Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

The Big Machine 3 - Apocalipse 20



Havia um mundo oculto no escuro aonde retângulos, quadrados, círculos e triângulos exibiam imagens de cada ponto conquistado daquelas terras verdes de gente simples e trabalhadora. Eles iam e vinham, subiam e desciam num balé constante, mudando de forma e piscando quase em sincronia, iluminando o círculo que faziam ao redor da garotinha encolhida no centro, abraçada aos joelhos, pensativa enquanto os quadros emoldurados nos hologramas geométricos mudavam no escuro ao seu redor e se moviam com a simples ordem da sua vontade muda, transmitida pelos cabos conectados diretamente ao seu cérebro, ao início da coluna vertebral, partindo de seu corpinho minúsculo e se entrelaçando até o teto como trepadeiras sintéticas de uma mata de metal e cobre.
- O que houve, Velminha? Você está bem? – perguntou a boneca perfeita, vinda diretamente do futuro para os braços de sua dona no presente.
- Eu não estou satisfeita Betty, eu estou triste. – revelou, limpando uma lágrima no canto do olho.
- Mas porque, meu bem? O que não lhe agrada?
- Olhe para isso! – apontou para as telas holográficas que flutuavam ao seu redor, zumbindo como vespas estranhas. – olhe para as pessoas sofrendo, olhe para o que elas estão se transformando! E as crianças perdidas nas ruas! Porque isso está acontecendo?
- Porque é necessário... – começou a boneca, mas logo foi interrompida por sua dona insatisfeita.
- Pare! Pare com isso! – disse, aumentando o tom de voz para o brinquedo possuído. – é só o que me diz, que é necessário! Mas nunca me diz por quê! Isso machuca! Eu não queria isso! Não queria! Essas pessoas não tem nada a ver com o que houve dentro da sala de aula, o que está acontecendo é completamente idiota e sem sentido!
A boneca permaneceu em silêncio, fitando-a. Seu rosto artificial iluminado pelas luzes dos hologramas. Era um pequeno demônio perfeito.
- Garota idiota – sibilou a boneca.
- O que disse?! – Velma espantou-se, sua amiguinha nunca havia lhe tratado assim antes.
- Eu disse, GAROTA IDIOTA! – esbravejou a boneca, praticamente berrando. – você é uma burra, BURRA! Pensei que fosse ambiciosa o bastante e que entenderia com o tempo! Mas você é uma leiga, uma limitada cerebral, uma imbecil que não enxerga o poder que tem em mãos!
Velma começou a chorar baixinho, abaixou o rosto entre as pernas e fechou-se num pequeno casulo feito apenas de si, o único lugar onde se sentia segura agora.
- Pare de chorar! Deixe de ser criança! Cresça! – gritava a boneca, descrevendo círculos ao redor do casulo de Velma enquanto gesticulava furiosa – essas pessoas são todas estranhas! Desconhecidas! Não valem nada, você não deve nada a elas! Deixe que elas a sirvam!
- EU NÃO QUERO! – urrou Velma, esbofeteando a boneca, lançando-a longe. – EU NÃO QUERIA ISSO! TÁ TUDO ERRADO! EU NÃO QUERIA QUE OS MENINOS MORRESSEM, EU AINDA GOSTAVA DELES! EU SÓ ESTAVA MAGOADA! MAS VOCÊ OS MATOU! VOCÊ ME FEZ FAZER COISAS RUINS! PENSEI QUE VOCÊ FOSSE MINHA AMIGA!
A boneca gargalhou.
- Você fez porque quis! Porque foi tola o bastante para acreditar em mim! – riu, levantando-se. – achava mesmo que eu era sua amiga?! Achava mesmo que eu estava tentando lhe ajudar?! Eu só te usei, sua boba, você não passou de uma peça para minha ascensão! Não procurei por Alberta porque ela suspeitaria de cara de uma boneca falante, não é tão idiota a ponto de acreditar numa baboseira infantil! Mas você era perfeita, era emocionalmente instável e ingênua o bastante para os meus planos! Através de você, cheguei até Alberta, minha versão mais nova, aonde eu queria chegar, e agora você é totalmente descartável, sua tola! TOLA!
Com um golpe, a boneca arrancou os cabos que ligavam Velma ao software do sistema do robô gigante. A menina gritou de dor, aquilo estava ligado ao seu sistema nervoso central. Por muito tempo, a garota havia sido o coração daquele monstro de metal. Agora era a vez de alguém muito mais capacitado assumir a frente daquilo.
- Me chamou? – uma versão mais nova de Alberta surgiu das sombras.
- Sim. – fez a boneca, estendendo os cabos com sua mãozinha em direção ao vulto de preto. – é a sua vez agora, jovem Alberta. Guie-nos até a cidade e acabe de uma vez com aquele Apocalipse Club!
Velma retorceu-se no chão, magoada, agredida, ferida, muito mais do que estivera quando tudo aquilo começara. Seus ex-amigos estavam vivos ainda! Ela ouvira muito bem o que a boneca dissera. O Apocalipse Club ainda estava atuando na cidade!
- Pode deixar comigo. – riu a jovem, pegando o fardo em suas mãos. Tinha um sorriso de satisfação no rosto. O rumo para a batalha final havia sido tomado, a última decisão crucial havia sido tomada. O Mapinguari finalmente enfrentaria algo tão poderoso quanto ele. Mal Alberta sabia o que a esperava na cidade...

