Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

domingo, 13 de dezembro de 2009

THE BIG MACHINE - PARTE 11!

Algumas coisas estavam começando a ficar muito claras agora. Muito mais claras. Era como se um novo raiar do dia estivesse surgindo no horizonte de prédios de bronze e titânio. Num mundo de robôs de alta-tecnologia, corações de metal, sentimentos confusos e entrelaçados como cabos de eletricidade, computadores travados, vírus eletrônicos e códigos binários. Não há tempo para sentimentos, não há tempo para pensar. Era hora de agir.
E então Augusta Montgomery, seu marido Pietro Heinrich e seu melhor amigo Maurice Angels haviam se voltado contra Christopher Umbrella naquele futuro doentio e distorcido. E o motivo estava claro, estampado, explícito para quem quisesse ver. Os três simplesmente não aguentaram toda aquela pressão, não aguentaram a falta de consideração e todas aquelas grosserias que partiam de um sádico Christopher, não admitiram aqueles maus-tratos sem motivo aparente, e resolveram ir para o lado do “mal”. Mas as coisas eram muito mais complicadas do que a mente atrasada de Chris podia calcular e lembrar, os fatos iam muito além disso, o ponto exato, e todos sabiam, na era estes. Christopher Umbrella, ou Saturno Revenge, tinha os seus motivos para tudo aquilo, tinha motivos para agir daquela forma.
Motivos que o Christopher de apenas 16 anos desconhecia. Mas que estava prestes a conhecer. E então, caros amigos, chegamos a um ponto crucial da história onde o centro da trama já não é mais o grande império cruel de robôs que mantém o planeta sob um regime a, literalmente falando, punho de ferro e a solução para libertar a humanidade da escravidão. Mas sim o que levou a todo aquele conflito, a aquela inimizade inesperada, a aquela separação de amigos de longa data. A poeira finalmente baixou, e assim Christopher pôde perceber que a multidão que estava atrás deles tinha armamento pesado, e estava esperando o sinal esse tempo todo para o ataque final. Porém, Saturno Revenge não o fizera, o que havia deixado a todos muito confusos. As armas já estavam abaixadas àquela altura.
- Porque os deixou fugir? – questionou a andróide tirando os restos de concreto dos cabelos e partindo para cima de seu amigo – nós tínhamos condições de mantê-los presos aqui! Você poderia ativar o escudo magnético com um movimento da sua mão! Porque não fez isso?!
- Eu estava farto de ficar olhando para a cara daqueles sonsos todo dia, cansado de falar com eles. Cansado de engolir a frieza deles, cansado de vê-los agindo como se nada aconteceu! – desabafou Christopher em um único momento de fraqueza. A liga metálica proveniente da fantástica manopla recolheu-se para a luva, e a pedra avermelhada voltou a ser alaranjada.
- Não precisa nem dizer que você está agindo feito uma criança! – escandalizou Ray Ann – ora! Eles estavam nos ajudando, eles estavam do nosso lado! E estavam sim, agindo como se a briga de colégio de vinte anos atrás não tivesse acontecido porque queriam ajudar, queriam que a convivência se tornasse mais fácil, mas você foi burro o bastante para continuar agindo como um imbecil e jogá-los direto nos braços da Carmen!
Christopher e Ray Ann, atuais viajantes do tempo, se entreolharam confusos. De que briga ela estava falando? O que aquilo queria dizer? Seria a chave para todo o rancor?
- Chris, o que aconteceu com você? – ela tocou o rosto marcado pela angústia com sua mãozinha delicada. Não havia crescido nada desde os tempos de escola. – cadê aquele cara de antes? Cadê aquele cara que sabia o que era perdão? Aquele cara que sabia esquecer o passado como ninguém e colocar a bola pra frente? – ela tinha o rosto choroso, como se tivesse pena da figura que se dispunha diante dela naquele momento. O canto da boca retorcido, as sobrancelhas unidas, a cabeça balançando de leve em negação.
- Christopher Umbrella morreu. – disse ele, friamente, afastando a mão da amiga. – contatem Fábia Paola! – ele se dirigia aos oficiais – reunião urgente! O restante dos soldados, dispersar e aguardar futuras posições! Preparem-se!
Cinco homens irreconhecíveis vestidos nos uniformes comuns usando as braçadeiras vermelhas seguiram-no, Suzannah também fez o mesmo.
- O que vai fazer agora, Chris? – perguntou ela, nervosa, apressando o passo para acompanhá-lo.
