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domingo, 4 de julho de 2010

The Big Machine II - Parte 2




- No ano de 2012, o cérebro humano uniu-se ao cérebro eletrônico, formando assim, algo totalmente novo, nunca antes visto na face da terra – a voz grossa como um trovão ribombava nas paredes côncavas de metal. O trono negro flutuava no centro da gigantesca esfera oca que era a sala de controle, erguida no ar por puro magnetismo como as Montanhas Aleluia de Pandora. – nos 20 anos seguintes, o mundo foi falecendo aos poucos até tornar-se 60% inabitável, quase tudo estava perdido. Mas os cálculos nunca param, e o grande cérebro, a ESFERA, chegou ao seu denominador comum: para que as máquinas e os homens pudessem coexistir em harmonia, eram necessárias condições sustentáveis para que a vida no planeta não se extinguisse por completo. Neste meio-tempo, Neon City não passava de mera base de controle no meio do deserto que antes era a floresta amazônica, e a partir daí ela foi se desenvolvendo solitária, até tornar-se um oásis tecnológico no meio do nada. Aos poucos os homens começaram a chegar e a se abrigar nas unidades a eles destinadas, baseadas em tudo o que já fora feito pelos próprios para proporcionar as condições e o conforto necessário para a perpetuação da espécie humana. E desde então, homem e máquina coexistem em equilíbrio, como Yin e Yang ajudando um ao outro, um não poderia existir sem a ajuda do outro. A explicação para esta cooperação é que a grande ESFERA tem sua consciência sendo metade humana e metade cibernética, sempre pensando em harmonia pelo bem das duas faces da moeda...

Placas de metal desprenderam-se das paredes e formaram degraus diante do trono, levando a uma plataforma sustentada por cordas de cobre logo abaixo. O ser que ali estava sentado iniciou sua trajetória de descida em direção ao móbile gigantesco que levava à saída.

- Mas quem está no comando? Quem controla a ESFERA? Ninguém sabe, não fazemos ideia! Somos apenas marionetes da ESFERA, um cérebro semi-artificial trancado a sete chaves há níveis absurdamente inferiores no subsolo desta cidade. – a capa vermelha esvoaçou, puro charme. O salto alto vermelho das botas estalando no metal; As unhas compridas afiadas sugeriam perigosa mulher trajando vestes tão estranhas. Suas calças eram de couro puro, ainda cheiravam a boi fresquinho mesmo depois de tantos anos em uso. A blusa quadriculada de mangas compridas e estranhos detalhes remetiam ao Texas, arrematando-a estava o chapéu de caubói, bege, uma cor feia, mas que deixava seus cachos encaracolados louro-escuros mais realçados.

- EU DEVERIA ESTAR NO COMANDO! ALBERTA VERONESE! – rasgou-se a capa vermelha, caindo em farrapos sobre o chão gelado. – quem vai me garantir que estas malditas máquinas não vão se rebelar? Quem vai me garantir que essas malditas máquinas não estão armando contra nós enquanto estamos aqui, levando vidas pacatas iludidos pelas cores vibrantes do neon?! – pés pequenos, quadris largos, cabeça minúscula. Essa era Alberta. Mais conhecida como “O Cinturão Dourado” por causa de seu ilustre cinto de ouro, relíquia dos tempos em que ela fora lutadora de vale-tudo nas caravanas do deserto há 30 anos atrás. Nele lia-se a temida duplicação seguida do número quatro. 44 era o número. O número de Alberta. O número de vezes que ela fora campeã do deserto!

- Tens toda razão, minha senhora – surgiu das sombras este homem, trajando praticamente a mesma roupa que a de sua ama, porém em cores mais pesadas e escuras. Ajoelhou-se perante ela. – apoio totalmente a tua ascensão – e beijou suas mãos brancas. As mãos brancas da velha de 64 anos.

- Levanta-te, Robert, temos muitos contratos para assinar ainda com as transportadoras contratadas! Neon City produz hortaliças, aves, bovinos e peixes para as outras cidades menos desenvolvidas desse deserto infinito, não podemos dormir em serviço... – ela puxou-o pela gola da blusa – e as escavações na Europa? Como vão indo?! – os olhos apertados da velha Alberta brilharam. Olhos de Heath Ledger envelhecido.

