação espacial como neve. Globos prateados perfeitos e enormes, eles estavam iniciando movimentos circulares ao redor do cilindro da estação como pequenos planetas orbitando um sol, mantendo certa distância e girando sem parar. Aos poucos, seus irmãos se juntavam aos que já haviam descido e iniciavam a dança ao redor do corpo da Cosmogony formando um verdadeiro cardume de esferas flutuantes. Todos acompanhavam aquela movimentação, confusos e assustados. O que aquilo significava?

O pânico começou quando uma delas aproximou-se pelo lado de fora e atravessou a parede transparente do grande corredor como se fosse um fantasma, e lá dentro deu origem a um ser humanóide prateado sem rosto, que emitia estranhos sons que variavam entre a frequência de rádio e o canto de uma baleia. A gritaria começou aí, e não teve mais fim, pois as outras esferas prateadas estavam fazendo o mesmo, atravessando os limites físicos da Cosmogony como se não possuíssem corpo material, atingindo seu interior e assimilando a silhueta humana criando braços, pernas e cabeça.

Era a invasão do exército de androides metamórficos de Aib’somar.

Continua...

















Hey pessoal! Essa foi a primeira postagem do ano! Dei tudo de mim para esse capítulo de Space Oddity para a abertura de 2012 ficasse perfeito e impecável. É claro que não deu muito certo, risos, mas pelo menos da minha parte estou satisfeito! Espero que tenham paciência com o andamento da série, ando um pouco preguiçoso e agora dei de assistir Sailor Moon desde a primeira temporada, e isso tem tomado minhas madrugadas de escritor (que viraram madrugadas de otaku). Para 2012 tenho muita coisa em mente, então aguardem!






Louie Mimieux