- Então, achavam que iam escapar de mim, é? – riu Alberto, cruzando os braços. – coitados, tão jovens e tão loucos...
As armas estalaram.
- Suas últimas palavras?
Maxine sorriu, tomando a frente da multidão de prisioneiros recém-libertos das suas jaulas claustrofóbicas.
- Vai se ferrar. – fez.
Alberto continuou parado, sério, encarando-a no fundo dos olhos, frio como uma máquina.
- Atirem – ordenou.
Foi tudo rápido demais. Quando os vultos prateados caíram do céu no meio do povo, a gritaria foi geral. Primeiro pensava-se que fossem os robôs-macacos assassinos executando a ordem de liquidá-los, mas após o susto momentâneo e uma olhada mais detalhada no corpo daquelas máquinas, percebeu-se que elas não eram tão grandes quanto os verdadeiros tanques de guerra blindados que eram os DK’s, estes aqui eram robôs estranhos, nunca antes vistos por aquelas bandas, algo totalmente novo aos olhos da população, algo estranho até para os apocalípticos que não tinham uma carta na manga sequer e estavam prontos para encarar a morte com honra e dignidade. Aquelas máquinas possuíam pernas compridas e prateadas, cintilantes, com músculos artificiais expostos em azul celeste, imitando a anatomia humana. Os mesmos detalhes se repetiam nos braços, nos peitorais e nas coxas das máquinas, imitando bíceps e tríceps. Suas cabeças eram no mínimo alegóricas, pontiagudas, lembravam uma berinjela como o crânio do Alien. Do final da testa de metal até o topo, seus cérebros eletrônicos expostos brilhavam em um azul de doer na vista, e suas faces lembravam máscaras de gás, com tubos saindo da boca até o pescoço, onde sumiam, soltavam fumaça feito búfalos.
Imediatamente após a queda repentina de três daquelas criaturas alienígenas metálicas, um campo de força reluzente surgiu ao redor do grupo de fugitivos, fazendo as balas provenientes de metralhadoras e rifles potentes ricochetearem e voltarem diretamente para a sua origem, atingindo braços, cabeças, peitos e estômagos em cheio, derrubando grande parte do batalhão de atiradores em posto. Mais robôs como aqueles desceram do céu nublado da cidade, imobilizando os soldados-zumbis de Alberta Veronese. O primeiro a ser preso foi Alberto, pego em cheio por um raio paralisante empacotador que o transformou num enorme embrulho de presente, deixando apenas sua cabeça de fora com um laço vermelho de brinde no alto do cocuruto. As crianças vibraram, gritando, pulando, aplaudindo numa felicidade que há tempos não se via.
