- Tem certeza de que quer fazer isso, senhor? Podemos ir até lá, não é necessário que você se arrisque tanto...
- É claro que quero! Acha que só porque eu sou um nerd não posso executar um pouco de ação por aqui? Abram os portões para mim! – Don Hills estava determinado, nada poderia parar ele, nada. Ele era assim, quando tomava uma decisão, ninguém poderia mudar sua opinião.
- Senhor Hills – disse a delicada voz infantil do sistema operacional de Asgard – eu posso usar meus cabos USB e conectar-me ao sistema interno do aracnídeo artifical, não precisa se arriscar assim, é bem capaz de haver realmente um exército de Células lá dentro...
- Perfuraram a camada de titânio! – gritou uma comandante que verificava o estado de saúde do prédio através de um laptop em seu colo. Era Marisa, amiga há anos de Christopher, os dois fizeram juntos o primeiro ano. Ao seu lado estava Ariela, também de cabelos vermelhos, operando outro laptop, ela e Christopher se conheciam desde a quinta série. Ela jamais tirava aquele fone de ouvido em formato de orelhas de lobo.
- Faltando poucos metros para a camada de sal bruto! – comunicou ela.
- Não se preocupe, Emilie – disse Don Hills para a voz do sistema – se realmente existirem, estarão desativadas e provavelmente programadas para o momento em que a carapaça de Asgard for perfurada, por isso, abra os portões!
Os portões gigantescos se abriram com um ruído pneumático. A aranha mecânica era colossal, é claro, e ele corria um sério risco de ser fuzilado, porém a cabeça do robô em forma de arma somente visava ofensivas frontais, o que o fez passar rapidamente por entre as árvores e arbustos para escalar uma das duas patas traseiras. Tinha uma altura incrível, mas em pouco tempo ele estaria no topo.
Enquanto isso, Ray Ann e Christopher Umbrella despontava num corredor prateado suspenso entre as últimas e maiores engrenagens, onde iniciava-se uma estrutura interminável de cabos, canos e fios elétricos enormes, caixas pretas gigantes e até mesmo um carburador. Ali, tudo lembrava o mundo interno do motor de um carro, e o barulho era similar.
- Então é por isso que os últimos humanos a entrarem em The Big Machine disseram que não havia nenhum corredor ou porta que levasse ao interior do cérebro, era como se ele nem existisse... – sussurrou Ray Ann – ele fica dentro do fosso central!
O corredor prateado levava a um enorme portão, feito em aço puro e brilhante, imitando os portões do céu, com quatro serafins de seis asas, um em cada canto do portão pesado, como se a proteger aquele lugar. O sensor de movimentos os detectou a poucos metros de distância da entrada, e um por um, os quatro pares de olhos que os observavam misericordiosos nas estátuas prateadas de serafins arderam em uma chama verde gradativa, e foi então que os sensores eletrônicos de Ray Ann puderam detectar o calor sendo produzido pelo funcionamento dos circuitos internos. Os serafins eram robôs.
- Prepare-se, eles são de última geração, a minha wireless embutida baixou a ficha técnica dessas máquinas – dizia ela enquanto seu braço encolhia e retorcia entre ruídos e faíscas até tornar-se uma arma elétrica de longo alcance que lançava raios. – eles agem diretamente contra o oponente, mandando ondas eletromagnéticas que vibram na mesma frequência que as ondas cerebrais, podendo nos deixar completamente desnorteados enquanto nos fuzilam, sem contar o arsenal interno e a capacidade de agitar as partículas do ar... São assassinas natas.
A armadura em simbiose da Witchblade reforçou-se automaticamente, envolvendo Christopher cada vez mais, até chegar ao ponto de que não houvesse mais nenhum pedacinho de pele exposto.
- Contra mim eles não podem nada! – ele não esperou. A fibra de aço retorceu-se em seu braço e rastejou até a mão, tomando a forma de uma espada enorme, e a luta começou.
