Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sábado, 12 de fevereiro de 2011

The Big Machine 3 - Apocalipse 15


- Ray! Ray! Olha pra trás! Olha pra trás! – os que foram enjaulados sacudiam sua gaiola e se debatiam feito macacos em um bando nervoso, teimando em derrubar sua prisão temporária, desarmados e desprotegidos, sob o olhar atento da 9ª General nomeada da S.U.J.A., completamente cercado por um exército de cidadãos amapaenses hipnotizados fortemente armados e uniformizados, em estado de prontidão caso a ordem de fuzilamento fosse dada. As chances de escaparem de uma situação crítica como aquela era remota, impossível, mesmo que um dos integrantes do grupo houvesse ficado de fora, o que era o caso. Ray Ann havia se escondido atrás das cortinas do auditório e lá se manteve agachada, calada, mesmo após a invasão dos dois gorilas de metal que resistiram a todo tipo de laser ou projétil lançado por qualquer uma das armas potentes dos Apocalípticos, nem a incrível arma de Miguel conseguiu paralisá-los. Ray não suportou ficar escondida por muito tempo, não vendo seus amigos na mira de fuzis, bazucas, lasers e outras pistolas que ela nunca havia visto em toda a sua vida, ela tinha de fazer alguma coisa, mesmo sabendo que qualquer atitude que ela tomasse seria suicida.
Então eis o que ela fez: pulou de trás das cortinas feito uma pantera negra soturna e rápida, derrubou quatro soldados-zumbis com pouco esforço e esquivou-se da saraivada de lasers e balas escondendo-se atrás de uma das colunas que ainda restavam de pé, sustentando o teto do auditório. Lá atrás montou campana, presa e sobre forte pressão psicológica, arriscava-se vez ou outra, mudando de esconderijo, passando de uma coluna para a outra, usando-as como escudo enquanto atirava, seus disparos nem sempre eram bem sucedidos, e um dos lasers acertou em cheio uma das volumosas e escuras mechas de seu sedoso cabelo. Corte perigoso, este.
- PAREM! – gritou uma voz vinda do além. Os tiros cessaram no mesmo instante. Montado numa prancha prateada voadora, um vulto esguio encapuzado surgiu a jato, numa velocidade incrível, desceu do enorme e disforme buraco no teto do auditório, levantando ainda mais poeira, misturando a partida do De Lorean à sua entrada triunfal. Ray Ann parou de atirar ao presenciar aquela cena absurda: do que se trataria tal criatura? Uma espécie de duende verde macapaense ou o surfista prateado marajoara? Tragicômico seria se seu coração não estivesse tão acelerado e seus olhos escuros banhados por rios salgados de lágrimas nervosas. Respirava com dificuldade e tremia seu laser nos pulsos, tremia como nunca havia tremido, jamais havia se sentido tão sozinha e desamparada, nua, sem proteção alguma. Aquela garota superprotegida pelas suas tias, agora era uma mulher de uniforme borrachudo branco, com uma arma pesada em mãos, toda suja de reboco, sem uma mecha do seu adorado cabelo, tremendo feito um bezerro recém-nascido.
- Então você se acha forte o bastante para enfrentar a minha frota, sozinha, garota?! – debochou a voz, feminina, mas grossa. Primeiramente Ray Ann caiu de joelhos, suas pernas não suportaram o peso do seu corpo, mas forte e persistente, levantou-se e franziu o cenho, fazendo cara de má, pronta pra enfrentar o que viesse como a mulher de pulso que era. Ela tinha quase certeza de que aquela mulher misteriosa era Alberta, e se realmente fosse, estava perdida, porque ela não vinha sozinha. – o prédio está cercado, galera, vocês perderam! PERDERAM! Não sei o que vocês planejaram invadindo o quartel general, e não consigo imaginar como derrotaram Lana e sua clava, mas dependendo de mim, vocês não escapam... Se bem que... – retirou seu capuz, revelando um rosto conhecido, mais uma pertencente à elite escolar, ao time de basquete do Centro de Ensino Cyclone – os meus meninos fizeram um bom trabalho capturando metade grande parte do grupo!
Como boa vilã, sua gargalhada ecoou pelas paredes, sem fugir às regras da escola de vilania e clicherismo. Talvez fosse o hipnotismo, ou talvez fosse a roupa, quem sabe ela mesma possuísse aquela personalidade asquerosa, nenhum deles a conhecia o bastante para defini-la ou julgá-la, na verdade o Apocalipse Club sequer prestou atenção à ela alguma vez. Alexis Suçuarana era uma moça alta, distinta e até feminina perto da última macho-fêmea enfrentada pelo grupo na batalha mortal que quase levou à morte de todos. Enfrentar uma clava daquele tamanho não é pra qualquer um.
