Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

THE BIG MACHINE - PARTE FINAL!!!!



- E agora hein, Chris? O que você vai fazer?
As palavras de Don Hills dançavam em sua cabeça “chave central” “desativar sistema de segurança” “alavanca prateada de punho azul” “abaixo do pilar”, mas ele não podia fazer nada, se a Witchblade entrasse em ação naquele momento, tudo estaria perdido, seus amigos desceriam para a morte, o Chris do passado morreria, e Ray Ann também, de modo que eles dois deixariam de existir no exato momento em que o coração dos jovens parasse de bater. A andróide Ray Ann estava sendo contida pelas espadas dos quatro serafins, que a envolviam num casulo, numa prisão de eletricidade estática que a impedia de se mover, de modo que ele estava sozinho ali. Duro como pedra, diante de terríveis escolhas que decidiriam o futuro da terra.
Pietro e Augusta surgiram da escuridão, impassíveis, de braços cruzados, usando uniformes brancos de borracha, opostos aos uniformes pretos de Asgard. Impassíveis, fingiam não vê-lo, como seguranças de uma festa, se postaram ao lado de seu chefe e ali ficaram, enquanto Maurice alisava o peitoral da armadura de Christopher.
- Você sabe o que eu quero, Chris – disse ele – o que eu sempre quis desde o começo e que você nunca me deu. Só isso irá salvar os seus amigos, que de certo modo são meus amigos também, e eu jamais gostaria que isso acontecesse a eles!
Christopher deu um passo para trás, revoltado e furioso, estava se segurando para não explodir aquilo tudo de uma só vez, ele explodiu:
- É CLARO QUE NÃO! ESTÁ FICANDO LOUCO POR ACASO?! PERDEU O RESPEITO?! OU O PODER SUBIU DE UMA VEZ À SUA CABEÇA?!
A corrente desceu dez centímetros, dez centímetros mais próximos os reféns estavam da morte.
- Vamos, vamos, não tenho o dia todo, entregue-se e eles estão livres!
Christopher hesitou. Era hora de um plano, um plano rápido. A voz de Don Hills voltou a soar no comunicador em seu pulso.
- Saturno? Saturno, está me ouvindo? – dizia a voz – Saturno? Saturno? Está aí?
Chris levou o pulso próximo à boca.
- Estou aqui, Don.
- Acabei de voltar, suponho pelos meus cálculos que você está na sala de controle agora, não é?
- Estou, mas tenho problemas, todos eles estão aqui, Augusta, Pietro... Maurice... Era ele, sempre foi ele...
- Oh, droga! – exclamou a voz, e a transmissão foi encerrada. Maurice se aproximou dele e pegou seu pulso, tentou arrancar o comunicador, mas isto não deu muito certo, a liga metálica da Witchblade havia unido-se ao objeto de tal forma que agora ele era parte da armadura também.
- Tudo bem, recolha a porcaria dessa armadura.
Christopher hesitou outra vez. A corda desceu mais dez centímetros. Eles estavam a dois metros de distância da morte certa agora. A armadura recolheu-se para a manopla, e Maurice arrancou o comunicador de uma vez.
- Desista dos seus planos, Christopher, entregue-se, vamos, é melhor pra todos nós... – Maurice ficou mais próximo. – entregue-se – sussurrou.
- Augusta! – Christopher gritou, era a sua última chance, amolecer o coração de alguém que pudesse ajudá-lo, e esse alguém era Augusta, amiga de anos e anos. – você não tem nem um pouco de consideração com os anos em que estivemos juntos? Você não pode ser magnânima pelo menos uma vez? Deixar o orgulho de lado? Tantas as vezes que eu já te ajudei...
- E você? Teve alguma consideração comigo quando me expôs ao ridículo dentro de Asgard? Em frente a todas aquelas pessoas? – retrucou Augusta, pacífica.
Ela tinha razão. Mas, mesmo assim, era ela quem o estava traindo naquele momento, não ele. Christopher abaixou a cabeça e fingiu amolecer o corpo, baixar a guarda, e quando Maurice já esgueirava seus braços como cobras promíscuas para trazê-lo para perto, os movimentos foram rápidos, quase invisíveis. Uma rasteira e duas cotoveladas jogaram eles ao chão, e assim Christopher correu como nunca havia corrido em sua vida, em direção ao nada, em direção ao brilho, em direção ao pilar cilíndrico. Era hora de cortar o mal pela raiz. A Witchblade já sentia a adrenalina e o envolvia na simbiose novamente, e assim, ao atravessar a luz do cristal, Christopher se deparou com o antigo laboratório de Maurice, bagunçado, com peças de eletrônicos para cima e pra baixo, projetos de pequenos robôs inacabados e pedaços de metal que dariam origem ao primeiro Cefalópode. Ali, diante dele, estava Carmen Parafuso, varrendo o chão tranquilamente enquanto o Maurice de um mês atrás parafusava peças do que seria o protótipo de uma Célula.
Christopher quase havia se esquecido de que a máquina do tempo usada por Pietro era o pilar de cristal, o mesmo que agora era o cérebro de The Big Machine, e o mesmo lugar por onde ele havia voltado no tempo e por onde ele havia chegado àquele galpão, ali atrás dele estava o pilar.
- Parado, Maurice! – os tentáculos da armadura agiram logo em seguida, brotando do metal e enroscando-se no corpo do cientista pretensioso. – o jogo acabou antes de começar!
