Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

The Big Machine 3 - Apocalipse 12


- Como você pode ter certeza de que podemos confiar nela? – Christopher levou um cutucão na costela que mais doía. Deu um gemidinho baixo e um empurrãozinho de leve em Ray Ann, acompanhada de uma preocupada Fábia.
- Ela é a Haruno! Simplesmente por isso! – exclamou Chris, como se isto fosse o óbvio. A mesma pergunta se repetia de bocas diferentes o tempo inteiro e isso estava ficando muito repetitivo.
- AI! AI! AI! UMA COBRA! UMA COBRA! – alguém gritou na escuridão. Arrepios e espasmos sequenciais consumiram o bando de cima abaixo.
- Isso não é uma cobra, Vó Guta, é um saco plástico! – Miguel começou a rir em algum lugar ali próximo.
- Pare de rir de mim! E eu não sou sua avó! – alguém foi afogado na Lagoa dos Índios logo em seguida por uma mão furiosa de uma garota enojada. Aquela água era turva e cheia de detritos, naturais ou não, um pouco de lixo e muito, muito mato. Havia alguns peixes e com toda a certeza, serpentes rastejavam por entre as plantas aquáticas ali próximas, era um lugar asqueroso e todo roçar de quaisquer folhas lodosas causava arrepios naqueles jovens burgueses de classe média, não acostumados a este tipo de situação. A única que parecia não reclamar daquilo era Ray Ann.
- Mas... – grasnou a voz afogada de Miguel, retornando para o fundo da lagoa logo em seguida, parecia mais que duas jiboias estavam brigando há poucos metros do grupo.
- Ei! Ei! Larga ele! Larga ele! – Ray se meteu na briga, livrando os cabelos de seu neto futurístico das mãos de Augusta.
- Ei digo eu! Parem com isso já! Parem! PAREM! – Maxine se jogou no meio dos três e acabou levando puxões de cabelo e algumas cotoveladas. Ela podia jurar que tinha mato dentro do uniforme branco borrachudo que usava. – eu sei que os ânimos estão um pouco exaltados e a situação é de risco, mas assim já é demais! Fiquemos unidos! E você, Miguel, se comporte! Pior que criança! – bufou e jogou o cunhado longe das duas.
- E se continuarem fazendo tanto barulho, os gorilas vão nos achar, estão olhando muito na nossa direção! – Fernando apontou por entre as moitas espaças e carregadas, abrindo uma fresta entre os galhos para que todos pudessem observar o prédio onde um dia funcionara a faculdade FAMA, há poucos metros de distância deles, erguendo-se na escuridão como um ponto de luz. Cercado de holofotes apontando em todas as direções, para o matagal da lagoa, para o céu estrelado e para o mundo ao redor ao mesmo tempo em que iluminavam a própria construção. Vasculhando a área, os enormes robôs símios observavam atentos à escuridão, como estátuas de metal, a aparência inanimada daquelas criaturas artificiais enganaria o mais atento dos observadores, em um grupo de cinco, eles observavam as quatro direções, Norte, Sul, Leste e Oeste, enquanto o quinto robô fazia a ronda no terraço. A imagem do prédio era esplendorosa e um tanto assustadora em meio àquilo tudo, amplamente iluminado, uma fortaleza branca. Lá dentro nos corredores os guardas humanos, zumbis fabricados pelos campos de concentração, faziam a ronda nos andares, olhares frios e objetivos, sem emoção alguma.
- Como vamos fazer para entrar nesse lugar? Vamos acabar esmagados por um desses gorilas! Se todos não resolverem nos explodir aqui mesmo, onde estamos! – exclamou Augusta, apontando para o ponto prateado que reluzia à luz dos holofotes que giravam entrecortando as nuvens lá no alto, no céu, cruzando o caminho do robô que brilhava feito uma joia coroando o alto da construção.
- Há uma maneira... Não se esqueçam de que logo ali fica a Choperia da Lagoa – ela apontou para o bloco do prédio que ficava oculto pelas árvores, um dos salões de eventos mais renomados e de prestígio da cidade, elegantíssimo por dentro, coisa de primeiro mundo, Los Angeles ou Hollywood, seu interior lembrava um verdadeiro cassino, e Christopher sabia do que se tratava porque a formatura da oitava série em 2007 fora ali. – mais pra lá, do outro lado, fica aquele galpão onde funcionou a Casa das Carnes e a Yamada... Na lateral deve haver uma entrada para os caminhões com as mercadorias, afinal aquilo era um supermercado antes...
