Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

The Big Machine 3 - Apocalipse 5


Macapá é uma cidade pacata, quente e pacata. Alguns bairros são secos e poeirentos, outros são úmidos e bem arborizados, é um mundo à parte cheio de contrastes e possibilidades. Sua gente morena, trabalhadora, está acostumada àquela vila bucólica, sempre parada no meio do caminho entre uma pequena cidade do interior e uma grande metrópole urbanizada, meio a meio, aos poucos os senhores em suas bicicletas surradas acostumam-se à frota infinita de veículos, que sempre adquire mais e mais automóveis com o passar dos dias, das semanas, dos meses. Trânsito, sol forte, buzina, poeira e pessoas. Macapá era feita em base disso, de gente simples tocando vidas simples, rotinas frágeis que podem ser afetadas repentinamente pelo desfile de caminhões verdes enormes, com suas carrocerias cobertas por lonas marrons, carregando homens armados até os dentes. Este tipo de coisa não se vê todo dia na bucólica Macapá. Esse tipo de coisa para o trânsito, os vendedores saem das suas lojas só para espiar a carreata passar. As senhoras de família abrem suas janelas e as Marias e Neides da vida largam suas panelas no fogo para prestigiar. Afinal de contas, aquele tipo de coisa não acontecia todo dia.
- Essa mulher tá falando sério?! – gritou Pietro, levantando-se da cadeira e indo em direção a porta, como praticamente metade da sala de aula. Ele e todo o seu corpanzil foram capazes de expulsar alguns curiosos do vão. Do lado de fora, a escola estava numa correria danada. Os corredores estavam lotados de estudantes que professores tentavam controlar, à toa. O caos havia sido estabelecido pela própria diretora escandalosa, que agora estava sendo arrastada por dois serventes para dentro do banheiro.
- Ei, isto são helicópteros? – Ray tinha um dedo ao pé do ouvido. – é sim! É barulho de helicóptero!
- Cara, isso deve ser algum tipo de brincadeira! – riu Christopher, atento ao som das sirenes que soavam distantes. Ele deu um pulo da cadeira – JÁ SEI ONDE VAMOS OLHAR ESSA PRESEPADA!
Pegou Augusta pelo braço e saiu dando ombradas e cotoveladas por onde quer que passasse, abrindo caminho na multidão. Era alto e encorpado, muito fácil abrir caminho com aquele tamanho todo. Os dois subiram apressados às escadas que levavam à quadra, no último andar, encontraram Miranda e suas amigas lá, juntamente com metade da escola. Jovens apavorados, abraçados, curiosos, especulando a situação, temendo o pior, rezando e pedindo explicações.
- Vocês estão bem? Estão bem? – Miranda abriu os braços e os acolheu num único abraço.
- Estamos sim, e vocês? – Christopher não estava muito interessado na resposta, deu dois tapinhas nas costas de Miranda e partiu para a arquibancada da quadra. Ele era alto o bastante para espiar por entre o vão do término da estrutura do prédio e a cobertura de ferro que protegia a quadra e as salas do último andar da ação do sol e da chuva. Alto o bastante para constatar a verdade. Todo o prédio estava cercado por caminhões enormes e homens uniformizados prontos para atirar. Havia pelo menos dois helicópteros sobrevoando-os naquele momento, o vento estava quase levantando as placas de metal da cobertura.
- A Miranda disse que alguém daqui da escola tentou invadir os computadores do exército! – falou uma assustada Augusta, surgida do nada, estava repentinamente ao lado de Christopher no último degrau da arquibancada, na ponta dos pés, tentando enxergar a movimentação lá embaixo. – isolaram o quarteirão, evacuaram as casas... Tem gente dizendo que é terrorista! Será que a gente vai morrer? – a cara que Augusta fazia quando estava com medo era muito meiga, ela parecia uma bonequinha. Seu rosto redondo era perfeito e o formato de seus olhos, nariz e boca eram muito bem desenhados.
- Ninguém vai morrer, Guta, deve ter sido só um mal entendido... – riu Chris, abraçando a amiga – vai ver o Jeremias, brincando, achou a central do exército! Se lembra que ano passado ele invadiu os computadores da escola para roubar as provas?
- Lembro, lembro sim... – ela não conseguia rir, estava assustada demais. O diretor surgiu nos portões da quadra, de braços abertos, rosto vermelho e suado, parecia mais um leitão do que um homem.
- Crianças, crianças! – gritou. – vamos ter que ficar aqui na quadra por um tempo, tudo bem? Ninguém pode sair nem entrar no prédio, então...
A gritaria começou. Alguns choravam enquanto outros reclamavam e tentavam forçar as grades para sair. O pandemônio era geral. Pietro, Ray e Fábia surgiram logo depois, usando o tamanho de Pietro para abrir caminho no meio da multidão, subiram a arquibancada também.
- Crianças, por favor, se controlem! – pedia o diretor. – vamos ficar bem, entenderam? O pessoal do exército só está fazendo uma checagem nos computadores dos laboratórios de informática, para verificar esse mal entendido. Após isso, todos estarão liberados para ir pra casa!
Nem isso acalmou a multidão de adolescentes enfurecidos. Umas garotas do sexto ano gritavam que havia uma bomba escondida no banheiro enquanto o pessoal do nono ano dizia que o próprio Osama Bin Laden estava escondido no porão da escola, uma loucura! Em cada canto, uma suposição, uma possibilidade, cada um fazendo companhia para sua própria paranóia interior, para sua fantasia de Apocalipse. Era o fim para alguns, e a oportunidade de fazer baderna para outros, cada um encarava a situação de uma forma diferente. Este era o caos primordial, o começo de uma grande revolução.
O prédio tremeu, poeira caiu do teto. A multidão entrou em desespero e em poucos segundos, o peso de 500 estudantes arrebentou os portões da quadra e como uma avalanche de carne, ossos, suor e cabelo, desceram às escadas, rolando, correndo, pulando, escorrendo, usando as outras pessoas para tomar impulso e lançar-se para baixo, para o segundo andar.
- MAS O QUE FOI ISSO? O QUE FOI ISSO?! – gritava Fábia, espichando seu pescoço gorducho para tentar enxergar. Pietro ajudou-a levantando seu corpo para que ela pudesse ver do que se tratava. Do lado de fora, na rua em frente à escola, dois caminhões estavam em chamas, sendo que um havia sido lançado contra o prédio. Os soldados gritavam em meio a uma saraivada de tiros, apontando para alguma coisa que o grupo não conseguiu identificar.
- É um robô gigante. – exclamou Ezequiel, irmão de Fábia, que estivera calado e praticamente inativo, invisível até o presente momento, seguindo o grupo como um fantasma. – um Gundam, como nos animes!
- Não fale besteiras, Ezequiel! – gritou Fábia. Ela era a única que tinha coragem o suficiente para mandar aquele esquisitão calar a boca. Todos os Apocalípticos eram esquisitos, havia um andrógino, uma roqueira, um afro-descendente, uma oriental de seios fartos e uma antissocial, mas ele era o cúmulo da esquisitice.
- AI MEU DEUS! AI MEU DEUS! – gritou Christopher, pulando dois degraus, correndo o risco de cair e se machucar seriamente. – DESÇAM! DESÇAM RÁPIDO! AGORA!
- O que foi?! O que foi?! – gritavam Fábia e Ray Ann, pegas de surpresa, não sabiam se tentavam ver o que acontecia do lado de fora ou desciam.
- AI CARAMBA! – urrou Pietro, metendo as duas debaixo de seus braços enquanto descia os degraus da arquibancada o mais rápido que podia. Foi questão de segundos para que o Apocalipse Club fosse lançado para longe juntamente com a estrutura de ferro numa explosão de poeira e concreto. Outro caminhão havia sido lançado contra o prédio agora. A quadra já estava praticamente vazia quando aconteceu, de modo que aquele grupo de seis jovens inoportunos foi o único vitimado na história.



