Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

THE BIG MACHINE - PARTE 8!

O Centro de Ensino Cyclone, colégio particular de área nobre da cidade explodiu no meio desta manhã, exatamente às nove horas. O prédio foi evacuado imediatamente, 50 pessoas ficaram feridas. É o maior desastre já registrado na história de Macapá, nossa pacata Macapá,querida capital, onde há algum tempo atrás nada disso ocorria, estaríamos nós enfim virando uma desastrosa metrópole como os pólos urbanos do sul?.





O jornal noticiário local não fazia pausa, não deixava respirar, não dava paz. De minuto em minuto, em cada esquina, em cada restaurante, todos os celulares tocavam, os motores dos carros rugiam, os computadores gemiam ao se conectar à internet, era um caos de informação correndo solta. Até mesmo o Jornal Hoje da Rede Globo fez referência ao ocorrido. A cidade parou. Há um grande risco de desabamento, as moradias ao redor do prédio foram isoladas, e a rua fechada. A polícia e os bombeiros ainda estão no local. Ninguém sabe o que ocorreu, ninguém é capaz de dizer coisa com coisa. Em um minuto o teto estava lá, e depois não estava.
A metade Oeste do segundo e do terceiro andar estão completamente destruídas, como se uma grande boca de metal gigantesca tivesse abocanhado o concreto e o ferro feito uma grande bolacha velha. Os dois garotos desceram as escadas evitando a fiação solta e a água que escorria do encanamento quebrado em jatos enormes. O risco de morte era tenso. Tudo era poeira e destroços, como se o apocalipse tivesse ocorrido somente ali, em uma verdadeira bolha de catástrofe.
- Isso me lembra muito a quadra do filme Carrie, A Estranha, depois que a Carrie pira de vez... – comentou Christopher desviando de um pedaço de concreto que se desprendeu do teto, dando um susto em Pietro que caiu sentado e molhou seu traseiro com água.
- Oh, que droga... – exclamou ele, levantando-se com a ajuda do amigo – eu ainda não acredito no que aconteceu. Se nós dois não tivéssemos presenciado a mesma coisa, eu com certeza acreditaria que fui atingido por um pedaço de concreto e que acabei de me acordar.
- Nem é isso o que me preocupa, eu já estou bem convencido, convencido o bastante desse futuro terrível... – Christopher ainda tinha em sua memória a visão triste dos seres frustrados e deprimidos que eles haviam se tornado – eu só quero saber COMO faremos Carmen deixar de ser popular!
- Isso vai ser bem difícil, mudar a imagem dela de durona controladora a esta altura! Ela se tornou uma versão feminina terrível do Alexandre!
A esta altura, os dois rapazes já cruzavam os portões retorcidos da escola para debaixo do jambeiro que parecia sombrio em meio à noite escura daquela rua deserta evacuada. Poeira e pequenos pedaços de concreto rolavam lá de cima a todo o momento, dando os últimos avisos do grande desfecho da escola: escombros. A grande fachada da escola, imensa feita de blocos pesados de cimento, estava pela metade. Grande parte dela estava no chão, na rua, sobre as casas ao redor. O logotipo da escola já era. Odilene deveria estar louca a esta altura. E loucura fazia Christopher lembrar-se de uma coisa, sua mãe deveria estar louca, desesperada. Já eram oito da noite, coisas terríveis deveriam passar pela cabeça de Kate naquele momento.
Nada do filho fora encontrado nos destroços da escola, se não a mochila e o material escolar. O mesmo se passava na casa de Pietro naquele momento. Apenas a mochila do garoto fora encontrada, intacta, mas nem sinal dele. Os bombeiros vasculharam todo o prédio, de cabo a rabo, e, sendo sincero, não estava tão destruído a ponto de ser impossível encontrá-los. Para falar a verdade, estava quase intacto, seus destroços haviam voado em várias direções para fora, e os destroços de dentro eram poucos, mas não inexistentes. Entre as pedras, as cadeiras, os quadros e os bebedouros, nada, apenas restos de material escolar. Não havia mais ninguém ali.
