Eu me postei debaixo daquela árvore debaixo do sol da tardinha, esperando por ela. Não demorou muito para que ela aparecesse, e assim que eu vi seu rosto, acredito que tudo o que eu vinha sentindo há algumas semanas veio pra fora. Quer dizer, não tudo, mas boa parte das coisas ruins que eu tenho guardadas no meu coração vieram pra fora num mar de lágrimas insistentes que levaram numa cachoeira o meu delineador, o meu lápis de olho, toda a minha beleza removível, o pouco que eu tenho. Se é que eu a tenho, afinal, "qualquer um é mais bonito que ela" disse Anna a respeito da garota desagradável da nossa turma "até o Antonio é mais bonito que ela".
Acho que isso foi a gota d'água dessa semana difícil que eu tenho passado. A última vez em que me senti tão mal, tão pra baixo, tão feio e tão mal-quisto foi quando Desirée reuniu uma horda de degenerados e desocupados para encher a minha página do formspring de xingamentos e ofensas, o cyberbullying. Sou uma pessoa de ego muito frágil, como já citei anteriormente na postagem a respeito da minha primeira visita à Junta Militar: eu sofri muito durante grande parte da minha infância e adolescência, não suportava sequer me olhar no espelho. Ora, eu nunca fui um menino bonito, mas eu precisava me amar de alguma forma, a saída foi o meu cabelo, mas isso já foi discutido antes.
O fato é que eu tenho me sentido muito, muito mal mesmo nesses últimos dias e sem nenhum motivo aparente, eu tenho me isolado das pessoas que me querem bem e procurado a presença de pessoas que me fazem sofrer de alguma forma (conscientemente ou não), tenho tido ataques de ansiedade frequentemente (falta de ar seguida de batimentos cardíacos acelerados, aumento da temperatura corporal e a sensação de que alguma coisa terrível vai acontecer ou está acontecendo), e o que a Anna disse naquele momento foi uma brincadeira, é lógico, mas caiu na minha cabeça como uma bomba que me devastou.
E ver a Bia ali na minha frente trouxe à tona a memória de um tempo em que eu me sentia amado, querido e... bonito, de bem com meu corpo e comigo mesmo. e então eu comecei a chorar e não conseguia parar de maneira alguma e deixei a pobre da menina completamente confusa porque ela não estava entendendo nada! Eu preferi não entrar muito em detalhes do porquê do choro. "Saudades" eu disse, e outras meias-verdades.
E aí eu fiquei remoendo um bocado de coisas, relembrando os meus tempos de Apocalipse Club - Rayanne, Fabíola, Pedro, Bia - todo mundo se preocupava comigo e me queria bem, assim como eu me preocupava com eles e também os queria tão tão bem. Eles gostavam de mim do jeito que sou e me compreendiam, e se não entendiam, se esforçavam para aceitar e respeitar qualquer atitude ou ponto de vista meu, acima de qualquer coisa, eles me admiravam e me protegiam e cuidavam de mim.
Eu nunca fui muito normal... Tá legal, sejamos sinceros, eu NÃO SOU normal de maneira ALGUMA, eu tenho uma cabeça confusa cheia pensamentos desconexos e avulsos, coisas que precisam ser ditas ou escritas para não serem perdidas no abismo de mim, e algumas pessoas não entendem isso, e também não dão a mínima para tentar entender. Tudo bem se forem desconhecidos ou não muito íntimos, mas pessoas que se dizem suas amigas deveriam se esforçar para compreender, não é mesmo? Não que eu esteja pedindo para que PAREM O MUNDO E TENTEM ME COMPREENDER POR FAVOR, EU PRECISO DE ATENÇÃO, não, longe disso, nada disso!
Cada um tem a sua própria vida e as suas próprias questões para lidar, há coisas muito mais importantes do que eu, e como a Brena me disse sem meias palavras nessa segunda-feira e da forma mais dura o possível, "O MUNDO NÃO GIRA TODO AO TEU REDOR", pode ter soado como uma crueldade na hora aos meus ouvidos, mas era a verdade explícita, nua, despida e descarnada, fazendo sexo com a realidade bem diante dos meus olhos e, nossa, isso foi um pouco chocante no momento, mas ela fez o papel de uma boa amiga afinal de contas, à maneira dela, e é por isso que de todas as pessoas que eu conheci nesses poucos meses de Unifap, ela foi aquela com a qual eu mais me identifiquei em muitos aspectos.
