Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

domingo, 6 de março de 2011

The Big Machine 3 - Apocalipse - Epílogo



- Vocês fizeram um ótimo trabalho, Apocalípticos! – uma voz feminina rouca invadiu os ouvidos de Christopher, era algo sensual, mas ao mesmo tempo divertido. – está na hora de acordar! Estamos quase chegando à cidade de vocês!
Christopher foi o último a acordar. Deparou-se com seus quatro amigos sentados no chão, com seus respectivos capacetes no colo, completamente atônitos, olhando fixamente para alguma coisa mais à frente. Sim, eles estiveram sentados nos fundos de uma cabine, ao que parecia uma cabine de aeronave, mas havia algo de estranho ali. O teto da cabine era todo de vidro, um domo de vidro, exatamente como as cabines de modelos anteriores do AR53-N4L. E ele não pode conter o grito que deu quando a cadeira giratória do piloto voltou-se para ele. Ali, sentada diante deles, de pernas cruzadas, estava o motivo daqueles queixos caídos e olhos esbugalhados de seus companheiros de luta. O cabelo loiro-lavanda e o laço Minnie Mouse feito de seus fios no alto da cabeça eram marca registrada daquela criatura com o raio roxo pintado na cara, exatamente como Saturno Revenge utilizava o raio preto. Era tão branca, tão pálida que chegava a assustar. Usando botas de cano longo e maiô como ombreiras pontiagudas, ali estava ela. A própria. Lady Gaga.
- O que houve, meninos? – ela se levantou.
- FIQUE LONGE DA GENTE! – gritou Ray Ann – O QUE VOCÊ É?
Gaga gargalhou.
- Ora, eu sou uma de vocês! Seus bobos! – ela colocou as mãos sobre os joelhos e sentou-se no chão, diante deles. A nave estava no piloto automático. – sou Apocalíptica! – mostrou o pulso direito, onde o triângulo de três braços estava tatuado.
- Onde está o Mapinguari?! Onde está Alberta?! – perguntou Chris, confuso.
- O pessoal já cuidou disso, não se preocupem! – ela abanou o ar e retirou os óculos escuros enormes. Seus olhos eram verdes mesmo!
- Ela não é desse mundo! – Fábia matou a charada, sorridente. – ela é a Lady Gaga, mas de outra dimensão.
- FINALMENTE! – riu Gaga, levantando as mãos para o céu. – vocês querem saber o que aconteceu? Então eu vou contar!
Foi uma longa história. Fazia um tempo que todos os Apocalipses Club de todas as dimensões vinham tendo problemas com seus membros, grande parte deles vinha tendo constantemente sonhos misteriosos com o triângulo sagrado e uma guerra que estava acontecendo em algum lugar do universo, mas eles não sabiam onde. Na verdade, grande parte dos Apocalípticos das outras dimensões sequer sabiam da existência de outros mundos onde pudessem existir outros Apocalipses Club, eles viviam na ignorância, ou eram jovens demais e não possuíam nenhuma experiência com viagens interdimensionais porque seus mundos eram atrasados demais. Há inclusive um mundo onde o Apocalipse Club é uma liga de arqueólogos e exploradores que vivem na década de 1950! Então Gaga tomou a iniciativa de seguir a fonte dos sonhos, fazer estudos do cérebro dos membros do clube em laboratórios e seguir os impulsos que enviavam aquela energia para a mente das pessoas.
- Isso demorou uns três anos... – disse ela, sorridente.
- Para nós, três meses! – exclamou Fábia.
Pietro ainda estava meio contrariado.
- O que houve, Pietro? – questionou Augusta.
- Sei lá... É meio tenso! Eu to falando com a Lady Gaga como se ela fosse minha vizinha! Isso tá meio bagunçado, não tá não?!
E as gargalhadas eclodiram alto dentro da cabine. Já era noite lá fora. E o céu estava tão estrelado quanto no dia em que Maxine contou à Kátia o verdadeiro significado do Apocalipse Club.
- Sério! – continuou ele, fazendo caras e bocas. – eu pensei que isso aqui fosse uma série de ação, e não de comédia!
