
- Nós sabíamos que havia alguma coisa errada quando as tempestades elétricas no deserto se intensificaram... Quer dizer que... Se o mundo de vocês acabar... – aquele que era Christopher, mas ao mesmo tempo não era, tinha um ar de sofrimento, de amargura, de solidão, dureza e abandono. Sua imagem era de arrepiar. Cabelos muito compridos, porém ralos desciam por sobre o único uniforme amarelo da congregação ao redor da mesa composta por homens e mulheres vestidos de preto, usando a braçadeira vermelha com o símbolo do triângulo de três braços. Aquilo mais parecia uma convenção nazista do que qualquer outra coisa. Era assustador. Christopher Umbrella, ou Saturno Revenge, era um homem apavorante.
- O de vocês também acaba, e vocês nunca poderão vencer Carmen Parafuso, porque essa dimensão e tudo o que existe nela, inclusive vocês próprios, vai sumir. – Christopher estava pouco à vontade naquela mesa redonda, com todos os rostos, conhecidos ou não, voltados para ele, o observando hora com desconfiança, hora com assombro, hora com atenção. Seus olhos passearam pela sala branca, se maravilharam com o incrível holograma que girava acima das suas cabeças reproduzindo o mesmo esquema que Maxine havia desenhado no chão da casamata, há meses atrás, em mundo não tão distante dali. Seus olhos brilharam como duas estrelas distantes quando o holograma mudou para a forma humana, uma mulher, usando um belo vestido do século XVIII, rosto de porcelana, olhos enormes e boca pequena muito bem desenhada em forma de arco de cupido. Christopher sabia quem aquele holograma imitava, mas achou melhor ficar calado a respeito. – vai ser como se vocês nunca tivessem existido...
- Você não se lembra, Chris? – fez Pietro, do outro lado da mesa redonda flutuante, branca e lisa, gelada como um iceberg plano flutuando num mar invisível – nós já estivemos aqui antes! Nós já vivemos isso antes! Eu não lembrava, mas agora eu me lembro, eu lembro de tudo!
- Sim, eu também me lembro agora – respondeu Chris, um tanto nervoso, não sabia se podia ou não contar o desfecho verdadeiro daquela realidade alternativa, contar que Augusta e Pietro daquele mundo eram traidores, contar que eles estavam sendo controlados pelo Doutor Maurice Angel Lispector que era o verdadeiro mentor por trás de The Big Machine, a CPU do mundo. A Augusta original, por sua vez permanecia calada, quieta, seus olhos como duas luas espertas passando de um rosto para outro, atentos à conversa, mas assustados e perdidos, ela não devia ter sido mandada para aquela missão.
- É claro que vocês dois se lembram, acabamos de mandar vocês de volta para o passado! – exclamou a androide com o rosto de Ray Ann. Era mesmo, Christopher quase havia se esquecido de que Ray Ann fora convertida em máquina após o terrível acidente na trituradora interna de The Big Machine. De repente ele se sentiu nostálgico, tinha uma intimidade acima do comum com aquelas pessoas do futuro, sentia-se de certo modo parte daquela história, aquela história não teria fim sem a ajuda dele e de seus amigos, e isso era um fardo e tanto! Era quase um orgulho! Saudosismo puro fazendo seu coração acelerar. Por onde essas memórias andaram dentro de sua cabeça? Como ele permitiu-se olvidar? Com certeza a Ray Ann do passado lembrava, eles foram os dois únicos que não tiveram a memória afetada. Lembrava como sua versão androide entrou pela janela, de como o rolo compressor destruiu a casa onde ela vivia com as tias, de como eles foram levados outra vez para o futuro alternativo, pela última vez, para salvar o curso da história. Era bravo, era heroico, era histórico.
- Não, não somos os mesmos – fez Pietro, abanando um pensamento como se fosse mosquito. – nós temos 17 anos agora, os que vocês mandaram para o passado tinham 16, são outros Pietro e Chris, de outra época, 2009. Nós somos de 2010! Havíamos perdido a memória, mas voltar aqui nos fez lembrar de tudo...
- Faz sentido – a androide deu de ombros e sentou-se. Christopher a analisava, talvez fosse bom não ter de tomar banho, talvez fosse bom fazer uma revisão de peças a cada semestre, trocar o óleo e as engrenagens, ter força sobre-humana, e um design de matar qualquer modelo de inveja. – só que ela ainda não havia vindo aqui – indicou usando um movimento rápido do rosto a uma confusa Augusta que fitava o vazio agora, se balançando na cadeira pra frente e pra trás. Talvez estivesse ficando louca.
