Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

The Big Machine 3 - Apocalipse 11


- As três principais generais da S.U.J.A., Alberta, Velma e Úrsula estão em expedição ao interior do estado em busca de refugiados da ditadura, elas não vão poupar esforços até que a torre seja construída... – Haruno foi interrompida bruscamente por Maxine.
- Torre?!
- Sim – Haruno prosseguiu, sempre tranquila e equilibrada. Enquanto todos estavam abalados pelas novas informações, ela parecia muito calma – elas estão construindo uma torre bem em cima de onde antes ficava o Monumento do Marco Zero, vai ser uma espécie de “palácio” para elas... Mais da metade dos zumbis está trabalhando nisso, no ritmo em que as coisas andam, ela estará terminada em menos de um ano, estão usando os restos dos prédios para construir uma estrutura metálica enorme... Mas no momento, a cidade está sob os cuidados de outros Generais...
- Espera um instante! Tem outros generais?! – Christopher levantou da cadeira, todos foram pegos de surpresa por aquela informação. Corações quase saltaram para fora do peito, o grupo entrou em desespero.
- Sim! Trancados aqui vocês nunca vão saber nada! – Haruno fez uma careta e colocou as mãos na cintura em menção de cobrança, como se fosse fácil ficar perambulando por uma cidade cheia de macacos-robôs assassinos. – vocês têm de entrar em contato com os outros grupos de refugiados! Vocês lideram o maior grupo de todos e estão aqui, isolados, sem saber de nada do que está acontecendo! Sim, há outros generais lá fora, uns cinco ou seis. Todos são da escola onde vocês estudavam...
- Não vai me dizer que elas transformaram o grupinho dos populares em generais! – Ray Ann bufou. Fernando deu um soco na parede, fazendo tremer toda a estrutura do cômodo, estava furioso.
- Sim, o irmão da Alberta foi visto usando um uniforme preto montado em um dos Donkey-Kongs, assim como outras pessoas que eu nunca vi, mas que vocês supostamente devem conhecer... – Haruno olhou pela janela mais uma vez. Estavam todos apreensivos, pois o sol já estava prestes a sair. Os primeiros raios da Aurora já despontavam no horizonte, cruzando as nuvens carregadas de um dia nublado que viria por aí. Uma iluminação natural fraca deixava a paisagem azulada e fria, a praça das armas estava deserta, todos já haviam se recolhido, menos eles. O gramado lá fora estava azul, os paredões de pedra de oito metros estavam azuis, os baluartes e seus vigias estavam azuis também, uma segunda feira azul, pensou Christopher, como a música do New Order.
- Com certeza devem ser a Rosálio, o “Turco” e o Edvaldo! – Ray Ann deu um tapa forte na mesa, como se o mosquito que ela matou fosse uma espécie de representação da peça que faltava, da charada que havia resolvido. A luz azul que entrava pela janela aberta junto com o vento gelado deixava seus cabelos perolados espectrais, as velas já haviam apagado há muito tempo, todos ali pareciam fantasmas apáticos banhados pelas luzes da aurora, do começo da manhã. O cantar dos passarinhos os causava angústia e desespero. Ser tocado pelo sol era quase uma dor, queria dizer que eles estavam à mercê do desconhecido.
- E estes são só alguns dos nomes cotados! – exclamou Pietro – a turminha dos populares não se restringe à nossa sala de aula, tem outros pela escola também e mais um bocado espalhados pela cidade! Eles devem estar soltos por aí aos montes nos caçando! – ele estremeceu, não se sabe se de frio ou de medo. O vento que entrava pela janela era gelado o bastante para fazer Maxine abraçar seu marido Fernando de um modo como não abraçava há dias.
- Não, mas devem estar no comando só os mais confiáveis, os mais próximos... – Fábia citou o óbvio.
- E que história é essa de uniforme preto?! – exclamou Augusta.
- Não sabemos o que ele representa, mas é quase como se fosse uma segunda pele... – voltou seus olhos para a aurora outra vez. O azul estava se diluindo em laranja agora. As nuvens estavam se dissipando um pouco. – Os Generais estão responsáveis por vasculhar áreas distintas da cidade e recolher todo o material de construção necessário para a torre, além de capturar refugiados, os grupos de refugiados caíram muito essa semana... Cada um ficou com uma zona diferente... Zona sul, zona norte, zona leste e zona oeste, e controlando eles à distância estão as três principais, que ficam isoladas e muito bem guardadas pelos DK’s no prédio da FAMA...
