Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

THE BIG MACHINE - PARTE 7!




Aquele estranho homem, aquela alternância de realidade, aquele pingo de loucura, aquele ser tão fechado, de olhar cético e cínico ao mesmo tempo, braços para trás, cabelos compridos pouco mais abaixo do queixo. A franja da adolescência ainda estava ali, mas já era bem mais rala do que antes. Tudo parecia o mesmo. Christopher olhava a si mesmo através de um espelho caleidoscópico doentio que havia distorcido completamente a sua imagem. Aquele olho no olho durou segundos que pareceram horas. A compaixão brotou em seu coração, algo dizia "abrace-o", mas uma voz pouco mais racional que a outra dizia "mantenha distância". Aquele pedaço da sua personalidade trazido à tona nu e cru, rúdico e direto, sem acabamento nem arremate, o deixava desesperado. Aquele não era o seu futuro, não podia ser o seu futuro! Ele era exatamente uma versão mais nova de seu pai com cabelos lisos. Agora já mais ou menos enrolados na raiz. Com toda essa confusão, era impossível cuidar da aparência.
- Suzannah. Rapazes. Dirijam-se à sala de reuniões. O assunto é sério e urgente, de interesse geral – ele desviou seu olhar. Os três deram passagem, e ele seguiu a passos leves e seguros, longos e sensuais. É, Christopher Umbrella continuava rebolando mesmo após 20 anos. Aquilo meio que o envergonhava.
Os três se olharam assustados, deram de ombros e seguiram corredor adentro, na direção contrária a Saturno Revenge. Após minutos de silêncio, Suzannah colocou a mão na testa e iniciou um choro doloroso e quase inaudível. O coração de Christopher saltou. Estaria ela passando mal?
- Você está bem, Suzy? – ele parou e tocou-a no ombro.
- Eu... Eu não... Eu não sei porque isso está acontecendo! Eu não consigo acreditar nessa loucura! É como se eu fosse morrer em poucos segundos... É... Eu não sei! Estava tudo bem na clínica noite passada, eu tinha acabado de tratar de um Rusky Siberiano e eu senti, senti a dor dele, ele previa alguma coisa. Os animais estavam muito agitados noite passada...
Suzannah enfim havia se tornado uma veterinária como sempre quis.
- E então, quando eu me acordo esta manhã, está tudo uma grande loucura! É muita informação para ser absorvida assim!
A verdade que feria seu coração era cruel e paradoxal. Muito complexa para ser discutida no meio de um corredor branco semi-movimentado. Ao ser acordada pelo despertador naquela manhã, Suzannah já não era mais a mesma. Todos diziam a ela que ela era uma lutadora, uma revolucionária corajosa que havia feito tais e tais coisas no passado. Um passado que não existia em sua cabeça. Quando a linha do tempo foi alterada, cada um foi remanejado e recolocado em lugares diferentes e ocupações diferentes neste plano astral. Tudo foi modificado. Ao se acordar, ela não era mais veterinária, era um Soldado do Apocalipse, na verdade, uma Comandante! Que não se lembrava nem de como usar uma arma! A mesma coisa havia acontecido a Christopher, Pietro, Augusta, Ray Ann, Fábia Paola e todo o resto que foi protegido pela máquina de Maurice. Todos eles estavam sem rumo, desnorteados, e tentando arcar com as suas ocupações sem nem conhecê-las!
- Boa tarde, meus caros integrantes do Conselho Oficial Extraordinário do Apocalipse – começou o estranho Christopher do futuro. Frio como gelo. Aquilo arrepiava o Christopher "original". Era apavorante. Pietro e ele estavam sentados naquelas estranhas cadeiras futurísticas muito desconfortáveis e frias, pois eram de vidro puro, com os encostos para as costas em forma de cones côncavos que de longe até lembravam o formato de chapéus de bruxa. Os outros integrantes daquela bancada azul fluorescente circular, que tinha em seu centro uma réplica holográfica de The Big Machine, eram os mesmos que formavam o Apocalipse Club nos tempos de escola, na época em que Christopher Umbrella vivia. Ray Ann não estava ali, e ia demorar um pouco para se juntar a Congregação. Maurice também não estava. Com certeza coordenando e participando da robotização da amiga.
