quarta-feira, 28 de julho de 2010
Um Passo e Tanto...
sábado, 24 de julho de 2010
The Big Machine II - Parte 11
- Que tipo de lugar é esse? – Gabrielle ainda estava hesitante no escuro, pisando vez ou outra no azulejo branco que piscava em azul após a pressão dos pés. Ao que parecia, toda a extensão daquele estranho corredor era feito de azulejos brancos, desde o chão até o teto, as paredes, absolutamente tudo. Não exatamente tratava-se de azulejo que ali recobria, mas alguma coisa devia de ser, apesar da aparência branca, quadrada e lisa, era macio e não parecia ser gelado. Algum tipo de estranho material. Maxine já ia longe, pisando firme, brincando de amarelinha, descobrindo cores que nunca havia visto no mundo de cima. Fernando tropeçou e apoiou-se na parede. O azulejo produziu a luz azul e uma nota musical estridente como saída da tecla de um sintetizador afiado. Assustado, o rapaz caiu de costas, acionando as luzes rosa, laranja e preto. A reação a isto foi uma peça que se desprendeu do teto, e para a surpresa dos três, os azulejos nada mais eram do que cubos, sim, grandes cubos macios como marshmallows dispostos um ao lado do outro nas paredes e no teto em espaços quadrados feitos para eles, como estantes. Assim que um caía, em seu lugar entrava outro, como que por mágica, se materializavam. Maxine ficou estática, de tão surpreendida que fora pelo cubo que desprendeu-se do teto bem diante dela. Se fosse de concreto poderia tê-la matado!
- Eu estou falando! Isso é armadilha, ta na cara! Vamos acabar morrendo! – exclamava Gabrielle, do escuro pré-corredor.
- Não seja boba, se a ESFERA nos quisesse mortos, já teríamos morrido! Viu o que aconteceu com a Ferrari? As abelhas passaram voando bem do nosso lado e não fizeram nada! – Fernando esticou a mão para Gabrielle – vamos, eu te ajudo!
- Parem! Parem! Fiquem parados aí! – gritou Maxine.
Os dois viraram-se para a amiga, que continuava parada feito estátua. Apavorada. O cubo que se desprendera do teto estava sofrendo um estranho efeito de retração, e isso de algum modo fazia os quadrados do chão formarem geometrias coloridas estranhas, quase alienígenas logo abaixo dos pés da garota. Então os quadrados que formavam as paredes e o teto tornaram-se pretos por completo, deixando branco somente o pequeno espaço que havia entre eles, de modo a parecer um estranho banheiro comprido demais. Uma música começou a tocar no último volume, e um letreiro digital em verde surgiu, piscando nas paredes, as letras formadas pelos quadrados diziam “CORRAM” enquanto se moviam túnel adentro. A reação foi imediata: o trio não pôde desobedecer.
- Mas que música infernal é essa?! – gritou Fernando enquanto tomava a frente na corrida pela vida.
- Bulletproof! La Roux! – respondeu Maxine gargalhando de nervosa enquanto dava olhadelas para trás, procurando algum robô ou máquina destruidora que estivesse os perseguindo com olhos de fogo e potentes canhões eletrônicos.
- Mas que diabos de banda é La Roux?!
- Cala a boca Grabrielle, cala a boca e corre! – Fernando com as suas pernas compridas já estavam longe. Maxine gritou, fora surpreendida por um estranho obstáculo que brotou do chão como uma planta nasce da noite pro dia no meio de uma clareira, só que numa velocidade absurda. Uma pirâmide foi cuspida pelos azulejos, uma pirâmide branca e brilhante que refletia os quadrados pretos da parede como um espelho, quadrados que piscavam e formavam figuras geométricas, serpenteando pelas paredes como monstros perseguindo os jovens em desabalada carreira, saltando cubos que caíam do teto, eneágonos que a parede soltava, violenta, cilindros que surgiam girando no meio do caminho, triângulos, esferas, cubos e mais cubos, agora coloridos e não mais brancos, estampados amarelos de bolinhas rosas, alternando com a cor do couro da zebra ou da onça. As estampas das formas geométricas gigantes que surgiam no caminho alternavam conforme eles avançavam no corredor.
- Porque eu estou me sentindo em um jogo de plataforma?! Porque?! – resmungava Gabrielle, ofegante, não conseguia mais pular os cubos que iam surgindo, agora em conjunto, formando figuras como num quebra-cabeça tetris diabólico e na vertical, cada vez mais coloridos e mais rápidos, caindo do teto, brotando do chão, cuspidos pela parede.
- Essa parede! Ela tocou uma nota musical quando o Fernando encostou num dos quadrados! – gritou Maxine.
- Sim, tocou!
- É isso! É isso! O Fernando acionou o tenorion! Nós estamos dentro de um tenorion! – Maxine deu uma pausa – bom, é quase um tenorion, porque...
- Abaixa! – Gabrielle pulou sobre a amiga e levou-a ao chão. Um enorme bloco com quatro cubos conectados um ao outro foi lançado pela parede, atravessando o corredor na transversal e sumindo na parede oposta.
- Porque é um corredor! Esses quadrados nas paredes funcionam como se fossem os botões luminosos de um tenorion!
- Mas isso é genial! Quem construiu isso?! – Gabrielle corria olhando maravilhada para as paredes que pareciam dançar frenéticas.
- Com certeza o mesmo cara que montou a Dark Side! Aquela boate da rua de trás da Octopus! Ele é o único arquiteto no mundo que conhece a técnica...
Maxine estancou subitamente apavorada, olhando para um Fernando que corria longe e depois pra trás.
- FERNANDO! FERNANDO! – gritava. O rapaz, distraído pelos gritos da amiga desesperada tropeçou numa barreira formada por quatro cubos em forma de “S” que surgiu logo após seu olhos terem virado para trás, a procura do motivo para os berros apavorados de Maxine. Foi quando ele percebeu que seu braço havia ficado para trás numa espécie de lâmina triangular, tirando de sua estrutura toda a tridimensionalidade e tornando-o da espessura de uma folha de papel.
- Mas que diabos... – ele meteu a mão no espaço vazio onde antes estivera seu braço, e para seu espanto, ali ele estava, mas invisível de algum modo. Ele gritou assustado ao perceber a presença do aparentemente perdido.