- Haruno tem razão, mas vamos ter que dar a volta então?! – Pietro levou a mão à testa com um tapa, fez uma careta e esmurrou a água. – é muito longe!
- Mas vale o esforço, precisamos salvar o passado para que haja futuro. – fez Maxine, o vento sacudiu suas madeixas ruivas artificiais de leve, ela parecia uma sereia perdida dentro daquela lagoa. – o plano é o seguinte... Dois de nós ficarão do lado de fora, vigiando a entrada enquanto o restante entrará no prédio... Vamos vasculhar todo o lugar, e Deus queira que a Máquina do Tempo deles esteja aí dentro... Caso ela realmente esteja, Miguel vai operá-la, ele é o nosso especialista em tecnologia – ela riu para o cunhado que bateu continência. – o vovô, a vovó e o Pietro vão para a outra dimensão, nós vamos ficar por aqui para o caso de haverem problemas... Eu, Fernando, Miguel, Fábia, Ray Ann e Haruno vamos dar um jeito caso algo dê errado! – ela piscou para o marido, que sorriu. Uma forte emoção tomou conta de todos. Os corações ficaram acelerados e as veias ferveram o sangue instantaneamente, era a adrenalina do momento contagiando seus corpos, atingindo-os em cheio como um trem nos trilhos, Christopher queria gritar, estava com um sorriso de orelha a orelha e algo preso na garganta, um frio no estômago fez Fábia Paola dar um gritinho e levar os punhos fechados à boca, arrepiando-se dos pés à cabeça. De marias-chiquinhas, parecia ter saído de um anime. Parecia estar vivendo um anime, ver todo o Apocalipse Club ali, diante dela, usando aqueles uniformes brancos de látex, com o estranho símbolo do triângulo místico no lado esquerdo do peito causava uma sensação de união, de comunhão, de companheirismo e de heroísmo. Seria tudo aquilo um sonho?
- Câmeras! – Ray Ann apontou para as duas palmeiras que ladeavam uma das entradas laterais do prédio. Dois olhos biônicos tontos, vasculhado o ambiente com ferocidade.
- Não seja por isso! – Miguel fechou um olho, mirou e atirou. Nenhuma bala, nenhum laser, nem um raio, nada, apenas a fumaça e as faíscas escapando por entre as peças das duas câmeras. Queimadas. – prontinho!
- Pra moita! Rápido! – sibilou Haruno apontando para o vulto de metal que vinha pisando firme de longe, sacudindo o chão de pedra com força. Os gorilas estavam fazendo a ronda. Um dos holofotes focou exatamente sobre o lugar onde antes o grupo estava abaixado, uma moita de galhos compridos e quase sem folhas. Foi por muito pouco que sua posição não foi entregue de bandeja para o inimigo. Christopher engoliu em seco, tentando imaginar o que estaria os esperando depois daquela entrada escura que abria-se diante dele como uma boca de hálito gelado, um galpão obscuro e úmido do outro lado os esperava. Primeiro Miguel e Fernando correram e tomaram as laterais da entrada, depois foram engolidos pelas trevas do galpão, e assim de par em par cada um deles entrou. Lá dentro o silêncio imperava, e era assustador, frio e gelado. A porta azul no canto mais distante daquele galpão levava para o lugar onde antes funcionava o estoque do supermercado, agora mais uma sala fria onde as armas do esquadrão S.U.J.A. descansava, esperando pelo uso, motocicletas futurísticas, veículos estranhos e aerodinâmicos, canhões sônicos potentes e estantes intermináveis com pistolas, metralhadoras e bazucas. Armamento pesado recolhido do exército pelos zumbis. O teto era alto e distante, a iluminação era amarelada e parca, algumas lâmpadas piscavam, falhando, denunciando o mau contato, dando um ar de mistério e abandono àquela câmara secreta de armas. Lúgubre.
- Isso não tem saída? – exclamou Fábia.
- Ali está! A entrada para o supermercado! – Christopher abriu a porta de saída do depósito para deparar-se com um enorme laboratório tecnológico onde armas novas e experiências científicas eram testadas de dia, à noite, nas madrugadas, era um museu sombrio de prateleiras e balcões repletos de frascos, robôs de todos os tamanhos e suas peças, desligados, armamento e estranhos recipientes guardavam pequenas criaturas que mais pareciam fetos. Estaria a S.U.J.A. trabalhando com clonagem? Líquidos coloridos borbulhavam e tornavam-se fluorescentes na escuridão enquanto braços mecânicos controlados por computador estavam congelados no tempo sobre as peças biônicas onde faziam reparos há algumas outras atrás. As agulhas cirúrgicas ainda estavam quentes, aliás.