Os robôs em forma de anjo vinham voando sem nem bater as asas, com as mãos unidas diante do peito e os olhares tristes. Eram como estátuas de um presépio gigante entrando em movimento, vindo tranquilamente, enganando o oponente com suas expressões pacíficas. O primeiro dos serafins estendeu a mão, e então Christopher foi lançado para longe, de volta para a ponta da passarela prateada em questão de segundos. Ray Ann lançou três raios só de uma vez, porém eles ricochetearam e voltaram. Por sorte ela tinha seu próprio escudo automático que a envolveu num casulo de metal. O terceiro raio foi absorvido pelo quarto serafim, e lançado de volta dez vezes mais forte por sua boca que abriu-se delicadamente ao cuspir aquela descarga elétrica assassina e letal. Não eram como Cefalópodes e muito menos como Células, eram coisas indestrutíveis, assustadoras, monstros angelicais.
Christopher voltava correndo furioso sobre a passarela, em direção aos serafins outra vez, com um rugido escapando do fundo do peito direto para o âmago de The Big Machine, sua tentativa agora era com os jatos de fogo que a armadura legendária podia lançar. Foi uma chuva vermelha mortal, serpentes de fogo, labaredas, línguas de altas temperaturas em explosões que fizeram tremer tudo, mas nem isto adiantou, os robôs continuavam vindo tranquilamente. O terceiro serafim estendeu sua mão, e uma pontada atingiu o cérebro de Christopher, fazendo-o tombar de lado instantaneamente e tremer como se estivesse tendo epilepsia. Ray Ann correu para cima dos anjos assassinos, desferindo esferas de plasma que nem sequer arranhavam a lataria, o jeito foi apelar para as granadas, as mesmas que derrubaram de uma só vez a versão gigantesca de Carmen Parafuso. Nem isso os derrubou.
- Tudo bem, já chega! Eles já sofreram demais! – disse a voz que vinha de cima. Os robôs prateados em forma de serafins estancaram e afastaram-se do meio da passarela, abrindo passagem. As pontadas no cérebro de Christopher cessaram, e o robô que estava prestes a estourar os miolos de Ray Ann naquele momento soltou-a. O pesado portão abriu-se, mostrando a eles um enorme pilar cilíndrico de cristal líquido que cintilava nas sete cores do arco-íris, disposto no centro de um enorme salão repleto de cabos de fiação e monitores que cobriam a parede circular de cima a baixo. Aquela era a sala de controle, o cérebro do mundo, de onde partiam todas as ordens e os comandos. Diante do pilar havia uma poltrona, um trono sobre um pedestal que tinha acesso por uma escadaria. Dentro do pilar, um corpo flutava, tendo agulhas enfiadas na carne e cabos partindo dali, como se aquele corpo servisse de alimentação.
Os dois invasores de The Big Machine ficaram estáticos, sem reação, sem saber o que fazer ou no que pensar. Ali estava Carmen Parafuso. Não era um andróide e nem um ciborgue, mas sim uma pessoa em um estado de inércia, sob animação suspensa, alimentando com impulsos cerebrais todo o sistema da Máquina. Ela era o cérebro, ela havia se unido à The Big Machine de forma que ela era a própria! O trono girou, e revelou-se ali sentado, nu como sempre gostava de ficar, o esnobe Maurice, com um olhar de superioridade e realeza, a conhecida expressão de cheque-mate no rosto. Era ele quem havia construído aquele prédio, projetado-o exatamente para isso. Ele havia induzido Carmen a se tornar a própria placa mãe da Máquina, o disco rígido de tudo, para que ele pudesse assumir o controle e operar no comando. Em resumo total, a grande revelação foi feita, a verdade havia finalmente vindo à tona.
Maurice era o verdadeiro vilão, ele foi quem planejou tudo desde o princípio, o grande mentor. Ele inventara a teoria de Deus falar através das máquinas para manter o mundo sob seu controle, e usara a imagem de Carmen, uma mulher que representasse o povo e o cidadão comum para conquistar a confiança do mundo. Isso tudo era explícito agora, estava estampado, era a grande verdade de tudo. E ali estava Christopher, de pé e em chamas, envolto pela auréola furiosa da mítica armadura da Witchblade, pronto para destronar aquele homem pretensioso e arrogante.