Gabrielle começou a chorar.
- O que está acontecendo aqui?! O que está acontecendo?! Nós vamos morrer?!
Maxine sacudiu a amiga.
- ACALME-SE GABRIELLE! – gritou – não vamos morrer se corrermos o mais rápido que pudermos! – as peças de tetris continuavam caindo sem parar, já estavam lotando o corredor, era praticamente impossível correr com aqueles cubos coloridos acumulados, perfeitamente encaixados. – e acho melhor corrermos mesmo! – ela apontou para o chão – olha só! Os tetris estão fechando um limite ao nosso redor! Estão nos prendendo! – nesse exato momento, um único cubo gigantesco tapou toda a visão das duas. Uma escalada apavorada e aos gritos começou, e por pouco elas não se viram seladas pra sempre no subsolo de Neon City, cercadas de tetris por todos os lados.
Metros à frente foi a vez de Maxine aparentemente perder uma parte do corpo. Sua perna ficara para trás, congelada no tempo, espremida no espaço.
- Esse lugar está prendendo a imagem dos nossos membros! – foi a conclusão que Fernando tirou após melhor analisar do que se tratava aquela perda repentina dos braços e pernas – Estamos atravessando algum tipo de campo que captura a imagem dos nossos membros e depois disso toda a luz que bate nele não é mais refletida! Deixando eles invisíveis!
Gabrielle e Maxine gritaram.
- O que foi?! O que foi?! – perguntava um corpo sem cabeça.
- Cala a boca Fernando, e agora corre! – fez Gabrielle. Os três estavam chegando ao final do túnel cujos temas quadrados eram o tenorion e o tetris, o impossível estava prestes a acontecer: exatamente no momento em que eles botaram os pés para fora do mundo de pixels, depararam-se com um salão escuro, de quadrada perfeição onde lâmpadas fluorescentes tubulares azuis flutuavam ao léu, de modo fantasmagórico a causar leve impressão de mistério e assombração. O incrível era que elas flutuavam em sincronia perfeita, pois as mais próximas do chão estavam dispostas na vertical em filas, e as do alto formavam belas formas circulares dispostas de modo a parecerem raios de sol. Os membros desaparecidos retornaram, e os três sobreviventes se abraçaram, aos prantos, aliviados.
- Agora vamos, adiante! – Fernando deu um passo à frente, e foi atingido de imediato por uma descarga elétrica que iluminou todo o salão, revelando as figuras pavorosas de Alberta e Robert escondidos nas sombras e longe da iluminação das lâmpadas. Maxine gritou e jogou-se sobre ele, tentando despertá-lo. Gabrielle não pensou duas vezes, começou a atirar, estourando uma leva de lâmpadas que lançou pó branco e vidro picado pelo ar. Outro raio atingiu-a em cheio. Maxine meteu a mão no cinto branco onde pendia sua arma.
- NEM TENTE FAZER ISSO! – grasnou a velha, atravessando o salão com o braço em riste faiscando na direção da garota. – ou eu estouro a sua cabeça aqui mesmo!
Fim da Parte Onze!
Factor Nerd Publica: Lilith!
quinta-feira, 22 de julho de 2010
A Estrela
terça-feira, 20 de julho de 2010
O Rally Feminino de Natação.
The Big Machine II - Parte 10
- Max, antes que você se vá... – Pietro parou a angustiada e atordoada Maxine no meio do caminho para as grandes portas que igreja que selavam a saída do Apocalipse Hall, caminhando sobre o inferno pintado nos azulejos. Com o susto, ela deixou cair ao chão sua estranha arma de dois gatilhos – quase me esqueci do verdadeiro motivo pelo qual seu avô a mandou pra cá...
Pietro ergueu seus olhos para os dois outros.
- Vão, subam para a moto, tenho um segredo de família pra contar!
Gabrielle e Fernando se entreolharam confusos, mas não desobedeceram. Afinal, havia um negão de quase dois metros de altura usando um quimono de treinamento samurai embainhando uma espada ninja. Não era muito aconselhável desobedecer as regras de um tipo como aquele, mesmo que este fosse seu avô.
Agora Maxine olhava confusa para a luva verde-escura feita de uma liga metálica indecifrável, fixada no seu braço como fita isolante. Os três já sobrevoavam Neon City e desciam para a entrada dos subterrâneos, por onde entram os caminhões de tratamento de lixo, na ponta mais distante da cidade que em tamanho poderia se comparar à São Paulo de hoje em dia, e continua crescendo e crescendo sem parar.
- Ainda não entendi o que essa luva faz, Max... – Gabrielle levantou seu capacete preto e virou a cabeça para trás, para observar a amiga destraída, hipnotizada pelo brilho fugaz de fogo que a oval jóia encravada nas costas daquele artefato brilhante, exatamente sobre as costas da mão. – é algum amuleto da sorte do seu avô?!
- Não é uma luva, Gabi, é uma “manopla”... – fez Max. A moto planária já descia cortando por entre os prédios e as passarelas suspensas, voando sobre o trem-bala flutuante sob os trilhos de magnetismo – não sei muito bem o que quer dizer, ele só disse que, quando eu precisasse de ajuda, era só me concentrar. Disse que eu tinha o sangue das guerreiras celtas e que meu avô sabia disso. Por isso a “Witchblade” estava guardada.
- COMO É? WITCHBLADE?! – Fernando quase derrubou todo mundo com a guinada rápida e desatenta que ele deu em direção ao túnel que descia aos mais profundos infernos de Neon City, onde o lixo, as fezes e os meliantes eram tratados.
- FERNANDO! – Gabrielle espancou as costas do rapaz – está maluco?!
- A Witchblade é a manopla celta dos quadrinhos! Um grande sucesso que...
- PRESTA ATENÇÃO FERNANDO! – gritaram as duas garotas em uníssono. Gabrielle pegou o queixo de Fernando com violência e o virou para frente. Eles cruzavam um túnel incrivelmente colorido e psicodélico, cinlíndrico até certo ponto, onde suas paredes e sua estrutura convergiam para formar um triângulo por onde os caminhões passavam em alta velocidade num fluxo constante como sangue prateado correndo nas veias. Caminhões totalmente automáticos, monitorados por assalariados da ESFERA. Ao fundo, bem de leve, uma música antiga tocava, Mathematics da Little Boots, como Max identificou, perita nos clássicos.
