Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sábado, 28 de novembro de 2009

THE BIG MACHINE - PARTE 5!



Tudo era fumaça e destroços, tudo era nada e destruição, o superaquecimento do motor que mantinha o moinho de vento voando gerou várias explosões poderosíssimas, que lançavam Christopher cada vez para mais longe, agarrado à palheta, o vento e o calor o sopravam para longe, e em pouco segundos ele estava a metros de distância das explosões, caindo e caindo em direção ao cerrado abaixo de seus pés, pensando nas pedras que atingiriam seu corpo com toda a força, que o quebraria em várias pedaços internamente, pensando nos espinhos das árvores secas e tortas da terra pobre que iriam perfurar a sua pele e a sua carne. Aquilo só poderia ser um pesadelo, um grande pesadelo. Porém, antes que ele visse a luz do céu nesta realidade alternativa tão desconexa e paradoxal, algo o ergueu, algo lhe sustentou, e este algo o estava içando pra cima em alta velocidade. Um par de mãos lutava para mantê-lo seguro, a vista estava muito embaçada, tudo eram vultos de mata, de pedras de barro, de folhas e de destroços.
Vultos negros, rostos estranhos, traços perfeitos e lisos de uma máquina de última geração, pontos luminosos. Ele estava planando a poucos metros do chão em uma moto, mas não era uma moto qualquer, era uma Planária 3XD, exatamente igual ao Platelminto que dava nome a este meio de transporte movido a nitroglicerina, içado por um fogo azul infernal.
- Segure-se! Seu idiota! Não está vendo que estamos tentando te salvar?! – gritava uma voz conhecida, mas um pouco mais grossa. Meu Deus! Aquela era Fábia Paola! Era uma Fábia Paola muito magra e abatida, mas era Fábia de sempre, aqueles enormes seios não deixavam dúvidas! Seu cabelo agora era liso e curto, na altura das orelhas, um Channel futurístico, pintado de roxo, do jeito que ela sempre sonhara desde a adolescência. Mas seu rosto, havia algo de diferente em seu rosto. E não era só a magreza.
A coisa lá longe rugia. O cara que acelerava com ferocidade a Planária, puxou uma esfera negra do bolso, apertou um botão vermelho no topo da bola, este piscou várias vezes, e poucos minutos depois de lançá-la em direção ao robô enferrujado gigante, esta explodiu em um show de luzes vermelhas, atingindo a grande máquina velha em cheio. A versão mecânica de Carmen Parafuso tombou para o lado, uma das suas pernas fora perdida na explosão. Pelo visto, pensou Christopher, aquela granada tecnológica era muito potente, porque cada perna da engenhoca tinha mais de dez metros de altura! Era praticamente um edifício em movimento.
- ONDE ELES ESTÃO? – gritou o piloto, um tigre rugindo. Christopher arrepiou-se. Em meio à ventania louca, ao rugido metálico da Planária, e às explosões, ele mal podia ver o mundo direito ao ser redor, tudo era apocalipse, tudo era caos, as coisas estavam de cabeça para baixo, literalmente, pois a moto voadora agora voava de ponta-cabeça. Nesse meio tempo, Chris pôde ver mais três motos idênticas àquela, voando como falcões famintos por justiça, em sincronia, lisos, aerodinâmicos e prateados, aves cheias de luzes azuis na dianteira e nas laterais. Que lindas elas eram!
- EU NÃO SEI! EU NÃO SEI! EU NÃO OS ESTOU VENDO! ACHO QUE PIETRO LEVOU O FARELO!
- NÃO! AINDA NÃO! ELE NÃO PODE FAZER ISSO AGORA! NÃO PODE NOS DEIXAR NA MÃO! ELE QUE COMEÇOU ISSO!
- ESPERE! ACHO QUE VI ALGO CAINDO NAQUELE PEQUENO BOSQUE MAIS ADIANTE!
A moto acelerou com mais força. Muita força. Christopher quase sentiu seu coro cabeludo por pouco não ser arrancado. Agora ele não podia ver nada, porque sua cabeleira escura havia se transformado numa máscara que tapava completamente a sua visão, ele estava de costas para o vento. Em lapsos e espaços entre uma mecha e outra, ele podia ver o robô entrando em combustão, suas peças pesadas de bronze e ferro caindo como restos de um prédio demolido. Porém, uma coisa macabra aconteceu, uma coisa pavorosa e inesperada, que fez seu coração saltar e seu peito gritar automaticamente.
A cabeça do robô, de olhos de esmeralda, desprendeu-se do resto do corpo robótico, criou oito pernas de titânio como as das aranhas e caiu no chão duro com um sorriso perverso, lançando terra, pedras e barro para todos os lados e pondo-se a perseguir a Planária em uma velocidade absurda. O barulho de suas gigantescas pernas aracnídeas destruindo o chão do cerrado era infernal. Aquilo arrepiou Christopher dos pés à cabeça! Era assustador! O barulho do metal se aproximando era desesperador.
