Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

domingo, 24 de janeiro de 2010

So Happy I Could Die

Sábado, 23 de Janeiro, há apenas um dia da minha volta para casa...

A festa da maçonaria estava movendo mares e montanhas! O pessoal do som trouxe a aparelhagem um dia antes, e eu previa o inferno que seria aquele som à noite toda. Nunca fui de festas, sempre odiei festas, sempre odiei muito barulho, sempre odiei muita gente reunida, confusão nem sempre é comigo, eu estava sofrendo desde cedo. Exatamente uma semana antes os boatos começaram sobre a tal festa, e quinta feira o convite ao meu pai chegou. Entregaram ele pra mim, mas eu total que ignorei aquilo, estava decidido a descer de minha torre (segundo andar da casa da Tia Ana), fazer a íntima lá embaixo com os maçons que sempre me deram muito medo por serem uma sociedade secreta e toda aquela coisa, e subir de volta para curtir minhas risadas na Desciclopédia. Haha, eu idiota nem suspeitei de nada! Como eu pude ser tão imbecil? Tinha assistido o documentário sobre o novo livro de Dan Brown há mais ou menos uns dois dias, sabia o que precisava saber para calcular que os maçons NUNCA iniciariam 5 novos membros na presença de mulheres e crianças, afinal a iniciação é um ritual secreto, e isto foi a prova de que eu sou um completo pateta, desatento, idiota, tapado, imbecil! Nem me toquei de nada!

Esta manhã, tudo havia corrido normalmente, como em qualquer outro dia. A diferença foi que a Regina manicure veio cuidar das minhas unhas dos pés que mais parecem garras de trolls, e depois cuidou das unhas das meninas e do papai. As arrumações começaram as cinco da tarde, Lorenice foi a primeira que correu para o banheiro, papai queria fugir da festa, aparentemente os maçons queriam que ele fosse o mestre de cerimônia, fizessem discurso e ficasse com o microfone a festa toda, e ele disse que achava isso um saco, e agora que eu estou escrevendo isto a vocês vejo o quanto eu fui IDIOTA pela segunda vez!!! Meu pai ama a atenção, ama ter um microfone na mão, é por isso que ele está no ramo da política não é?! NOSSA! Eu sou muito tapado! Como fui cair nessa????

Mas é que ele falou com tanta convicção, dizendo que estava morrendo de dor de cabeça, que não agüentava aquele som alto, e isso eu até engoli porque ele é muito exigente com o negócio do barulho, igual eu, sempre sofro na algazarra, odeio som alto, principalmente se for a porcaria do melody (brega, ou fezes se preferir) da nossa região, o qual papai também não curte muito, e esse argumento pelo menos é verídico e tem consistência, mas o negócio do microfone foi PODRE, e só agora eu percebi isso, horas depois da festa! Eu e as meninas nos arrumamos e ficamos tirando foto durante um tempinho lá no quarto enquanto papai vestia a roupa de festa. Nem contei pra vocês que roubei a blusa que ele ia usar NE? Mas é muito linda, pretinha, com detalhes em prata listrado na parte superior, gola em V, tudo a ver comigo. Enfim, QUEIXEI! E assim que o papai desceu, corremos para o carro, ele não gosta de atrasos, não suporta que ninguém o atrase, e sabendo como ele é meio estourado, largamos tudo para trás e corremos! Entramos no carro e fomos tendo como destino a cidade vizinha Vitória do Jarí, onde a filha de uma amiga de trabalho dele iria comemorar o seu êxito no recente vestibular, a moça estava a caminho da faculdade e merecia uma comemoração. Neste momento, suspeito que até isto tenha sido falso, vou até perguntar a ela agora no MSN se houve algo parecido...

Enfim, ela está offline... Mas, como eu ia dizendo, enfretamos a estrada fantasmagórica que passa pelos campos de eucalipto cultivado pelas fábricas da região para a transformação em papel, vimos os homens e as máquinas trabalhando lado a lado na escuridão da noite estrelada, banhada pela lua deleitada de prazer ao iluminar a mata viva e pensante. Papai vinha no carro contando histórias de estrada, de como ele tinha de enfrentar a mesma estrada todo dia, os animais que ele via, a cutia com a qual ele já havia criado intimidade, as horas mais sombrias em que teve de descer e subir aqueles abismos apelidados de ladeira, que cortam as montanhas como feridas de barro, discutimos lendas, discutimos teorias espirituais, discutimos sobre flatulência (assunto preferido do papai, -oi), discutimos as peripécias da língua portuguesa e o quanto a linguagem da internet estava afetando neurônios, e rimos da Camila que sempre banca a medrosa na estrada.