E, nossa, foi tão bom encontrar a Bia depois de tanto tempo! Eu me senti encaixado de novo, senti como se uma pequena parte do pedaço que havia se desprendido de mim houvesse voltado, e eu me senti parcialmente revitalizado, eu estava MESMO precisando rir, e a Bia é especialista nisso, ela me faz rir desde a terceira série, não consigo encontrar minha existência antes dela, ela me ensinou a ser feliz rindo. Rindo da vida, rindo de si mesmo, rindo dos outros. Rindo. Foi como receber um raio de sol depois de muito tempo num quarto escuro, e por isso que eu chorei tanto, tanto quando a encontrei debaixo da árvore.
E depois eu me lembrei repentinamente que havia marcado cinema com o Andrew depois da faculdade - e mais uma vez o Andrew me ajuda a lidar com a depressão! Foi ele quem veio me visitar no dia seguinte ao cyberbullying, me dar apoio moral e me fazer sorrir. - e aí tive de subir num ônibus diferente do habitual para ir ao shopping, mas quando cheguei lá e telefonei para ele, descobri que o filme não estava sendo exibido no Cine Macapá e sim no Imperator! Morri de rir comigo mesmo e tive de andar mais algumas quadras pra chegar até lá (bondade minha, tive de atravessar um bairro pra falar a verdade!), mas valeu a pena porque, nossa, Sucker Punch é incrível, é visualmente maravilhoso e tem um enredo digno de um livro de Lemony Snicket! (é assim que escreve o pseudônimo do autor de Desventuras em Série?).
Eu me identifiquei tanto com a personagem principal! Babydoll, procurando fugir daquela realidade dolorosa transforma a sua vida trágica em metáforas internas, e se perde dentro delas, se perde em seus devaneios enquanto faz aquilo que sabe fazer de melhor: dançar. Só que, no meu caso, eu escrevo! Aquele filme na verdade foi só uma concretização e exposição por parte e terceiros daquilo que eu faço desde pequeno, desde o momento em que meus pais se separaram e o mundo inteiro começou a desabar sobre a minha cabeça: sonhar, me perder num mundo de sonhos, transformar as coisas ruins que me acontecem em história mirabolantes que se desenvolvem na minha cabeça, cheias de explosões, magia, robôs, dimensões desconhecidas e monstros abissais, enquanto aqui fora eu recebo golpes dolorosos da vida.
Vocês acham que a saga The Big Machine veio de onde, afinal de contas?! Desse meu desejo de liberdade, de fuga, e é por isso que eu me identifiquei tanto com Babydoll, ela é a personificação da minha alma: pequena, frágil, delicada, perdida num mundo interno tão grande. Acho que é por isso que eu sou meio autista... Nasci num corpo grande demais, talvez minha alma se perca por aqui por dentro às vezes e eu tenha esses pensamentos suicidas loucos!
Ai, são tantas coisas! E como a pipoca estava gostosa! Tantas coisas para dar atenção e eu só consigo lembrar do sabor da pipoca! Se o Andrew não tivesse me tirado desse fundo de poço e me levado para o cinema, acho que a esta altura eu estaria com os pulsos cortados ou algo pior! Sempre o Andrew pra me animar nessas horas... E depois, quando eu cheguei em casa, a Rayanne me ligou, e foi tão bom falar com a minha amiga!
Agora eu sei como ela se sente às vezes. Eu ralho tanto com ela quando ela começa com esses pensamentos pessimistas escrotos, e ela com toda a paciência do mundo me pede pra concentrar nos estudos quando estou a ponto de enlouquecer (è_é -s)!
E é nessas horas que nós caimos na real: no final das contas, amigos ainda são conferidos nos dedos das mãos!
Dizem que crianças que nascem em dias muito chuvosos tem propensão à desenvolver depressão... coisa de Feng Shui... Bom, enquanto houverem pessoas como estas na minha vida, eu duvido muito que o Feng Shui fará algum efeito.
Era isso. Um desabafo. Uma reconstrução.
XXXO
Louie Mimieux
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