- O mapa que o tal de Ezequiel-san instalou na Planária mostra todos os túneis... até certo ponto, onde o sinal é interrompido por uma parede de vácuo... – Fernando analisava os complexos gráficos que dançavam na tela holográfica esférica embutida na moto. Os cabelos estavam ao vento, que cortava feroz as roupas de borracha.
- E por falar em Ezequiel-san, estranho aquele velho heim?! Queria saber como o vovô consegue viver sozinho no sítio com ele... – Gabrielle fez uma careta para o carro de lixo que passou ao lado – ele não tirou os olhos dos meus peitos!
A moto deu outra guinada, saindo do fluxo constante de caminhões e indo parar numa espécie de “artéria” menos movimentada. Era o túnel hexágono que levava direto às cadeias subterrâneas, onde os presos mais perigosos flutuavam em bolhas de vidro acima do fluxo do trânsito dos caminhões de lixo, e os comuns em celas hexagonais como as celas onde as abelhas cultivam suas larvas para o amadurecimento do embrião nas colmeias. Não era a toa que a cadeia nacional era chamada de “Abelha Rainha”, o seu formato oval, as pequenas e milhares de celas nas paredes e a sua cor amarelada lembravam em tudo uma colmeia.
- ALI! OLHE ALI! – Maxine apontava para algo que só ela estava enxergando entre os vultos prateados dos caminhões – OLHE! É O CARRO DA ALBERTA! O CARRO FLUTUANTE DA ALBERTA!
- E como você pode ter tanta certeza?! – Fernando era descrente até ver o design aerodinâmico e vermelho brilhante daquela Ferrari monstruosa – é ela! O que uma Ferrari veio fazer nos subterrâneos de Neon City?!
- Siga-a! – gritou Gabrielle apontando o dedo para a frente – SEMPRE QUIS DIZER ISSO! – e vibrou a bunda sobre o banco feito um aparelho celular.
- Olha! Está tocando Goldfrapp! – Maxine já mexia os ombros ao som de Train.
- É impossível uma menina conhecer tantas músicas antigas assim... – resmungou Fernando acelerando até sobrevoar o carro da cowgirl biônica mais procurada de Neon City, camuflados por um dos caminhões que voava logo abaixo, entre eles e a Ferrari vermelha. Foi então que três naves brancas surgiram de túneis paralelos que desembocavam na colmeia gigante. Maxine percebeu que se tratavam de robôs na verdade, robôs brancos em forma de abelha com um olho só! Um brilhante olho de vidro que emanava luz cor-de-rosa feito lanternas pavorosas. Inclinando-se a toda velocidade sobre o carro de Alberta, as abelhas albinas utilizaram de seus ferrões equipados com potentes metralhadoras para explodir o carro vermelho em milhões de pedaços. Os três jovens gritaram. A frota de perseguição já estava cruzando feito bala outro túnel a esta altura, há vários quilômetros de distância da Abelha Rainha. As luzes azuis de neon cegavam os motoristas que não usavam óculos escuros ou capacetes equipados com tal ferramenta. E então mais três Ferraris vermelhas cruzaram o pequeno espaço acima das cabeças dos três, voando como marimbondos furiosos ultrapassando a tudo e a todos que cruzassem seu caminho. As duas estranhas naves em forma de abelha explodiram após a passagem do bando, como se tivessem sofrido um ataque tão rápido do qual não puderam escapar. Fernando acelerou como nunca.
- VOCÊ ESTÁ LOUCO?! VIU O QUE ACONTECEU COM AS VIGIAS? VAMOS MORRER SE CONTINUARMOS ESSA PERSEGUIÇÃO! – berrava Gabrielle.
- CALA A BOCA GABRIELLE!!!
Duas das Ferraris voadoras estancaram mais à frente, voltaram-se para a planária que estava a meio caminho e colocaram suas línguas pra fora, duas armas de destruição sísmica poderosas.
- PRA BAIXO! – gritou Fernando. As duas passageiras se inclinaram, a moto desceu em mergulho até o fundo do túnel, onde Fernando fez uma força sobre-humana para colocá-la no curso vertical outra vez. O tiro dos dois canhões foi o bastante para explodir cinco caminhões que vinham logo atrás. Eles estavam cada vez mais perto do primeiro Triturador. Um monstro metálico cheio de dentes que abria e fechava sua boca de ferro no subterrâneo durante 24 horas por dia, o destino final de todo o lixo de Neon City. Lixo esse que é separado com responsabilidade entre vidro, plástico, papel, metal e orgânico pelos moradores. Para cada um destes havia um triturador diferente. A última Ferrari restante estava ultrapassando o segundo Triturador àquela altura. Ali próximo, os caminhões já diminuíam o ritmo e estacionavam nas plataformas de onde o lixo era despejado. O trio sobre a moto sobrevoou rente aos dentes ferozes dos fossos gigantes, estavam em desabalada perseguição, de olho no vulto vermelho que dançava em alta velocidade à luz dos tubos de neon em arco-íris que recobriam as paredes dos túneis.
- Não sei por que, mas isso de algum modo me lembra Speed Racer... – foi a reflexão-mór de uma nervosa Gabrielle, gelada de medo.
- Qual o grande comentário depois desse, Gabi?! – gritou Fernando, tentando descontrair. Ele gargalhava, a adrenalina estava correndo em quantidades absurdas nas veias dele.
O fluxo de trânsito praticamente sumiu. Nenhuma nave sentinela à vista. Início da área proibida: os veículos ultrapassaram os hologramas em forma de teia com os avisos brilhantes sem sequer parar para piscar. Ao todo foram seis paredes falsas em forma de teia com a mesma frase “ÁREA PROIBIDA, AFASTE-SE”. Uma de seda, uma de lã, uma de bambu, outra de madeira, outra de concreto e uma de ferro. Após elas, um grande abismo se abriu, e um fedor horrendo fez com que Gabrielle vomitasse no escuro da maior fossa do mundo. Um super ventilador soprava o odor insuportável pra baixo, mas isso não adiantava, o fedor ali era insuportável. Era o primeiro estágio da geração de energia em Neon City. A entrada do próximo túnel ficava logo adiante, onde eles foram recebidos por um banho de desinfetante, perfume, água e sabão.
