Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um Par de Armanis


- Repita para mim, por favor, exatamente o que aconteceu – pediu o detetive, com calma.
- Eu contei tudo o que aconteceu, tudo! Quer que eu repita mais o que?! – gritou Gabriela. – eu já estou ficando irritada com as suas insinuações, detetive Mimieux! Se me permite, eu tenho uma sessão de Yoga para relaxar dessa tensão toda! – fez menção de levantar-se.
- Nem tente sair desta sala, Gabriela Stefanovna, trate de sentar este seu traseiro magrelo na cadeira agora e me contar o que você está me escondendo!
Ela gargalhou.
- Você gosta mesmo do meu nome, não é? É Russo, querido, herdei do meu marido, e agora estou indo, não tenho mais nada para falar aqui! – Gabriela levantou-se e praticamente correu em direção a porta, mas o detetive a deteve pelo braço.
- Ambos sabemos que você odiava Stella, então porque faria o favor de levar o vestido para ela? Porque não mandou uma empregada entregá-lo?!
Gabriela estava sem saída. Havia sido pega no pulo do gato mais uma vez. E dessa vez não havia escapatória.
- Eu estava seguindo o meu marido, tudo bem? – sentou-se outra vez.
- Por quê? – ele pôs a mão no queixo, interessado.
- Eu o estava vigiando... Eu suspeito que ele esteja tendo um caso com... Com a Veronica, é isso! – ela cobriu os olhos, envergonhada. O detetive gargalhou alto e quase deixou cair sua xícara de café, já fria e vazia. Seca.
- Com a Veronica?! Mas ela é uma empregadinha sem sal qualquer, perto de você, uma poderosa modelo atraente e... – ele foi interrompido de supetão por uma explosão revoltada de Gabriela.
- EU NÃO SOU MAIS JOVEM, TUDO BEM? – gritou – eu tenho noção de que estou ficando velha, e essa raposinha búlgara, toda jovenzinha saltitando pela casa, sempre com a sobrancelha franzida, nunca dá bola pra nenhum homem... Isso atrai os homens sabia?! Você deveria saber!
- Mas deve haver um motivo para você suspeitar desse caso... O que você sabe que nós não sabemos?
- Stefan tem passado mensagens para alguém toda noite. Dois dias antes do assassinato, eu chequei as últimas mensagens enviadas e vi o número de Veronica repetido várias vezes, todos os dias no mesmo horário... Você sabe do que estou falando, não sabe? – com um olhar sugestivo, ela debruçou-se sobre a mesa. – Eles estavam combinando de se encontrar no hotel...
- O que você está sugerindo?
- Que os dois estejam metidos nessa juntos! – deu um murro na mesa.
- Por favor, pare de socar essa mesa, estou começando a ficar levemente irritado – mentira, ele estava muito irritado com aquela família Vazjekovzka problemática, queria mesmo era mandar todos para o quinto dos infernos.
- Me desculpe, me desculpe! – ela ergueu os braços, em sinal de redenção.
- Vamos tratar disso exatamente como deve ser tratado.
No mesmo instante, tratou de colocar Veronica e Stefan cara a cara numa única sala. E ele nunca vira duas pessoas tão nervosas juntas quanto os dois. Veronica gastara quase uma caixa inteira de lenços chorando e fora acompanhada ao banheiro por Abner muito mais de três vezes. As veias da cabeça de Stefan saltavam como minhocas o comendo por debaixo da pele, aquilo era um tanto asqueroso... O que era, meu Deus, um astro fora das telas! O quão ordinário ele parecia agora.
- O que você sabe que eu não sei? – perguntou o detetive, dando passadas largas ao redor da mesa, como um leão cercando sua presa antes do bote.
- Do que você está falando? – gaguejou Stefan.
- Na verdade, eu estava falando com Veronica, Senhor Stefan. – ele inclinou a cabeça e estalou o canto da boca. Pena. Veronica deu um gritinho e abriu seus olhos enormes em direção ao detetive. Estava vermelhos e brilhantes como duas estrelas furiosas.
- Minha investigação empacou exatamente no triângulo amoroso formado por você – apontou para Veronica com o dedo em riste. – Stefan e sua mulher Gabriela, e espero do fundo do meu coração que vocês não estejam me fazendo de trouxa, porque acabei de saber pela boca de uma funcionária da revista que VOCÊ, VERONICA, não ficou no térreo. Subiu para entregar o par de sapatos Armani que seria usado por Lucas Lustat no primeiro photoshoot!
Do outro lado do vidro escuro, Stella se contorceu. Estava acompanhando o interrogatório desde que seu filho fora interrogado, permanecera calada até o momento, sofrendo internamente como a boa senhora de idade que era, mas com o avançar da noite, ela começava a dar seus primeiros gemidos e grunhidos. Talvez pelas dores na coluna, talvez pela dor de ver todos envolvidos desta maneira nesta história sem pé nem cabeça.