- Hum... O sistema operacional dessa máquina é bem comum, nada de muito complexo... – resmungava Don Hills consigo mesmo, enquanto analisava os cabos e os painéis da caixa-forte aberta a força por uma granada dentro da aranha blindada metálica que em poucos instantes estaria completamente infiltrada em Asgard. Havia um tubo, uma saída bem abaixo daquele olho vermelho brilhante, um portão de metal que seria usado pelo exército de Células (que ali estavam, como o previsto), para invadir a Fortaleza Digital construída sobre a extinta cidade de Monte-Dourado.
- Rápido, senhor! – disse a voz de Marisa no comunicador em seu ouvido. – ela já ultrapassou a camada de sal e de rocha bruta, aí vem a próxima camada de titânio, e depois estaremos à mercê das Células.
- E elas já iniciaram seus sistemas particulares! Tem um monte de Carmens me olhando feio prontas para me darem uma bela de uma melissada! – riu Don enquanto analisava fio por fio. – Ah! Aqui está! – o maior cabo, o roxo, era o que ligava o sistema ao alimentador, e foi o que ele puxou. Assim a aranha mecânica desligou, e Don Hills pôde passar tranquilamente por entre as Células que não fariam nada enquanto alguém não mudasse a sua programação manualmente no centro de controle. Cheio de bom humor, ele cumprimentou as máquinas por onde passava, dando batidinhas amigáveis nos ombros das anãzinhas magrelas pelo caminho.
- Não há dúvidas! – disse ele – elas são mesmo idênticas à Carminha Parafuso... Que loucura!
- Então, Umbrella? Surpreso? – perguntou Maurice, pondo-se de pé da poltrona e descendo as escadas do pedestal. Tudo daquela sala era escuridão, a não ser pela luz fosca produzida pelo pilar e o brilho dos monitores nas paredes que mostravam pontos específicos da cidade, esquinas, ruas, avenidas, prédios e principalmente os corredores e galpões internos de The Big Machine.
- Nem um pouco, eu sempre suspeitei de você, desde o príncipio, nunca me foi confiável, não sei como pude ser tão idiota a ponto de deixá-lo ficar tão próximo de mim... Você sempre foi aquele que colocou lenha na fogueira, aquele levou e trouxe os boatos, que atiçou a briga e implantou a semente da dúvida em todas as situações, desde a nossa adolescência até a nossa maturidade, sempre foi a discórdia do grupo, aquela pessoa fútil que não suportava ver a felicidade alheia, sempre discordava de tudo o que alguém dizia, o que valia era sempre a sua própria opinião, fazia pouco dos outros e gostava de diminuir as pessoas só para se sentir um pouquinho mais superior, mas era infeliz porque no final das contas, NUNCA conseguiu influir em nada na vida de ninguém, sempre foi uma pessoa apagada que JAMAIS marcou algo em alguém, seja como lição ou como lembrança agradável... E foi isso que te levou a construir essa Máquina e usar a imagem de Carminha para influir sobre os outros, esse sempre foi o seu sonho, fazer influência, fazer a diferença, mas não havia nascido para isso, nasceu para ficar de lado, de escanteio, tanto que agora o rosto de Carmen está por toda a parte enquanto você se esconde nessa sala escura!
- Já acabou seu discurso moralista patético? – perguntou ele, se aproximando e ficando cara a cara com Christopher Umbrella. – porque tenho que matar seus amigos viajantes do tempo, a mana gordinha que atende pelo nome de Fábia e Suzannah, tenho de dar um golpe de estado ainda esta tarde e me nomear o imperador final do mundo!
Um movimento dos seus dedos acendeu os holofotes sobre uma corrente onde estavam pendurados Chris, Ray, Fábia e Suzi, desmaiados, exatamente sobre a boca do triturador particular da sala de controle, nunca antes usado.
- E agora Chris? O que você vai fazer? Hã? Não ouvi direito! Vai salvar seus amigos? – desdenhava – duvido muito que a Witchblade seja capaz de destruir essa sala e o pilar, e aliás, nem em sonhos você poderia destruir o pilar, porque ele é a única saída desta realidade para o exato momento em que eu e Carmen voltamos no tempo e alteramos o passado, eu fiz questão de lacrar esta passagem aqui, bem debaixo da minha asa, para que ninguém pudesse acessá-la de um transportador comum...