- Veja pelo lado bom, pelo menos a moto está limpa agora! – riu Fernando.
- E nós perdemos aquela vaqueira dos demônios de vista! – resmungou Maxine.
E então um escudo anti-gravitacional foi ativado, e a moto não pode mais voar, ela foi descendo lentamente até postar-se exatamente ao lado do carro abandonado de Alberta Veronese. O túnel tornou-se estreito e quadrado como um corredor, e as paredes mais à frente eram brancas como leite, e brilhavam como a lua. Maxine foi a primeira a meter o pé no azulejo branco do chão, que brilhou azul, e aos poucos ela foi descobrindo que cada um dos quadrados do chão piscava numa cor diferente.
- Venham! Não tem perigo!
Gabrielle e Fernando entraram no mundo branco e psicodélico. Receosos, mas entraram.
Fim da Parte Dez!
sábado, 17 de julho de 2010
The Fatcat House na Web!
sexta-feira, 16 de julho de 2010
The Big Machine II - Parte 9
- Não estou muito segura de...
- Gabi, você nunca está segura – Fernando cortou as reclamações pela raiz.
- Mas você por um acaso sabe o que dizem das velhas ruínas?!
- Sei sim, e não estou nem um pouco assustada! – Maxine fez cara de despreocupada e girou a cabeça para trás, evitando comer o cabelo que insistia em entrar na sua boca por causa do vento forte. Estava triste, preocupada, assustada, apavorada e maravilhada ao mesmo tempo, de modo que o seu corpo e a sua alma tomaram-se por um torpor imenso ao lembrar-se do avô ao olhar parar as estrelas.
No estranho céu escuro de Neon City elas não podem ser vistas, por causa da luz tremenda e dos fortes clarões de neon que piscam nos corpos dos prédios de cima a baixo nas noites do deserto. Ao longe, Neon City tratava-se de um gigante corcunda, um vulto colorido, um dinossauro cheio de placas ósseas despontando das suas costas em direção ao céu, um estegossauro de neon. Era uma grande maravilha, uma flor brotando no meio das areias. Mais meia hora de viagem, e então ela desapareceria, ficaria para trás, e as sombras apavorantes dos prédios abandonados de Macapá começariam a surgir como demônios famintos escapando da terra seca. O pouco de cerrado que restou tomou conta de lá. As queimadas e o avanço das cidades e o calor secaram com aquela região, porém grande parte do extinto estado do Amapá ainda encontra-se como uma densa mata fechada. Uma raridade para aqueles tempos inóspitos.
- Além de fantasmas podemos encontrar ETs por lá, e gente morta também! – Gabrielle não parara de falar um segundo desde que a Planária saíra dos céus da cidade, mais parecia uma matraca – sem contar que pode ser lar de gangues do deserto! Gangues do deserto! Aqueles desordeiros que vez ou outra picham os muros da cidade ou assaltam as caravanas que saem de Neon City!
- Gabrielle! Para! Tá bem?! – Maxine segurou os ombros da amiga – nós estamos indo para a chácara do seu avô! Não fica exatamente no centro da cidade, fica nas redondezas! Nós não vamos entrar nas ruínas, é claro que é perigoso!
A Planária voava baixo, aproximadamente dois metros de distância do chão, oscilando pra cima e para baixo vez ou outra, o que fazia Gabrielle soltar uns gritinhos de espanto vez ou outra. Fernando pilotava muito sério, calado, olhos escuros como a noite que os cercava, piscando como duas pérolas negras acima das luzes alienígenas etéreas que escapavam das laterais da moto flutuante. Não havia lua, apenas estrelas e a Via Láctea escorrendo como leite pelo tecido preto do universo acima das suas cabeças. Não havia estrada e não havia sinalização. As poucas placas visíveis estavam destruídas, caídas, tombadas ao chão como cadáveres. Gabrielle sempre arregalava os olhos ao passar por uma delas, esperando ver o rosto retorcido de pavor do defunto que morreu ao léu.
- Estamos chegando, está vendo? – Maxine abraçou a amiga – não há nada pra temer aqui, Gabrielle, são apenas ruínas, abra os olhos – os dedos brancos da garota indicavam os vultos de velhas construções que começavam a aparecer, tomadas pelo mato, engolidas pela natureza após tantos anos servindo de abrigos humanos. Hoje, lar de seres da noite, de criaturas da floresta, de gente abandonada, esquecida. Mal o trio sabia, olhos esbugalhados e sedentos observavam cada movimento que a moto fazia, olhando assustados do escuro, com medo de se aproximar, com medo de serem pegos, com medo da deportação espacial. Voltar para o planeta de origem nunca mais! A Terra é o novo lar deles, daqueles que viajaram anos luz para se estabelecer em cidades abandonadas ao redor do mundo. Clandestinos no mundo.
Fernando sabia muito bem onde era o Apocalipse Hall, sua avó o levara lá muitas e muitas vezes quando era criança, quando ainda era seguro visitar as ruínas da seca e da fome. As ruínas onde algumas pessoas ainda teimavam em residir por medo da tecnologia, por apego ao passado daquela cidade. Aos poucos os velhos foram morrendo, os alienígenas foram chegando, se instalando, o mato foi crescendo, o calor aumentando, até que se tornou impossível sobreviver ali. Mas uma única pessoa aceitou as condições do isolamento, um único ser humano que não abriu mão de seus bens, do trabalho de uma vida toda, aquele velho turrão, aquele velho durão do tipo teimoso que não larga o osso, sangue negro, força de vontade faz parte do DNA, a luta faz parte da história dos seus ancestrais. O velho Pietro continua por ali, cuidando para que pelo menos aquela parte da cidade ao redor do Apocalipse Hall fique em paz, bem cuidada.
Os primeiros sinais foram canteiros bem cuidados, postes acesos, depois a rua tornou-se clara e limpa. As casas acesas como numa noite comum da velha Macapá. Carros como se comprados no mesmo dia, estacionados à beira da calçada.