- Vamos invadir a Máquina! – e pela primeira vez, ele esboçou um pouco do verdadeiro sorriso de entusiasmo, há muito não visto.
- MAS O QUÊ? – Suzannah estancou – você ficou maluco?! Teremos sorte se eles substituírem nossos cérebros por CPUs e nos colocarem para trabalhar no comércio legalizado! Isso se não virarmos picadinho! É suicídio!
- Não se tivermos um plano – ele virou-se para trás, para a andróide Ray Ann decepcionada e seus dois acompanhantes temporários – o que vocês estão esperando?! Venham logo! Não temos o dia todo!
De volta à sala branca. Tudo estava exatamente como era antes do ataque das joaninhas. Com exceção de uma coisa. Uma grande coisa. Bem GRANDE, na outra extremidade daquela grande sala, após a enorme mesa redonda fluorescente em azul, oculto pelo grande holograma que era novamente a moça de sorriso encantador e grandes olhos castanhos havia uma tela, uma grande tela LCD de dois metros de altura. Cabos elétricos enormes desprendiam-se dela como serpentes multicolores perfurando o teto vorazmente. Sentado diante da enorme tela estava um homem. Um homem magro, mas relativamente forte. Seus ombros eram largos e ele tinha uma expressão frequantemente concentrada, como se nada pudesse abalar a parede que havia entre ele e o mundo, uma parede que o mantinha íntimo às máquinas, íntimo ao seu brilhante computador.
Único no planeta, perdendo somente para The Big Machine, operava naquele prédio e em mais três espalhados pelo mundo afora. Don Hills era o mentor, o criador, o pai daquela supermáquina, criada especialmente por ele, programa por programa, peça por peça, 10 anos de trabalho. Sua única exigência era operar através daquele monitor de LCD gigantesco, não era lá muito chegado a hologramas, tinha raiva do que não podia tocar.
- Oh, meu, Deus! – exclamou Ray Ann – mas é o Don! O Don! Como ele está diferente! – um sorriso enorme tomou conta do seu rosto moreno. Era um alívio vê-lo vivo ali, depois da visão terrível da destruição parcial da casa das suas tias, poucos segundos antes de vir para o futuro. Ela não pode se conter! Nem poderia! Ela empurrou todos, tirou todos do seu caminho e saltou sobre o homem sentado naquele verdadeiro trono diante do monitor.
- Mas o que significa isso?! – espantou-se Don, levantando-se da cadeira nervoso, tentando ver de quem se tratava seu salteador. E espantou-se mais ainda ao ver que era uma versão mais nova e menos metálica de sua prima Ray Ann. – Por Deus! Mas... Oh... – ele desviava o olhar da garota para a mulher andróide, mais rápido do que podia. – eu não acredito que você a trouxe!
- Nossa casa foi destruída! E temo que algo de muito grave tenha acontecido... – ela não estava nenhum pouco feliz, era a única dali que não estava nervosa ou empolgada, estava chateada, irritada. Com exceção de Christopher que estava completamente perdido naquela situação. Em poucos minutos, todos estavam amontoados ao redor da grande tela, esperando os esclarecimentos de Don Hills. Aberto em fullscreen na grande tela estava um programa, uma imagem.
- Muito bem – ele se pôs de pé – temos aqui o plano completo em 3 dimensões do interior e exterior da torre... – conforme ele falava, a grande reprodução mudava de ângulo e posição, mostrando engrenagens, cabos enormes, salas, compartimentos, entradas e saída de lixo e de sucata, linhas de produção metalúrgica e queima de combustíveis. Era incrível. A sincronia perfeita entre a mecânica arcaica e a tecnologia futurista. Sala da caldeira, centro de operações de sistemas com placas enormes, drivers e afins, cabos de aço enormes, engrenagens intermináveis, como num grande relógio. Havia também partes colossais que lembravam peças de motores de carros, turbinas giratórias de avião e sistemas hidráulicos, um verdadeiro carnaval de ferro, titânio, aço e bronze.
- Após um mês de estudos, eu consegui verificar uma única falha no sistema de segurança da Máquina – disse Don Hills, curvando-se para a tela e tocando no LCD com seu dedo fino com muito cuidado. Rapidamente, uma enorme imagem abriu-se. Todos deram vários passos a frente – o descarte do triturador!
Todos deram passos nervosos e aglomerados para trás.
- Acalmem os ânimos, pessoas! – disse ele, divertido, ajeitando-se no seu uniforme preto de borracha – o triturador não só tritura... humanos... como tritura também restos metálicos inutilizáveis e com defeito, que seguem caminhos diferentes para incineradores diferentes. Em resumo, existem duas saídas, a saída de cinzas e a saída de cubos de metal compresso!