FIM DA PENÚLTIMA PARTE!!!
- É claro que quero! Acha que só porque eu sou um nerd não posso executar um pouco de ação por aqui? Abram os portões para mim! – Don Hills estava determinado, nada poderia parar ele, nada. Ele era assim, quando tomava uma decisão, ninguém poderia mudar sua opinião.
- Senhor Hills – disse a delicada voz infantil do sistema operacional de Asgard – eu posso usar meus cabos USB e conectar-me ao sistema interno do aracnídeo artifical, não precisa se arriscar assim, é bem capaz de haver realmente um exército de Células lá dentro...
- Perfuraram a camada de titânio! – gritou uma comandante que verificava o estado de saúde do prédio através de um laptop em seu colo. Era Marisa, amiga há anos de Christopher, os dois fizeram juntos o primeiro ano. Ao seu lado estava Ariela, também de cabelos vermelhos, operando outro laptop, ela e Christopher se conheciam desde a quinta série. Ela jamais tirava aquele fone de ouvido em formato de orelhas de lobo.
- Faltando poucos metros para a camada de sal bruto! – comunicou ela.
- Não se preocupe, Emilie – disse Don Hills para a voz do sistema – se realmente existirem, estarão desativadas e provavelmente programadas para o momento em que a carapaça de Asgard for perfurada, por isso, abra os portões!
Os portões gigantescos se abriram com um ruído pneumático. A aranha mecânica era colossal, é claro, e ele corria um sério risco de ser fuzilado, porém a cabeça do robô em forma de arma somente visava ofensivas frontais, o que o fez passar rapidamente por entre as árvores e arbustos para escalar uma das duas patas traseiras. Tinha uma altura incrível, mas em pouco tempo ele estaria no topo.
Enquanto isso, Ray Ann e Christopher Umbrella despontava num corredor prateado suspenso entre as últimas e maiores engrenagens, onde iniciava-se uma estrutura interminável de cabos, canos e fios elétricos enormes, caixas pretas gigantes e até mesmo um carburador. Ali, tudo lembrava o mundo interno do motor de um carro, e o barulho era similar.
- Então é por isso que os últimos humanos a entrarem em The Big Machine disseram que não havia nenhum corredor ou porta que levasse ao interior do cérebro, era como se ele nem existisse... – sussurrou Ray Ann – ele fica dentro do fosso central!
O corredor prateado levava a um enorme portão, feito em aço puro e brilhante, imitando os portões do céu, com quatro serafins de seis asas, um em cada canto do portão pesado, como se a proteger aquele lugar. O sensor de movimentos os detectou a poucos metros de distância da entrada, e um por um, os quatro pares de olhos que os observavam misericordiosos nas estátuas prateadas de serafins arderam em uma chama verde gradativa, e foi então que os sensores eletrônicos de Ray Ann puderam detectar o calor sendo produzido pelo funcionamento dos circuitos internos. Os serafins eram robôs.
- Prepare-se, eles são de última geração, a minha wireless embutida baixou a ficha técnica dessas máquinas – dizia ela enquanto seu braço encolhia e retorcia entre ruídos e faíscas até tornar-se uma arma elétrica de longo alcance que lançava raios. – eles agem diretamente contra o oponente, mandando ondas eletromagnéticas que vibram na mesma frequência que as ondas cerebrais, podendo nos deixar completamente desnorteados enquanto nos fuzilam, sem contar o arsenal interno e a capacidade de agitar as partículas do ar... São assassinas natas.
A armadura em simbiose da Witchblade reforçou-se automaticamente, envolvendo Christopher cada vez mais, até chegar ao ponto de que não houvesse mais nenhum pedacinho de pele exposto.
- Contra mim eles não podem nada! – ele não esperou. A fibra de aço retorceu-se em seu braço e rastejou até a mão, tomando a forma de uma espada enorme, e a luta começou.