- Estamos chegando, Gabrielle, olha só, aqui tem luz, os alienígenas que vivem nas ruínas são em geral fotossensíveis, você está à salvo, sua tola! – ele levou a mão para trás e deu tapinhas na coxa da garota, sem descuidar da direção. O primeiro sorriso que Fernando deu desde que saíra de Neon City fora o mais largo do mundo. As luzes aliviaram toda a tensão do momento. Apocalipse Hall surgira como uma montanha laranja ao longe iluminada por luz divina em meio a um mundo de trevas eternas e infernais. Pietro providenciara os holofotes mais poderosos que pudera encontrar, cercara sua casa com tanta luz que era quase impossível de se enxergar ali ao redor, era como entrar no paraíso. A moto sobrevoou o muro e encontrou um pequeno Éden escondido pelas paredes gastas pelo tempo.
- Mas como é lindo! – Maxine estava maravilhada. Plantas tropicais brotavam de todas as partes. Altas árvores despontavam aqui e ali sobre a grama verde, verde como esmeralda pura. O cheiro de mata, o cheiro da natureza, era algo sobrenatural para aqueles jovens que cresceram cercados pelo deserto, pelo metal e pelo neon, pelos cheiros mais artificiais do mundo. – não sei porque, mas isto aqui me lembrou um pouco o filme “Eu Sou a Lenda”!
- Não tinha filme um pouco mais antigo, não, Max?! – riu Fernando, nervoso.
- É um clássico, ok? E é um dos meus favoritos! – enquanto Fernando diminuía cada vez mais a velocidade ao encontrar uma trilha de pedras lisas cruzando a grama e a mata particular que cercava o Apocalipse Hall, Maxine e Gabrielle sentia todo o aroma de uma natureza intocável, verdadeira, pura, sem a mão artificial do homem. Aquelas árvores tinham muito mais vida que as árvores de Neon City, essas pareciam livres, felizes, as da cidade eram como animais acorrentados, sufocados pelos prédios.
A figura daquele prédio antes visto como uma montanha iluminada ao longe ressurgiu entre a mata particular em demasiada majestade que era quase como uma joia perdida, um tesouro no meio da floresta, uma El Dorado dos tempos modernos. Imponente e belo erguia-se na vertical iluminado por holofotes de luzes alaranjadas, tinha aproximadamente cinco belos andares trabalhados exclusivamente em sua arquitetura especial, coroados por um pequeno castelo inspirado na Era Edo do Japão ancestral, de teto pontiagudo e cercado por dragões compridos com suas garras, seus chifres de cervo e seus pés de galinha, cercados por bonsais em tamanho família. Uma velha música tocava ao fundo naquele lugar, “Watcha Think About That” talvez, das Pussycat Dolls. Uma música antiquada e ultrapassada, mas muito valorizada pelo dono daquele lugar.
- VOVÔ!!! – a moto voadora em forma de platelminto mal estacionou ao lado da fonte, Gabrielle saltou feito uma anfíbia para o colo do avô, um velho careca que a esperava de braços abertos com um enorme sorriso estampando seu rosto negro enrugado.
- Gabi! Gabi! Que linda que você está! Que linda que você está, minha pérola negra! – Pietro apertou tanto a neta que mesmo após uma hora Gabrielle ainda estava se sentindo um pouco torta.
- Vamos, vamos! Desçam dessa moto e entrem! Vocês precisam de roupas, de armas, de instrução!
Fernando e Maxine se entreolharam e apenas obedeceram, apertando a mão pesada do eterno proprietário do Apocalispe Hall e cruzando as portas da casa.
- Eu estou à par de tudo, de tudo! – fez ele, trancando a porta atrás das costas dos garotos. O que se revelou para o trio foi um extenso corredor de teto altíssimo, sustentado por colunas lisas onde belas pinturas emendavam-se com os anjos que voavam no teto côncavo em eterna batalha contra os demônios que subiam do abismo pelas colunas. Maxine pisava nos rostos deles enquanto caminhava. – gostou Max?! Seu avô! Coisa do seu avô! Ele que sempre foi todo “nórdico” como a gente costumava chamar pra ele...
Maxine e Fernando ainda estavam um pouco apavorados, surpreendidos, tudo era novidade para elas ali. Fazia anos que não saíam de Neon City, afinal, tudo do que eles sempre necessitaram estivera ali, atrás das paredes de vidro grosso que encerram o olho do mundo e toda a tecnologia, nunca precisaram sair para ver o mundo, para encarar a realidade, nunca houve necessidade disso, e agora eles estavam distantes de tudo o que conheciam, vendo um universo completamente distante e paralelo, a arquitetura assustava, as pinturas assustavam. Tudo ali era mais natural, era mais esférico, mais flexível, mais maleável. Em Neon City as coisas parecem tão duras, quadradas e artificiais perto daquele paraíso erudito que era o Apocalipse Hall.
No final do corredor havia uma escada, por onde os quatro subiram. Gabrielle e o avô dividiam novidades, soltavam gargalhadas, sorriam, se abraçavam, faziam brincadeiras. Fazia cinco anos que eles não se viam. Há exatos cinco anos as ruínas tornaram-se isoladas e proibidas.
- Vamos! – ele subiu à frente do grupo, todo desengonçado – não temos tempo para conversas e cordialidades, meninos. A esta altura Alberta Veronese já deve estar executando seu plano...
O velho apertou um botão na parede, que levantou um dos quadros e revelou um elevador, pra onde os três adolescentes foram empurrados. A subida foi direta, sem paradas ou explicações. Pietro estava muito impaciente e preocupadíssimo, a paz naquele mundo dependia daqueles jovens. As portas do elevador só se abriram para revelar um enorme salão, repleto de armaduras de samurais e objetos de arte oriental em exposição, sendo cortados por um tapete vermelho deslumbrante que terminava num enorme trono de ouro, onde uma coroa e uma estranha máscara na cor vermelha sem os buracos para os olhos descansavam como se abandonadas pelos anos. Maxine estava maravilhada. Ouvira falar daquele paraíso a vida inteira, mas nunca tivera a oportunidade de ver tão de perto assim, e se tivesse visto algum dia, não se lembrava. O grande pesar era ter de passar por ali correndo, sem poder admirar verdadeiramente todas aquelas frágeis relíquias com pesos de anos inteiros nas costas.
Atravessando o salão, havia uma bela e extensa parede oriental, feita de papel de seda selando o bambu em forma de grade, onde uma porta de correr foi aberta por Pietro com uma rapidez surpreendente, revelando uma sala branca onde as paredes estavam parcialmente cobertas por armas de todos os tipos e tamanhos. Uma bazuca gigantesca era a primeira coisa que se via ao abrir a porta.