Após estes três anos de pesquisa, ela resolveu enviar um impulso de Poder através das dimensões e da linha do tempo-espaço, algo como o mecanismo que o morcego usa para se locomover no escuro. Se houvesse alguma coisa errada, o sinal voltaria distorcido, e foi o que aconteceu nas proximidades do universo original, o mundo que origina todos os outros. O nosso mundo.
- Fiquei atônita quando soube que aqui eu sou uma supercelebridade! – gargalhou ela, fazendo piada de algo que parecia tão comum aos Apocalípticos. – eu sou só uma cientista pirada lá no meu mundo, ninguém respeita as minhas descobertas...
E então ela decidiu enviar o sinal novamente, dessa vez pedindo ajuda aos Apocalípticos das outras dimensões, para que juntassem um exército e fossem verificar o que havia de errado no mundo original. Foi tiro e queda. Alguns dos mundos mais próximos do nosso sabiam de tudo o que estava acontecendo aqui, mas preferiram ficar de fora por não ter poder de fogo o suficiente para combater Alberta e seu exército. Porém, a união de quase 100 mundos resultou numa marcha enorme, e numa depressão interdimensional que confundiu a linha de tempo e espaço. O tempo parou ali naquela cidade, e provavelmente quando voltar a contar, recomeçará a partir do momento em que Robert decidiu roubar o cérebro artificial.
- No meu mundo você é a supercelebridade, Chris – disse a mulher, mostrando um disco cuja capa era um par de sapatos de salto cor-de-rosa. – música eletrônica!
E eis então que Alberta explodiu e foi pelos ares com a intervenção do exército formado pela cientista maluca Gaga e sua equipe de técnicos que unindo todas as dimensões possíveis, salvaram a pátria enfim.
- Então foi isso? – Macapá já estava próxima. Eles haviam afundado muito longe da costa, num profundo canal entre as ilhas marajoaras. – Alberta finalmente acabou?
- Sim, dessa vez é pra valer!
Eles permaneceram um tempo admirando as estrelas, e quando a nave – que mais tarde descobriu-se ser um robô bípede esférico equipado com dois canhões e adornado com um enorme laço vermelho de metal coroando-o. – finalmente atingiu o trapiche da Zaguri – que por muito pouco não foi destruído pela guerra. – Fábia apontou para o mar de pessoas vestidas de branco que os aguardavam para recepcioná-los como heróis. Pessoas do nosso mundo e de outros mundos confraternizavam juntas e comemoravam a vitória. Suas famílias os receberam com muitos beijos, abraços e muito choro. Havia uma orquestra tocando logo ali perto, e logo em frente à orquestra havia uma mesa montada com sintetizadores produzindo sons nunca antes ouvidos, estes entravam em sincronia perfeita com a música clássica e geravam um novo tipo de música eletrônica: a eletrônica universal.
Saturno Revenge apertou a mão de Christopher. A mesma pessoa. Perspectivas diferentes.
- Parabéns, rapaz – disse, escondendo os braços debaixo da sua capa preta, mais parecia a morte perdida no meio de uma multidão de almas brancas – eu me enganei ao seu respeito... Você realmente é insistente o bastante afinal!
- VOVÔ! VOVÔ! VOVÔ! – Maxine surgiu gritando em meio à multidão, com lágrimas banhando seu rosto vermelho de tanto chorar, ela pegou o rapaz pelo pescoço e esmagou-o entre seus seios fartos, herdados da avó paterna. – EU SABIA! EU SEMPRE SOUBE QUE VOCÊ ESTAVA VIVO! NÓS NÃO DESAPARECEMOS QUANDO O ROBÔ EXPLODIU, ENTÃO EU SABIA QUE VOCÊ ESTAVA VIVO! – exclamava a mulher, sacudindo seu provável avô pra lá e pra cá.
- Com licença, eu ainda não dei o meu abraço nele! – Haruno surgiu logo atrás, cutucando Maxine no ombro. Seus cabelos escuros acariciados pelo vento pareciam mais bonitos e perolados do que nunca, os fios brincando diante de seu rosto felino. Chris olhou de uma para a outra. A diferença realmente era a cor do cabelo. Max era ruiva e tinha as mechas onduladas, enquanto Haruno tinha os cabelos escuros como a noite e perfeitamente lisos. Deusas gêmeas elas eram, uma ao lado da outra. Haruno sorriu.
