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domingo, 30 de janeiro de 2011

The Big Machine 3 - Apocalipse 10


- Por um momento pensei que...
- É claro que não, Chris! – ela deu sua costumeira risada de sinos tilintando, jogou o cabelo escuro perolado para trás e ajeitou a franja. Continuava mantendo a mesma beleza jovial de sempre mesmo usando farrapos e tendo o rosto branco e macio, todo pintado de sardas, agora sujo de fuligem. Era uma deusa em forma de mulher, a beleza dela conseguia sobressair-se em meio à calamidade e à loucura que a rodeava. Haruno tinha os olhos um tanto puxados e o rosto muito bem desenhado, seus seios eram fartos e seu corpo era perfeito, uma escultura de Michelangelo, uma espécie de Afrodite perdida nestas terras distantes antes tão prósperas, agora dominadas ironicamente pela tecnologia, que sempre fora tão ausente nesses recantos do país. – eu sei me virar muito bem! Eu posso parecer boba, mas não sou! A primeira coisa que fiz quando tudo isso começou foi me juntar aos mais fortes e procurar um lugar seguro para ficar, estamos num grupo enormes de refugiados escondidos na periferia, na Zona Norte...
- E como você chegou até nós?! – Augusta não conseguia parar de abraçar a amiga de infância. Encontrar algum conhecido vivo era como receber uma luz divina direto do paraíso, a esperança de que havia um modo, uma salvação, um futuro para aquele povo exilado do resto do mundo. Todos os Apocalípticos e seus netos vindos do futuro estavam reunidos no interior da Casa do Comandante. Haviam montado uma espécie de escritório improvisado onde se ministrava aquele grupo de refugiados que ali estava escondido, dentro de uma das construções seculares erguidas em tempos imemoráveis ao redor do terrapleno no interior da imponente edificação.
- Não foi muito difícil... – Haruno estava distraída, observando as crianças brincarem no escuro da madrugada, correndo ao redor da praça de armas como pequenos cachorrinhos da meia noite, correndo risco de caírem no poço de escoamento onde as águas fluviais antes escoavam. Era muito raro ver tanto riso e tanta alegria em tempos difíceis como aqueles, as crianças não brincavam mais, elas andavam em bandos enormes de órfãos pela cidade, saqueando e assaltando quem vissem pela frente. Os macapaenses estavam vivendo uma vida de vampiro, à noite a cidade acordava, como morcegos e corujas, as pessoas saíam das suas tocas em busca de comida, de água, de roupas, de informação. Não havia riso, não havia alegria. Era um tanto estranho ouvir as crianças e sua algazarra em meio ao silêncio da noite. Faltavam poucas horas para o amanhecer, era tempo de se esconder nas casamatas, procurar abrigo no interior da fortaleza.
- Na verdade, nem um pouco difícil – ela voltou-se para o grupo de pessoas que a observava atentamente à luz das velas – fico me perguntando como vocês fazem para manter os Donkey-Kongs longe daqui...
Christopher deu uma risada nervosa.
- Você os chama de Donkey-Kongs? – após este primeiro momento, todos estavam descontraídos o bastante para soltarem risinhos e comentários tímidos a respeito.
- Não sou só eu! A cidade inteira os chama assim! – deu alguns passos em direção à janela para observar as crianças de perto. Os pais os observavam em algum lugar nas sombras, já chamavam os pequenos pelos nomes, era hora de se esconder, de procurar abrigo, de dormir.
- Nós o mantemos distantes com a ajuda de um campo magnético apolar, criado por Miguel... – Christopher apontou para um homem que estava distraído, folheando uma revista em quadrinhos ao lado do namorado de Ray Ann. Os três comentavam alguma coisa sobre quadrinhos e vídeo game, os assuntos em pauta eram os clássicos, que para Miguel eram exatamente os que estavam em alta nos dias de hoje. Era meio difícil de manter o assunto com pessoas vindas do futuro sem deixá-lo sem pé nem cabeça. – ele deixa os gorilas totalmente desnorteados, é como se a cidade acabasse antes de chegar à Fortaleza... Mas também não podemos bobear, de dia procuramos sair o mínimo possível... Colocamos um vigia em cada baluarte em turnos distintos... Estamos muito bem protegidos, qualquer ataque surpresa, estaremos preparados...
- Não podiam ter achado esconderijo melhor... – comentou Haruno, olhando para o vazio da noite lá fora. O que se viam eram apenas vultos de tudo, vulto das construções ao redor da praça interna, vulto das pessoas que tomavam o ar noturno, tudo iluminado por um céu estrelado como nenhum outro. As constelações dançavam no mar escuro da noite brilhando como nunca haviam brilhado antes, a natureza estava respirando após anos de agitação e urbanização. A escuridão lá fora era total. – esse lugar é perfeito, a arquitetura dele é perfeita, ele é dinâmico, qualquer atividade suspeita do lado de fora e vocês ficarão sabendo imediatamente... Pegaram a sorte grande... É muito escroto ficar pulando de prédio em prédio, só essa semana já derrubaram duas edificações com gente ainda dentro!
O coração doía ao ouvir relatos como aqueles. Fábia levou a mão ao peito, uma lágrima escorreu pelo canto do seu olhinho puxado. Só de imaginar todas as vidas que foram perdidas em meio àquela guerra e quantas outras foram alienadas pelos Estádios da Morte... Os meses não passavam, se arrastavam, era uma tortura que não terminava, e que só ficava pior com o rastejar dos dias. Com a proximidade do Natal, as famílias se desesperavam, derramavam rios de lágrimas que poderiam inundar facilmente aquele último refúgio, choros dolorosos por aqueles que se foram e aqueles que desapareceram.
- Mas então, é verdade o que você disse? – Pietro quebrou o silêncio. – você sabe mesmo onde fica o quartel general da S.U.J.A.?
Haruno fez uma careta.
- S.U.J.A.? O que isso quer dizer?
- Sapatões Unidas Jamais Arregarão – fez Maxine, com descaso. Gabrielle e Tifa seguraram o riso. Elas simplesmente não conseguiam se acostumar àquela sigla e ao seu significado hilário, escolhido pelos Apocalípticos muito antes da guerra começar. Elas tinham de segurar o riso. Porém, Haruno não agüentou, soltou a gargalhada mais alta e mais longa que poderia ter soltado. Augusta e Christopher foram pegos de sobressalto, ninguém ria tão alto assim ali, era perigoso demais! Voaram para cima da amiga tapando a boca da garota, desesperados, enquanto o restante do grupo estremecia e chiava por entre dentes, pedindo silêncio.
- Desculpe! Desculpe! Sério! Mas eu não pude segurar! – afastou os dois pares de mãos do seu rosto, porém continuou rindo, agora para dentro. – vocês conseguem inventar apelido pra tudo, não é mesmo?!
- Ideia do Chris, como sempre! – Ray Ann deu de ombros.
- Tinha que ser... – Haruno suspirou após a crise de riso. – só ele consegue me fazer rir em situações como essas... – segurou forte na mão do amigo, os dois se abraçaram.
- Onde fica, Haruno? Onde fica a central da S.U.J.A.? – pediu, ao pé do ouvido da moça, ela o afastou delicadamente.
- Se eu lhes disser, vocês não vão acreditar...


Fim do Apocalipse Dez!

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