- AI! AI! EI! VOCÊS AÍ! OLHEM PRA TRÁS PELO AMOR DE DEUS!!!! – esperneava Christopher – A CABEÇA DAQUELE VILÃO DO DESENHO DO MÁSCARA ESTÁ CORRENDO ATRÁS DE NÓS NESSE MOMENTO! SÓ QUE AGORA NÃO É NEM UM POUCO PEQUENA!!!
Fábia gargalhou, puxou uma das granadas, apertou o botão vermelho e lançou. A explosão gerou uma onda de calor terrível que quase queimou o rosto de Christopher, se não fosse um pano preto que lhe atiraram para que se protegesse. Aquilo não adiantou. Meia cabeça continuava os perseguindo. Fábia gargalhou mais ainda. Pra ela aquilo era cômico, mas para ele era desesperador! Agora ele gargalhava, sim, mas de nervoso. Já pensou? Metade da cara da Carminha correndo atrás de você montada em patas metálicas de aranha? Que horror!
- Oi? – disse o piloto, colocando dois dedos sobre o ouvido, deveria ser alguma espécie de fone comunicador ou algo parecido – graças a Deus! Estamos indo para a Fortaleza Tecnológica de Asgard agora mesmo! – sua voz tornou-se um pouco mais alta agora, era para que Fábia ouvisse sua ordem – GAROTA! ACABA LOGO COM ISSO ANTES QUE EU TENHO UM ATAQUE!
Fábia gargalhou outra vez, e lançou mais uma granada. Dessa vez era um pouquinho maior que uma bola de golfe, o que fez Christopher engolir em seco. Por sorte, antes que ela lançasse a bomba, a moto Planária mudou bruscamente de direção, fazendo um voo vertical sinistro numa velocidade absurda. Assim, a esfera explosiva foi lançada, dando fim de uma vez à cabeça corredora. Fábia gargalhava como uma louca. Pra ela aquilo devia ser muito engraçado.
Após aquilo, a Planária viajou contrária ao sol poente durante uma hora. A Christopher foram oferecidas luvas, capacete e grossa capa de um material poderoso e desconhecido, para protegê-lo da ação da alta velocidade, a força do vento quente poderia queimar o seu rosto em poucos minutos, ou deixá-lo careca se ele fosse de costas. Logo eles planavam sobre um grande lixão, um lixão de restos robóticos gigantescos e pequenos, um lixão de velhas quinquilharias de vinte anos atrás como carros, motos, geladeiras, aeronaves e até tanques do exército. Havia ali grandes fogueiras feitas com borracha e papelão, ardendo e jogando fumaça escura no céu tingido de laranja do final da tarde. Aquela sim, era a visão do pós-apocalipse. Tudo ali era destruição.
- Onde estamos? – perguntou Christopher.
- Este lugar se chama Jazigo do Passado, onde o passado foi enterrado pra sempre, como diz a Carminha... – explicou Fábia em voz baixa – pra cá geralmente vem os robôs que já não servem pra mais nada, e pessoas também são jogadas aqui, após serem presas, condenadas e trituradas pelo tratamento de lixo de The Big Machine...
Christopher sentiu náuseas.
- Restos de pessoas são jogadas aqui como se fossem de lata?!
- Sim, isso é terrível! Há dez anos atrás, ou quinze se não me engano, o choro e a revolta eram respostas constantes à frieza e a crueldade impostas por essa nova ditadura mundial, mas agora todo mundo já tá acostumado... Porém isso ainda me enoja...
- Mas isto é... Isto é... É horrível! Onde estão os direitos humanos?! Onde está a justiça?! A piedade?! O perdão?!
- Isso não existe mais, não aqui. É tudo lei da nova religião dominante, ela criou tudo isso.
- Nova religião?
- Sim, o Maquinismo. Ou Divinismo, ou até mesmo a Supremacia. Ela prega que você deve seguir tudo o que diz A Grande Máquina, porque da Grande Máquina vem toda a verdade e é por onde Deus fala nos dias de hoje. Pois diz-se que Deus, vendo que as máquinas dominavam a mente humana, decidiu não perder os seus filhos para a tecnologia, e dela fez a sua boca... – ela parecia enojada ao dizer aquilo, uma raiva parecia a consumir como fogo naquele momento. Aquilo era mais do que asqueroso, era mais do que nojento. Era revoltante! Era o ápice da loucura e da blasfêmia, da heresia! Como Carmen pode usar o nome de Deus desse jeito para controlar a mente do mundo?! Que horrível! Aquilo era doentio, era macabro, era bizarro, assustador! Era um grande sistema de mentiras, crueldade e heresia. Christopher estava em estado de choque.
- E... Como as grandes organizações religiosas mundiais deixaram isso acontecer? O QUE HOUVE?
- Após 2012, o mundo sofreu um grande colapso. O mundo não acabou, não houve nada do que fora previsto pelo calendário Maia. Porém, as pessoas acreditavam piamente que haveria uma grande hecatombe espacial que trucidaria a vida humana no planeta terra, e começaram a agir feito loucas... Como se já não agissem assim antes! – ela parecia acanhada, assustada, intimidada ao contar aquilo – um surto de suicídios, assassinatos, roubos, destruição, incêndios, explosões... As pessoas começaram a fazer tudo o que sempre sonharam em fazer antes de o “mundo acabar”. Se lembra? Se lembra que na escola a gente sempre pergunta: “O que você faria se o mundo acabasse hoje?” e você dizia “correria pelado na rua?”.