- Vocês do terceiro ano acham que podem tudo! – estalou a língua duas vezes e desceu sua prancha voadora até a jaula onde Maxine, Fernando, Miguel, Haruno e Fábia estavam de mãos atadas, sem reação e completamente desprovidos de defesa, à mercê da própria sorte – ah! Então os rumores eram verdadeiros! Vocês são os viajantes do tempo! – apontou seu dedo comprido, suas unhas reluzindo, o esmalte perolado reagindo às luzes das lanternas dos guardas. O prédio estava completamente sem energia. – pensei que essa história fosse papo... Mas pelo visto... Tem mesmo como ir para... – aos poucos, voltou seus olhos para o palco do auditório, arregalou os olhos e ficou vermelha feito um tomate nervoso – O FUTURO! – gritou. – ONDE ESTÁ A MÁQUINA DO TEMPO?
Os Apocalípticos permaneceram calados. Alexis apertou um botão em seu controle remoto prateado, o mecanismo fez a gaiola descer uma descarga elétrica alta o suficiente para atordoá-los e deixá-los confusos. Ray Ann permanecia sem reação.
- ONDE ESTÁ? RESPONDAM?
- EI, SUA VADIA, EU AINDA ESTOU AQUI! – a voz trêmula, porém audaciosa de Ray Ann cortou o silêncio após os gritos de dor de seus amigos, e sem pensar duas vezes, puxou o “gatilho”, por assim dizer, da sua arma. O laser acertou as costas de Alexis em cheio, derrubando-a da prancha voadora, levando-a de testa ao chão. Uma saraivada de balas iniciou-se vinda dos soldados-zumbis, fazendo com que a nervosa Ray procurasse esconderijo outra vez atrás de uma das colunas.
- PAREM! – gritou Alexis, levantando-se do chão com dificuldade. – ELA QUER BRINCAR? ENTÃO NÓS VAMOS BRINCAR! – sua testa sangrava, mas isto parecia sequer fazer cócegas, o sangue descendo pelo seu rosto como lágrimas de vampiro nem mesmo a incomodava. – ISTO AQUI É UM DUELO, VESTIBULANDA, VOCÊ SABE O QUE É?
- Eu assisti muito filme de faroeste pra quê?! – riu a garota, nervosa, de trás da coluna.
- Trata-se da minha honra agora! Vamos! Saia de trás dessa coluna e me enfrente como mulher!
Uma velha música ecoou na cabeça da jovem, uma música típica de filmes do gênero, talvez uma gaita acompanhada de um assobio sonoro. Ela até poderia rir se quisesse, mas não o fez, mesmo sabendo que lembrar os velhos episódios do Pica-Pau nas tardes da Rede Record cruzando o deserto e enfrentando o Zeca Urubu montado no cavalo Pé-de-pano naquele momento crucial fosse no mínimo engraçado. Tinha que manter a cara de má, tinha que se mostrar durona, corajosa, osso duro de roer, mas não aguentou, soltou uma gargalhada daquelas que só ela sabia dar, jogando a cabeça para trás e mostrando os dentes com toda a graça.
- Do que você está rindo?! – gritou Alexis, nervosa.
- Nada que te interesse, sua intrometida! – pulou para fora do esconderijo com a arma em punho. A trilha sonora de Kill Bill inteira já havia passado pela sua cabeça. – agora vamos começar logo com isso.
- VOCÊS PRECISAM DE UM JUIZ! – gritou Fábia esticando seu bracinho gordinho pra fora da gaiola – precisam de um juiz!
- CALE A BOCA, GORDINHA, EU SOU A JUIZA AQUI! – urrou Alexis, apertando o botão azul no seu controle remoto outra vez, mais uma descarga elétrica desceu do teto pelas grades até o chão e subiu pelos uniformes, que apesar da aparência, não eram feitos de borracha como esperado, ou então não estariam recebendo tanta dor nos nervos.
- Você vai pagar por tudo isso, ah se vai! – grunhiu Ray por entre os dentes – até um dia desses você era só uma X-9 da Velma, e eu tenho certeza de que você continua a mesma! O hipnotismo não vai durar pra sempre!
- Eu não sei do que você está falando! – estavam cara a cara agora, misturando seus hálitos numa nuvem de bactérias. – agora vire-se! – segurou no ombro da garota e virou-a de frente para o palco – sete passos, vire e atire! Vamos ver quem é o gatilho mais rápido do Oeste!
- Nós estamos no norte! – gritou Fábia.
- CALA A BOCA GORDINHA! – mais descarga elétrica.
- PARE DE MACHUCAR OS MEUS AMIGOS! – rugiu Ray.
- Então mande-os calar a boca! – fez – ANDA! SETE PASSOS!
De costas uma para a outra, respiraram fundo, armas penduradas no cinto, passadas lentas e calculadas, arrastadas, pisadas fortes e seguras, mãos suadas, respiração ofegante. Ray Ann escorria, suava frio, tremia dos pés à cabeça enquanto sua rival permanecia fria e dura como um robô às ordens de Alberta. Alexis era apenas mais uma zumbi como o seu exército que assistia à cena, inexpressivo, o que a diferenciava deles era o uniforme, objeto das três generais principais, apenas uma boneca nas mãos do sistema, ela era uma garota boa fora de transe, aquela não era ela, não mesmo, o comportamento dela na escola não condizia com aquilo, nem o olhar era mais o mesmo. Ray Ann quase tinha pena dela.