- Acho que posso dispensar quaisquer apresentações, todos vocês já se conhecem e conhecem estes dois indivíduos que fazem presença vindos ESPECIALMENTE do passado para presenciar a decadência dessa sociedade teleguiada e sem força de vontade! – ele estava brincando ou estava sendo sádico? Christopher estava se assustando com aqueles gritos raivosos e ao mesmo tempo empolgados que sua versão mais velha estava dando. Que horror! Não, ele não estava brincando, porque ali ninguém estava rindo. Pelo contrário, Suzannah e Fábia Paola estavam com cara de enterro e Pietro parecia meio revoltado. O Christopher mais velho sentou-se e pôs as pernas sobre a bancada abusadamente. Em que tipo de monstro ele havia se transformado?! Alguma espécie de Grinch? Ele cruzou os dedos sobre o peito – Muito bem, minhas ordens foram as seguintes: vá até o passado, avise aos garotos o que está acontecendo, convença-os da verdade e VOLTE!
O mundo parecia tremer com a sua fúria. Christopher estava segurando suas lágrimas. O Pietro do Futuro levantou-se dando um soco na mesa fluorescente que lembrava um disco voador. O vidro rachou e um líquido escorreu.
- EU JÁ EXPLIQUEI E VOU EXPLICAR DE NOVO! – rugiu o Pietro do Futuro – PARA QUE VOCÊ NÃO SE FAÇA DE SONSO NEM DE BURRO! EU JÁ DISSE QUE A ESCOLA FOI ATACADA POR UM ROBÔ BESOURO, EU NÃO IA LARGÁ-LOS À PRÓPRIA SORTE!
- DAVA-SE UM JEITO E DESTRUÍA A COISA! – rugiu Christopher de volta – NÃO FOI VOCÊ QUEM DISSE QUE AQUELA PORCARIA DE MÁQUINA ERA MUITO VELHA QUE RANGIA? ENTÃO PORQUE NÃO A ESTOUROU COM UMA GRANADA?!
- PORQUE SE NÃO A ESCOLA TODA IA ABAIXO! – era uma competição de rugidos e rosnados em oitavas altíssimas, dois leões disputavam território, leões que ficavam cada vez mais vermelhos e raivosos. Um grito agudo interrompeu tudo. Era Fábia.
- JÁ CHEGA! PAREM OS DOIS!
Tudo silenciou. Os dois se sentaram. O ambiente era tenso e mortal. Como se pairasse no ar gotículas ácidas de veneno, ninguém se movia com medo de ser atingido por uma dessas partículas invisíveis de revolta e culpa.
- O que teremos de fazer agora é mandá-los de volta! Apenas isso e somente isso! A esta altura o robô besouro já voltou para a nossa época! – concluiu Fábia dando voltas em torno da mesa redonda. – o que me faz pensar agora: COMO ela soube dos nossos planos? Como ela soube que iríamos ao passado? Tudo foi discutido aqui, nada saiu desta sala! Pelo menos eu acho, não é? – ela olhou de rosto para rosto.
- A não ser que tenhamos um traidor entre nós... – o sadismo venenoso estava de volta.
- O que você quer dizer com isso?! – Pietro já se levantava da cadeira outra vez, até Suzannah empurrá-lo de volta ao assento.
- Dá pra vocês dois pararem com isso?! – exclamou ela. – vem cá, onde se meteu a Augusta? – Suzannah virou-se para a porta, e depois fitou os rostos amuados dos dois jovens viajantes do tempo, pareciam filhotes que haviam levado a primeira bronca séria, isso a deixava um pouco envergonhada. Devia ser triste para eles ver em que haviam se transformado naquela realidade alternativa perturbadora: dois adultos frustrados e brigões.
- A Tenente Augusta Montgomery está em missão. – disse Christopher friamente – então, o fato é que temos um espião, um traidor entre nós, ou alguém foi BURRO o bastante para ir falar sobre isso fora desta sala! Convocaremos uma nova reunião assim que...