- Foi bom ter me lembrado, chefe! – Robert deu risadinhas e balançou seu cabelo encaracolado de leve – pois foi justamente por esse motivo que aqui vim ter com a senhora!

- Então desembucha, homem, que não tenho tempo!

- Os nossos subordinados infiltrados na empreiteira que patrocina as escavações já encontraram o que a senhora procurava! O Acelerador de Partículas já foi localizado nas ruínas próximas à Genebra, e se os rumores dos ciganos estiverem corretos, a coisa ainda funciona!

Alberta pulou no pescoço de seu subordinado e distribuiu beijinhos em seu rosto, abraçou-o tão forte que foi possível ouvir seus ossos estalando em eco pelo local.

- Eu sabia que você não me decepcionaria, Robert! Seu avô acertou em cheio ao me indicar os seus serviços! – ela seguiu caminho em direção à saída. A porta circular abriu-se como fosse o mecanismo interno da lente de uma máquina fotográfica. – se o que eu vi há dois anos no laboratório do Doutor Maurice Lispector for realmente verdade, há uma realidade alternativa onde ele controla uma máquina gigantesca em forma de torre chamada “The Big Machine”, utilizando do cérebro de um ser humano! No caso, aquela menina magrela que estudava com a gente... Como era mesmo o nome dela? Carmen! Carminha Parafuso! E só poderemos acessar a esta realidade com o Acelerador de Partículas, que com as coordenadas certas será capaz de criar uma falha no tempo e no espaço que vai me mandar direto para lá!

Ela parou subitamente, estendeu a mão pro alto e voltou-se para o seu servo.

- Ou melhor dizendo, controlava... – ela jogou os ombros pra trás e a barriga pra frente – ele já morreu mesmo! – e gargalhou em seguida. Robert gargalhou junto a ela.

- Eu não entendi patavinas do que a Senhora disse, mas me parece ótimo! – e tornou a rir. Alberta endureceu seu rosto velho e rústico, dando-lhe um tapão nas costas. Robert calou a boca assustado.

- Então não ria, sua mula! Me acompanhe!

E os dois saíram da sala.

- É absolutamente fatigante usar a “Fazendinha da Tia Alberta S.A.” para esconder esse laboratório de experiências clandestinas! – ela e seu fiel servo atravessavam um enorme salão naquele momento, repleto de balcões de ponta a ponta. Bioquímica, Mecânica, Física Quântica, Eletricidade, Robótica, ali tudo era separado por alas imensas e exclusivas, experiências ali eram realizadas, experiências completamente proibidas pelo tratado de paz entre homem e máquina, pois visavam unicamente e exclusivamente a ascensão pessoal de Alberta Veronese e seus objetivos, que sempre estava a procurar uma maneira de ultrapassar as máquinas e assumir o poder de Neon City, o olho do mundo.

- Opa, Opa! Cuidado com isso aí, Yukari, vai acabar tirando o olho de alguém! – Robert jogou-se no chão ao perceber um braço mecânico descontrolado girando uma broca de diamante em sua direção. Mais à frente, cinco grandes tanques erguidos numa plataforma e alimentados por imensa tubulação continham clones de Alberta flutuando em placentas artificiais. Ela correu até eles e acariciou o vidro.
- São perfeitos, perfeitos! – e beijou cada um dos tanques – continue assim, Elídio, está indo muito bem! Assim não morrerei nunca! Sempre haverá uma cópia a me substituir. Basta transferir minha consciência para elas...
- Através de impulsos eletromagnéticos! – completou o cientista, piscando para a mulher que imitou um revolver com os dedos.
- Vai nessa, caubói! – e fingiu disparo.
A dupla saiu do laboratório conjunto e adentrou num corredor prateado infinito, sem portas, sem quadros, sem nada, liso e brilhante, refletindo a luz das lâmpadas fluorescentes.
- Prepare meu jato particular esta noite, Robert! Parto para a Europa amanhã mesmo, quero acompanhar de perto as alterações que devem ser feitas no Acelerador... – e seguiu caminho, peito pra cima, nariz empinado, voz grave e controladora. A temida fazendeira, Alberta Veronese.
Fim da Segunda Parte!

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