Os robôs em forma de anjo vinham voando sem nem bater as asas, com as mãos unidas diante do peito e os olhares tristes. Eram como estátuas de um presépio gigante entrando em movimento, vindo tranquilamente, enganando o oponente com suas expressões pacíficas. O primeiro dos serafins estendeu a mão, e então Christopher foi lançado para longe, de volta para a ponta da passarela prateada em questão de segundos. Ray Ann lançou três raios só de uma vez, porém eles ricochetearam e voltaram. Por sorte ela tinha seu próprio escudo automático que a envolveu num casulo de metal. O terceiro raio foi absorvido pelo quarto serafim, e lançado de volta dez vezes mais forte por sua boca que abriu-se delicadamente ao cuspir aquela descarga elétrica assassina e letal. Não eram como Cefalópodes e muito menos como Células, eram coisas indestrutíveis, assustadoras, monstros angelicais.
Christopher voltava correndo furioso sobre a passarela, em direção aos serafins outra vez, com um rugido escapando do fundo do peito direto para o âmago de The Big Machine, sua tentativa agora era com os jatos de fogo que a armadura legendária podia lançar. Foi uma chuva vermelha mortal, serpentes de fogo, labaredas, línguas de altas temperaturas em explosões que fizeram tremer tudo, mas nem isto adiantou, os robôs continuavam vindo tranquilamente. O terceiro serafim estendeu sua mão, e uma pontada atingiu o cérebro de Christopher, fazendo-o tombar de lado instantaneamente e tremer como se estivesse tendo epilepsia. Ray Ann correu para cima dos anjos assassinos, desferindo esferas de plasma que nem sequer arranhavam a lataria, o jeito foi apelar para as granadas, as mesmas que derrubaram de uma só vez a versão gigantesca de Carmen Parafuso. Nem isso os derrubou.
- Tudo bem, já chega! Eles já sofreram demais! – disse a voz que vinha de cima. Os robôs prateados em forma de serafins estancaram e afastaram-se do meio da passarela, abrindo passagem. As pontadas no cérebro de Christopher cessaram, e o robô que estava prestes a estourar os miolos de Ray Ann naquele momento soltou-a. O pesado portão abriu-se, mostrando a eles um enorme pilar cilíndrico de cristal líquido que cintilava nas sete cores do arco-íris, disposto no centro de um enorme salão repleto de cabos de fiação e monitores que cobriam a parede circular de cima a baixo. Aquela era a sala de controle, o cérebro do mundo, de onde partiam todas as ordens e os comandos. Diante do pilar havia uma poltrona, um trono sobre um pedestal que tinha acesso por uma escadaria. Dentro do pilar, um corpo flutava, tendo agulhas enfiadas na carne e cabos partindo dali, como se aquele corpo servisse de alimentação.
Os dois invasores de The Big Machine ficaram estáticos, sem reação, sem saber o que fazer ou no que pensar. Ali estava Carmen Parafuso. Não era um andróide e nem um ciborgue, mas sim uma pessoa em um estado de inércia, sob animação suspensa, alimentando com impulsos cerebrais todo o sistema da Máquina. Ela era o cérebro, ela havia se unido à The Big Machine de forma que ela era a própria! O trono girou, e revelou-se ali sentado, nu como sempre gostava de ficar, o esnobe Maurice, com um olhar de superioridade e realeza, a conhecida expressão de cheque-mate no rosto. Era ele quem havia construído aquele prédio, projetado-o exatamente para isso. Ele havia induzido Carmen a se tornar a própria placa mãe da Máquina, o disco rígido de tudo, para que ele pudesse assumir o controle e operar no comando. Em resumo total, a grande revelação foi feita, a verdade havia finalmente vindo à tona.
Maurice era o verdadeiro vilão, ele foi quem planejou tudo desde o princípio, o grande mentor. Ele inventara a teoria de Deus falar através das máquinas para manter o mundo sob seu controle, e usara a imagem de Carmen, uma mulher que representasse o povo e o cidadão comum para conquistar a confiança do mundo. Isso tudo era explícito agora, estava estampado, era a grande verdade de tudo. E ali estava Christopher, de pé e em chamas, envolto pela auréola furiosa da mítica armadura da Witchblade, pronto para destronar aquele homem pretensioso e arrogante.
