Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

domingo, 29 de novembro de 2009

THE BIG MACHINE - PARTE 6!


Ao irem cada vez mais a fundo no túnel, novos universos foram se abrindo, e em poucos segundos eles giravam dentro de um grande caleidoscópio psicodélico onde até o mais esperto e calculista se perderia. Mas não aquele misterioso piloto, não ele. Ele sabia o caminho de cor. Sabia como ignorar aquelas ilusões geradas por computador, e por este motivo eles adentraram numa câmara oval, que fechou-se e lançou sobre eles uma espuma gelada, que resfriou as vestimentas que naquele momento estavam ardendo em altas temperaturas por causa da velocidade a que estava. Os indivíduos que as usavam não sentiam o calor por causa do sistema de refrescamento interno. Ali naquela câmara os três desceram da Planária, e após um scanner de raios vermelhos que os analisou de cima a baixo, vindos do nada, portas metálicas se abriram para um grande galpão.
“Saudações de C0MPyou-T3R a Saturno Revenge e Hanako Hanajima!” disse uma agradável voz delicada quase infantil e nada metálica, vinda do vazio. Era a voz da rede particular de Asgard. “Bem vindos de volta ao lar!”. Os olhos de Christopher saltaram das órbitas, seu coração não estava preparado para o que viria a seguir. Lá dentro, dezenas e mais dezenas de homens vestindo uniformes negros de borracha e óculos vermelhos como os que o Pietro do Futuro usava quando chegara do nada à escola esta manhã. Uns pilotavam braços mecânicos gigantescos, outros tinham em mãos maçaricos poderosos, outros faziam testes em automóveis futurísticos inacreditáveis que rugiam poderosos e animais.Tudo ali era um carnaval, um grande carnaval de sons metálicos, cores, faíscas e música, muita música. Algumas garotas muito jovens dançavam divertidas no alto de uma plataforma móvel, distraindo-se enquanto não voltavam a trabalhar no software do sistema interno do robô gigante parado no centro do galpão. Ali tudo era diversão, nem parecia que o resto do mundo era caos e opressão, ali havia um mundo particular e interno de milhares de pessoas que tentavam viver uma vida normal em meio à toda aquela destruição de sonhos e futuros. Uma de suas músicas favoritas tocava alto no som, "The Cycle" de Emilie Simon, sexta música do CD que, ora vejam só, levava o nome de The Big Machine. A maioria das músicas desse CD são críticas ao grande sistema em que a sociedade nos força a permanecer, lançado há 20 anos atrás, em 2009, se tornou praticamente o hino daquelas pessoas, o hino daqueles jovens que ainda nutrem fortes esperanças por um futuro livre de opressão, e permeado pela expressão.
Christopher se sentia um pouco culpado por aquele futuro triste, de certo modo. Pois na época em que ele vivia, a liberdade de expressão era mais do que permitida, era expressa e tangível a qualquer um que soubesse lutar pelo que queria, e agora aquelas pessoas estavam ali, de braços atados, trabalhando internamente para vencer o sistema cruel e mortal de The Big Machine;
Os olhos de Chris dançavam por entre as maravilhas tecnológicas daquele lugar utópico, era inacreditável. Ele entendia muito pouco sobre robótica ou tecnologia, não sabia como funcionavam as coisas nem como montá-las, e era fantástico ver aquelas pessoas trabalhando normalmente como se respirava, quase em sincronia com as máquinas, com o futuro no sangue. O robô gigante era humanóide, era mais uma armadura gigantesca do que um robô, uma armadura de castelo, da era medieval, em tamanho família, pois ao contrário do que acontecia com o robô-carmen gigante, a fiação não estava solta externamente, estava bem oculta, guardada por trás das placas de ferro cintilantes como cristal, protegida. Talvez por ser um robô muito novo.
Mas então a música parou, e todos deixaram de lado o que faziam, largaram maçaricos ou chaves de fenda, raios lasers e alicates, voltando-se para uma porta de metal que se abrira naquele exato momento, de supetão. Uma gritaria começou, houve rebuliço geral e muita confusão. Como houvessem esquecido que Christopher estava ali, Fábia Paola e o estranho piloto correram para as escadas mais próximas, abrindo espaço entre a multidão de pessoas que se aglomerava aos montes tentando subir para a plataforma do segundo andar, a fim de ver do que se tratava todo aquele alarde, todo aquele choro, aquela confusão. Christopher estava com o coração na mão, morrendo de preocupação. E se tivesse acontecido algo a Pietro? O garoto foi atropelado várias vezes por pessoas que ignoravam sua presença ali, de modo que ele acabou sentado dentro de um Subaru 2028 totalmente projetado para planar, num estranho formato que lembrava uma lagosta.
