Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sábado, 24 de julho de 2010

The Big Machine II - Parte 11



- Que tipo de lugar é esse? – Gabrielle ainda estava hesitante no escuro, pisando vez ou outra no azulejo branco que piscava em azul após a pressão dos pés. Ao que parecia, toda a extensão daquele estranho corredor era feito de azulejos brancos, desde o chão até o teto, as paredes, absolutamente tudo. Não exatamente tratava-se de azulejo que ali recobria, mas alguma coisa devia de ser, apesar da aparência branca, quadrada e lisa, era macio e não parecia ser gelado. Algum tipo de estranho material. Maxine já ia longe, pisando firme, brincando de amarelinha, descobrindo cores que nunca havia visto no mundo de cima. Fernando tropeçou e apoiou-se na parede. O azulejo produziu a luz azul e uma nota musical estridente como saída da tecla de um sintetizador afiado. Assustado, o rapaz caiu de costas, acionando as luzes rosa, laranja e preto. A reação a isto foi uma peça que se desprendeu do teto, e para a surpresa dos três, os azulejos nada mais eram do que cubos, sim, grandes cubos macios como marshmallows dispostos um ao lado do outro nas paredes e no teto em espaços quadrados feitos para eles, como estantes. Assim que um caía, em seu lugar entrava outro, como que por mágica, se materializavam. Maxine ficou estática, de tão surpreendida que fora pelo cubo que desprendeu-se do teto bem diante dela. Se fosse de concreto poderia tê-la matado!

- Eu estou falando! Isso é armadilha, ta na cara! Vamos acabar morrendo! – exclamava Gabrielle, do escuro pré-corredor.

- Não seja boba, se a ESFERA nos quisesse mortos, já teríamos morrido! Viu o que aconteceu com a Ferrari? As abelhas passaram voando bem do nosso lado e não fizeram nada! – Fernando esticou a mão para Gabrielle – vamos, eu te ajudo!

- Parem! Parem! Fiquem parados aí! – gritou Maxine.

Os dois viraram-se para a amiga, que continuava parada feito estátua. Apavorada. O cubo que se desprendera do teto estava sofrendo um estranho efeito de retração, e isso de algum modo fazia os quadrados do chão formarem geometrias coloridas estranhas, quase alienígenas logo abaixo dos pés da garota. Então os quadrados que formavam as paredes e o teto tornaram-se pretos por completo, deixando branco somente o pequeno espaço que havia entre eles, de modo a parecer um estranho banheiro comprido demais. Uma música começou a tocar no último volume, e um letreiro digital em verde surgiu, piscando nas paredes, as letras formadas pelos quadrados diziam “CORRAM” enquanto se moviam túnel adentro. A reação foi imediata: o trio não pôde desobedecer.

- Mas que música infernal é essa?! – gritou Fernando enquanto tomava a frente na corrida pela vida.

- Bulletproof! La Roux! – respondeu Maxine gargalhando de nervosa enquanto dava olhadelas para trás, procurando algum robô ou máquina destruidora que estivesse os perseguindo com olhos de fogo e potentes canhões eletrônicos.

- Mas que diabos de banda é La Roux?!

- Cala a boca Grabrielle, cala a boca e corre! – Fernando com as suas pernas compridas já estavam longe. Maxine gritou, fora surpreendida por um estranho obstáculo que brotou do chão como uma planta nasce da noite pro dia no meio de uma clareira, só que numa velocidade absurda. Uma pirâmide foi cuspida pelos azulejos, uma pirâmide branca e brilhante que refletia os quadrados pretos da parede como um espelho, quadrados que piscavam e formavam figuras geométricas, serpenteando pelas paredes como monstros perseguindo os jovens em desabalada carreira, saltando cubos que caíam do teto, eneágonos que a parede soltava, violenta, cilindros que surgiam girando no meio do caminho, triângulos, esferas, cubos e mais cubos, agora coloridos e não mais brancos, estampados amarelos de bolinhas rosas, alternando com a cor do couro da zebra ou da onça. As estampas das formas geométricas gigantes que surgiam no caminho alternavam conforme eles avançavam no corredor.

- Porque eu estou me sentindo em um jogo de plataforma?! Porque?! – resmungava Gabrielle, ofegante, não conseguia mais pular os cubos que iam surgindo, agora em conjunto, formando figuras como num quebra-cabeça tetris diabólico e na vertical, cada vez mais coloridos e mais rápidos, caindo do teto, brotando do chão, cuspidos pela parede.

- Essa parede! Ela tocou uma nota musical quando o Fernando encostou num dos quadrados! – gritou Maxine.

- Sim, tocou!

