Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sábado, 10 de outubro de 2009

Draconius Nefastus - Primeira Parte.

Christopher Umbrella,
Ex-Repórter e Antropólogo da Universidade Real Franco-Italiana em 15 de Novembro de 1996.

O nosso mundo é estranho, o nosso mundo é bizarro, o nosso mundo é cruel, o nosso mundo é macabro, mas de todas as visões infernais que já tive, aquela visão foi a pior. Eu e minha equipe presenciamos coisas horrendas, dignas de um filme de terror dos mais mórbidos e repulsivos de todos os tempos, bem do tipo que arqueóloga e ufóloga Ray Ann aprecia, estivemos na presença do mal e de suas raízes, sob as asas malignas e putrefatas do asco, sob a foice certeira da morte, da qual por pouco escapamos. O que será relatado a seguir jamais deverá sair destas linhas, é um segredo entre mim e você, um segredo que deve ser guardado a sete chaves, pois o mundo jamais estará preparado para tanta estranheza e deformidade.
Há lugares em nosso mundo em que o mal é cultuado e alimentado fartamente por mentes vazias e hipnotizadas pelo medo. Templos antigos astecas e maias se erguem aos céus, mais altos do que qualquer outra pirâmide que já tenha sido construída pelo povo antigo que habitou as mesmas terras que tu pisas. Estátuas colossais que têm as mãos em chamas clamam pelo mal alado que grita agarrado ao tronco da árvore-mãe. A floresta tropical cerca este lugar, e esconde do mundo todo o horror que, em nome de Deus e de todas as Santidades, deve sempre ficar escondido para nunca ser visto por outros fracos e covardes olhos humanos...
Eu era jovem, e inexperiente, um repórter da década de 20, revolução industrial, a chegada tímida do cinema e da automobilística badalava Nova Iorque e a moda regia os costumes da época. O rádio estava em alta e a tevê ainda nem tinha chegado. Pelos trilhos do bondinho, aquela moça corria desesperada com um embrulho em mãos, e maldita seja a hora em que Fábia Paola, a paleontóloga estudiosa, cruzou o meu caminho naquela manhã de primavera cercada pelas abelhas e pelas borboletas que voejavam e zuniam nas avenidas floridas de Little Italy, Nova Iorque. O melão cheirava na venda da esquina, e uma música suave tocava no rádio, eu acabara de sair de um beco onde morava, escondida, velho amigo meu, e com ela topei, esbaforida, correndo pelos trilhos do bondinho.
Assim que aqueles homens mal-encarados e tão negros quanto a noite me viram, estancaram e correram na direção oposta. Sem motivo algum aparente, pois um golpe de qualquer um deles havia de ter me derrubado em dois tempos.
Naquele momento eu não a conhecia, mas seu rosto oriental carregado de desespero me comoveu imediatamente, pois ela era tão pequena e rechonchudinha que inspirava cuidados ao primeiro que a visse. Ofereci a ela minha companhia e a levei até a pizzaria mais próxima onde ela disse seu nome e sua profissão. Após muitas fatias de pizza, fiquei por demasiado curioso para aguentar aquele suspense todo, por isto finalmente tomei as rédeas da conversa e perguntei a ela o porque da fuga desabalada e atrapalhada pelos trilhos do bondinho. Fábia Paola engasgou na hora com o peperoni e eu tive de dar dois ou três tapinhas nas suas costas. Meu Deus, e como os seios dela eram grandes! Nunca havia visto nada igual em minha vida!
Ela finalmente puxou o embrulho que esteve em seu colo o tempo todo e revelou a mim o que havia naquele velho pacote de papel de padaria. Havia a estatueta do que a primeira vista me pareceu um grande e horrendo morcego, de modo que quase pedi à boa dama que o guardasse de volta antes que alguém que ali estava almoçando cuspisse a comida mal-digerida no prato, mas em uma segunda olhada percebi que a coisa tinha rosto humano e dentes encavalados macabros, e o que parecia a asa na verdade não era uma asa, e sim uma membrana que ligava seu dedo mindinho ao dedinho do pé, esticada de modo a parecer um daqueles estranhos esquilos das distantes ilhas da Oceania.
