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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Contos de Fadas - Volume 4 - O Menino que Acreditou no Amor.



O Menino que Acreditou no Amor.



Que é o amor? Você sabe me dizer? Você já o encontrou face-a-face? Você já o sentiu de verdade mutuamente e pôde dizer, afinal, que estava apaixonado? Você acredita que ele realmente existe?
Que? Que é o amor?
Ninguém sabe ao certo a resposta, porque cada ser vivente no planeta é capaz de senti-lo de formas diferentes, e cada qual tem a sua definição própria e pessoal do que seria essa força arrebatadora que nos envolve num abraço mortal e não nos deixa respirar direito, nem dormir direito, nem comer direito, porque os braços da sua vontade de viver estão atados pela sutil imagem do objeto do desejo. Para uns o amor é doce feito algodão-doce, e que felicidade é vivê-lo! Mas para outros é como virar goela abaixo uma garrafa de absinto e água sanitária, pois estes nunca têm sorte, por mais que procurem em todos os lugares o tal do amor, nunca sabem dizer o que ele é, e nem se o encontraram.
A nossa história fala justamente sobre isso. Sobre um garotinho muito sozinho, que morava pra lá do bosque das macieiras, e que vivia livre e solto vivendo a sua vida e usando a sua capinha lilás favorita, mordendo uma maçã e outra, tendo aulas incríveis com os melhores professores da floresta. Rodeado de amigos maravilhosos, animaizinhos da floresta.
Nosso garotinho não era, nem nunca foi, lá o que podemos chamar de sortudo, sua sorte era muito razoável e metafórica, pois vez ou outra ele achava um cantinho mais aconchegante para dormir ou encontrava no meio do seu caminho, saltitando, uma fruta mais vermelhinha ou mais docinha, felicidades pequenas, pequenininhas que ele sempre levava em consideração, porém, lá no fundo do seu coraçãozinho de brinquedo, onde só Deus podia escutar e mais ninguém, ele se sentia insatisfeito com aquela vida, e por mais que se esforçasse, não conseguia, e poderia até admitir para nós, se insistíssemos muito, que ele tinha uma certa mania de grandeza.
Então, num belo dia, nosso pequeno andarilho da floresta topou com uma bela princesa de cabelos escuros que morava no topo de uma árvore, e por ela se apaixonou, e junto os dois construíram uma grande e frondosa amizade inabalável que durou muitos e muitos anos. Este foi o primeiro amor oficial do nosso pequeno andarilho. Assim, em um golpe de sorte, ele se declarou para a pequenina donzela, sem nem gaguejar ou vacilar, declarou-se de todo o coração e demonstrou isso da melhor forma para ela. Mas a pequena dama sentiu-se muito envergonhada com aquilo, e até um pouco incomodada, mas lisonjeada, e assim disse que eles não poderiam ser mais que amigos... Mas só por enquanto.
O pequeno andarilho prosseguiu acreditando no futuro deste amor, que foi alimentado por uma gostosa amizade, mas logo tudo se perdeu, quando a princesinha resolveu partir após encontrar um amor para ela, e assim, o andarilho ficou sozinho na floresta por muito tempo. Após a partida da princesa da árvore, surgiu no bosque das macieiras um tigre enorme, encantador, simpático e amigo de todos, e por ele o pequeno andarilho se apaixonou. O garotinho aproximou-se do tigre e com ele viveu bons momentos ao lado de outras pessoinhas da floresta e outros animaizinhos divertidos, com quem riu, chorou, cantou e brincou muito ao longo de um ano todo.
Seu amor pelo tigre manteve-se segredo por meses a fio, mas ele precisava contar aquilo a alguém, precisava de um melhor amigo a quem confidenciar sua paixão, e ora, vejam só, arranjou dois: a bela cotovia e o rato campestre, que lhe foram parceiros muito fiéis e confiáveis, até o tempo em que as brigas começaram e os três se separaram. Neste meio tempo, a floresta toda havia descoberto sobre o amor secreto do andarilho pelo tigre de bengala, antes muito seu amigo, agora arisco e evasivo por causa dos boatos, e outra vez o pequeno andarilho se viu só, e até mesmo maltratado pelos outros animais e moradores mágicos do bosque, inclusive pelo próprio tigre.