A tela abriu-se mais ainda, mostrando uma grande câmara subterrânea cujo chão era repleto de cinzas e ferro retorcido.
- Aqui está! Esta é a câmara do depósito! Aquelas duas saídas de cerâmica no topo da câmara serão suas entradas! – ele apontou para duas grandes saídas circulares a mais ou menos 5 metros do chão da câmara. – os horários de julgamento são cumpridos todas as sextas sete horas da manhã, e como amanhã será sábado, somente a saída de metal compresso estará ocupada despejando lixo, por isso, cuidado com acidentes! A limpeza dessa câmara é feita somente aos sábados às seis da tarde por robôs serviçais e humanos convertidos, com cérebros biônicos, por isso vocês estarão livres para entrar de manhã bem cedo! – ele deu uma pausa e tocou a foto para mostrá-la de outro ângulo, agora, a grande tela mostrava uma entrada de esgoto obstruída, quase invisível aos olhos desatentos, bem no canto da imagem.
- Esta é a entrada da câmara para pessoal não-autorizado – gracejou Don aproximando cada vez mais a imagem 3D – um grande portão de ferro maciço fica oposto à esta entrada, e é por onde os “faxineiros” entram. Ele fica trancado o restante do dia inteiro, e não há câmeras do lado de dentro, por isso vocês estarão em segurança para executarem o que seja sem serem detectados... – ele deu uma pausa, dando as costas para a tela LCD e voltando-se para a comissão de oficiais de preto que, atentos, observavam e anotavam cada detalhe – esta passagem obstruída fica exatamente no lugar onde ficava o portão da nossa escola, já que a Máquina foi construída em cima dos escombros...
Um aperto flagelou feito chicote quente aos corações de todos ali presentes.
- O subterrâneo de The Big Machine é praticamente o térreo da escola, por isso não se espantem se encontrarem coisas muito antigas por lá... Há um acesso a este subterrâneo pelo esgoto em um beco pouco vigiado ali próximo. Ninguém vai lá porque está muito escondido. Um mapa está sendo entregue a cada um de vocês – os mapas foram entregues por Ray Ann, a andróide – é uma missão muito perigosa, meus caros, e espero que não achem que isto será fácil como parece, com certeza vocês encontrarão muitas adversidades pelo caminho, adversidades que eu não pude prever porque o que tenho em mãos é somente a planta básica da Máquina.
“Uma vez que se encontrarem dentro da Máquina, jamais optem pelas esteiras rolantes ou pelos corredores principais, locomovam-se por entre as paredes, por entre as engrenagens, sob os cabos, sob o sistema, entre a tubulação e etc. Assim estarão seguros, mas não completamente. Saturno tem consigo um mapa completo da Máquina que os levará diretamente para a sala principal, para o Cérebro, para o Olho do Mundo, e quem sabe lá vocês finalmente descubram o que houve realmente com Carmen Parafuso.”
- E qual o objetivo dessa invasão imprudente? – questionou Ray Ann lançando um olhar felino sobre Christopher, que a ignorou completamente.
- O objetivo é desligar o sistema de segurança da Máquina, o sistema de segurança do mundo inteiro – Don fez questão de explicar isso, antes que Christopher falasse alguma coisa – e assim que o caminho estiver desimpedido, eu apertarei este botão...
Um botão virtual enorme surgiu na tela, no formato da tecla de “enter” dos teclados da nossa época.
- E tudo estará acabado! – ele parecia muito ansioso, cheio de expectativa com aquilo, quase pulava de alegria. E apesar de todos esses anos e dos novos “músculos”, ele ainda parecia um avatar do The Sims. – um vírus eletrônico nunca antes visto na face da terra irá apagar todos os arquivos e registros do sistema da Máquina. O sistema irá reiniciar e não haverá mais programa algum a executar, de modo que o mundo irá literalmente parar!
- E então será hora de quebrar tudo – resmungou Fábia amassando uma latinha de refrigerante com uma só mão. Que estranho! Seu cabelo estava ruivo agora! O corte chanel de antes já era, agora ela usava apenas uma franja ondulada, e nada mais, o resto estava bem batidinho, curtinho, um corte perfeitamente inovador. Era hora de agir. O tempo rugia, uma forte tempestade vinha por aí, e ainda faltavam muitos mistérios a serem desvendados.

Fim da Parte Onze!


Ta aí, gostei...


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