Os olhos se arregalaram, os rostos espantados se entreolharam, surpresos. Exclamações brotaram de todas as bocas em forma de gemidos, palavras abafadas e xingamentos. Elas estavam escondidas ali o tempo inteiro!
- É impossível chegar lá por terra. A estrada foi completamente destruída...
- Espera um instante! Espera! Espera! – Maxine levantou-se de repente, o cenho franzido e o corpo retesado, na defensiva. Aproximou-se de Haruno ameaçadora e fitou-a profundamente, colocou as mãos na cintura e semicerrou os olhos. Os dois rostos ficaram tão próximos que elas poderiam ter trocado um beijo. Cara a cara elas eram muito parecidas, uma era a cópia idêntica da outra, a diferença estava na cor dos cabelos. Max tingira os cabelos de ruivo, eram ondulados e cheios de curvas, enquanto que Haruno possuía belas madeixas lisas e escuras como cataratas à meia noite. Poderiam ser mãe e filha se Maxine não fosse uma viajante do tempo vinda direto do futuro há alguns meses atrás. – como você sabe de tudo isso?!
Agora todos entraram no mesmo estado de defesa em que Max se encontrava. Alguns até puxaram suas armas, outros se levantaram da cadeira e se afastaram.
- Ei, ei! Calma! – Haruno levantou as mãos em sinal de rendimento. – tudo bem, tudo bem! Eu ia contar de um jeito ou de outro, eu sabia que isso ia acontecer! – levantou-se. Todos deram um passo para trás. Haviam eles colocado o inimigo para dentro da Fortaleza? Se isto realmente fosse verdade, a esta altura Alberta estaria a caminho assim que o sol raiasse! O desespero se dissipou feito uma febre mortal, contaminando todos os ali presentes. As armas já estavam a postos, apontadas diretamente para a garota risonha. Eis que a bela jovem jogou sua mochila sobre mesa, abrindo o zíper com rapidez, produzindo o velho ruído escolar tão costumeiro de salas de aula. Puxou de dentro algo de aparência borrachuda, preto, lembrava uma sacola plástica ou algo parecido. Maxine não se conteve, puxou o estranho objeto das mãos da garota antes mesmo que ele todo estivesse fora da mochila, esticando-o por sobre a mesa. Era o uniforme preto, a segunda pele dos Generais.
Foi a vez de Maxine puxar a sua arma, tomando distância e apontando diretamente para o rosto da jovem. A única arma branca dali era a dela, parecia ter saído diretamente de um dos filmes do Star Wars, pulsava e vibrava em seu punho, produzindo ruídos instigantes e pneumáticos, emanando um brilho rosado que deixou o rosto de Haruno numa tonalidade pêssego irresistível. Christopher tomou a frente, protegendo a amiga.
- Max! Não! – gritou. – abaixem as armas! Todos vocês! – disse, olhando feio para Miguel e Fernando.
- Abaixem as armas o caramba! – começou Miguel, o mesmo instinto explosivo da avó. Uma grave discussão iria começar ali e terminaria muito mal se Haruno não houvesse se pronunciado com um grito
- Eu fui uma General! Eu fui uma General! – disse, levantando os braços. – agora parem com isso antes que alguém saia ferido!
Haruno havia dado mais um motivo para as armas continuarem apontadas na sua direção. Lasers vermelhos formavam espalhadas pelo seu rosto, mas ela parecia muito tranquila, um pouco apreensiva, é claro, estava na mira de armas potentes vindas diretamente do futuro, um tiro daquelas maravilhas elétricas e um grande estrago irreversível estaria feito. Seus braços continuavam para o alto, as mãos vazias, estava se entregando de corpo e alma naquilo, estava escrito em seu olhar.
- Qual a garantia que você nos dá para que acreditemos em você? – perguntou Maxine, ainda com os olhos semicerrados, sua boca apertada de nervosismo. – qual a garantia que temos de que você não está nos atraindo para uma armadilha? Que você não é uma espiã infiltrada?