Era uma visão dos infernos, pois além disso tudo, havia um vácuo maligno entre uma nádega e a outra, além de um rosto puramente humano, de olhinhos apertados. O cabelo do ícone era feito de cabelo verdadeiro, o que me fez imaginar de que gruta fétida e cheia de corpos decomposto aquilo havia vindo. Parecia mais uma boneca vudu do que um ícone de barro. Foi então que ela revelou-me que aquilo na verdade não era uma estatueta como eu afinal havia chegado a pensar, mas sim um exemplar morto da estranha criatura que crescia por estaquia como as plantas!
Aquilo me repugnou por completo e eu pedi a ela que guardasse antes que eu fosse expulso do restaurante italiano por causa de atitudes “indigestas”, mas logo comecei a achar que a pobre Fábia Paola na verdade era uma jovem mulher louca que estava apegada a algo criado pela sua própria cabeça. Eu a orientei que voltasse para casa antes que fosse muito tarde para uma dama andar por aí sozinha, e então ela caiu em prantos, clamando pela minha ajuda nesta sua empreitada maluca e sem fundamento algum senão lendas caboclas e haitianas do arquipélago do Caribe.
Ela contou-me sobre selvas virgens nunca antes tocadas pelo homem, contou-me sobre céus tão azuis e cristalinos quanto o mar, contou-me de criaturas apavorantes, hediondas, carnívoras, assassinas, e criaturas meigas, dóceis, felpudas, esplendidas e divinas que ali habitavam. Contou-me sobre tribos indígenas que cultuavam feras da floresta, contou-me sobre pirâmides construídas no tempo antes do tempo e contou-me sobre portas para outros mundos. Eu gargalhei dentro do restaurante, e por isso nos botaram para fora, e a moça assim me seguiu. No caminho, tive a ideia brilhante de apresentá-la ao meu velho amigo que havia ido visitar naquela manhã em Little Italy, seu nome era Pietro Heinrich, e na época tinha um nome de peso no ramo do cinema e do teatro, sendo responsável pela maior parte das grandes produções atuais e por roteiros impecáveis de Hollywood. Vi naquela paleontóloga maluca um roteiro incrível que eu mesmo poderia escrever e editar para o cinema, e com certeza Pietro iria adora toda aquela história de selvas malditas e feras horrendas, seria um clássico instantâneo! Uma febre nas telas! Contei à ela sobre este meu plano e disse-lhe que meu amigo era de muita confiança, mas a mulher ficou enfurecida de uma forma tão violenta que explodiu em gritos e berros em sua defesa e defesa da sua sanidade em plena rua movimentada, o que não ajudou muito da parte da sanidade.
Disse a ela que minhas intenções eram as melhores e disse a ela que poderia lhe oferecer toda a ajuda possível se por acaso não estivesse interessada em vender sua incrível história para o mundo de glamour de Hollywood, mas ela negou tudo por completo e xingou feito um marinheiro, dizendo que nada daquilo era brincadeira e que devia ser levado urgentemente a sério porque todos nós corríamos perigo se por um acaso o relato da existência daquele lugar chegasse aos ouvidos errados, e eu estava começando a ficar seriamente preocupado com o estado mental da moça, o que me fez pensar seriamente em levá-la a força a um psiquiatra, o mais rápido possível, antes que ela começasse a revirar o lixo em busca das suas feras amazônicas infernais. Ela estava se mostrando realmente louca com toda aquela estória, e não parecia estar brincando em nenhuma palavra que dizia, parecia muito preocupada e afligida por seus temores, em desespero total, sem casa, sem comida, sem ninguém, perdida no mundo, estava sendo caçada por capangas de gente poderosa de todo canto do planeta, pois todos eles estavam interessados na sua selva secreta, oculta por um véu místico. Ela disse tratar-se de uma cidade sagrada oculta por neblina bem no meio de um mar de águas turvas, disse haver um templo tão grande e tão imponente que meteria medo até no mais valente dos homens, e toda aquela loucura estava me irritando por completa, já não sabia mais o que fazer quando topamos com Heinrich, que ouviu a estória sem pé nem cabeça de Fábia Paola sem sequer piscar.