Minutos antes de o primeiro caminhão ser lançado contra o prédio, numa quadra lotada:
- Tem certeza que isso está certo, Betty? – perguntou uma Velma confusa e assustada.
- É claro meu doce! – respondeu uma voz misteriosa, vinda de dentro da mochila. – o nosso amigo robô vai cuidar desses homens maus e dos seus ex-amigos! Eles vão ter o que merecem! Vão sim!
- Com quem você está falando, Velma?! – perguntou Úrsula. Úrsula era uma garota intragável, tanto em aparência quanto em personalidade; costumava se achar a última bolacha do pacote o tempo inteiro, superior aos outros, suas opiniões eram as únicas que contavam, ela sempre estava certa, o jogo sempre era dela, segura de si em todos os aspectos, era debochada aos extremos. Seu jeito pomposo de falar e sua voz macia, mas firme e dominadora faziam uma combinação ácida que derretia qualquer ideal alheio, ela tinha argumentos e táticas que lhe fariam aderir ao objetivo dela numa conversa curta e grossa. Para completar, aparentemente não se enxergava, era feia feito uma toupeira e gorda feito uma morsa, parecia ter orgulho de mostrar uma barriga quebrada por sobre a calça desfilando pela escola toda com o queixo lá em cima. Isso para não comentar os outros aspectos terríveis daquela garota maligna, por dentro e por fora também.
- Er... Com ninguém, com ninguém! – a pequena Velma meteu a mochila debaixo da blusa, tentando em vão esconder a sua nova amiga.
- Não, me dê isso! – Úrsula usou de seu tamanho e de sua força bruta para imobilizar a pequena e geniosa Velma, de modo que a luta para esconder a boneca companheira fora em vão. Úrsula abriu a mochila com violência. – mas o que é isso, Úrsula?! Falando com uma boneca?! Você está louca?!
Poeira e tremor, e depois correria e caos. O mundo realmente estava acabando, o pessoal do primeiro ano tinha toda a razão... Aquele era o Armageddon, o Apocalipse.
- Meninas! Meninas! Por aqui! – um dos serventes da escola acenava para Úrsula e Velma, que não pensaram duas vezes em cutucar Alberta para formarem uma corrente no meio daquele mar de gente, para que não se separassem de modo algum. Deram as mãos e desceram às escadas apressadas, segurando no corrimão para que a multidão não as arrastasse. Úrsula não sabia de onde conhecia aquele servente, na verdade, nunca o havia visto pelos corredores da escola, mas algo de familiar em seus olhos fez com que ela confiasse nele, e Alberta sentiu o mesmo. As três foram guiadas em segurança para fora do prédio, escoltadas por aquele homem misterioso, correram até a esquina e sem sequer darem conta, adentraram em um veículo misterioso que partiu em fuga desembestada para longe das chamas e das explosões. Algo enorme em movimento fazia o asfalto rachar, mas as jovens não tinham coragem para olhar para trás e constatarem o enorme macaco de metal que disparava torpedos contra os prédios da cidade.
- Quem é você?! – perguntou uma Alberta séria e ameaçadora. Selvagem.
- Eu sou aquele que fará de vocês as futuras rainhas deste lugar! – disse o homem. Úrsula deu um sorriso sugestivo olhando nos olhos daquele homem através do retrovisor do carro. Ela não sabia por que, mas se sentia absurdamente atraída por ele.

Fim do Apocalipse Cinco!


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