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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

The Big Machine 3 - Apocalipse 2



Neon City, Janeiro de 2067, manhã seguinte ao roubo do cérebro artificial.

- Você viu as manchetes? Estamos em estado de alerta! – disse Fernando, jogando o jornal sobre a mesa, um círculo de vidro azul flutuante. – alguém conseguiu burlar a segurança da galeria 19 bem no dia da visitação... Roubaram o cérebro artificial... – ele sentou-se, deu um beijo na testa da esposa e passou o patê de peito de peru no pão de batata.
- Alguém muito inteligente está por trás disso... – suspirou Maxine, estalando o canto da boca e voltando-se para a grande tela na única parede que separava a cozinha do resto da casa. – não estamos lidando com um crime de última hora. Esta ação foi premeditada, com certeza.
- Alguém de dentro, alguém da equipe da segurança fez parte do esquema... – Fernando mordeu com vontade o seu pão.
- Não, era mais de uma pessoa, com certeza – Maxine trocava de canal na televisão holográfica com um simples abano para o lado da sua mão. O roubo da história estava em todos os canais. – um crime assim não é cometido por só uma pessoa...
- E isso fez a ESFERA mudar seu parâmetro de segurança outra vez! – Fernando revirou os olhos – na hora em que ocorreu o roubo, praticamente 80% da equipe humana da segurança da galeria foi substituída por robôs de imediato, demissão em massa... Mais gente pra trabalhar nos super mercados e na coleta de lixo!
- É o que acontece quando não se dá a devida atenção a algo realmente sério... Não sei o que esse cérebro estava fazendo no museu! Tinha de estar no cofre central da sala de controle da ESFERA! É capaz de a galeria ser fechada...
- Bem capaz...
- MAMÃE! MAMÃE! OLHA O QUE EU DESENHEI! – Kátia surgiu correndo, aos berros, bracinhos para o ar, seu vestidinho branco sujo de tinta. Maxine jamais o poria para lavar.
- Que lindo, minha filha! O que é isso? – ela tomou com delicadeza o desenho das mãos da criança e mostrou-o para o pai. Ambos franziram as testas.
- Eu não sei, mamãe! Eu sonhei com isso! – Kátia era hiperativa, pulava sem parar, o tempo inteiro, o cabelo sempre bagunçado.
O desenho feito à tinta com a ponta dos dedos mostrava claramente um triângulo no centro de um círculo. As três faces do triângulo possuíam traços retilíneos saindo em paralelo, para fora da figura. Maxine ficou séria, e Fernando também. Ambos haviam sonhado com a mesma coisa uma noite antes.
- Espera! Espera! – Fernando levantou-se da cadeira de sobressalto e pausou a transmissão televisiva com um simples gesto de pare, com a palma da mão aberta em direção ao holograma. – olhe Maxine! Você o reconhece?! – ele apontava para um ponto escuro ao fundo da repórter, distante, próximo as vitrines das armaduras robóticas em exibição no museu.
- ROBERT! – exclamou o casal em uníssono. A pequena Kátia iniciou uma série de pulos enquanto gritava aquele nome. Havia aprendido uma nova palavra.
- Aproximar! – a ordem dada ao holograma por Maxine deu um zoom na imagem. Suas suspeitas haviam sido confirmadas. Aqueles cabelos escuros, cacheados, o olhar duro e frio de lutador e as sobrancelhas juntas acusavam a verdadeira identidade daquele rosto envelhecido e cheio de cicatrizes. Tratava-se de ninguém menos que Robert, o capataz desaparecido de Alberta Veronese. Um perigoso foragido da justiça.


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Macapá, Setembro de 2010, quarto da pequena Velma.


- Eles não podem me dar às costas assim, eles nunca vão ser felizes sem mim, nunca! – choramingava o vulto num canto escuro, iluminado pela tela do computador. No visor uma foto, uma única imagem brilhava. Cinco rostos. Cinco amigos. A figura minúscula encolhida tremeu de ódio, seus dentes prenderam um guincho e quase trincaram, os punhos cerraram. – eles vão me pagar, todos eles! Todos eles vão me pagar! Todos eles! – seu dedinho pequeno e frágil apertou a tecla delete no teclado, e uma pasta inteira de fotos foi para a lixeira do computador.
- Velma, Velminha... – disse uma voz sonora. – venha cá, meu anjo, deixe-me te dar um abraço!
- Quem está aí?! – chorou a criança.
- Sou eu, querida... – uma boneca surgiu do escuro. Estranho. Aquela era a boneca que sua mãe havia lhe dado de presente no começo do ano. Porque ela estava falando? Seria a ação de algum fantasma? Velma deu um gritinho e tapou a boca com a mão, seus óculos escorregaram para debaixo da cama e ela não pode ver a figura loira do brinquedo, repentinamente espectral. – que malvados os seus amigos foram, meu anjo, que malvados eles foram com você! Feriram seus sentimentos, agrediram seu coração e sua alminha! Em seu lugar eu estaria com muito ódio também...
- Eu estou com ódio! Muito ódio! Eu quero acabar com todos eles! – ela mordeu o punho com força.
- Não faça isso, não se fira, coração! – exclamou a voz, robótica, como se distante, vinda de um gravador ou de uma transmissão cuja fonte estava a anos-luz de distância. – guarde sua raiva para eles, guarde todo o seu ódio para eles, que preferiram acreditar numa desconhecida a acreditar em você! Que eles conhecem há tanto tempo!
- Sim! Sim! – ela engatinhou até a boneca a abraçou-a, hipnotizada – como eles puderam acreditar na Miranda?! Como?! Foi para ela que eu menti, eu não menti para nenhum deles! Todos sabem que eu amo a Guta e só ela! Só ela! Porque eles se meteram? Por quê?! Eu nunca amei Miranda alguma... – a garota soluçava.
- Faça exatamente o que fizeram contra você, meu bem! Fogo contra fogo! Junte seu exército também! Não fique indefesa, nesse canto escuro! Lute! Lute! Mostre quem você é! Eles não são mais seus amigos agora! São pessoas más! Merecem ser punidas!
- Tem razão... – Velma limpou suas lágrimas e ergueu o queixo. A luz da tela do notebook ainda iluminando seu rosto, causando um reflexo branco fantasmagórico nele. – eles merecem ser punidos!




Fim do Apocalipse Dois!

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