"Por favor, pessoal, afastem-se e se dispersem! Por favor! Precisamos de espaço! Temos um combatente ferido! Um combatente gravemente ferido, e vocês estão obstruindo a passagem do laboratório!" disse a infantil voz outra vez.Sem entender nada, Christopher desviou sua atenção do estranho banco onde havia caído sentado para as pessoas aglomeradas. Numa maca cinza, empurrada por dois paramédicos de preto, diferenciados do resto pelas braçadeiras vermelhas, estava estendido o corpo de uma mulher, ladeado por uma desesperada e chorosa Fábia Paola, que esperneava e gritava palavras desconexas, ordens que eram ameaças e pedidos de socorro. Seu rosto já abatido estava vermelho, completamente molhado pelas lágrimas, exatamente como era há 20 anos atrás, quando ela costumava chorar dentro da sala de aula, seu rosto retorcido pelo choro causava mais dor agora do que antes. Era terrível. Estendido na maca estava um tronco, um tronco sem pernas, tendo somente parte do flanco esquerdo e da cintura pra cima. Os cabelos escuros cacheados caíam para fora da maca como uma cascata negra sedosa e perolada como o céu noturno, seu rosto elegante, nobre e moreno, rosto forte e intenso, sensual e ao mesmo tempo repreensivo, estava pálido e quase inexpressivo. Sua boca seca quase branca por causa da perda de sangue se entreabria vez ou outra, tentando balbuciar pedidos de água. Seus olhos revirados escondiam as pupilas, ela estava delirando, estava dando seus últimos suspiros. A sua beleza e o seu porte lembravam uma poderosa e atraente orquídea, uma orquídea que estava morrendo, uma mais velha e ainda mais bela Ray Ann estava morrendo.
Christopher entrou em estado de choque, não conseguia se mexer, não conseguia respirar, o ar lhe faltava. Não só porque agora ele sabia que sua quase irmã Ray Ann morreria num futuro próximo, mas porque o misterioso piloto havia tirado seu capacete.
Não havia mais mistério, o piloto era ele. Era Christopher Umbrella. Um Christopher Umbrella muito mais velho, um Christopher Umbrella de rosto endurecido e sobrancelhas unidas sempre, um Christopher Umbrella mal-encarado e sisudo, estressado e preocupado. E aquilo lhe chocou profundamente, e magoou seu coração em dobro, em triplo, em quadruplo. Seu rosto era exatamente com o de seu pai: objetivo e cheio de preocupação, estressado e quase agredido. Como isso aconteceu? Porque isso aconteceu? Porque Ray Ann estava agonizando?
- O QUE ACONTECEU COM ELA, SEUS FILHOS DE UMA $*%#@?! – gritava ele, seus cabelos ainda escuros e já bem poucos, sem aquele volume da adolescência, grudavam na testa suada e franzida de preocupação. Os outros refugiados se curvavam com seus gritos, recuando mais de dez passos, abrindo clareiras às pressas naquela floresta de árvores escuras de borracha. E aqueles que participaram da operação em que Ray Ann sofrera o acidente choravam de remorso e medo.
- Nós não conseguimos chegar à tempo! Tivemos problemas com os Cefalópodes!
- QUE SE EXPLODAM OS CEFALÓPODES! SÃO ROBÔS DE NÍVEL OITO! SEUS INCOMPETENTES! COMO VOCÊS NÃO CONSEGUIRAM DERROTAR CEFALÓPODES A TEMPO?????!!!!!!
- Eles eram muitos, senhor! E quando chegamos à Câmara de Julgamento, já haviam aberto as portas da trituradora! Todas as Células do recinto nos atacaram ao mesmo tempo, por pouco não saímos de lá mortos também e...