Haruno abaixou os braços, séria. Christopher nunca havia visto aquela expressão no rosto da amiga, ela que sempre fora tão sorridente e alegre, de expressão leve e um tanto distraída, sonhadora, agora adquirira um ar de mulher, determinada. Sua boca formava um desenho perfeito e rosado, como um botão de rosa, seus olhos lembravam os de um leopardo das planícies africanas, Haruno sempre tivera um olhar felino desde criança, olhar este que nunca estivera tão acentuado quanto naquele momento. Lembrava uma tigresa, aproximando-se da sua presa. Cara a cara com Maxine, as duas possuíam a mesma determinação, a mesma audácia no olhar, os mesmos traços felinos sensuais, mas ao mesmo tempo perigosos. Afastou Christopher para o lado com gentileza e pôs a mão em cheio sobre a arma ultra-tecnológica da sua sósia ruiva, abaixando-a com cuidado, aos poucos, enquanto declamava seu discurso para que todos a ouvissem. Os raios da aurora já iluminavam o grupo em alerta na sala. O dia já havia raiado lá fora.
- A garantia que lhes dou é a mesma garantia que me fez largar este uniforme por motivos éticos e acima de tudo humanos, a mesma garantia que me fez líder de um grupo enorme de órfãos que vagavam sozinhos e indefesos por esta cidade. É a mesma garantia que me fez chegar até vocês... – ergueu o punho e foi soltando os dedos um a um. – as minhas noções de justiça, honestidade, compaixão, humanidade e bom senso! Sempre fui muito sensata nas minhas atitudes, não sei em que ponto no meio disso tudo fui capturada pelos robôs e hipnotizada nos estádios... O que me lembro é de estar no meio daquela multidão nua, me contorcendo e lutando para não ser pisoteada, lembro-me de séries sequenciais de flashes fortíssimos que me deixaram tonta... Quando recuperei minha consciência plena, já estava vestida neste uniforme – apontou para a pele de borracha que se estendia sobre a mesa como a muda de uma serpente negra – ladeada por dois macacos de metal. Entrei em desespero, corri como nunca havia corrido, estava sendo seguida por eles de perto... Só consegui despistá-los após rolar um barranco para dentro de uma das áreas de ressaca da cidade... Tirei o uniforme, arranjei roupas novas em casas abandonadas e recomecei do zero... Vocês não têm uma pequena noção do que eu sofri, do quão confusa fiquei, do quanto me senti desamparada, perdida, aflita, morta. Minha salvação foi ter encontrado aquele grupo de crianças...
Levou as mãos ao rosto e desatou a chorar. Christopher a abraçou com força. Miguel e Fernando abaixaram as armas. Maxine foi a última que desistiu do conflito, baixando a guarda. Era hora de começar a bolar um plano, o raiar daquele novo dia era tão simbólico quanto o renascimento da Fênix após a combustão espontânea das suas penas dourado-avermelhadas. Aquele novo amanhecer representava a renovação de uma esperança que estava ficando perdida aos poucos, que estava se apagando com o passar dos meses que se arrastavam, rastejavam no calendário, angustiando e massacrando os corações aflitos. De repente, as madrugadas não pareciam tão escuras.
- Às vezes eu tenho flashes... das coisas que fiz como general... dos rostos dos outros generais... dos macacos-robôs que eu controlava... – disse, baixinho, meio que para si mesma. Nenhum comentário posterior foi ouvido da boca dos aflitos ocupantes do cômodo, agora incômodo, meio lotado demais.
Uma velha música entoada nas igrejas em missas de domingo e velórios ressoou dentro da cabeça perturbada de Christopher enquanto ele observava Ray Ann ser afagada pelo namorado sempre tão protetor e prestativo. Ele não desgrudava dela nem por um segundo, era como um protetor, um pai, ela parecia frágil, mas guardada em seus braços, a fera abraçando a rosa.
Se as águas do rio da vida
Quiserem te afogar...
Segura na mão de Deus
E vá...
Não temas, segue adiante
E não olhes para trás
Segura na mão de Deus
E vá...
Não era fruto da sua imaginação. O cântico entoava de dentro das paredes da fortaleza, como se as pedras seculares falassem. As velhas senhoras refugiadas, o grupo de oração do esconderijo, esta era a fonte do hino. Elas louvavam a Deus e agradeciam por mais um alvorecer, por mais uma noite em segurança, enquanto pediam e clamavam com fé pelo fim daquele martírio, pela prevalência do bem sobre o mal, naquelas terras tão distantes e tão isoladas, agora mais do que nunca. Os ventos do Amazonas nunca pareceram tão desesperadores e gelados, aquela canção era um conforto para todos aqueles corações, e também uma mensagem, uma mensagem de que tudo havia de melhorar, a paz está próxima, irmãos. Acreditem.



Fim do Apocalipse Onze!


Mais um Apocalipse surpresa para os fãs lindos deste blog!
Amanhã e domingo, novos capítulos estarão disponíveis!

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