Christopher riu.
- Sim, lembro...
- Pois é, as pessoas fizeram tudo isso... E muito mais. Se vingaram dos seus inimigos, estupraram, mataram, saquearam lojas, atiraram em presidentes e grandes líderes mundiais. Guerras eclodiram. Por exemplo, o Paquistão e a Índia não iam acabar junto com o mundo se um dois não ficasse com a região Caxemira, e estouraram bombas atômicas que destruíram e mataram milhares de pessoas em menos de cinco dias por toda a Ásia. Os Estados Unidos invadiram a Amazônia, a Rússia atacou a Romênia, os Franceses foram pra porrada com os Ingleses...
“E no Oriente Médio então? A coisa foi feia! Todos queriam a terra santa, não iriam morrer sem ter em poder o que lhes era por direito. A Bolívia invadiu o Acre e tomou as terras, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai tomaram Rio Grande do Sul e Paraná, sem motivo algum, pra falar a verdade, eles queriam só se proteger de uma possível tropa espanhola que viria por mar e tomaria os territórios de seus países com a ajuda do Brasil, uma loucura que algum hacker idiota lançou na internet em forma de spam, e como estavam todos loucos mesmo, resolveram acreditar. Enfim, foi uma grande loucura...”
- Você se lembra disso? Então quer dizer que não foi protegida pelo sistema de raios do Maurice?
- Fui protegida sim, todos nós fomos, mas acontece que vimos tudo isso em um vídeo educativo... – ela sorriu, triste e um pouco chorosa. Os capacetes eram completamente negros e reforçados, de modo que não havia como levantar aba ou coisa qualquer que os permitissem ver sem a película. Mas no interior do capacete havia um sistema de vídeo interno de plasma holográfico que permitia cada participante do sistema ver o rosto do outro através de uma espécie de rede, numa estranha conferência. Era sinistro, mas era tão legal! – e então, quando tudo estava uma loucura e quase ninguém mais acreditava no futuro, quando uma anarquia geral dominou o mundo do Pólo Norte ao Pólo Sul, Carmen Parafuso surgiu com “A Salvação”, com sua teoria louca de Deus falando através das máquinas... E as pessoas, que não tinham mais em que acreditar, em que sustentar sua existência, resolveram aderir ao movimento, e em poucos anos uma nova sociedade estava formada... Há cinco anos ela conquistou a Ásia e a Rússia, de modo que você pode ver que é tudo muito recente e muito intenso...
- E The Big Machine é o cérebro de tudo isso... – sussurrou Christopher.
- Sim, The Big Machine funciona como uma grande CPU, que possui várias réplicas menores ao redor do globo em prédios semelhantes que meio que só reproduzem o que ela diz, como telas de monitores. Estamos todos interligados por uma rede, por um sistema opressor, por The Big Machine...
- Isso quer dizer que, para acabar com isso, é preciso explodir aquela coisa?
- Bem... É impossível entrar lá, nada orgânico entra ou sai, só robôs e máquinas.
- Não sei por que... Mas esta realidade me lembra tanto o mundo do Megaman...
- É verdade...
- Mas então como entra a comida para a Carmen?
- Nós não sabemos, nós não entendemos como isso funciona... O Chris acha que ela própria se transformou num andróide com o tempo para justamente prosseguir dominando o mundo pela eternidade...
- Como ela foi capaz disso? Ela não era Protestante?
- Era, dissestes bem, era... Quando isso começou, os Protestantes foram os primeiros a contestar as novas teorias, a tentar abrir os olhos do resto do mundo para o que estava vindo, mas ninguém deu ouvido a eles porque estavam muito descrentes... Acabou que as religiões se dividiram, e nós, o grupo da Rebelião, somos um grande misto de religiões e crenças. O mundo ficou metade pra cá e metade pra lá, está dividido, mas com o tempo nos tornamos uma minoria e isto está nos preocupando muito...
Ao dar-se conta, Christopher estava num túnel que surgira do nada, um túnel sem piso. Abaixo, dos lados e no teto, tudo eram luzes, lâmpadas redondas afastadas milimetricamente umas das outras, dispostas perfeitamente como estrelas. Eles haviam entrado no esconderijo. No esconderijo dos Revoltados. Pasmem: a Fortaleza Tecnológica de Asgard fora construída exatamente sobre Monte Dourado!

Fim da Parte Cinco!

MEEEDO! ISSO TAH FICANDO MUITO COMPRIDO!!!!


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