- Não mesmo – Saturno Revenge fez um muxoxo e voltou-se para sua versão mais nova outra vez. – e então, vocês precisam de ajuda? Precisam do meu exército para salvar a sua dimensão?
- Mais do que precisamos, necessitamos – cruzou os dedos por sobre as coxas. – como eu já falei, estamos em estado de calamidade. Alberta acha que morremos na explosão da escola, mas a essa altura ela já deve saber que estamos vivos, e se ela conseguir destruir o Apocalipse Club, a realidade alternativa em que vocês vivem estará liquidada, e vocês desaparecerão antes de conseguirem derrotar a Carminha...
- Espera aí, está querendo dizer que nós conseguimos derrotá-la?! – uma mulher loira levantou-se na outra extremidade, com um sorriso de orelha a orelha. Era Suzannah.
Christopher e Pietro se entreolharam divididos e ansiosos. Haviam assistido muitos filmes de ficção científica para saberem que nada a respeito do futuro poderia ser revelado no passado, para que a posteridade não se comprometesse e o curso da história não sofresse mudanças drásticas. E se eles revelassem o desfecho daquela realidade alternativa? Com certeza Saturno Revenge e seu exército chegariam sem nenhuma cautela e com toda pompa à cidade, confiante da vitória, acabariam derrotados pelas Células e pelos outros robôs-insetos, e o verdadeiro futuro, de onde seus netos vieram, jamais iria existir. Seus netos iriam desaparecer como se nunca houvessem existido, e eles estariam à mercê de Alberta, Velma e Úrsula. A linha temporal é muito delicada para ser manuseada por leigos e despreparados, uma palavra mal interpretada pode arruinar vidas para a eternidade. No caso, o futuro de Neon City jamais existirá se o Doutor Maurice não for derrotado e esta realidade desapareça no tempo certo, na hora certa.
- Nós entendemos a cautela de vocês, rapazes – fez a voz grossa do Pietro que os resgatou no deserto graças ao aviso de queda de meteoro. O De Lorean só conseguiu sair desta dimensão e ir para outra graças às descargas elétricas poderosas da clava de Lana Palafita, sem isso eles nunca teriam chegado até aqui, e foi tudo tão rápido que eles caíram feito uma estrela cadente naquele mundo. – temos de ajudá-los, saturno, para o nosso bem...
O homem, o único de pé, ainda ponderava, sério, braços cruzado sobre o peito, olhar vazio. Havia algo que ainda incomodava Christopher, algo que deixava o seu peito apertado, atordoado com a possibilidade de algo horrível acontecer, daquela história ter um fim trágico. E se? Seus olhos recaíram sobre a androide que o analisava como ele o fizera há poucos segundos atrás.
- Ray – chamou Chris, baixinho. A mulher tomou um susto e levou o dedo metálico ao peito, apontando para si mesma. Chris assentiu, ela não hesitou em se inclinar para frente na mesa, para ouvi-lo melhor. – Ray, daqui há um mês, por favor, vá até o ano de 2009 e resgate a mim e a você! Um rolo compressor irá destruir a sua casa, e se nós ainda estivermos lá dentro, não haverá nem você e nem aquele cara ali – apontou para a sua versão carrancuda daquela dimensão. Ray Ann permaneceu calada, séria, apenas assentiu e não pensou em questionar. Aquele rapaz viera do passado, porém de um ponto muito mais adiantado. Ele sabia do que estava falando, e ela sabia o que tinha que fazer. – eles irão lhe mandar ao passado para que aborte a missão de “impopularizar” a Carminha, e você já sabe o que fazer. Tire-nos daquela casa o quanto antes.
- Pode contar comigo! – sorriu ela, exibindo o polegar. Christopher riu, reconfortado. A voz alta de Saturno Revenge invadiu a sala de convenções outra vez, quebrando ao meio todas as conversas paralelas parasitas que haviam surgido a partir do seu silêncio.
- Pessoal, reúnam todo o Arsenal necessário, preparem nossos melhores homens e os uniformes especiais para a guerra! Vamos salvar o universo! – socou a mesa. – está decidido!
Augusta, pela primeira vez desde que chegara ali, demonstrou algum tipo de emoção, reagindo às perspectivas de que ela talvez houvesse enlouquecido, levantando-se de sobressalto, gritou:
- GRAÇAS A DEUS! – respirou aliviada e debulhou-se em lágrimas, sendo consolada pelos comemorativos Pietro e Christopher. Recebeu em troca uma salva de palmas dos conferentes, inclusive de si mesma! Na verdade, de sua versão mais velha, e muito mais séria. Era hora de se preparar para o confronto final ente os Apocalípticos e a S.U.J.A.! Chris mal podia conter-se de felicidade ao imaginar a cara que aquela gorda asquerosa da Úrsula iria fazer quando visse uma tropa de robôs extra-dimensionais invadindo o território dela sem mais nem menos! E a cara da Alberta então?! Seria impagável ver aqueles olhos inchados completamente abismados, impotentes perante a sua derrota. O império das generais malignas estava com os dias contados!