- CALA ESSA BOCA! – ele desferiu um tapa no rosto do garoto, que caiu praticamente desacordado no chão. Ray Ann ainda conseguiu se segurar na borda da trituradora antes de cair no buraco, mas suas pernas não foram salvas. – CHAMEM OS MELHORES CIRURGIÕES! CHAMEM OS MELHORES TÉCNICOS EM MECATRÔNICA! QUERO QUE MAURICE E A EQUIPE DELE CUIDE PESSOALMENTE DOS SISTEMAS INTERNOS DELA! QUERO UMA ROBOTIZAÇÃO URGENTE! SUBSTITUAM TUDO POR METAL E TECIDO SINTÉTICO! EU QUERO ELA VIVA! JÁ! – o silêncio era mortal, assustador, cadavérico, nefasto, quase material. Christopher não conseguia mexer um músculo, era como se o seu pai gritasse com ele como nunca gritara, pela primeira vez.
Os paramédicos de preto correram em direção às portas automáticas de ferro cromado e cristal em faixas, o Christopher mais velho os seguiu de perto. Fábia Paola estava abraçada a alguém muito familiar. Sim, aquela era Suzannah, seus cabelos longos, de mechas mescladas castanhas e loiras a entregavam. O formato do seu rosto não havia mudado muito. A diferença estava nas rugas de expressão, porque seu rosto liso e perolado da adolescência parecia quase o mesmo. Ela parecia não sorrir a muitos anos, e tinha uma cara doente, não fosse pelo blush que ela nunca, nem em situações como aquela, dispensara a maquiagem. Continuava a mesma Suzannah de sempre. Uma mão misteriosa despertou Christopher de seus devaneios assustados, era Pietro, com roupas novas, camiseta e calça preta.
- Que susto você me deu! – exclamou Chris em voz baixa.
- Ei, sabes quem estava na maca agora a pouco? Eu não cheguei a tempo de ver quem era... Ouvi uns gritos teus...
- Não, não eram meus... Na prática não, mas na teoria, era sim...
- Era o Christopher do futuro? O que aconteceu por aqui então para ele estar tão furioso? Pelo que me contaram, foi ele quem ordenou a construção dessa fortaleza e uniu o exército da Rebelião...
Christopher não contaria para o amigo daquele jeito. Não ali. Não naquele momento. Era algo cruel demais para ser dito. Não que Ray Ann estivesse morta, mas no estado em que ela se encontrava, era impossível pensar num possível milagre. A não ser que a tecnologia daquele lugar já tenha chegado a tal ponto tão rapidamente. Em vinte anos.
- É melhor que você não saiba... Não agora...
Suzannah os estava observando desde muito cedo, observando com a curiosidade de um filhote aos dois. Aqueles dois indivíduos tão estranhos e deslocados, mas mesmo assim tão íntimos dela, seus rostos, suas expressões, suas vozes, era como voltar aos bons tempos, aos tempos de praça, de shopping, de música e de risadas. Seu coração acelerava toda vez que um dos dois subia uma oitava na voz. Eles eram como a válvula de escape daquele mundo terrível que havia tomado a sua volta. Estava tranquila quanto à amiga, ela estaria totalmente recuperada em vinte dias ou mais. Era preciso muita paciência para religar todos os nervos aos novos sistemas artificiais de fibras ópticas e titânio. E então ela se aproximou.
- Olá, meninos... – ela estava um pouco tímida, mas tinha um recado para dar. – fomos todos convocados para uma reunião de emergência daqui a duas horas, então, tenho de tomar conta de vocês até lá, para que não se metam em confusão.
- Como assim, confusão? – Christopher olhou para Pietro. Ele era o motivo. – ah, entendo...
Pietro sempre foi famoso por causar grandes desastres, desde que se entende por gente, sempre foi o mais desastrado. Suzannah os guiou pelos perfeitos corredores brancos internos da fortaleza. Aquilo parecia mais um hospital do que uma instalação qualquer. Volta e meia, eles cruzavam com um pequeno robô faxineiro que lembram muito o R2D2 de Star Wars, alguns Cefalópodes reprogramados para servir à fortaleza e gente com membros mecânicos. Aquilo os assustava bastante. E se por acaso um deles acaba voltando pro passado com um braço de metal? O que os pais deles diriam?
- Todo mundo por aqui tem um membro de ferro ou algo do tipo, ou isso é moda? – brincou Pietro. Suzannah lançou-lhe um olhar quebra-parede. Ele engoliu em seco. Havia dito besteira.
- Estamos na área de recuperação. – ela disse um pouco sorridente, aliviada por ter iniciado uma conversa com seus amigos de tanto tempo, coisa que ela não tinha tempo para fazer naquela confusão, porque o Christopher do Futuro era sisudo e calado, e Pietro do Futuro era super sofredor e não parava de viver da autopiedade, e isso a agoniava. – essas pessoas passaram pela cirurgia, que dura de três a cinco dias, e estão em fase de testes pra ver se conseguem se adaptar a vida cibernética!