- Eu não sei porque, mas to achando isso meio estranho, vocês não acham? – Pietro estava vasculhando o lugar com os olhos. – estou achando isso aqui vazio demais... aqui estão as experiências delas... isso aqui é material secreto... deveria estar sendo vigiado...
- E ESTÁ SENDO VIGIADO! – bradou uma voz do além, ecoando pelas paredes do galpão. Apoiado na mureta do segundo andar, um vulto escuro os observava. As armas foram sacadas de imediato, postando-se de costas uns para os outros formando um círculo perfeito, os apocalípticos apontavam para o escuro esperando o assalto. Até então nada aconteceu, uma risadinha baixa ecoava pelas paredes e passos de um salto agulha furavam o chão produzindo um ruído de “troc” insuportável, causando apreensão e nervosismo. Fábia tremia segurando a sua arma.
- Quem está aí?! – gritou Maxine.
- Apareça! – urrou Christopher. As pistolas de laser estavam muito bem bombeadas e carregadas agora.
- Tolinhos... Acharam que passariam despercebidos pela segurança! – o vulto no segundo andar riu de novo, descendo às escadas com o seu salto barulhento irritante, estava se aproximando. Quando os passos pararam ao pé da escada, refletores potentes cegaram os apocalípticos repentinamente, pegos de surpresa, eles foram ao chão retorcendo-se e tapando a vista, os olhos agredidos pela luz forte, que queimava.
- Eu sou a General de Número 10 responsável pela administração do prédio da central! – um único refletor acendeu-se sobre o vulto na escuridão, revelando sua identidade vestida no uniforme preto, carregava um bastão na mão direita que terminava numa bola de ferro maciço coberta por espinhos pontiagudos, descarregando eletricidade no ambiente ao redor. Suas orelhas de abano e sua cara achatada de macaca revelaram a sua identidade, seu cabelo oleoso escorrido era sua marca registrada.
- Lana Palafita! – exclamou o grupo em uníssono. Quer dizer, parte dele, só aquela cota que vivia naquela cidade e naquela mesma época, e que estudava na mesma escola que as generais malignas da S.U.J.A., essa cota sabia que Lana Palafita e sua cara de ribeirinha eram figurinhas batidas no álbum das amiguinhas mais íntimas de Velma. Mas ali, como uma general e segurando aquela estranha arma, representava um novo tipo de figura, e bem mais ameaçadora. Seu olhar mau encarado costumeiro de bicho do mato agora tinha uma tonalidade elevada de maldade, objetivo, duro e fulgurante, hipnotizado e cego.
- CORRAM! – foi o que Fernando conseguiu gritar antes que Lana Palafita acertasse o chão em cheio com seu bastão-clava, abrindo uma cratera enorme no piso do galpão, fazendo descer poeira do teto enquanto as rachaduras nas paredes se entrecortavam e se cruzavam ferozes. O poder daquela arma era fenomenal, tratando-se de matéria densa concentrada, aquela pequena bola cheia de espinhos devia pesar quase uma tonelada, vinha acompanhada de uma luva biônica que aumentava a força do seu usuário com eficiência para que ele pudesse portar um equipamento tão pesado e potente. Descargas elétricas ricochetearam nas paredes como cobras azuis mortais, procurando um alvo para cravar suas presas. Por ser um material altamente concentrado, acumulava energia como nenhum outro material, seu simples atrito com outros materiais causava explosões eletroestáticas poderosíssimas. Christopher olhou de relance para trás antes de ser lançado para longe pela potência do bastão-clava, podia jurar que vira os músculos de Lana Palafita duplicarem de tamanho ao manipular da arma. Foi bizarro vê-los retornarem ao tamanho normal, secando feito um bolo ao contrário até encaixarem-se nos ossos para assumirem a forma franzina de sempre da garota.
- Como em Gantz! – gritou Christopher. Ele sabia o que era aquilo. Aquilo era o uniforme! O uniforme fazia aquilo! Aqueles músculos artificiais eram artifícios do uniforme!
- Vem! Vem! – Miguel sinalizava para Christopher de trás de uma prateleira. Havia uma porta ali, Augusta e Pietro já estavam do outro lado. O rapaz não pensou duas vezes antes de correr para lá. A porta fechou-se atrás dele com um baque surdo. – Vamos atrás da Máquina do Tempo!



Fim do Apocalipse Doze!

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