Veronica lançou um olhar furioso para Stefan.
- Eu falei! Eu falei pra você não me meter nessa! Seu imbecil! – e atirou-lhe a caixa de lenços vazia.
- O QUE? DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? – gritou Stefan, nervoso.
O detetive começou a rir. Finalmente o fim estava próximo.
- A pergunta é... Qual o motivo? O que vocês dois ganhariam com esse assassinato?! – o detetive puxou uma liga de cabelo do bolso da blusa e amarrou o cabelo num rabo de cavalo no topo da cabeça. Estava sujo e cansado para ficar colocando aquele cabelo toda hora para trás da orelha. Há dois dias que ele não saía daquela delegacia.
- EU NÃO ESTOU ENTENDENDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI! – Stefan entrou em desespero outra vez. Já tinha estado mais calmo antes de ser colocado contra a parede mais uma vez.
- NÃO SE FAÇA DE SONSO, STEFAN! – gritou o detetive, foi sua vez de esmurrar a mesa, com força e vontade. Veronica deu um gritinho e cobriu os olhos. – sua esposa me contou das mensagens que você trocava com Veronica toda noite, no mesmo horário!
- Mas... O que?! – Stefan levantou-se, revoltado – como eu posso trocar mensagens com alguém se eu perdi o meu telefone há uma semana?!
O detetive pôs a mão na testa oleosa, fechou os olhos, suspirou e largou os ombros. Aquilo estava ficando realmente cansativo.
Foi quando a porta foi aberta de supetão, com um estrondo enorme. Parada no vão agora estava uma velha alta e magra, de olhos fundos e pele acinzentada, cabelos desgrenhados e chapéu na mão, forçando sua coluna já inválida, destruída, fraca e inútil, caminhando a passos forçados e pesados em direção a uma Veronica quase zumbi, morta por dentro.
- Senhora Vazjekovzka! Volte por favor! Volte! – o detetive Mimieux correu até ela, passou o braço fraco e idoso por cima de seus ombros e cruzou seu braço forte e jovial por trás da cintura de Stella, dando apoio a ela. Não podia dar mais um passo sequer. Havia corrido e empurrado os policiais que estavam em seu caminho com a força que lhe restava para chegar até ali.
- Me leve até ela, por favor! ME LEVE ATÉ ELA! – gritava a velha, entre caretas, indicando Veronica com o queixo. Mimieux fez sinal para que os grandalhões continuassem do lado de fora e levou-a com cuidado para perto da mesa, onde ela se apoiou e onde se abaixou com cuidado.
- Veronica, por favor, o que você sabe? Me diga! Por favor! – Stella ajoelhou-se ao lado da cadeira da mulher chorosa, de nariz vermelho e olhos inchados, segurou as mãozinhas búlgaras da pequenina com força e olhou fixo, no fundo de suas íris castanhas. – eu senti desde o primeiro momento em que a vi aqui, sentada, apavorada, que você não é a culpada disso, mas testemunha! Sei que você não é cúmplice nisso, e se realmente tiver parte nisso tudo, sua pena será diminuída se você entregar o seu mandante! Pense nisso, Veronica, por favor! Eu gosto tanto, tanto dos seus serviços, da sua companhia! – e desferiu vários beijos nos punhos macios e fechadinhos da mulher. As duas encostaram suas cabeças e choraram juntas, abraçadas.
- Ele... – gaguejou Veronica enquanto Stella limpava as lágrimas da jovem com um instinto materno nunca antes visto naquela senhora amarga e mal humorada.
- Ele?!... – repetiu Stella, com profunda dor no peito. Lancinante.
- Ele me telefonou hoje pela manhã!
- Ele quem, meu anjo? Ele quem? – perguntou Stella, com paixão e sede por justiça, por saber da verdade. Estava farta, cansada, morta. Fatigada.
- EU NÃO SEI QUEM ELE É, EU NÃO SEI! – gritava a búlgara minúscula entre lágrimas, saliva e tosse, ressonava, soluçando dolorosa e profundamente. – MAS ISSO TUDO É ARMAÇÃO DELE! ELE TRAMOU TUDO ISSO PARA PARECER QUE STEFAN ERA O CULPADO! ELE! ELE FEZ TUDO ISSO! ELE E A SENHORA GABRIELA! ELES DOIS ESTÃO JUNTOS NISSO! SE EU ABRISSE A BOCA ELE ME MATARIA, ELE MATARIA A TODOS NÓS, ELE! ELE MATARIA A TODOS!
Veronica revirou seus olhos e caiu por sobre Stella, que não teve forças para segurá-la e foi ao chão junto com ela, desmaiadas, as duas, por motivos diferentes. Imediatamente a sala foi inundada por homens de uniformes, pareciam ter surgido das sombras, acudindo, ajudando, algemando. Enquanto Stefan saíra da prisão provisória, sua esposa entrara.
E assim a história complica cada vez mais, detetive Frederico Mimieux.

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