Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sábado, 9 de outubro de 2010

O Fim Está Próximo


É final de semana do Círio, isso quer dizer que faz exatamente um ano que eu conheci as meninas Sabóia e me tornei praticamente irmão delas, faz exatamente um ano que fui adotado por esta família maravilhosa e acolhedora, um ano que eu quase me afoguei e quase perdi meus óculos na cachoeira, um ano que visitei o cemitério nazista pela primeira vez, um ano... E é impressionante como um ano parece nada, e ao mesmo tempo, parece muito. É um grande paradoxo esse negócio do tempo, ele é tão relativo. Tem vezes que o ano parece correr, tem vezes que o ano passa bem devagarinho, como se para torturar, para que fiquemos cada vez mais ansiosos para a chegada da hora de abraçar a pessoa amada e dizer "feliz Natal! feliz Ano Novo! Boas Festas!". Meu coração fica cada vez mais apertado, cada segundo que bate no relógio é um murro no meu peito que deixa meu órgão vital tão espremido de modo a parecer uma amêndoa. Sabe porque? Porque esse final de ano representa muito mais do que um final de ano qualquer, é o MEU final de ano, a passagem definitiva, tudo o que eu sei e o que já vivenciei e o que descobri e o que conheci pode se tornar válido como ouro, ou inválido como níquel quando as primeiras horas de 2011 baterem no relógio na parede, no celular, no canto da tela dos computadores do mundo todo. A minha grande saga chega ao fim. Aquela grande luta. Parte do trabalho vai estar cumprido, mas só parte dele. Parece até que um enorme pedaço de mim está ficando pra trás, um pedaço do tamanho do iceberg que colocou o Titanic no fundo. Talvez eu seja um navio gigantesco que esteja preste a colidir com algo desconhecido: o meu futuro. O que vai ser de mim? O que vai ser das pessoas com quem criei laços tão fortes? O que serão das amizades, dos romances, das inimizades, das nossas criações, da nossa história? Do mundo que eu construí ao meu redor? Estou realmente preparado para o que vem por aí? Pra encarar esse mundo gigantesco e perigoso sozinho? Eu olhei pra fora da janela do ônibus, para a escuridão da madrugada na floresta amazônica. O mundo lá fora continua intacto, mas dentro de mim um grande Apocalipse parece estar chegando cada vez mais perto, e pequenos acontecimentos sequenciais me fazem crer cada vez mais de que o fim de tudo o que eu conheço está cada vez mais perto. E lá estava ele, o meu gigante favorito, com o cinturão de três estrelas e a espada em punho. Órion, aquele que mesmo que me recebia deitado no horizonte, no final da Avenida Caramuru, todas as vezes usuais em que eu dobrava a esquina nos primeiros meses do ano. Pensei que ele tivesse esquecido de mim. Nunca mais havia me recebido. Constelações estranhas agora povoam o meu céu escuro. Não consigo fazer amizade com elas como a que fiz com Órion, o meu gigante. Sim, ele me achou, bem no meio da estranha estrada de terra batida que liga Macapá ao sul do estado do Amapá, a Laranjal do Jarí, ao mundo verde que rodeia o Vale do Pai Rio. Onde um príncipe viveu incríveis aventuras há muito tempo atrás. Ou mesmo agora, se vocês preferirem. Afinal é uma história que vai se repetir pra sempre. Órion estava no céu, deitado, bradando a espada para a escuridão, a espada brilhante em punho para as trevas. Eu não tenho medo, ele me disse. Mas e você Louie? Você tem medo? O Antonio tem medo? O Junior tem medo? Qual desses três vai morrer no final desse ano? Ele me fez muitas perguntas apenas brilhando a constelação que forma seu enorme corpo, e quando finalmente percebeu que mesmo nesta altura do campeonato eu não soube responder, ele se afastou bem devagar. Ou fui eu quem me afastei, não sei, estava com muito sono, o ônibus estava em movimento. A terra girava. É, o mundo está em movimento, o tempo não para. Talvez eu torne a ver Órion, talvez ele não me ache um covarde, talvez ele ainda seja meu amigo mesmo assim. Eu gosto muito dele. Demais até. De todas as minhas constelações, ele é a favorita. Sim, elas são minhas, talvez o céu seja meu. Talvez. Um dia quem sabe eu voltarei para as minhas irmãs lá em cima, e ficarei livre de tudo isso. Sou a pessoa mais torta que o mundo já viu, com certeza, um grande erro. Sem significado algum. Lugar errado. Hora errada. Corpo errado. Sexo errado. Época errada. Personalidade errada. Aparência errada. Tudo errado. Não que eu esteja criticando o trabalho de Deus, mas qual o significado de tudo isso afinal? Por que ele me fez do jeito que eu sou e me colocou justamente no pior lugar onde uma pessoa como eu pode estar? Tudo bem, eu tenho de agradecer a ele por não ter nascido na África, onde seria bem pior. Mas, PORQUE, mesmo assim, PORQUE? Um ano, o ano definitivo. Sinto que o desfecho disso tudo vai me explicar isso e um pouco mais. Vai ver é só um presentimento. É que é tão estranho a sensação da chegada do fim, vocês não acham? Amigos, lugares, memórias, lembranças... Músicas, risos, piadas, vilões e aliados... O que vai ser de tudo isso depois de um tempo? É o Último Apocalipse. A batalha final contra o meu eu interior e o mundo exterior, todos unidos. Contra mim ou a meu favor? É definitivo, é o ultimato. Um arrepio.
Em pensar que eu dei as caras por aqui só pra avisar que ia demorar a postar algo novo de Stella Para Sempre porque o computador do meu pai está recheado de vírus. Mas, enfim, acabei fazendo um desabafo e tanto!
Muitas coisas floresceram em minha mente nesta última madrugada, cruzando a estrada, eu poderia escrever um livro se eu quisesse, se eu não fosse tão preguiçoso e indisposto. Poderia escrever sobre um ônibus que por um acaso vai parar em outra dimensão, num mundo onde coisas assombrosas acontecem nas estradas à noite. Seres magrelos, de pernas e braços compridos e orelhas pontudas que andam de quatro e sugam sangue saltaram do mato para dentro do meu cérebro. Eu assusto à mim mesmo de propósito, só pra ver se continuo vivo. Estaria eu desenvolvendo comportamento Borderline? Quem sabe.
Quarta feira estarei de volta à realidade, de volta ao campo de batalha da verdadeira guerra em que me envolvi e da qual não posso mais sair, nem se eu tentasse. A sala de aula está um inferno se vocês querem saber, os motivos, as causas, as circunstâncias, já perderam todo o sentido há muito tempo, e o ódio já enraizou profundo nos corações das pessoas. Se não nos matarmos daqui pro final do ano, nos vemos no vestibular!
Louie Mimieux

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