Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O 18º Manifesto

Há um momento na vida em que o jogo muda, em que os olhos se abrem e o mundo já não é mais o mesmo, há um momento na vida em que você percebe que o tempo passou tão rápido pra você, e os seus olhos marejam ao lembrar de alguns momentos da infância. Acho que não sou o único que tem essa sensação no mundo inteiro, alguém a mais deve sentir o mesmo, aquela velha sensação de que "eu era feliz e não sabia". E quando você abre os olhos, você cresceu e nunca mais voltará a ser o mesmo, nunca mais, a vida já te torceu, dobrou, te fez de origami e depois de devolveu pra onde você estava antes de tudo começar, agora todo amassado, um pouco rasgado em alguns pontos, mas calmo, conformado, pacífico. A sensação é de estar flutuando no oceano, sendo levado pela maré enquanto todos os tipos de pensamentos te assolam. E que coisa estranha é isso que chamam de "Epifania"... Essa palavra possui algum acento? Não sei, sempre tive medo de usá-la temendo assassinar cruelmente a língua portuguesa, como certa vez fiz em "Stella" colocando viagem com J e não G, fui avisado do meu erro da pior forma possível, e me senti muito envergonhado. Um incidente à parte nessa minha estranha vida.
Mas voltemos a falar dela, a epifania. Parece o nome de alguma vizinha, daquelas que ficam no jiral lavando a louça e descamado o peixe! Realmente, pode até ser, dependendo do modo como você a enxerga. Mas eu a vejo de uma forma diferente, eu a vejo do outro lado do espelho, com o meu rosto emprestado, me falando coisas para as quais fui preparado a um dia ouvir. Coisas que sempre ficaram subentendidas a cada episódio de minha vida, a cada epopeia, a cada passo que dei rumo ao desconhecido, mas que nunca tive coragem de assumir para mim mesmo. É como conversar consigo mesmo num momento tão íntimo que você é capaz de se sentir narrador do seu próprio seriado.
Há um momento na vida em que você acorda e vê que secou, a sua fonte de sonhos secaram. Não que a esperança tenha acabado, não, ela é a última que morre e estará para sempre no fundo da sua caixa de pandora interna, esperando o momento em que você estiver se sentindo nas últimas, esperando a hora certa pra sair e dizer "ei, eu ainda estou aqui, acredite em mim". Não é como se sentir desesperançado, não, é como cair na real, é como enxergar o mundo ao seu redor como ele realmente é, tirar as vendas da infância e acordar para as responsabilidades de uma vida adulta, ou como eu dizia até um ano atrás "alienar-se pela sociedade". Isso é crescer, é se tornar um adulto conformado. No meu caso, um jovem adulto conformado, mas feliz. Para alguns isso demora a acontecer, muitos persistem em enfrentar o seu próprio fardo, tentam mudar a história com a mesma garra e força de vontade que possuíam desde a infância, sem sucesso. Força de vontade, falaremos dela já, já!
Mas é isso que acontece, você vê que há contas para pagar, e que você está crescendo, se tornando um homem adulto, e que está na hora de assumir certas responsabilidades, administrar a casa, a família que até alguns meses atrás te administrava. Agora é com você. Esse é o pensamento, ou pelo menos a linha que leva a ele. Contas a pagar, serviços a realizar, trabalhos para terminar. A faculdade está bem aí, e não vai ser nada fácil, com certeza, nada é fácil na vida de ninguém, muito menos na minha, que por si só já é um tanto novelesca, imagine agora então!
E então, com este turbilhão de pensamentos na minha cabeça eu me pus no meu lugar, finquei meus pés no chão enquanto fazia a barba, que teima em crescer e manchar o meu rosto de roxo e cinza, destruindo o que um dia já foi a face de um querubim. Destruindo toda a beleza da juventude. E eu percebi onde estou, olhei para mim mesmo.
Veja bem, olhe bem para o lugar onde você vive, analise suas condições financeiras e a sua popularidade. Há alguma chance de alguém algum dia publicar algum livro seu? Ou chegar a compensar o seu talento? Elas são praticamente nulas, mas eu me prendi a esse sonho bobo desde que me disseram "você tem um talento", me prendi a esse sonho de ser famoso e ser reconhecido pelo que faço, planejei um futuro me embasando naquilo, mas por sorte acordei antes que fosse tarde demais. Eu vivo no Amapá, moro em Macapá, longe dos grandes pólos culturais do país, longe dos olhos importantes da mídia, dos "caçadores de talento" por assim dizer, nossa conexão com o mundo via-internet é no mínimo PÉSSIMA, às vezes o blogger nem abre, não estamos conectados ao resto do país por terra, estamos praticamente isolados aqui. Quer dizer, eu estou. As pessoas daqui se acostumaram a isso, se conformaram, e é o que está acontecendo comigo nesse exato momento! Meus sonhos não condizem com a minha realidade! Minha realidade é outra! É totalmente diferente do mundo de faz-de-contas que eu havia criado em torno de mim e do meu futuro "brilhante". Quem vai dar atenção pra um escritor amapaense indigente que nem eu? Ninguém. Isso mesmo. Ninguém, e esta é a realidade.