- Posso ficar com ela?! – fez Fernando.
- É claro que não – a resposta foi curta e grossa.
Pietro fez todo o trabalho ali, pediu para que o grupo ficasse do lado de fora de sala e que não tocasse em nada enquanto ele pegava os itens necessários.
- Estimo que vocês não sabem o que aconteceu enquanto Alberta esteve fora, não é?! – ele não esperou resposta – pois bem, ela estava estudando o Colisor de Hádrons de Genebra, o tal acelerador de partículas que gerou toda aquela polêmica quando foi ligado há décadas atrás... Ela e Maurice estiveram estudando durante todos esses anos uma possibilidade de cruzar as dimensões, e o máximo que foi obtido com a colisão das na época recém-descobertas “partículas de Deus”, foi o vislumbre de uma janela para outro mundo. Um mundo onde o doutor Maurice de lá construiu uma máquina gigantesca e usou do cérebro de um ser humano controlado por ele como placa-mãe... A Carminha Parafuso!
- Sempre ouvi falar dessa mulher, mas nunca soube quem ela era de verdade – Maxine deu de ombros. – ela meio que virou personagem folclórico, hoje em dia todo mundo diz “Tá pensando o que?! Que eu sou a Carmen?!”...
- Isso mesmo! O cérebro da Carminha Parafuso foi usado de placa-mãe para um instrumento chamado “The Big Machine”, um organismo meio humano e meio máquina muito próximo do que no nosso mundo é a ESFERA, mas não tão inteligente quanto ela, pois seu lado humano era influenciado e alienado por Maurice... – enquanto falava, Pietro separava pistolas estranhas, nunca antes vistas por nenhum dos três, provavelmente tecnologia proibida para civis, pareciam ser altamente destrutivas. O tamanho era pequeno, mas seus formatos de geometria aerodinâmica assustavam. – e Alberta queria isso, o controle do cérebro da ESFERA. Aparentemente, ela atravessou para essa realidade alternativa graças ao Colisor de Hádrons que chocou as partículas de Deus em larga escala, e lá descobriu o segredo para dominar o nosso mundo... Agora como, eu não sei, mas que ela sabe, sabe, e vai acabar com tudo o que conhecemos assim que chegar à sala de controle da ESFERA!
Pietro estendeu as armas e os uniformes para o trio.
- Mas ninguém nunca encontrou a central da ESFERA! – fez Gabrielle, apavorada com a ideia de ter que enfrentar aquela mulher assustadora, ou pior ainda, ter de vasculhar todos os milhões de corredores e bolsões da galeria subterrânea que sequer possui um mapa acessível aos cidadãos comuns de Neon City, por serem altamente proibidos para civis. E se eles ficassem perdidos por lá?!
- Isso aí já e com vocês! – riu Pietro. – vamos! Peguem as suas armas!
Os três se entreolharam. A realidade estava batendo à porta outra vez.
Fim da Parte Nove!
(sim, isto virou uma novela)
quinta-feira, 15 de julho de 2010
E então...
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Despedida!
The Big Machine II - Parte 8
- Já! Eu já liguei para todos os amigos dessa menina, ela não está em lugar nenhum! Em lugar nenhum! – Stéphanie nunca esteve tão desesperada em toda a sua vida – e o pior é que Fernando e Gabrielle também sumiram! Eu liguei para as duas casas e eles não voltaram da escola! Me parece que o Miguel voltou, mas sozinho!
- Essa menina se meteu em encrenca, eu tenho certeza de que ela se meteu em encrenca – já passava da meia noite e o casal continuava do lado do telefone, em guarda, esperando tocar, qualquer notícia era válida. O velho Umbrella só conseguia olhar pela janela, para o enorme prédio em forma de seta que ficava há algumas quadras dali, na Warhol’s Square. – papai, porque você não liga pra tia Augusta ou pro tio Pietro?! Os meninos gostam muito deles dois!
- Não tem telefone lá no Apocalipse Hall – disse o velho, frio – é fora de cogitação que eles tenham ido para o sítio, é fora de Neon City, menores de idade só saem da cidade à noite na companhia dos pais.
- Vou ligar pra mamãe! – Stéphanie pegou o telefone.
- Larga esse telefone, Steph! Deixe a linha livre caso a Max resolva ligar! – Dominick tomou o telefone das mãos da mulher.
- Olha pro relógio! É uma da manhã! Tem certeza de que ela vai ligar?!
O velho subiu, catou seu DiscoStick, meteu-se numa capa preta, calçou suas botas, desceu da sua torre prateada e abriu a porta da frente.
- Eu não sei vocês, mas eu vou até o prédio da Alberta...
- Mas fazer o que, papai?! Você está maluco? Está fechado a essa hora!
- Não se esqueça, Dominick, que hoje é sexta feira, e a “Fazendinha da Tia Alberta” costuma fazer o corujão a partir das uma e meia... – ele botou o pé pra fora da casa, meteu as mãos no vaso de uma samambaia e puxou um controle remoto preto de um único botão.
- O que você está fazendo, papai?! – Dominick correu afoito para o pátio de pedra.
- Eu nunca pensei que fosse precisar disso algum dia... – o pátio abriu-se repentinamente. Stéphanie gritou de susto, quase caíra no buraco que havia se formado no lugar da fonte central do jardim. Uma plataforma substituiu a fonte rapidamente por uma estranha moto anti-gravitacional prateada salpicada de luzes azuis que ladeavam sua estrutura lisa e aerodinâmica.
- Papai! Mas o que é isso?! Como você escondeu isso aí todo esse tempo?!
- Ah, menino, relaxa! – fez o velho Umbrella, todo cheio de trejeitos e floreios. – no tempo que você tava em Marte, eu fiz uns ajustes nessa casa, já que essa daqui só vivia socada na firma – apontou com o cajado brilhante para Stéphanie, que ainda estava muito chocada pra falar alguma coisa.
- E as crianças sabem disso!? – Dominick dava voltas e mais voltas ao redor da moto. Era incrível. Não tinha rodas, flutuava produzindo uma auréola de calor.