Tudo isso ao som de Katy Perry Unplugged, o CD que há uma semana meu pai havia pedido para mim pela internet. Foi tudo uma surpresa! Ele tirou o CD de dance dele e entregou um pacote à Camila dizendo “abre esse CD aqui Camila!”. E então ele o pôs pra tocar. Primeiro eu tava viajando aos sons da batida de jazz da versão acústica de I Kissed a Girl, e quando reconheci a voz da Katy comecei a gritar e a pedir a capa do CD, e depois meu pai entregou a mim os livros de Anne Rice e me deu um abraço enquanto as meninas gritavam e aplaudiam, e fomos e voltamos ouvindo Katy Perry... Eu sinceramente ADORO a estrada, viveria na estrada se pudesse, cresci entre Macapá e Laranjal, estou super ambientado ao ir e vir constante, a observar a vida no mundo como ela é originalmente, aonde o pênis da globalização ainda não foi capaz de penetrar e violar. Estrada à noite, melhor ainda.

E eis que voltamos a Laranjal, os telefonemas não paravam, tia Ana queria todas as meninas de volta e já, Camila, Lorenice e Yara teriam muito serviço pela frente, como servir os maçons e lavar a louça, e voamos então para casa. Aquelas tochas por entre as quais Iêda, Yara e eu pulamos durante a tarde estavam acesas formando um corredor para a escuridão do interior do pátio interno, enorme, parecia que ia sair até algum bicho dali de dentro. Estacionamos o carro do outro lado da rua e descemos nos espreguiçando feito um bando de galinhas que acabaram de sair do choco, e fomos meio molengas em direção às tochas. Eu imaginei que aquilo tudo fosse coisa da maçonaria, eles que são todos misteriosos, fiz a egípcia e já ia saindo à francesa em direção ao portãozinho lateral que levava à escada de acesso ao apartamento do papai lá em cima, mas me puxaram para o corredor de tochas e uma luz fortíssima se acendeu vinda das trevas em nossa direção. Era uma câmera. Solene, continuei fazendo a egípcia e adentrei na escuridão tendo a luz na minha cara e várias coisas passando pela minha cabeça como toda aquela gente chique que estaria me esperando lá dentro com seus olhares de juiz. Foi então que meu pai sussurrou ao meu ouvido, meio trêmulo:

- Meu filho, aproveite, esta festa é sua...

As luzes e os lasers acenderam sobre mim e as pessoas de pé ao meu redor.


Oh-oh-oh-oh-oooh-oh-oh-oh-oooh-oh-oh-oh!

Caught in a bad romance

Oh-oh-oh-oh-oooh-oh-oh-oh-oooh-oh-oh-oh!

Caught in a bad romance

Rah-rah-ah-ah-ah-ah!

Rama-ramama-ah

GaGa-ooh-la-la!

Want your bad romance


- PARA! PARA! PARA! PARA! PARA! PARA TUDO! PARA! PARA! PARA! PARA! PARA! PARA TUDO! NÃO! NÃO! ISSO NÃO! NÃO!

Meu estômago embrulhou, eu fiquei gelado, aqueles aplausos todos, aqueles olhares todos, aqueles enfeites de bruxa, as cores, a decoração, toda pra mim. Eu gritava feito um louco, meus olhos estavam saltados, eu tremia, estava morrendo de medo, confuso, assustado, cantando Bad Romance enquanto subia as escadas para a grande quadra onde estava a minha mesa enorme repleta de caixas e mais caixas em forma de estrelas e diamantes recheadas de bombons, tendo ao centro um ENORME bolo preto de dois andares com janelinhas de glacê e torres de castelo imitando a Mansão Dellabóbora. Atrás, um banner enorme grafitado com uma foto minha e “Parábens Junior” com uma imagem do meu livro logo abaixo. O tema da festa era baseado na capa do Especial de Halloween de As Dellabóboras, tanto que teve até uma apresentação do grupo de dança patrocinado pela Ana Duarte em que eles dançaram Thriller vestidos de zumbis, igualzinho na ilustração, onde Afonsa e Agnes dividem a cena com um morcego, a lua cheia, névoa verde e cadáveres que saem do chão. Detalhe, havia uns morceguinhos voando ao lado da minha cara, adorei! Pela primeira vez em toda a minha vida colocaram uma foto BONITA minha num banner!