Ao longo das avenidas, sobre os prédios e becos, ao lado dos muros e das sucatas dos automóveis que antes percorriam a velha Macapá, nas lajes e nos pátios das casas e das escolas, em campos abertos e quartos fechados, no céu e até mesmo debaixo da terra, eles surgiam um a um, antecedidos por descargas elétricas poderosas e avassaladoras. Feixes luminosos frenéticos e esferas de energia que deixavam verdadeiras crateras pra trás anunciavam as chegadas dos estranhos à nossa dimensão. Máquinas de todos os tamanhos, pequenas e grandes, robustas ou esguias, grosseiras ou aerodinâmicas, tanques de guerra que lembravam toupeiras, helicópteros que pareciam insetos, robôs de dois metros de altura com cabeça de berinjela e uma frota interminável de máquinas sobre esteiras. Robôs de aparência extra-terrena derrubavam os gorilas de metal com um só golpe, limpando a cidade com seus punhos de ferro e seus tiros de laser, seus lança-chamas e seus mísseis. Feixes de luz lançados de seus olhos quebravam o transe dos zumbis serventes da S.U.J.A., gente como a gente que repentinamente se via perdido em meio à uma guerra de robôs. Eram 500, 600, 900 talvez, estavam em toda a parte, com seus faróis iluminando cada canto da cidade escura e morta, fogos de artificio e holofotes estouravam nas nuvens. Era chegada a hora!
- Estão todos bem?! – perguntou uma voz conhecida, de dentro do robô mais próximo de Maxine. Ela sabia quem era, e seu coração pipocou acelerado dentro do peito ao ouvi-lo.
- VOVÔ! VOVÔ! VOCÊ ESTÁ AÍ DENTRO! – gritava ela, com lágrimas nos olhos, pulando logo atrás da máquina pneumática.
- Isso é uma armadura, Maxine! Vocês estão bem?!
- Isso quer dizer que os outros dois são Pietro e Augusta! – exclamou ela, voltando seus olhos para os outros dois imponentes androides de quase três metros de altura. – estamos todos bem, estamos sim!
- Ótimo! – disse a voz de Chris, anasalada e metálica vinda de dentro de sua armadura. – vocês serão levados em segurança dentro da nave-joaninha!
- Que nav...
Maxine olhou para cima e encarou a barriga listrada de um robô-inseto voador, um helicóptero de braços e pernas que batia asas e possuía antenas, olhos grandes e pintinhas pretas em seu casco vermelho. Era fofo e ao mesmo tempo ameaçador.
- Oh! Oh! Oh, meu Deus! – gritou ela, gargalhando de braços para o alto. A barriga do inseto gigante abriu-se, luzes azuis antecederam a levitação de quase 150 pessoas, uma abdução ao ar livre. Após sugar para dentro de si todos os fugitivos, a nave-joaninha voou para longe, sumindo nos céus nublados da cidade repentinamente iluminada pelas luzes da invasão de outra dimensão. A cidade havia sido tomada afinal, grande parte dela estava livre das correntes da ditadura agora, mas Macapá era grande, não tão grande, mas grande o bastante para dar certo trabalho às tropas apocalípticas de robôs ultra-tecnológicos que vinham aos montes, suplantando o número de DK’s e quebrando o encanto maldito da hipnose de batalhões inteiros. Prisioneiros foram libertos, das suas jaulas físicas e mentais. Era hora de um novo amanhecer, o sol finalmente voltou a brilhar naquele lugar. A guerra enfim começara.




Fim do Apocalipse Vinte!













E a porradaria começou!

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