Assim que os dois dobraram a esquina em direção a Avenida FAB, um estalo medonho rasgou o céu em pedaços. E então o quarteirão inteiro foi engolido pela poeira. A escola havia ido abaixo, como o som de um desmoronamento, como se um gigante houvesse chutado uma montanha e desfeito-a em pedregulhos mortais que rolavam em todas as direções. Os dois correram o mais rápido que puderam até chegar a próxima esquina. Estavam a salvo. De volta do futuro.
Assim que chegou a casa, Christopher causou grande comoção. Seu pai que morava fora havia vindo com urgência para a cidade. E estava ali, sentado na sala, numa das antigas cadeiras de madeira que há muito acompanham a família. Ao vê-lo ali, Christopher derramou lágrimas de sentimentos confusos. Ele estava olhando para si mesmo, num futuro não tão distante. E aquilo era doloroso demais. Foi difícil dar explicações, tanto para Pietro quanto para Christopher. Pietro levou a maior surra que já havia levado em toda a sua vida, seus pais achavam que ele havia fugido da escola naquela manhã, enquanto Chris levou um tapa da mãe, e em seguida um abraço.
Os dias passaram, um após o outro, sem aula, sem escola, sem amigos, em casa, na internet, toda tarde, a tarde toda. Às vezes uma mensagem ocorria, ou um telefonema rápido de Fábia Paola ou de Ray Ann, só para saber como andavam as coisas. Os dois jovens viajantes do tempo não fizeram questão de contar o ocorrido para ninguém, até porque nenhum deles jamais acreditaria. Ninguém jamais acreditaria. Porém, aquelas estranhas imagens continuavam indo e vindo num REW automático em sua mente. Os robôs, a linda mulher do holograma, seu rosto duro e frio envelhecido e decepcionado pelo tempo, as explosões e toda aquela agitação. A imagem de Ray Ann completamente pálida, de lábios rachados e sem as pernas era de toda a mais dolorosa. Teria ela morrido afinal?
Como ele queria! Como ele queria voltar ao futuro! Como ele queria ajeitar tudo aquilo! Queria dar um último abraço em Ray Ann, queria acalantar o choro de Fábia, queria abraçar o seu eu Mais Velho, queria destruir aquela máquina, aquela maldita máquina, a CPU do mundo. Estranha sensação era aquela. Ele tinha deixado algo mal-resolvido no futuro, no futuro! Que nem sequer aconteceu ainda! Geralmente se deixava algo mal-resolvido no passado, e aquilo lhe dava náuseas, porque era doentio pensar daquela forma, e confundia sua mente por completo.
Era também impossível calcular como Carmen Parafuso havia chegado ao ponto em que chegara naquela realidade alternativa. Era praticamente impossível. Ela era só uma maluca de colegial, nada mais. Isso o assustava muito, muito mesmo. Como parar aquilo? Como desfazer aquilo? Este era o mais difícil.
- Precisamos conversar – disse Christopher ao ser recebido por Ray Ann no portão de sua casa. A cadela de estimação da família estava agitada como sempre, tentando arrancar os cadarços de todo mundo. Já faziam quase três semanas sem aulas, e a reconstrução do prédio nem havia começado. O caso ainda era muito repercutido, e ninguém havia descoberto a causa da explosão ainda. Não houve sequer sinal de fogo.
- Diga, então! O que era? – perguntou Ray Ann, muito curiosa, certificando-se de que não havia ninguém os ouvindo do outro lado da porta.
- Eu sei que vai parecer loucura e tal, mas você tem que acreditar, Ray! Tem de acreditar! – ele mal começara, já estava chorando – é questão de vida ou morte! Da sua morte!
- Ei, ei, ei! – ela abraçou-o rapidamente, como se o sustentasse para não cair – para com isso, Chris, você está me assustando! O que houve?
- Eu e Pietro fomos para o futuro! A escola foi demolida por um robô-besouro! A Carmen é a futura imperatriz mundial! – ele não conseguia organizar as informações, de maneira alguma, é como se tudo estivesse vindo para fora só de uma vez, uma avalanche, um bug de computador, que ao ser persuadido a acionar vários programas, abre várias janelas ao mesmo tempo, só de uma vez, após um período angustiante e estressante de cálculos. Ray Ann não sabia o que falar, talvez o ocorrido tivesse traumatizado o garoto, estava muda.