E então os holofotes todos se voltaram para a porta ao lado da mesa e então cheia de brilho e envolvida numa áurea mística de luz, MINHA MÃE SAIU DAS SOMBRAS me agarrando e me beijando enquanto eu gritava e virava meu rosto para todos os flashes que eu via, fazendo caras e bocas de assustado! Depois de mim foi a vez de Iêda agarrar a mamãe e chorar feito uma louca. Nunca vi menina pra chorar tanto! O homenageado era eu e quem chorou antecipadamente durante uma semana foi ela! E só agora eu descobri o motivo! Era a angústia de ter uma festa tão pesada na consciência, e esconder a vinda da mamãe também deve ter sido uma barra. Recebi presentes, posei pra fotos, apertei mãos, posei pra fotos, beijei rostos, posei pra fotos, fiz à egípcia, posei pra fotos, fiz à Elke, posei pras fotos, gritei, bati palmas, posei pra fotos. Enfim, momento Paparazzi by Lady Gaga em alta.

- AI

- MEU

- DEUS

Foram minhas primeiras palavras trêmulas no microfone.

- TEM UM BANNER COM A MINHA CARA – foram minhas segundas palavras no microfone. Eu não sabia quem agradecer, agradeci quem estava mais perto, todos aqueles que fazem parte do meu dia-a-dia, todos aqueles que eu mais amo, todos aqueles que sempre estão do meu lado, todos aqueles que realmente fazem a diferença na minha vida. Eu não lembro muito de bem de absolutamente nada, estava em choque, lembro do meu pai dizendo algumas coisas, e lembro do rosto da minha mãe chorando em rever seus filhos depois de tanto tempo. Existem duas versões da filmagem da minha festa esplêndida, a versão com cortes de falha técnica da Mimi (rs), e a versão estendida da equipe contratada para a filmagem. O tio que tirou minhas fotos com os convidados disse-me que não lembrava dele, mas que em meu aniversário de três anos, foi ele quem me pôs no jornal. Hmmmmmmmmmm, então eu sempre fui divo e nem sabia, ah ta bom então, rs. E depois de toda aquela confusão, eu dancei Bad Romance na frente de um monte de desconhecidos e depois de ter pagado esse mico básico saí à francesa e fui ver a mesa onde a TIA ADMA, O TIO GERSON, O TONHO e a Mamãe estavam sentados (Sim! A família Casseb também veio! Sem a Jamile, é claro, que está em Belém, mas foi muito importante vê-los ali! Eles são minha família!!!), e descobri para o meu desespero que mamãe estava ARDENDO EM FEBRE e teve de voltar pra casa da tia Adma pra descansar senão ia desmaiar ali mesmo. Eu fiquei completamente angustiado e senti um mal-estar enorme por ela, subi um instante para refletir sobre a minha vida enquanto os “povo” dançavam funk, e desci para fazer a íntima (rs) com os outros, e aos poucos as pessoas foram saindo e liberando a pista para mim. Era hora de uma velho conhecido meu chamado Neko FyeMokona brilhar.

Estava na cozinha quando começou a tocar Speechless da Lady GaGa, e subi correndo as escadas que levam à quadra pra fazer uma interpretação teatral dessa música para quem quisesse ver. Quem já ouviu essa canção sabe do que eu estou falando, é perfeita, belíssima, tocante, foi o meu momento, um momento tão íntimo, um momento tão interno e ao mesmo tempo tão exposto para todos. Eis que todas as minhas músicas favoritas decidiram tocar, e o DJ saiu, acabei ficando no lugar dele, entrando na casinha pra selecionar as músicas e voltando para a pista. Era só eu e as meninas, Yara, Lore, Camila, Iêda. Mas aos poucos elas foram saindo, e eu fui ficando ali, sozinho, dançando, pulando feito um doido, de olhos fechados, fingindo estar sozinho na sala da minha casa enquanto os lasers e as luzes me atingiam frenéticos o tempo todo, me invadindo e me possuindo. Fiquei ali até três e meia da manhã, dançando só o que eu queria, como eu queria, sem me importa se alguém estava me olhando. Pela primeira vez eu fui em público. Primeira e ÚLTIMA! AHDIOASHDOAISDHOAISHDOIASD Q

Depois de dançar por quase três horas sem parar, me joguei no chão, respirei um pouco e sai de cena ainda dançando, e aconteceu depois algo sobre o qual não entrarei em detalhes... rs.