- Hum... O sistema operacional dessa máquina é bem comum, nada de muito complexo... – resmungava Don Hills consigo mesmo, enquanto analisava os cabos e os painéis da caixa-forte aberta a força por uma granada dentro da aranha blindada metálica que em poucos instantes estaria completamente infiltrada em Asgard. Havia um tubo, uma saída bem abaixo daquele olho vermelho brilhante, um portão de metal que seria usado pelo exército de Células (que ali estavam, como o previsto), para invadir a Fortaleza Digital construída sobre a extinta cidade de Monte-Dourado.
- Rápido, senhor! – disse a voz de Marisa no comunicador em seu ouvido. – ela já ultrapassou a camada de sal e de rocha bruta, aí vem a próxima camada de titânio, e depois estaremos à mercê das Células.
- E elas já iniciaram seus sistemas particulares! Tem um monte de Carmens me olhando feio prontas para me darem uma bela de uma melissada! – riu Don enquanto analisava fio por fio. – Ah! Aqui está! – o maior cabo, o roxo, era o que ligava o sistema ao alimentador, e foi o que ele puxou. Assim a aranha mecânica desligou, e Don Hills pôde passar tranquilamente por entre as Células que não fariam nada enquanto alguém não mudasse a sua programação manualmente no centro de controle. Cheio de bom humor, ele cumprimentou as máquinas por onde passava, dando batidinhas amigáveis nos ombros das anãzinhas magrelas pelo caminho.
- Não há dúvidas! – disse ele – elas são mesmo idênticas à Carminha Parafuso... Que loucura!
- Então, Umbrella? Surpreso? – perguntou Maurice, pondo-se de pé da poltrona e descendo as escadas do pedestal. Tudo daquela sala era escuridão, a não ser pela luz fosca produzida pelo pilar e o brilho dos monitores nas paredes que mostravam pontos específicos da cidade, esquinas, ruas, avenidas, prédios e principalmente os corredores e galpões internos de The Big Machine.
- Nem um pouco, eu sempre suspeitei de você, desde o príncipio, nunca me foi confiável, não sei como pude ser tão idiota a ponto de deixá-lo ficar tão próximo de mim... Você sempre foi aquele que colocou lenha na fogueira, aquele levou e trouxe os boatos, que atiçou a briga e implantou a semente da dúvida em todas as situações, desde a nossa adolescência até a nossa maturidade, sempre foi a discórdia do grupo, aquela pessoa fútil que não suportava ver a felicidade alheia, sempre discordava de tudo o que alguém dizia, o que valia era sempre a sua própria opinião, fazia pouco dos outros e gostava de diminuir as pessoas só para se sentir um pouquinho mais superior, mas era infeliz porque no final das contas, NUNCA conseguiu influir em nada na vida de ninguém, sempre foi uma pessoa apagada que JAMAIS marcou algo em alguém, seja como lição ou como lembrança agradável... E foi isso que te levou a construir essa Máquina e usar a imagem de Carminha para influir sobre os outros, esse sempre foi o seu sonho, fazer influência, fazer a diferença, mas não havia nascido para isso, nasceu para ficar de lado, de escanteio, tanto que agora o rosto de Carmen está por toda a parte enquanto você se esconde nessa sala escura!
- Já acabou seu discurso moralista patético? – perguntou ele, se aproximando e ficando cara a cara com Christopher Umbrella. – porque tenho que matar seus amigos viajantes do tempo, a mana gordinha que atende pelo nome de Fábia e Suzannah, tenho de dar um golpe de estado ainda esta tarde e me nomear o imperador final do mundo!
Um movimento dos seus dedos acendeu os holofotes sobre uma corrente onde estavam pendurados Chris, Ray, Fábia e Suzi, desmaiados, exatamente sobre a boca do triturador particular da sala de controle, nunca antes usado.
- E agora Chris? O que você vai fazer? Hã? Não ouvi direito! Vai salvar seus amigos? – desdenhava – duvido muito que a Witchblade seja capaz de destruir essa sala e o pilar, e aliás, nem em sonhos você poderia destruir o pilar, porque ele é a única saída desta realidade para o exato momento em que eu e Carmen voltamos no tempo e alteramos o passado, eu fiz questão de lacrar esta passagem aqui, bem debaixo da minha asa, para que ninguém pudesse acessá-la de um transportador comum...
FIM DA PENÚLTIMA PARTE!!!
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