- É isso! É isso! O Fernando acionou o tenorion! Nós estamos dentro de um tenorion! – Maxine deu uma pausa – bom, é quase um tenorion, porque...

- Abaixa! – Gabrielle pulou sobre a amiga e levou-a ao chão. Um enorme bloco com quatro cubos conectados um ao outro foi lançado pela parede, atravessando o corredor na transversal e sumindo na parede oposta.

- Porque é um corredor! Esses quadrados nas paredes funcionam como se fossem os botões luminosos de um tenorion!

- Mas isso é genial! Quem construiu isso?! – Gabrielle corria olhando maravilhada para as paredes que pareciam dançar frenéticas.

- Com certeza o mesmo cara que montou a Dark Side! Aquela boate da rua de trás da Octopus! Ele é o único arquiteto no mundo que conhece a técnica...

Maxine estancou subitamente apavorada, olhando para um Fernando que corria longe e depois pra trás.

- FERNANDO! FERNANDO! – gritava. O rapaz, distraído pelos gritos da amiga desesperada tropeçou numa barreira formada por quatro cubos em forma de “S” que surgiu logo após seu olhos terem virado para trás, a procura do motivo para os berros apavorados de Maxine. Foi quando ele percebeu que seu braço havia ficado para trás numa espécie de lâmina triangular, tirando de sua estrutura toda a tridimensionalidade e tornando-o da espessura de uma folha de papel.

- Mas que diabos... – ele meteu a mão no espaço vazio onde antes estivera seu braço, e para seu espanto, ali ele estava, mas invisível de algum modo. Ele gritou assustado ao perceber a presença do aparentemente perdido.

Gabrielle começou a chorar.

- O que está acontecendo aqui?! O que está acontecendo?! Nós vamos morrer?!

Maxine sacudiu a amiga.

- ACALME-SE GABRIELLE! – gritou – não vamos morrer se corrermos o mais rápido que pudermos! – as peças de tetris continuavam caindo sem parar, já estavam lotando o corredor, era praticamente impossível correr com aqueles cubos coloridos acumulados, perfeitamente encaixados. – e acho melhor corrermos mesmo! – ela apontou para o chão – olha só! Os tetris estão fechando um limite ao nosso redor! Estão nos prendendo! – nesse exato momento, um único cubo gigantesco tapou toda a visão das duas. Uma escalada apavorada e aos gritos começou, e por pouco elas não se viram seladas pra sempre no subsolo de Neon City, cercadas de tetris por todos os lados.

Metros à frente foi a vez de Maxine aparentemente perder uma parte do corpo. Sua perna ficara para trás, congelada no tempo, espremida no espaço.

- Esse lugar está prendendo a imagem dos nossos membros! – foi a conclusão que Fernando tirou após melhor analisar do que se tratava aquela perda repentina dos braços e pernas – Estamos atravessando algum tipo de campo que captura a imagem dos nossos membros e depois disso toda a luz que bate nele não é mais refletida! Deixando eles invisíveis!

Gabrielle e Maxine gritaram.

- O que foi?! O que foi?! – perguntava um corpo sem cabeça.

- Cala a boca Fernando, e agora corre! – fez Gabrielle. Os três estavam chegando ao final do túnel cujos temas quadrados eram o tenorion e o tetris, o impossível estava prestes a acontecer: exatamente no momento em que eles botaram os pés para fora do mundo de pixels, depararam-se com um salão escuro, de quadrada perfeição onde lâmpadas fluorescentes tubulares azuis flutuavam ao léu, de modo fantasmagórico a causar leve impressão de mistério e assombração. O incrível era que elas flutuavam em sincronia perfeita, pois as mais próximas do chão estavam dispostas na vertical em filas, e as do alto formavam belas formas circulares dispostas de modo a parecerem raios de sol. Os membros desaparecidos retornaram, e os três sobreviventes se abraçaram, aos prantos, aliviados.

- Agora vamos, adiante! – Fernando deu um passo à frente, e foi atingido de imediato por uma descarga elétrica que iluminou todo o salão, revelando as figuras pavorosas de Alberta e Robert escondidos nas sombras e longe da iluminação das lâmpadas. Maxine gritou e jogou-se sobre ele, tentando despertá-lo. Gabrielle não pensou duas vezes, começou a atirar, estourando uma leva de lâmpadas que lançou pó branco e vidro picado pelo ar. Outro raio atingiu-a em cheio. Maxine meteu a mão no cinto branco onde pendia sua arma.

- NEM TENTE FAZER ISSO! – grasnou a velha, atravessando o salão com o braço em riste faiscando na direção da garota. – ou eu estouro a sua cabeça aqui mesmo!

Fim da Parte Onze!

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