- Isso é bem legal... E como a tecnologia avançou tanto em tão pouco tempo! – exclamou Pietro espremendo a cara contra um painel de vidro que se estendia por boa parte do corredor. Aquela ali era a ala de reparo dos membros cibernéticos. Haviam três pessoas sendo consertadas simultaneamente, duas delas estavam sendo reparadas por robôs-cirurgiões e a outra estava sendo tratada pessoalmente por um mecânico. Era sinistro, surreal. E deixando tudo isso para trás, os três continuaram seguindo corredor adentro.
- Avançou mesmo, até eu me surpreendo de vez em quando... É porque antes, até a noite passada pra ser mais exata, os robôs já faziam parte do nosso dia-a-dia, mas não tanto como nos outros estados ou fora do país, aqui a robótica ainda estava chegando... E então quando eu me acordo, as coisas já chegaram a este ponto... – Suzannah parecia perdida, desnorteada com tudo aquilo e sem reação. – eu ainda não consigo entender direito o que aconteceu... Me explicaram, mas eu achei... idiota demais! – ela fez uma careta como se recusasse algo. Christopher se aproximou alguns passos a mais. Estava curioso. Ainda havia muitos pontos soltos naquela história.
- O que te disseram? – perguntou Pietro. Suzannah hesitou, perguntando a si mesma se era certo contar a eles, se por um acaso aquilo não desacataria alguma ordem de Christopher, mas por fim, como era muito faladeira, cedeu ao apelo fraco, toda desconfiada, fazendo caras e bocas, como sempre fazia.
- Me disseram que o Pietro... Que não é você!
- Sim, nós sabemos! – exclamou ele. Queria logo partir para os finalmentes.
- É porque é muito estranho falar de você para você sendo que você realmente não é o você a quem eu estou me referindo e...
- ANDA SUZANNAH! – exclamaram os dois em coro. Era, Suzannah continuava a mesma.
- SIIIM! Me disseram que o Pietro era o primeiro nome de uma lista que continha os primeiros seres humanos a testar a máquina do tempo... – tudo se calou e eles se aproximaram mais, a voz de Suzannah era um sibilo praticamente – só que cada pessoa tinha o direito de voltar a um único momento do seu passado, sem poder alterar nada, somente para observar, por isso foram escolhidas pessoas extremamente profissionais e de confiança, dizem que os testes para escolher os caras duraram mais de três anos! E então o Pietro foi o primeiro a testar a tal máquina, e escolheu voltar pra noite em que ele perdeu o celular...
Pietro e Christopher se entreolharam arrepiados. Exatamente como ele tinha dito que faria um dia antes de tudo aquilo acontecer! E pelo visto, ele ficara com a ideia na cabeça esse tempo todo. Que grande loucura!
- Ele descobriu o que aconteceu com o telefone, finalmente... Você o tinha deixado cair – ela apontou para Pietro – e Pietro pegou do chão, e o trouxe para o futuro... Não era aconselhável, mas os cientistas analisaram a linha dos fatos e concluíram que aquilo tinha de acontecer mesmo, já que já estava registrada a perda do celular na memória de todo mundo...
- Sim, e o que mais aconteceu? – tudo estava batendo. Todas as especulações que eles haviam feito na quarta feira agora estavam se realizando.
- Acontece que a Carmen disque era faxineira do laboratório, e invadiu a sala da máquina do tempo! – ela parecia muito assustada agora, muito nervosa.
Pietro deu um tapão na testa. Christopher levou a mão à boca.
- Ca... ramba... – exclamou um dos dois, não importava quem fora, agora a situação estava sendo finalmente esclarecida por completo. As pontas soltas estavam sendo ligadas umas às outras como se pelas faíscas de um dos poderosos maçaricos que operavam nos robôs do galpão.
- Foi! – continuou Suzy – e então ela voltou no tempo e, detalhe, ninguém sabe como ela conseguiu operar a máquina sozinha... Porque ela não é lá muito inteligente...
- Suzannah – ribombou aquela estranha voz de antes. Aquela voz esnobe e severa que gritara há pouco tempo no galpão, com a chegada do corpo semi-triturado de Ray Ann. Christopher Umbrella, o Saturno Revenge, estava ali atrás do grupo. A pergunta a se fazer naquele momento era: Desde quando ele estava ali?

Fim da Parte Seis!


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