Foi por um acaso (e por má sorte provida dos meus problemas cármicos da roda de samsara), que Pietro conhecia a existência deste lugar, pela metade, e sabia que lá era o lar de uma criatura única no mundo todo, os olhos dele cintilaram feito duas ônix e ele ficou tão empolgado e louco quanto a paleontóloga (seu maior sonho era filmar a criatura em ação e provar a existência da mesma em um filme único no mundo todo). Esta mostrou a ele a estátua e contou a ele coisas estranhas e desconexas que eu me recuso a escrever por falta de tempo e por já me pesarem os olhos. O fato era: eu estava duplamente perdido na mão daqueles dois malucos que acreditavam piamente na existência de uma terra desconhecida cujos frutos poderiam causar a destruição da pobre e fraca raça humana se por um acaso fosse invadida por pessoas de coração ambicioso e mal-intencionado. Não acreditei quando me vi diante do prédio antigo em que morava minha prima Ray Ann, a ufóloga-arqueóloga e o seu irmão Don Hills, que era o chefe culto da dita-cuja e sem quem ela não era capaz de dar um passo sequer. Os dois ouviram a estória muito interessados e relataram saber também sobre algo mistamente parecido, que chegou aos seus ouvidos num boca-a-boca que deturpou por completo a história.
Eu continuava não acreditando em nada daquilo, parecia que o mundo ao meu redor estava enlouquecendo! Digo, Ray Ann já não era lá muito boa das suas ideias com aquela estória de extraterrestres e galáxias distantes, mas Don Hills era homem sábio, gentil, rico e muito espirituoso, cheio de presença e inteligência, como ele podia estar se deixando levar pelas estórias contadas por aqueles três? Sim, Ray Ann agora estava contando a sua versão do fato, de que modo a estória havia chegado aos seus ouvidos. Eis que eu, já revoltado com tudo aquilo, levantei-me derrubando uma cadeira sem querer, e perguntei a eles o motivo de não terem me contado sobre o que sabiam antes, pois até o presente momento eu não fazia ideia que esses boatos corriam soltos pelas periferias feito água clandestina tirada dos canos da prefeitura, e era um ignorante perante a situação, de modo que me senti injustiçado, pois era repórter na época. Eles disseram que também estavam muito surpresos de eu não saber algo sobre isso, pois do jeito que sou abelhudo e bisbilhoteiro, já deveria ter escutado algo semelhante antes, e disseram também que estavam tão surpresos quanto eu em saber que outras pessoas de classe mais alta, além deles, sabiam.
Ray Ann até contou-me sobre os artefatos como o que Fábia Paola tinha em mãos naquele momento, estarem sendo vendidos em cabanas de mãe-de-santo na indonésia e no haiti, aquilo era realmente bem maior do que eu imaginava, e tornou-se tão grande a ponto de me ver após três dias, parado diante de uma embarcação, com toda a minha bagagem ao lado, na companhia de Fábia Paola, Pietro Heinrich, Ray Ann e Don Hills. O barco sairia à meia-noite, e exatamente àquela hora eu ouvia o pio agourento de uma ave noturna nas redondezas do porto de Nova-Iorque. Não que eu fosse supersticioso. Mas a coruja me estava avisando. Da desgraça que viria a seguir. E do que meus olhos, pobres olhos, testemunhariam naquela mata sórdida e macabra.

Fim da Primeira Parte!

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