De repente, a sala tremeu. Mas não foi um abalo qualquer. Um abalo fortíssimo, digno do mais poderoso terremoto lançou vários deles ao chão, era como se alguém estivesse chacoalhando o piso de um lado para o outro, impossível de ficar em pé, o mundo balançava e virava de ponta-cabeça, mas você não. A mesa redonda tombou de lado, batendo com força no chão, fazendo voar pedacinhos de azulejo para longe. Duas poltronas de vidro também tombaram, se desfazendo em pedaços afiados e mortais, que arrastavam-se pelo chão e espalhavam-se graças à intensidade do abalo. O ambiente girava, sacudia intensamente. As luzes, provenientes da mesa fluorescente e do holograma apagavam e acendiam loucamente, transformando a sala numa boate de perigo e morte.
O abalo cessou, e então, a luz se estabeleceu outra vez. A diferença foi que uma espécie de sirene foi acionada e uma luz vermelha que estava sobre a porta começou a piscar freneticamente. Christopher e Pietro do Futuro foram feridos nos braços e nas pernas, Suzannah teve uma abertura no ombro e Fábia por pouco não perde o dedo médio. Os dois intrusos vindos do passado permaneceram intactos, pelo zelo divino. O holograma imediatamente mudou de forma, assumindo as feições de uma jovem mulher de pele clara, cabelos castanhos longos e ondulados divinamente até o meio das costas. Bela como um anjo, seus olhos enormes pareciam botões, e sua voz infantil e agradável não deixou mais dúvidas, era o software operador do sistema interno da fortaleza, ou pelo menos a forma que ele tomava. Usava longo vestido de couro que da cintura para baixo era uma nuvem de seda marrom, suas longas luvas que deixavam os dedos de fora também era de couro, repleta de argolas coloridas de cima a baixo, além de fitilhos e pequenas correntes.
- Estamos sendo atacados, meu senhor, estamos sendo atacados por um robô de Nível Três, última geração, criado recentemente pela linha de produção de The Big Machine. – disse a bela moça holográfica com voz de anjo – meu sistema já iniciou o programa anti-vírus, e o escudo magnético já foi acionado, mas isto não vai os deter por muito tempo. Eles estão em grande número e tem um arsenal perigosíssimo. O esquadrão anti-invasão já foi acionado e está tomando posições. – a imagem da jovem de sotaque francês foi imediatamente substituída pelas imagens do circuito externo da fortaleza. Eles pareciam um grande enxame, um enxame de insetos, estavam em 50 ou mais, e eram maiores que uma van escolar se fossem colocados na horizontal. Tinha praticamente 4 metros de altura cada um, o corpo das máquinas era preto, mas os parafusos e a armadura em geral que recobriam peitorais e braços eram vermelhos. Eles tinham antenas e olhos também, lembravam pequenos anões voadores com carapaças de joaninha, eram troncudos e enormes.
O Christopher do Futuro puxou um cinto metálico de algum lugar que os dois jovens não viram, pois as luzes voltavam a falhar e o piso iniciava o mesmo chacoalho de antes. Atirou a eles o artefato e disse:
- Já está ajustado para o dia e a hora, agora apertem o botão! – ordenou ele. Os dois garotos estavam desnorteados, não sabiam se prestavam atenção na explicação ou se balançavam seus corpos naquela dança mortal instigada pelos abalos da estrutura do prédio. A mesa redonda explodiu, lançando líquido e vidro pra todo lado, o teto rachou, liberando fiação e encanamento. Um pequeno incêndio começou nas paredes, água surgia dos canos estourados. Cabos arrebentados serpenteavam irados pelo espaço ao léu, prontos para atingir e matar o primeiro que chegasse perto demais. Se aquilo caísse na água que já se acumulava no chão, seria o fim!
- AGORA! – rugiu Christopher, mais uma vez um felino perigoso e letal.
E após um gesto simples, o chão sumiu, o mundo ficou para trás, a escuridão os tomou por completo como se fossem forçados a piscar. Luzes coloridas dançaram, e outra vez eles estavam na escola. Na mesma sala escura em que eles estiveram há algumas horas atrás. Mas algo não estava no lugar, algo ali era anti-natural. E o algo era este: não havia mais teto, e o céu azul de Macapá era completamente visível dali, assim como pedaços da quadra do andar superior e prédios à distância.
Ali estavam os dois. Enjoados. Desnorteados. Completamente perdidos. No tempo e no espaço.

Fim da Parte Sete!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

E então? O que achou?