- Claro que sabem, elas sabem de tudo, meu filho – com uma gargalhada, ele subiu na moto e saiu em disparada, cortando os ares feito um foguete, planou junto aos carros aéreos sobre a cidade mais brilhante de todo o planeta, rodopiou por entre as alegorias dos prédios, deu piruetas ao redor dos outdoors e dos telões e foi pousar exatamente sobre o tão famoso prédio da empresa maligna de Alberta Veronese.
- Aqui eu já cheguei... O grande problema agora vai ser entrar nessa fortaleza... – Christopher retirou do bolso um aparelho retangular prateado muito semelhante a um tenori-on, instrumento muito usado na música neo-eletrônica dos nossos tempos. Mas isto que o velho Umbrella tinha em mãos não era um aparelho que produzia sons, era na verdade um rastreador cujo alvo, o chip que atraía o seu sinal, era o Pen Drive triangular de Maxine. – Eureka! No térreo! – e iniciou sua caçada pelo respiradouro do prédio. Conseguiria ele chegar a tempo?
Um aparelho de telefone celular tocou. Robert meteu as mãos no bolso e atendeu.
- O que?! – ele tomou a informação recebida de sobressalto – como assim?! Ela está vindo pra cá agora?! Ela não ia ficar por lá durante uma semana?! Droga! Droga! Estou indo, estou indo!
Ele voltou-se pros dois cientistas que os observavam sérios.
- Estão me chamando no último andar, a chefa está voltando de viagem com novidades! – ele apontou os dois dedos indicadores na cara dos dois. – não vacilem. Fiquem de olho. – e levou o dedo à pálpebra inferior, puxando-a para baixo, e em seguida saiu pela porta dupla quase à galope.
Os dois cientistas se entreolharam.
- Eu não acho certo que... – começou a mulher. Foi logo interrompida.
- Não me venha com seu sentimentalismo! Ou são eles ou nós vamos virar carne!
- Eles são apenas jovens, Paulo! São crianças! Tem uma vida inteira pela frente!
- E eu também! – ele virou de costas para cena, não queria olhar para aqueles seres humanos prestes a ter a mais terrível morte que se pode imaginar: ir parar na barriga do seu próprio vizinho.
- Não seja egoísta, Paulo! Vamos soltá-los! Vamos dizer que alguém veio aqui, nos rendeu e os libertou, sei lá! Eu invento qualquer coisa!
- Suas invenções vão nos levar pra forca! Estas ordens vêm da ESFERA!
- E se eu disser pra você que tudo isso aqui é ilegal?! E se eu disser que não acredito em nenhuma palavra do que essa gente diz!? Eles são os vilões aqui, Paulo! A ESFERA preza pela vida humana, ela não deixaria que isso acontecesse! Isso tudo aqui é ilegal, completamente ilegal!
Paulo vacilou.
- Você acha, realmente?!
- Vamos! Me ajude!
O varal em que os três estavam pendurados iniciou sua descida após o simples toque numa tela touch-screen. Enquanto isso, o velho Umbrella e suas complicações na coluna rastejavam pelos túneis do respiradouro do prédio:
- Ai, droga! Droga! Eu não sou nenhum jovem de 17 anos agora! O que eu tinha de fazer pra cá?! Porque eu simplesmente não usei a saída de incêndio do prédio?! Porcaria! – ele já se arrastava com dificuldade quando uma das telas de saída de ar quebrou com todo o seu peso, fazendo-o vir abaixo com tudo, bem no meio de um salão repleto de balcões onde compostos químicos e experiências em pausa descansavam tenebrosos. Clones, robôs gigantes, mesas cheias de frascos e livros, de tudo um pouco ali havia naquela galeria de horrores. Verdadeiros monstros, alienígenas abertos para análise, corpos e cadáveres humanos em estado de bálsamo para estudos, tanques de nitrogênio, de hélio, de elementos químicos desconhecidos, de metais estranhos trazidos do espaço, de elementos radioativos contidos por vácuo. O grande galpão do último andar, o galpão que antecedia a sala de controle central de Alberta Veronese.
Vozes começaram a ser ouvidas assim que o elevador apitou. Christopher rastejou para debaixo de uma mesa. Tudo ali estava à meia luz, o que facilitou a sua camuflagem.
- Como assim ela está vindo?! Essa velha é maluca por um acaso?! – eram gritos agora, gritos revoltados de um homem muito afoito – ela causa um acidente semi-nuclear nas ruínas e foge, assim, como se não fosse pouca coisa?!
- Ela já está na lista de procurados da ESFERA, e já nos foi dada a ordem de acionar o sistema assim que ela aparecer por aqui... Temos de fazer isso mesmo, Senhor Robert?
- Não Margarida! Não façam!
- Mas aí seremos cúmplices!
- Só faça o que eu mandar, Margarida! Só o que eu mandar!
- Mas a ESFERA...
- Que se dane a ESFERA! Esse computador idiota será passado quando a velha Alberta por os pés na cidade! Em menos de três horas ela estará aqui!
Christopher ouvia tudo com muita atenção. Os três vultos cruzavam o galpão a passos largos em direção à porta circular da sala de controle, esperariam pela sua chefa ali, embaixo da lâmpada que iluminava aquela entrada, feito três sentinelas sombrias e malignas, estátuas assustadoras. O velho escondido embaixo de um dos balcões não podia nem respirar, um movimento em falso e detectariam a sua presença naquele lugar. Ele já havia ouvido o bastante para concluir que Alberta Veronese estava armando contra a ESFERA e fora descoberta bem a tempo pelo sistema, como conclusão, estava sendo caçada como criminosa nos quatro cantos do globo àquela altura. Quem diria. Tantos anos se passando por boa moça, servindo de bom exemplo, de estudiosa, inteligente e comportada, aquela mesma Alberta Veronese que sentava do outro lado da sala de aula com os populares acabaria como criminosa. Mas, como diriam os pais de Christopher “um dia a casa cai”, e realmente caiu para aquela velha senhora que passou tantos anos escondida atrás de uma máscara, sendo a criatura mais sonsa que ele já vira até hoje. É um velho clichê, mas é a realidade mais universal de todas: a justiça tarda, mas não falha. Porém, quem disse que Alberta desistiria?