Antes de tudo isso, tive o momento de fazer a íntima com as amigas convidadas das meninas, da Lore, da Yara de Camila, elas são muito bacanas, ficamos lá a luz das tochas conversando e rindo durante alguns minutos enquanto eu narrava extasiado fato por fato, me maravilhando como tudo foi tão teatral e perfeito, as mentiras tão bem contadas e as pontas que ficaram soltas, se encaixando cada vez mais a cada detalhe revelado pela Tia Ana ou pelas meninas, que se queixaram várias vezes de terem SOFRIDO feito Cristo por causa dessa festa, levando bronca do papai todo dia, tudo tinha de ser perfeito, elas não podiam se dar ao luxo de falhar uma vez sequer, e eu as abracei e as beijei tanto perguntando a elas porque se prestaram àquilo, porque sofreram esses dias todos por minha causa. Sentindo-me cada vez mais culpado. Pobrezinha da tia Ana, além de tomar conta da casa dela ainda teve de correr pra cima e pra baixo para organizar essa festa pra MIM! Por isso ela estava se queixando de dores nas pernas a semana inteira!

Outras que sofreram foram a Thayanna e a mãe dela, fazendo aqueles bombons e preparando os brindes e a ornamentação, trabalharam duro feito duas condenadas pra mim! Pra MIM! Porque essas pessoas fizeram isso meu Deus?! Eu me pergunto! Porque se sacrificaram tanto por mim?! Quantas vezes as meninas devem ter chorado por causa de broncas, quantas vezes elas tiveram de deixar os seus afazeres e obrigações para cuidar dos preparativos?! Meu Deus! Eu sou um monstro!

Hoje, dia 24, eu não voltei pra casa. Foi decidido que vamos todos juntos, eu, mamãe e Iêda amanhã pelas nove horas, e antes disso já havíamos decidido passar o dia com Mamãe na nova e agradável casa dos Casseb, que por sinal vivem se mudando. A nova casa é bem melhor que a outra, é mais prática, mais agradável e tem como ponto de referência o ginásio de Monte Dourado, o que a torna mais acessível a todos nós. Passamos o dia todo dormindo ao lado da mamãe enquanto ela descansava. A febre abaixou um pouco e ela já está bem melhor do que ontem. Suspeita de que seja algum problema no rim, sente dores ao se abaixar. É barra mesmo, já orei bastante por ela, ela vai ficar bem.

Mas o que mais me tem deixado reflexivo é o fato de esta festa ter mobilizado tanta gente! Reflexivo nada, eu me sinto culpa, angustiado, não sei, eu sinto tantas coisas ao mesmo tempo, estou tão confuso, tão triste em ter de deixar todo mundo aqui e voltar pra Macapá, em saber que esta aqui não é a minha vida, em saber que minha realidade é completamente outra. Eu não tenho tantas mordomias, não tenho tantas pessoas que gostem realmente de mim ao meu redor, os verdadeiros amigos em Macapá são muito poucos, e mesmo assim eles não sobem ao meu quarto e não me acordam com abraços e beijos todas as manhãs.

As pessoas não gostam de mim, o mundo parece programado para não me aceitar de maneira alguma, e então surgem pessoas desse tipo, pessoas assim que me tratam tão bem, que nunca me julgam de maneira alguma, que me colocam em um pedestal que eu não mereço, pessoas que me amam incondicionalmente. Eu fui feliz durante duas semanas inteiras, não tive motivos para reclamar um segundo sequer, foram risos, abraços, beijos, conversas, brincadeiras... Depois de rever tudo o que se passou desde que cheguei aqui, meu coração se aperta e chora, porque o sentimento é de que realmente há algo errado, de que toda essa atenção e todo esse amor é antinatural, como se nada disso existisse. Entendam que eu não sou acostumado com essas coisas. O amor que eu costumo sentir vem somente da família, eu estou apenas acostumado com o amor de meus pais, de minha irmã, de meus amigos mais íntimos e mais próximos. Toda essa atenção, toda a dedicação que essas pessoas tem para comigo, parece tudo tão errado, não é certo, eu não mereço isso, e isso me dói tanto. Por isso o título desta longa postagem é “So Happy I Could Die”, pois eu estou tão feliz agora, tão feliz agora, que poderia morrer. Morrer por todos eles, morrer por todos aqueles que se sacrificaram por mim durante todos esses dias.

Eu estou acostumado com pessoas terríveis me fazendo coisas horríveis o tempo todo. E por um momento quase perdi as esperanças da existência de pessoas boas no mundo. Mas existem sim. Existem. E este meu santuário é a prova. O Vale do Jarí é a prova de tudo isso. Fui feliz durante o período em que passei longos finais de semanas e férias no Munguba, fui feliz no período em que vivi a experiência de Monte Dourado, e sou feliz eternamente por viver a experiência de Laranjal do Jarí, viver a experiência da Família Sabóia, viver a experiência da família do meu pai, viver a experiência da minha nova família.

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