- O de vocês também acaba, e vocês nunca poderão vencer Carmen Parafuso, porque essa dimensão e tudo o que existe nela, inclusive vocês próprios, vai sumir. – Christopher estava pouco à vontade naquela mesa redonda, com todos os rostos, conhecidos ou não, voltados para ele, o observando hora com desconfiança, hora com assombro, hora com atenção. Seus olhos passearam pela sala branca, se maravilharam com o incrível holograma que girava acima das suas cabeças reproduzindo o mesmo esquema que Maxine havia desenhado no chão da casamata, há meses atrás, em mundo não tão distante dali. Seus olhos brilharam como duas estrelas distantes quando o holograma mudou para a forma humana, uma mulher, usando um belo vestido do século XVIII, rosto de porcelana, olhos enormes e boca pequena muito bem desenhada em forma de arco de cupido. Christopher sabia quem aquele holograma imitava, mas achou melhor ficar calado a respeito. – vai ser como se vocês nunca tivessem existido...
- Você não se lembra, Chris? – fez Pietro, do outro lado da mesa redonda flutuante, branca e lisa, gelada como um iceberg plano flutuando num mar invisível – nós já estivemos aqui antes! Nós já vivemos isso antes! Eu não lembrava, mas agora eu me lembro, eu lembro de tudo!
- Sim, eu também me lembro agora – respondeu Chris, um tanto nervoso, não sabia se podia ou não contar o desfecho verdadeiro daquela realidade alternativa, contar que Augusta e Pietro daquele mundo eram traidores, contar que eles estavam sendo controlados pelo Doutor Maurice Angel Lispector que era o verdadeiro mentor por trás de The Big Machine, a CPU do mundo. A Augusta original, por sua vez permanecia calada, quieta, seus olhos como duas luas espertas passando de um rosto para outro, atentos à conversa, mas assustados e perdidos, ela não devia ter sido mandada para aquela missão.
- É claro que vocês dois se lembram, acabamos de mandar vocês de volta para o passado! – exclamou a androide com o rosto de Ray Ann. Era mesmo, Christopher quase havia se esquecido de que Ray Ann fora convertida em máquina após o terrível acidente na trituradora interna de The Big Machine. De repente ele se sentiu nostálgico, tinha uma intimidade acima do comum com aquelas pessoas do futuro, sentia-se de certo modo parte daquela história, aquela história não teria fim sem a ajuda dele e de seus amigos, e isso era um fardo e tanto! Era quase um orgulho! Saudosismo puro fazendo seu coração acelerar. Por onde essas memórias andaram dentro de sua cabeça? Como ele permitiu-se olvidar? Com certeza a Ray Ann do passado lembrava, eles foram os dois únicos que não tiveram a memória afetada. Lembrava como sua versão androide entrou pela janela, de como o rolo compressor destruiu a casa onde ela vivia com as tias, de como eles foram levados outra vez para o futuro alternativo, pela última vez, para salvar o curso da história. Era bravo, era heroico, era histórico.
- Não, não somos os mesmos – fez Pietro, abanando um pensamento como se fosse mosquito. – nós temos 17 anos agora, os que vocês mandaram para o passado tinham 16, são outros Pietro e Chris, de outra época, 2009. Nós somos de 2010! Havíamos perdido a memória, mas voltar aqui nos fez lembrar de tudo...
- Faz sentido – a androide deu de ombros e sentou-se. Christopher a analisava, talvez fosse bom não ter de tomar banho, talvez fosse bom fazer uma revisão de peças a cada semestre, trocar o óleo e as engrenagens, ter força sobre-humana, e um design de matar qualquer modelo de inveja. – só que ela ainda não havia vindo aqui – indicou usando um movimento rápido do rosto a uma confusa Augusta que fitava o vazio agora, se balançando na cadeira pra frente e pra trás. Talvez estivesse ficando louca.
- Não mesmo – Saturno Revenge fez um muxoxo e voltou-se para sua versão mais nova outra vez. – e então, vocês precisam de ajuda? Precisam do meu exército para salvar a sua dimensão?
- Mais do que precisamos, necessitamos – cruzou os dedos por sobre as coxas. – como eu já falei, estamos em estado de calamidade. Alberta acha que morremos na explosão da escola, mas a essa altura ela já deve saber que estamos vivos, e se ela conseguir destruir o Apocalipse Club, a realidade alternativa em que vocês vivem estará liquidada, e vocês desaparecerão antes de conseguirem derrotar a Carminha...