Foi então que nosso pequeno amigo descobriu a paixão que sentia por uma bela boneca de pano que morava numa penteadeira abandonada logo ali na esquina, onde todos os animais mais famosos se encontravam para conversar com ela, que era muito amiga de todos e muito popular em toda a floresta por causa dos seus brilhantes e sedosos cabelos róseos. Mas antes que pudesse ser tarde demais, o pequeno andarilho caiu em si e resolveu ignorar completamente esse amor, chegando a pensar até mesmo que tudo aquilo fora fogo de palha. Na verdade, o que aconteceu foi que ele decidiu se declarar para a boneca de pano, e ela ignorou totalmente essa situação, já que não lhe era nem um pouquinho agradável que um garoto como aquele gostasse dela.
Assim, após meses e meses de primavera, inverno, verão e outono, o pequeno andarilho pôde abrir os seus olhos para a verdade: seu verdadeiro amor sempre fora a cotovia, amiga fiel e com quem tinha muito incomum, quem lhe deu todo o apoio que precisava quando ele mais precisava, quando mais esteve sozinho, precisando de um apoio, precisando de um sorriso, lá estava ela, mesmo que um pouco distante por causa da influência dos outros pássaros enxeridos e invejosos, ela estava presente, e a ela nosso bobo amigo revelou seu amor. E então o ano acabou.
Por durante anos nosso pequeno amigo e a adorável cotovia viveram um romance sem igual, apenas por correspondência, por onde trocavam segredos e carinhos e agradáveis conversas, sem nunca se encontrar, olhar olho no olho, com exceção de uma única vez, em uma missa na floresta, aniversário de uma borboleta. Os dois se encontraram pela primeira vez ali, após longos meses sem se ver, mas não tiveram coragem de trocar um único beijo, porque a cotovia era muito insegura e envergonhada, sem nunca saber o que realmente queria da vida. Acabou que ocorreu uma triste fatalidade, que revelou a ele a verdadeira personalidade daquela cotovia, que afinal de contas não era nadinha da princesa que ele pensava que era, e sim uma mentirosa de mão cheia.
Ela podia até amá-lo e admirá-lo, mas havia um problema: ela tinha vergonha desse amor, vergonha por causa do pequeno andarilho, vergonha dele, pois ele não era muito admirado pelo resto da floresta e era tido como um esquisito que vagava por aí sem rumo apaixonando-se por felinos e etc. Ela mesma sabia disso, pois tinha sido confidente do romance no passado. E após muitos meses de palavras falsas, enquanto ela escondia a sua verdadeira opinião sobre o pequeno andarilho, ele resolveu acabar de uma vez com tudo isso, cortando todos os laços com seu passado...
E então a andarilho mudou-se para outra floresta, onde conheceu novos a agradáveis amigos com quem viveu muitas aventuras maravilhosas e com quem construiu uma amizade muito forte... Mas então eis que surgiu uma estátua, que na verdade não era uma estátua, mas estava viva, tinha a forma humana, sugava sangue e era revestida de uma beleza tão deslumbrante que encantou o pequeno andarilho que imediatamente se viu apaixonado após muitos anos sem um amor sequer. A esta estátua encantadora o andarilho enviou mensagens secretas endereçadas por ninguém, através de uma bela ave-do-paraíso, e pela estátua em forma de homem o andarilho se apaixonou perdidamente.
E então o andarilho percebeu que desta vez era tudo diferente. E então o andarilho disse a si mesmo que aquilo tudo era verdade. E então o andarilho estava dando a última chance de o amor acontecer na sua vida. Mas não aconteceu. Porque a estátua já tinha o seu amor, nas terras distantes das ilhas de onde ela viera. E assim o mundo do pequeno andarilho caiu mais uma vez. E desta vez caiu junto com ele em si. Ele finalmente pôde perceber que essa coisa chamada amor nunca existiu. É tudo imaginação. Tudo coisa da cabeça da gente. Coisa a gente mesmo cria. Mesmo que a gente procure debaixo de todas as pedras, no ramo de cada árvore, em cada arbusto, em cada poça d’água, ou mesmo no oceano todo, nós nunca iremos o encontrar, porque o amor não existe.
E assim o andarilho decidiu seguir. Sem amor algum. Porque ele percebeu que o amor só funcionava para os outros. E que havia uma exceção naquela estória de Deus não ter feito nenhum ser sem o seu par. E esta exceção era ele...

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