E então aconteceu. Ela surgiu como um vulto na janela, como uma poderosa pantera de armadura, usando apenas um manto para cobrir seu corpo perfeito feito da mais rara fibra de diamante, do mais duradouro titânio, reluzindo à luz do sol quente de meio dia. Ray Ann gritou e caiu para trás. Christopher pôs-se pé num pulo rápido, virando-se para aquele estranho ser empoleirado no parapeito, que já esticava as pernas para pisar no colchão e adentrar de uma vez no quarto. Aqueles cabelos negros reluzentes e esvoaçantes eram inesquecíveis, ainda mais quando eles estavam exatamente atrás de si naquele momento. O presente e o futuro separado por um corpo, um corpo orgânico de coração palpitante diante do metal pulsante e reluzente. Era um andróide, um estranho andróide, com pernas de metal e busto humano. O que não era robótico estava oculto por placas de ferro como uma armadura, de modo que os dois adolescentes surpreendidos pela estranha presença sequer suspeitaram de ser algo definitivamente humano.
Mas o rosto, o rosto era de Ray Ann, claro, estava um pouco mais velho e mais esperto, os olhos estavam arregalados e as orelhas bem atentas. Totalmente diferente da Ray Ann que todos conheciam. Suas expressões eram diferentes, seus movimentos eram diferentes, felinos, até a sua voz era um pouco diferente. Sim! Não fora sonho nem loucura! Ele havia realmente viajado até o futuro, e havia um andróide na janela da casa da sua melhor amiga. E este andróide era ninguém mais ninguém menos que a sua própria amiga, vinda do futuro.
- Mas o que está acontecendo aqui?! – gritou uma Ray Ann desesperada aos fundos, buscando algo para se defender, a primeira coisa que estava ao alcance, um espelho.
- Calma, Ray! Calma! – agora era Christopher quem tentava acalmar a amiga – era do que eu estava falando! Veja! – ela ajudou o andróide a entrar pela janela, e como era pesado! Do lado de fora, o tempo havia parado, exatamente como acontecera quando o Pietro do Futuro viera para o presente. Os carros pararam em movimento, os pássaros pararam no voo, as pessoas estancaram ao atravessar a rua, e um cachorro parou exatamente quando fazia xixi num poste.
A Ray Ann andróide entrou, limpando a sua lataria e verificando se não havia algum arranhão, era vaidosa acima de tudo. A cama estalou, o peso do titânio arrebentou a madeira, dobrando o colchão. A andróide assustou-se e pulou para fora da cama, tomando cuidado para não destruir o pequeno quarto em formato de L onde a Ray Ann do presente dorme.
- Opa, mil desculpas, eu sempre me esqueço que toda essa lataria pesa, perdão! – ela ajudou Ray a se levantar do chão. A garota estava molenga, quase que uma boneca de pano, suas pernas estavam bambas, não havia reação alguma que seu cérebro conseguisse processar e enviar para o resto do corpo, a não ser admiração e surpresa, ela era passiva ao momento de vislumbre, muda como uma rocha, como as pessoas paradas no tempo, do lado de fora. A andróide olhou o quarto bagunçado de um lado a outro, analisando cada detalhe com a sua nova visão, a antiga fora substituída por um sensor computadorizado que capta movimentos e detalhes, mínimos detalhes como composição de um objeto e até a idade de uma pessoa. Ray Ann havia tornado-se uma supermáquina.
Christopher sorria aliviado! Feliz como nunca estivera! Ela estava viva! Ela vivia! Maurice conseguiu transformá-la num cyborg! Ele quase pulava de alegria ali mesmo.
- Quem... É... Você? – foi o que Ray conseguiu balbuciar, a única coisa que seu cérebro conseguiu processar após esse estranho choque de realidades, um sussurro de receio e admiração.
- Ora, eu sou você! – disse a robô, brincalhona.

Fim da Parte Oito!


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