- Espera aí, está querendo dizer que nós conseguimos derrotá-la?! – uma mulher loira levantou-se na outra extremidade, com um sorriso de orelha a orelha. Era Suzannah.
Christopher e Pietro se entreolharam divididos e ansiosos. Haviam assistido muitos filmes de ficção científica para saberem que nada a respeito do futuro poderia ser revelado no passado, para que a posteridade não se comprometesse e o curso da história não sofresse mudanças drásticas. E se eles revelassem o desfecho daquela realidade alternativa? Com certeza Saturno Revenge e seu exército chegariam sem nenhuma cautela e com toda pompa à cidade, confiante da vitória, acabariam derrotados pelas Células e pelos outros robôs-insetos, e o verdadeiro futuro, de onde seus netos vieram, jamais iria existir. Seus netos iriam desaparecer como se nunca houvessem existido, e eles estariam à mercê de Alberta, Velma e Úrsula. A linha temporal é muito delicada para ser manuseada por leigos e despreparados, uma palavra mal interpretada pode arruinar vidas para a eternidade. No caso, o futuro de Neon City jamais existirá se o Doutor Maurice não for derrotado e esta realidade desapareça no tempo certo, na hora certa.
- Nós entendemos a cautela de vocês, rapazes – fez a voz grossa do Pietro que os resgatou no deserto graças ao aviso de queda de meteoro. O De Lorean só conseguiu sair desta dimensão e ir para outra graças às descargas elétricas poderosas da clava de Lana Palafita, sem isso eles nunca teriam chegado até aqui, e foi tudo tão rápido que eles caíram feito uma estrela cadente naquele mundo. – temos de ajudá-los, saturno, para o nosso bem...
O homem, o único de pé, ainda ponderava, sério, braços cruzado sobre o peito, olhar vazio. Havia algo que ainda incomodava Christopher, algo que deixava o seu peito apertado, atordoado com a possibilidade de algo horrível acontecer, daquela história ter um fim trágico. E se? Seus olhos recaíram sobre a androide que o analisava como ele o fizera há poucos segundos atrás.
- Ray – chamou Chris, baixinho. A mulher tomou um susto e levou o dedo metálico ao peito, apontando para si mesma. Chris assentiu, ela não hesitou em se inclinar para frente na mesa, para ouvi-lo melhor. – Ray, daqui há um mês, por favor, vá até o ano de 2009 e resgate a mim e a você! Um rolo compressor irá destruir a sua casa, e se nós ainda estivermos lá dentro, não haverá nem você e nem aquele cara ali – apontou para a sua versão carrancuda daquela dimensão. Ray Ann permaneceu calada, séria, apenas assentiu e não pensou em questionar. Aquele rapaz viera do passado, porém de um ponto muito mais adiantado. Ele sabia do que estava falando, e ela sabia o que tinha que fazer. – eles irão lhe mandar ao passado para que aborte a missão de “impopularizar” a Carminha, e você já sabe o que fazer. Tire-nos daquela casa o quanto antes.
- Pode contar comigo! – sorriu ela, exibindo o polegar. Christopher riu, reconfortado. A voz alta de Saturno Revenge invadiu a sala de convenções outra vez, quebrando ao meio todas as conversas paralelas parasitas que haviam surgido a partir do seu silêncio.
- Pessoal, reúnam todo o Arsenal necessário, preparem nossos melhores homens e os uniformes especiais para a guerra! Vamos salvar o universo! – socou a mesa. – está decidido!
Augusta, pela primeira vez desde que chegara ali, demonstrou algum tipo de emoção, reagindo às perspectivas de que ela talvez houvesse enlouquecido, levantando-se de sobressalto, gritou:
- GRAÇAS A DEUS! – respirou aliviada e debulhou-se em lágrimas, sendo consolada pelos comemorativos Pietro e Christopher. Recebeu em troca uma salva de palmas dos conferentes, inclusive de si mesma! Na verdade, de sua versão mais velha, e muito mais séria. Era hora de se preparar para o confronto final ente os Apocalípticos e a S.U.J.A.! Chris mal podia conter-se de felicidade ao imaginar a cara que aquela gorda asquerosa da Úrsula iria fazer quando visse uma tropa de robôs extra-dimensionais invadindo o território dela sem mais nem menos! E a cara da Alberta então?! Seria impagável ver aqueles olhos inchados completamente abismados, impotentes perante a sua derrota. O império das generais malignas estava com os dias contados!
Fim do Apocalipse Dezesseis!
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