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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

The Big Machine 3 - Apocalipse 1



Neon City, Janeiro de 2067, realidade alternativa nº2, dez anos após o Grande Desligamento Mundial, evento este que culminou com a tentativa da agricultora e manipuladora genética de genéricos alimentícios Alberta Veronese de dominar o mundo.


- Eis aqui, diante dos senhores, o único HD existente no mundo inteiro capaz de imitar o cérebro humano! – exclamou o homem, abrindo as cortinas de uma das vitrines do Museu de Tecnologias de Neon City, na galeria subterrânea 19. Uma das primeiras naqueles labirintos infinitos que escondem o núcleo do cérebro mais inteligente do mundo. – estejam cientes de que, em complexidade de sistema de armazenamento de dados, ele só perde para a própria ESFERA, que é a junção final do cérebro humano com o cérebro da máquina!
- Então do que isto se trata, senhor?! – perguntou uma garotinha, filha de um dos cidadãos pacatos e seguidores da lei de Neon City, escolhida como acompanhante pelo seu pai, privilegiado numa promoção que levaria os primeiros doze civis a verem de perto as grandes maravilhas tecnológicas guardadas a sete chaves pelo sistema de segurança mundial.
- Isto aqui, minha jovem – fez, apontando sua bengala prateada para a vidraça – isto aqui é um cérebro computadorizado que imita a complexidade de um cérebro humano! – ele abaixou-se para falar com a pequenina olhando nos olhos, deixando-a mais curiosa, sibilou – dizem as más línguas que o criador desta maravilha ficou louco! Ora vejam só! – e levantou-se outra vez, de braços abertos, arrancando risadinhas nervosas dos 12 sorteados e seus acompanhantes.
- E o que este cérebro contém? Alguma informação sigilosa do governo? – fez uma mulata cheia de ironia por detrás de seu gingado. – algum podre que vocês não querem que os civis saibam?
As risadas foram sinceras agora. Aquilo era pura baboseira, com certeza. O sistema era claro e limpo como água, não havia segredo na gestão da ESFERA, o único sigilo era a verdadeira localização da central, onde Don Hills e seu supercomputador são um só.
- Nada demais, minha jovem, nada demais! – gargalhou o homem. – a memória humana que este cérebro artificial guarda é a memória de Alberta Veronese, e nada mais do que isso!
O público deu um passo para trás. Aquele nome causava arrepios a sua simples menção. Alberta Veronese era sinônimo de condenação, de transgressão, de perigo. A velha cowgirl lésbica havia conseguido o que queria: entrar para história. Não como imperatriz mundial, mas como a primeira grande vilã da Nova Era de paz e harmonia entre homem e máquina.
- Ora, não sejam tolos, meus jovens! – riu o homem, abrindo os braços mais uma vez. Parecia realmente gostar daquele movimento. – sem um corpo, um cérebro é inofensivo, ainda mais um cérebro artificial, congelado no tempo, sem atividade ou impulsos elétricos que o façam raciocinar! A central de tecnologias inovadoras precisava de alguma memória humana para fazer o teste, e a única que tínhamos disponível há dez anos, autorizada pelo conselho, era a de Alberta Veronese...
- Você quer dizer que aí dentro estão todas as lembranças dela? Todo o seu intelecto? – perguntou um gorducho curioso.
- Sim, é claro! – ele ajeitou a cartola e indicou um grande domo de vidro no centro da galeria – agora, seguiremos para a próxima atração: a grande Máquina do Tempo! Quem quer ser o voluntário?!
As crianças foram as primeiras a levantarem suas mãozinhas. Os adultos começaram a rir e a cochichar, os homens puxando seus bigodes pontudos e as mulheres piscando seus cílios coloridos ultra-longos. O século era futurístico, mas as pessoas andavam fantasiadas como na era medieval, agora mais bufantes e mais coloridas com a ajuda do neon e do holograma, dos designes futurísticos e aerodinâmicos, a moda era se exibir. Mas o burburinho foi quebrado de supetão por um apagão repentino que arrancou gritos do público. Neon City nunca apagava, aquilo era um mau sinal. A última vez em que Neon City apagou, uma velha megalomaníaca tentou se tornar imperatriz.
- Acalmem-se, acalmem-se senhores! – pediu o guia, nervoso – aqui nas galerias subterrâneas é comum a oscilação da energia! A superfície consome muita energia solar e...
- Senhor... – o vigia chamou-o, em particular, surpreendendo-o – senhor, alguém desligou a energia direto na sala de controle da galeria.
- Como assim?! Impossível! A segurança naquela área é máxima e...
De repente, outra surpresa, as luzes se acenderam repentinamente, aliviando os ânimos dos visitantes.
- Viram só?! Eu disse que era comum! Eu disse! Isto é corriqueiro...
- PESSOAL, VEJAM SÓ ISSO! – gritou a garotinha curiosa, apontando para a vitrine que protegia o cérebro artificial guardião da memória de Alberta Veronese.
A vidraça havia sido cortada num pequeno círculo profissional, provavelmente com a ajuda de algum aparelho potente, pois o material da vidraça era manipulado em laboratório para ser mais espesso que o mais denso metal. O círculo era pequeno o bastante para que alguém simplesmente esticasse a mão pelo buraco e pegasse o cérebro com facilidade. Mais fácil ainda era roubá-lo sem a presença da eletrosfera e do campo antigravitacional que o protegia. O pânico foi geral.
- FOI ROUBADO! ROUBADO! O CÉREBRO ARTIFICIAL FOI ROUBADO!


