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segunda-feira, 29 de março de 2010

Stella, uma Vadia Suja



Quando perguntaram para a Stella na diretoria do colégio qual era o problema dela, a jovem foi bem sincera em dizer que era falta de sexo, e assim foi expulsa da sua terceira escola. Ninguém nunca conseguiu segurá-la. Sempre inteligente, sempre astuciosa, as melhores notas nas provas, mas também as piores atitudes que uma garota de família poderia tomar. Aos doze anos de idade, deu seu primeiro beijo, num cara de 25 anos que era vizinho e fumava umas pedras de crack de vez em quando, mas o namoro não foi adiante e Stella, sofrendo sua primeira desilusão amorosa foi mandada para fora de Nova York, para morar na casa da avó num condado ali próximo, no sul da Virgínia, onde se planta milho e onde o sol é mais amarelo do que em qualquer outro lugar. Mas ali Stella tocou o terror como ninguém. Em um ano, a vizinhança estava envolta numa verdadeira guerra civil entre pais conservadores e filhos revoltados que acabaram de conhecer um pouquinho da libertinagem do subúrbio Nova Iorquino. Foi então que Stella levou o seu primeiro tapa e foi xingada pela primeira vez em toda a sua vida.

- Vadia Suja! - disse a senhora Letterman do 98, irada porque sua filha havia chegado em casa seminua, com o cabelo mal cortado na altura dos olhos, coberta de ovos e farinha dos pés à cabeça, pobre Magda, coitada. Sempre foi a mais popular do colégio, a mais bonita, a mais inteligente, a mais inspiradora musa de garotos e garotas pelos corredores. Porém, isto não foi o bastante para que toda aquela cidadezinha deixasse de notar o estilo de vida irreverente da pequena Stella, que com catorze anos percorria aquelas ruas ensolaradas aos gritos em sua bicicleta personalizada, gritando palavrões e cantarolando suas músicas sujas de rock e pop, tanto faz. O fato era: Stella tinha nascido com o estigma da confusão, Stella era aquela que pensava demais e agia demais ao mesmo tempo, coisa incomum nos seres humanos, que comodamente preferem fazer mais um do que o outro.


E agora, ali, sentada mais uma vez no banco da delegacia, algemada ao lado de uma travesti, Stella lembrava-se da primeira vez em que fora chamada de vadia suja; Que coincidência, também foi a primeira vez que Stella desacatou uma autoridade, uma autoridade mais velha ainda por cima. A senhora Letterman era a xerife na época. Pobre senhora Letterman, morreu de ataque do coração na mesma noite em que a rameira enrustida da filha dela chegou em casa grávida, anos após Stella ter visitado a França e causado horrores por lá também.

- Tem um cigarro aí, vadia? - perguntou a travesti.

- Não tenho não, vaca de pênis - respondeu Stella, pouco se importando com tudo aquilo. O caminhão estava algemado mesmo, pouca coisa poderia fazer. Uma garota de treze anos entrou pela porta, escoltada por dois policiais, que pareciam estar se divertindo muito ao arrastar aquela pobre criança pra lá e pra cá. Ela havia roubado uma garrafa de vodca. Stella sorriu, viu-se mais uma vez em seus anos dourados. O que era idiotice da parte dela, aquelas coisas só haviam acontecido há sete anos atrás.

- Stella Vazjekovzka - gemeu a policial gorda no balcão. Os policiais pegaram Stella pelas axilas e arrastaram-na em direção ao balcão cinza e frio, abarrotado de papéis.

- Fala Wanda - relinchou Stella, com a sua voz de bêbada de sempre.

- Fala Stella - mugiu a policial gorda de volta. A mulher não usava maquiagem nenhuma, era o dragão em pessoa, mas tinha uma namorada, uma namorada magrinha e deliciosa que morava em Manhattan com os pais. Wanda sapatão ordinário, pensou Stella. - e então, é a terceira vez este mês não é? Tá pegando muita largura só porque aqui a gente te conhece das antigas, desde que tu eras aquela garotinha ali.

Wanda apontou para a jovem ruiva, descabelada, usando roupas de menino, algemada ao banco agora, debatendo-se com força enquanto a travestia xingava de todos os nomes que ela conhecia por estar bagunçando seu penteado.

- O que foi dessa vez? - perguntou Wanda, pegando a ficha para dar uma passada rápida de olho - ah, como esperado... Onde estão aquelas suas amigas ricas que te levam para o lado Vip da cidade nessas oras hein?

- Não me venha com as suas ironias Wanda, ou a Stefani vai saber o que você andou fazendo há dois anos atrás em Hemingway...

Wanda engoliu em seco e prosseguiu.

- Pois bem, semana passada foi encontrada jogada em frente a um restaurante caro na manhã de segunda feira, te trouxeram pra cá, e agora você tenta bater a carteira de um ricaço que te oferece carona? Qual o seu problema afinal?

- Acabou a batata frita em casa e... - Stella relinchou de novo - ora Wanda, você sabe que aquele cara tem mais dinheiro na conta que o Barack Obama, e pode muito bem comprar outra carteira e enchê-la da porcaria do dinheiro dele quantas vezes ele for assaltado ou tiver perdido!

- Não adianta discutir com Stella - resmungou Wanda para si mesma - Stella é sempre Stella... Mas e a sua mãe?

- Vai muito bem, obrigada.

- Coitada da Mariana com uma filha que nem você... - os policiais tiraram as algemas de Stella.

- E a sua mãe, Wanda, sabe que você é sapata?

Os policiais conteram o riso.

- Coloquem essa vadia suja pra fora daqui, agora, antes que eu a mande para a penitenciária de vagabundas!

Stella foi enxotada feito um cachorro, mas não saiu de mãos abanando. Havia uma carteira em seu poder, não tinha tanto dinheiro quanto a do ricaço que havia oferecido a carona mais cedo, porém pagava um bom café da manhã no Side's.

- Sai da frente vadia! - gritou um cara de bicicleta. Stella mandou ele para aquele lugar.


A semana de Stella só tinha começado.


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