- Minha senhora! Minha senhora! – exclamou Robert ao ver a porta do elevador se abrir do outro lado do galpão. As luzes foram acendendo uma a uma enquanto os saltos das pequenas botas da mulher estalavam feito tiros dados para o chão, fatais como a sua dona. A eletricidade estática ainda percorria todo o corpo potente da sua armadura de cowgirl biônica, de cima à baixo, soltando faíscas pelos esporões
- Cale a boca Robert! – um raio azul saiu da sua mão esquerda e atingiu em cheio vários frascos que descansavam em cima de um balcão. As chamas subiram rapidamente. “Alerta de fogo. Alerta de fogo” soou o alarme de incêndio – eles estão chegando já! A ESFERA já acionou o exército, em 15 minutos eles estarão cercando o prédio! Prepare o meu carro.
Robert ainda estava estático. Surpreendido pela nova aparência de sua ama, estava sem palavras.
- O QUE ESTÁ ESPERANDO?! VÁ! – gritou – AGORA!!!
Robert saiu correndo. Os dois cientistas foram logo atrás. Alberta ficou sozinha, era hora de atacar.
Christopher rastejou alguns metros, pôs-se de pé, catou uma corda que surgiu por ali em boa hora e avançou para cima da mulher, surpreendendo-a por trás e pegando-a pelo pescoço, a velha grasnou. Seu primeiro reflexo foi levar as mãos às costas, agarrando em cheio as orelhas do velho. A saída foi jogar-se de costas sobre seu agressor, como muitas vezes fizera nos ringues de luta livre, esmagando-o com todo o seu peso e o peso da sua armadura de titânio. O velho Umbrella deslocou o ombro e soltou um grito, largando a corda imediatamente para levar a mão boa ao ombro machucado, foi então que o jogo virou. Alberta Veronese o prendeu com suas fortes pernas e sentou-se em cima dele.
- Ora, vejam só! Christopher Umbrella! Há quanto tempo, há quanto tempo! – ela puxou um cigarro do bolso e acendeu com o dedo. – Não vou perguntar a você como chegou aqui, suspeito que tenha descido pelos respiradouros do terraço... Mas agora isso pouco importa! – e desferiu-lhe um soco fatal de ferro, quebrando o nariz. – isso é por você e aquele seu Apocalipse Club passarem metade do ensino médio rindo da minha cara pelas costas!
Christopher gargalhou.
- Então você sabia?! – gargalhou de novo.
- Eu sou sonsa, mas não sou tonta, Umbrella – virou-o de peito para o chão e amarrou suas pernas e suas mãos com a mesma corda que ele usara para tentar sufocá-la há alguns segundos atrás. – vê como o jogo vira?
- Vejo! Cuidado, muito cuidado para ele não virar contra você, que está tão acostumada a controlar tudo e todos à sua volta! – ele ria, mas seu ombro deslocado combinado ao nariz quebrado doía feito o inferno, para ele que nunca havia quebrado um osso sequer em todos aqueles 64 anos. Para sua surpresa, a velha colega de escola Alberta Veronese deu-lhe um chute com o bico da bota bem no meio do estômago ao se levantar. Christopher uivou de dor. Sua dentadura caiu. Neste exato momento, Robert entrara no galpão, bestificando-se com a cena que encontrara após apenas cinco minutos de ausência.
- Feche essa boca que se não entra mosca! Temos apenas cinco minutos para dar no pé, as tropas estão fechando o quarteirão!
E então o alarme soou, fazendo do branco das paredes um vermelho vibrante e do silêncio mortal um lamentar infernal de sirenes.
- Creio que vocês não tem mais todo esse tempo! – riu Christopher. Alberta o olhou com a mesma cara de nojo que olhava para todo mundo, caminhou até Robert, o pegou pelo braço e saiu arrastando-o. – aurrevoi, monsieur Umbrella! – debochou.
Mal se passaram 15 minutos, e para o alívio do velho que já chorava rios de lágrimas de tanta dor, Maxine, Gabrielle e Fernando entraram no grande galpão por uma escada de emergência acompanhados de dois cientistas. Ele gritou por eles, com o último fôlego que tinha.
- Eu não disse! Eu disse que eles tinham um prisioneiro aqui em cima! Eu ouvi aqueles dois falando sobre um velho quando estavam descendo para a garagem! – vibrou a mulher.
- Vovô! Vovô! – Maxine desabou em choro imediatamente, abraçando o velho com cuidado e acariciando o seu rosto ensangüentado, completamente desfigurado pelo punho de ferro de Alberta Veronese. O velho uivava feito um lobo ferido. – calma vovô! Calma! Nós vamos sair daqui! Vamos sair daqui sim! Você vai ficar bem!
- Minha filha! Minha filhinha! Por favor! Saia daqui, leve Gabrielle e Fernando com você! Agora!
- Não! Eu não saio daqui sem o senhor! – chorava a garota, acariciando e beijando os cabelos grisalhos do avô.
- FAÇA O QUE EU ESTOU DIZENDO! – gritou ele – vão para o Apocalipse Hall e peçam ajuda para o Pietro! Ele sabe onde está a Manopla!
- Do que você está falando? Do que você está falando?! – Maxine estava confusa. Podia ouvir os robôs subindo as escadas, o prédio já tremia.
- Eles não sabem do plano da Alberta! Eles não sabem que ela quer sobrepor-se ao sistema! Alguém tem de pará-la!
- E porque eu?! – perguntou Maxine, chorosa.
- Porque você é Maxine Fernandes!
A parede Oeste explodiu, lançando concreto e poeira para todos os lados, revelando a impressionante paisagem de Neon City, uma verdadeira flor resplandecente e colorida brotando no meio da escuridão do deserto. Repentimente, a moto psicodélica do velho Umbrella apelidada de Planária entrou voando pelo buraco na parede. Era grande o bastante para confortar três pessoas.
- Subam nela! Subam! Ela vai levá-los até o sítio!
- O sítio do meu avô?! Nas ruínas de Macapá?!
- VÃO!
Os robôs prateados de braços e pernas finas começaram a lotar o galpão. Os três já voavam por sobre a cidade, desviando de prédios e rodopiando no ar como se montassem uma libélula que brincava por entre os tubos das alegorias de neon que permeavam as construções da cidade. Desviando dos carros voadores e das ligas de braços metálicos que interligavam os monstros de concreto, sumindo por entre as estrelas, atravessando os céus gelados do deserto em direção às tenebrosas ruínas da velha cidade abandonada de Macapá.
Fim da parte oito!
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