- Antes preciso contar um segredo a ele. – Max livrou Chris do abraço e afastou-se, solene. Inclinou-se sobre o ombro dele e cochichou algo em seu ouvido, algo que o espantou de primeira e depois o fez sorrir de orelha a orelha. Seja lá que algo aquilo for, o fez abrir os braços ainda mais rápido para a amiga que esperava na fila pela sua vez, o fez abraçá-la ainda mais forte e beijá-la demoradamente no rosto.
- Eu te amo, sabia?
Haruno riu.
Ao redor, robôs gigantescos e minúsculos se acomodavam estacionados na praia de areia e lama que havia se formado no final da tarde por causa da maré baixa. Eram vultos altos de baixos, vidraças vermelhas, azuis e negras, cabeças quadradas, pontudas, triangulares, aparências fofas e às vezes ameaçadoras, hardcore heavy metal, como diria Ray Ann. O modo como os últimos raios de sol batiam neles, escapando por entre as nuvens cinzentas do céu da tardinha, os tornavam joias caóticas em sua poesia e poéticas em seu caos. Eles eram coisas que não deveriam estar ali, era por isso que era tão mágico olhar para aquelas obras de arte de ferro, vidro e metal.
Outra vez os Apocalípticos estavam exatamente como estiveram na sala de controle da nave joaninha. Três gerações distintas: pais, filhos e netos. E agora a turma da dimensão controlada por Carmen Parafuso estava completa, pois Pietro, Augusta e Suzannah vieram também, dentro de um pterodátilo branco. Mas então chegou a hora da despedida. O DeLorean aguardava, era hora de Maxine, Tifa, Gabrielle, Miguel e Fernando voltarem para o futuro. Gabrielle agarrou-se ao pescoço do avô com força, e foi difícil tirá-la de lá, chorava copiosamente, estava inconsolável. Tifa sussurrou uma canção para a sua avó, e derramou muitas lágrimas também. Chorou tanto que não pôde terminar aquela bela canção, que Fábia lhe cantava antes de dormir quando ainda era viva, algo que ela havia aprendido na Igreja com os pais, sobre o amor próprio e sobre o amor de Deus.
Fernando e Miguel foram menos sentimentais, eram metidos a machões como o avô, de quem se despediram trocando socos de brincadeira e rasteiras fingidas, os três se atracaram feito animais, foi preciso que Ray Ann os interrompesse aos prantos para abraçar seus dois futuros netos. Maxine era bem mais baixa que seu avô, apesar da idade. Christopher era um monstro em forma de rapaz, pra falar a verdade, e por isso ela encostou a cabeça em seu peito, como costumava fazer muitas vezes antes do mesmo morrer, e ali ficou; de olhos fechados, imaginando-se no sofá da sala lendo Alice no País das Maravilhas com um senhor quase careca de mechas prateadas. E depois chegou a hora de embarcar no DeLorean, que precisou de uma forte descarga elétrica para funcionar, como no filme. Algo que foi tirado de letra pelos robôs que estavam por ali.
- Adeus! Adeus! – gritavam eles da janela do pequeno carro, mais espremidos que sardinha em lata. – Nos veremos logo! Adeus! Adeus! Logo vamos nascer! – foi impossível conter as lágrimas quando o carro alçou voo, Fábia escondeu a cara no casaco de Pietro e chorou como nunca antes havia chorado, soluçando alto. Ray Ann também derramou muitas lágrimas, acalentadas por sua querida mãe. Christopher tentou se fazer de forte, não procurou colo materno ou ombro amigo, permaneceu lá, de pé, olhando o horizonte enquanto o DeLorean desaparecia entre as nuvens. Rios poderosos de lágrimas escorreram pelo rosto do primeiro Apocalíptico, aquele que batizou o grupo com o nome tão incomum. Afinal, foram três meses com aquelas pessoas, seus netos, seria difícil esquecê-los assim tão fácil. Eram criaturas peculiares e realmente marcantes, especiais. Jamais esqueceria Maxine. Haruno estendeu a mão para o amigo que segurou seus dedos com força.