Parece um pouco cruel e um tanto dura, fria, mas eu até que aceitei isso bem, afinal de contas. Talvez por sempre saber inconscientemente de que isso era verdade, mas nunca ter admitido para mim mesmo. É como se eu viesse sendo, ao longo desses três últimos anos, preparado para aceitar isso. Acho que isso faz parte de crescer, de seguir em frente, de tocar a vida a partir da realidade em que se vive. No final das contas, acho que fui destinado a isso, a seguir uma vida simples, sem fama, sem glamour, sem reconhecimento, apenas o anonimato, apenas mais um. Talvez eu tenha nascido para ser como qualquer um, e Deus tenha me colocado nesse mundo, nessa cidade, nessa realidade para aprender a aceitar isso, a aceitar humildemente meu destino despretensioso. Para aprender a ser gente, a ser humano.
Uns nascem para brilhar, enquanto outros brilham só na teoria. Teoria, isso faz parte de ser um capricorniano. Certa vez li em uma comunidade do orkut as verdades sobre os doze signos do zodíaco. Os capricornianos são assim, são muita teoria e pouca prática, não tem força de vontade o suficiente para se realizarem, para fazerem os grandes feitos de que tanto se gabam um dia fazer. São mesquinhos e um tanto antipáticos, por isso nunca vão muito longe, por se acharem melhor do que os outros. É, acho que isso é bem eu mesmo. Não que eu me ache melhor do que os outros, na verdade, um dia cheguei a achar isso, mas faz realmente muito, muito, muito tempo, antes de eu me tocar que faço parte da base da sociedade, marginalizado por ser diferente dos outros, e na visão deles, ser inferior a eles. Eu tenho uma boa noção disso.
Mas isso pouco me importa, o que importa é o que eu tenho aqui dentro, e mais nada. E eu tenho conteúdo, sim senhor! No mais, acho que persistir em sonhos impossíveis é como buscar o amor, só serve para quem tem força de vontade e dinheiro (no caso do amor, a beleza também está incluída nos quesitos, coisa que eu definitivamente não possuo), e são duas coisas que eu não tenho em grande quantidade. E afinal, o que há de errado em terminar uma faculdade dignamente? O que há de mais em conseguir um emprego qualquer e receber um salário razoável para poder pagar uma diarista ou comprar alguns livros de vez em quando? Fazer uma viajem, conhecer lugares diferentes usando as economias de final de ano. Ser um adulto como qualquer outro. Não, não há nada demais nisso, é até bem satisfatório, quantas pessoas no mundo não desejam isso?
E eu aqui sonhando com a fama!
É até cômico o modo como eu via este tipo de futuro há alguns meses atrás, achava deprimente, medíocre, ridículo. Aquele estilo de vida não era pra mim. Mas quando não se tem dinheiro e nem reconhecimento, qualquer estilo de vida para a sobrevivência está de bom tamanho, você vai perceber isso quando crescer.
Mas isso não quer dizer que vou parar de escrever, de criar, de inventar! Não! Mas nem em pesadelos! Nunca! Eu adoro escrever, escrever e criar, desenhar, me faz sentir importante, me faz sentir parte de algo, me faz sentir um deus pequeno, uma entidade menor e mais baixa, mas ainda assim poderosa o suficiente por controlar o destino de personagens fictícios! Escrever me faz sentir especial, me faz sentir parte de algo! Pode-se dizer que continuarei criando por vaidade própria, quiçá. Não sei distinguir. Mas criar é uma terapia para mim, assim como ler e ouvir música. Adoro música, meus ouvidos estão tão apurados agora que eu quase posso tocar e sentir o gosto de algodão doce das batidas da Robyn, ou a acidez dos ruídos eletrônicos da iamamiwhoami, flutuar nas canções da Alison Goldfrapp ou me sentir um rei coroado ouvindo os gritos da Björk (sim, minha vida agora não é só Britney Spears e Lady GaGa, apesar de as duas possuirem lugares especiais no meu coração por fazerem parte da minha história, sendo a última uma verdadeira artista do pop como nenhuma outra). Nossa, como eu mudei! Como eu cresci! Quase sinto orgulho de mim mesmo! Bom, só quase... Ainda falta muito para sentir orgulho próprio, um emprego talvez.
Amanhã estou partindo para Laranjal do Jarí, passar uns dias por lá, arejar de Macapá um pouco como costumo fazer em todas as férias, deixar o escuro do meu quarto para nadar nas águas da cachoeira de Santo Antônio. Talvez eu passe meu aniversário por lá. Faltam menos de 10 dias para os meus 18 anos... 18 ANOS! CARA! UMA VIDA INTEIRA! *O*
Uma vida inteira cheia de história para contar. Sinto quase como se fosse fazer 80. Isso é estranho. Enfim, vou curtir os últimos minutos do segundo tempo da minha adolescência, curtir o ócio e a falta de ocupação, quando voltar de lá, virão a quitação com o exército (MEDO MORTAL), a conta no banco e a passagem das contas a pagar para a minha administração. Será que eu vou conseguir tocar isso pra frente? Será que eu vou conseguir fazer o trabalho da minha mãe com a mesma eficácia? Quem sabe.




XXXO

Louie Mimieux

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