- RAY! RAY! OLHE! VIRE-SE! VIRE PRA TRÁS! OLHE! – um coro de berros iniciou-se na jaula, num verdadeiro sacolejo, eles sacudiam as grades e pulavam aos gritos feito um bando de chimpanzés em surto, braços e pernas sacudindo para fora da gaiola, mas era tarde demais, a pobre Ray Ann fora enganada por sua rival, que não dera sequer dois passos e meio antes de virar e colocar a arma bem no meio das costas da garota.
- Quais as suas últimas palavras, vestibulanda?!
- Morra, vadia!
Numa velocidade incrível, como Drew Barrymore em as Panteras, Ray Ann foi ao chão repentinamente e girou feito um peão, aplicando uma rasteira surpresa na rival que caiu de costas com um baque surdo, feito uma jaca que desceu do último galho da árvore, caiu de pernas para o ar, com seu salto agulha para cima, parecia mais uma rã estirada no chão agora.
- Tão confiante de si que baixou a guarda, não é mesmo?! – num movimento mais rápido ainda, Ray virou Alexis de peito para baixo, prendendo a mão da general com muita facilidade às costas. – Quem é a mais rápida agora, hein?
A jovem ficou tão presa à situação que esqueceu-se de prestar atenção no mundo ao redor, de modo que não viu quando o exército fardado de cidadãos convertidos em robôs calculistas avançou, formando um círculo armado até os dentes a sua volta, com metralhadoras, fuzis e lasers apontados diretamente para a sua cabeça, e eles eram muitos, muitos mesmo. Os Apocalípticos estavam perdidos.
- Mas o que está acontecendo? – fez uma voz grogue, logo abaixo de Ray Ann, alguém parecia ter se acordado de uma ressaca pesada, ou talvez houvesse passado anos dormindo, quem sabe até estivesse sofrendo de alguma doença degenerativa, a voz era sôfrega e arrastada – você... Porque está em cima de mim?! Está me machucando! Ai! – gemeu a voz outra vez. Ray voltou seus olhos para baixo, tirando-os do cano duplo da espingarda enfiada bem no meio do seu nariz.
Era Alexis que vocalizava, aquela era sua voz verdadeira, a voz original da garota do nono ano que fora hipnotizada pelas três generais malignas da S.U.J.A.
- Ai, o que você fez comigo?! Minha cabeça está latejando! Anda, sai de cima de mim garota! – empurrou uma Ray Ann bestificada para o lado e grunhiu – eu hein! Onde já se viu um negócio desses? Quem esse povo de hoje em dia pensa que é?! – encarava feio àquela que há poucos segundos atrás a mantinha prisioneira numa chave de perna com os braços cruzados à força nas costas, sem prestar atenção no batalhão de homens e mulheres fortemente armados e inexpressivos que mirava exatamente na cabeça da garota que a prendera. Os Apocalípticos na gaiola se entreolharam confusos, o que estava acontecendo?!
- AI MEU DEUS! – gritou Alexis, jogando os braços pra cima e depois levando a mão ao coração, havia pegado o maior susto da sua vida e já começava a chorar, afinal, acima de tudo, ela era só uma criança usada para os propósitos bárbaros de Alberta. Caiu de joelhos no chão, as mãos juntas diante do peito, unidas como numa oração – POR FAVOR, NÃO ME MATEM, POR FAVOR! – ela implorava de olhos fechados, a cabeça rodando sem parar – EU NÃO SEI O QUE FOI QUE EU FIZ, MAS NÃO ME MATEM, POR FAVOR! NÃO ME MATEM! ABAIXEM AS ARMAS! ABAIXEM! EU NÃO FIZ...
No mesmo instante, o exército recuou, recolhendo todo o armamento para si, as armas maiores foram para os ombros, as menores foram para os cintos. Como o verdadeiro exército de robôs-humanos que eram, continuaram ali, parados, vazios, olhando para o nada enquanto uma desorientada Alexis rastejava na poeira pedindo clemência e rezando para todos os santos que conhecia, pedindo perdão por coisas que nem sequer fizera. Ray Ann, compadecida da pobre moça, rastejou até ela para consolá-la.
- Calma, calma – esfregou os ombros da ex-vilã desorientada – olhe, olhe, eles abaixaram as armas!
Apontou para os zumbis.
- O que?! Eles não vão me matar?! – seus olhos pareciam duas luas de cristal molhado, apavorada, ela tremia como Ray tremera há alguns minutos atrás, e ela sabia como era, por isso sentiu que tinha de ajudá-la, de confortá-la. Sentir-se sozinha e desamparada era a pior coisa do mundo.
- Não, não vão! Eles obedeciam a você, e agora que você saiu do transe, eu vou te contar tudo o que aconteceu, mas primeiro solte os meus amigos – indicou a gaiola prateada com o queixo.
Mais uma general convertida a Apocalíptica? A história de Haruno se repetindo?



Fim do Apocalipse Quinze!

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