Após a partida do grupo no DeLorean, Robert – que até então estivera amarrado ao seu neto exatamente como fora capturado – desapareceu. Eles conseguiram chegar no futuro a tempo de impedir que Robert roubasse o cérebro artificial da vitrine do museu. Sem a vinda de Robert para o passado, as coisas começaram a mudar na paisagem. Os acontecimentos mais antigos principalmente. Prédios se reconstruíram tijolo por tijolo, árvores voltaram para o lugar, o fogo apagou e a poeira baixou, os restos mortais dos robôs destruídos em guerra, pedaços de metal disforme em chamas, desaparecendo um a um. Demoraria horas até que Macapá estivesse inteira por completo, talvez aquilo levaria a noite toda. O tempo ali estava retrocedendo a olho nu, e a última coisa a ser alterada seria a mente das pessoas. Antes disso a Fortaleza destruída pela queda do Mapinguari estaria inteira, e logo Alberta, Úrsula e Velma estariam ali na cidade, nas suas casas, com um enorme vão na memória, sem lembranças dos últimos três meses. Tudo não passaria de um sonho. O mesmo aconteceria aos Apocalípticos em breve. O tempo haveria retrocedido então.
Logo foram os Apocalípticos de Saturno Revenge que partiram para sua dimensão original, e aos poucos toda aquela multidão foi sumindo montada em seus robôs. Desaparecendo em nuvens de fumaça, explosões de luz e choques elétricos, e de repente os cinco Apocalípticos originais se viram sozinhos, de mãos dadas, exatamente como estiveram dentro do Arsenal, agora olhando para o horizonte escuro do rio Amazonas, de onde a noite vinha cobrando o que lhe fora tomado.
- Pietro. – chamou Chris.
- Sim?
Todos se calaram e olharam para Christopher, que tinha os olhos sonhadores fixos no horizonte, semicerrados, se protegendo do açoite do vento forte da noite.
- Por favor, tome conta das suas coisas direito e trate de não perder mais o seu celular. – disse, lembrando-se finalmente de como tudo aquilo começara. – estamos cansados de salvar o mundo!
As risadas dos cinco jovens, ainda não adultos, mas quase lá, alcançaram seus pais que conversavam entretidos tentando entender e digerir tudo o que acontecera ali. Elas foram levadas pelo vento, para longe, ecoando no espaço e no tempo como um aviso. O universo está a salvo, finalmente. Pois enquanto houver retardados esquisitões dentro da sua sala de aula, nenhuma sapatão do mal estará a salvo!
E então veio a luz forte... E aquela voz...



•••



- Christopher! – gritou a voz. Ele sabia de onde vinha, mas queria mesmo era não saber. – CHRISTOPHER ACORDE!
Ele abriu os olhos, sobressaltado, seus amigos o observavam curiosos.
- Cara... cê tá precisando dormir hein... – Pietro estalou o canto da boca e seguiu em frente.
- Vamos! É hora do lanche já! – incentivou Ray, toda animada, pulando ao lado da sua carteira mais do que a sorridente Fábia, que o beijou antes de passar à frente – eu trouxe dinheiro! Vamos comer bolinho hoje! – ela se abaixou e cochichou com a mão protegendo a boca – eu acho que eu descobri o segredo da tia da cantina! Deve ser milharina! Só pode ser milharina!
Christopher se levantou e olhou ao redor. A sala de aula, as carteiras verdes, a parede dividida no meio, tinta a óleo alaranjada embaixo, tinta branca convencional em cima. Tudo no lugar. Nada de robôs do futuro ou sapatões malignas. Aquilo foi um choque! Então tudo foi um sonho afinal?
- Pietro! – chamou Chris. O amigo já estava no vão da porta, com um pé no corredor e o outro dentro da sala.
- O que foi? – todos voltaram a atenção para o confuso Chris, que ainda olhava ao redor como se analisando a realidade, completamente confuso.
- Nada... deixa pra lá...
Foi o último a sair da sala de aula.
Mas ele teve a certeza de ter ouvido o som de um laser antes de fechar a porta atrás de si.






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