Macapá, Setembro de 2010, Centro de Ensino Cyclone, realidade original.

- Tá com raiva de mim agora? – perguntou a garota.
- Eu preciso de um tempo para pensar numas coisas, tudo bem, Velma? – respondeu o rapaz.
A garota largou seu pescoço e deu-lhe as costas, fria como gelo. Sem sequer protestar, reclamar, perguntar o porquê daquilo, perguntar por que o seu melhor amigo estava lhe dando as costas naquele momento. No fundo ela sabia o que fizera, sabia, mas não admitia. Os olhos de Christopher Umbrella acompanharam a jovenzinha minúscula até o que se tornaria futuramente o seu novo grupo de amigos, os esportistas, os populares, os inteligentes da sala de aula que tinham seus nomes sempre expostos no mural a cada final de semestre. Seus olhares eram ameaçadores, reprovadores.
- Não acredito que ela foi capaz disso tudo! Ela parece tão meiga, cara, tão fofa! – Christopher ainda estava aturdido com aquela situação.
- Justamente por isso que ela fez o que fez – grunhiu Augusta. – com aquela carinha dela, quem não acreditaria no que ela diz?!
- As coisas mudam do dia pra noite, não é? – fez Ray Ann, levando um pedaço do bolo de chocolate à base de milharina para dentro de sua boca faminta – ela era tão nossa amiga... – disse, de boca cheia.
- ERA, no passado... Ela não passa de uma mentirosa! – acusou Pietro, de nariz em pé e braços cruzados.
Fábia continuava pulando entre seus amigos do primeiro ano, balançando seus seios fartos pra lá pra cá. Christopher a invejava de certo modo, despreocupada e inatingível, de paz com o mundo e com a vida, neutra. Fábia nunca costumava se meter nessas brigas, mas Chris não, ele tinha um quê de senso de justiça que apitava em situações como aquelas. A hora do intervalo sempre era um banquete para aquelas intrigas escolares: olhares sugestivos sendo trocados, ouvidos atentos para as fofocas, gente louca para ver o circo em chamas. Alguém derramou refrigerante na escada. Tudo estava prestes a mudar. Para sempre.





Fim do Apocalipse Um!

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