- Mas... O que... COMO VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI?! – urrou ele, lutando contra a força da liga de metal que o prendia contra a parede, sem sucesso.
- Pelo visto, a sua Grande Máquina não é tão perfeita quanto você pensa! – gargalhou Christopher, e ele se sentiu o próprio demônio com aqueles chifres laterais de metal que saíam da sua quase-máscara que envolvia testa, bochechas e queixo, mas deixava a face de fora. Na verdade, mais pareciam guelrras.
- Carmen! A arma! A arma! – gritou Maurice para Carmen. A mulher, muda e apavorada, correu para fora do galpão na primeira brecha que teve, covarde como era e supersticiosa aos extremos, tão apegada à sua religião, deveria realmente achar que Christopher na verdade era um demônio que havia vindo buscá-los para levá-los para o inferno de uma vez por todas por tentarem mudar a ordem natural das coisas, como um castigo divino. Desde aquele dia em diante, Carmen Parafuso passou a ser mais flexível e mais amável com as pessoas, esqueceu o velho hábito de ficar apontando as pessoas como pecadoras e proclamando que elas iriam para o inferno de uma maneira ou de outra, passando a pregar a palavra divina sinceramente, sem jamais condenar a ninguém, casou-se com seu namorado Teddy e teve três lindos filhos, agradecendo a Deus por seu final feliz.
- Maldita! Me deixou para morrer! – gritou Maurice, num acesso de ódio que o fazia rugir feito uma ferra acorrentada.
- Não, Maurice, não pense que vou matá-lo... Você é um verme, mas até os vermes tem o direito de crescerem e se tornarem varejeiras! – Christopher voltou-se para o pilar no centro do galpão, ainda em fase experimental na época, sua base piramidal e seus painéis estavam todos expostos, com cabos e fios soltos por toda parte, inclusive no seu topo, que era exatamente como a sua base, só que invertida, presa ao teto. O pilar já piscava falho como uma lâmpada fluorescente, outro alguém vinha do outro lado, e então Saturno Revenge não pensou duas vezes antes de explodi-lo de uma vez só. As línguas de fogo envolveram o pilar como serpentes e o apertaram em seguida como sucuris, fazendo chover faíscas por toda a parte, iniciando um incêndio que iria dar fim ao galpão e ao trabalho de Maurice como cientista.
- Sinto muito, Maurice – disse Christopher antes de lançá-lo para fora do galpão e salvar enfim sua vida – mas é por uma causa maior!
- SEU IMBECIL! ESSE CRISTAL CUSTOU MILHÕES! ERA O ÚLTIMO NO MUNDO!
- Sim, eu sei, mas as milhões de vidas perdidas no futuro custaram ele também.
E antes de ser cuspido para fora do galpão com uma explosão que afetou todo o bairro, Maurice viu Christopher ser consumido pelas chamas, para sempre, sem alternativa se não morrer, pois ali naquela realidade já havia um Christopher, e com a máquina do tempo destruída, ele não tinha meios de como voltar, por não ter um teletransportador no pulso naquele momento...
- AAAAAAAAAAARGH! – rugia Maurice num futuro não tão distante – MEU BRAÇO! MEU BRAÇO! EU QUEIMEI MEU BRAÇO! – seu braço agora era apenas um graveto de carne chamuscada. Os serafins que mantinham Ray Ann presa desapareceram sem nem deixar rastros, o que a fez correr livre com um enorme sorriso no rosto distribuindo socos em todas as direções. Outra vez Maurice foi ao chão, Pietro ainda tentou pará-la e foi para o chão. Apenas Augusta não a impediu, muito pelo contrário, ela tinha um enorme sorriso no rosto, estava livre de Maurice. E então a andróide executou, puxou a alavanca azul, desligando a segurança do mundo inteiro, gritando para o comunicador em seu pulso logo em seguida:
- AGORA DON! APERTE O BOTÃO!
Don Hills gargalhou, e em seguida, seu dedo já estava pressionado a esfera vermelha. A explosão de raios e descargas elétricas que se seguiu foi devastadora, os monitores que cobriam as paredes explodiram todos de uma só vez, quase em câmera lenta, fazendo chover fogo e vidro de todos os lados, todos se abaixaram, mas Ray Ann usou seus propulsores a jato para voar até os prisioneiros e protegê-los com seu escudo metálico. Carmen Parafuso, em coma durante todo esse tempo, foi acordada brutamente por choques e mais choques elétricos que a fizeram gritar em agonia e ser lançada para fora do pilar com os cabelos mais eriçados que palha, completamente para cima, ela tinha até uma mexa branca, se vocês querem saber. Seus olhos estavam mais esbugalhados que os de uma rã assustada.
- Por isso que eu nunca gostei dessas COISA! – resmungou ela, sacudindo a cabeça enquanto assassinava o plural. – tecnologia não é comigo não, mana, Deus que me defenda...
Os prisioneiros já estavam soltos, no chão, protegendo-se da chuva de vidro e fogo. Agora Chris e Ray puderam ver que aquele formato circular do salão e os monitores nas paredes nada mais eram do que o grande olho de esmeralda no topo da torre. Agora, com os monitores completamente destruídos e queimados, era possível ver o céu e a cidade através deles, mas tudo aquilo não ia durar muito tempo. Primeiro eles imaginaram que aquilo se aproximando eram nuvens muito juntas, mas se desesperaram ao ver que o horizonte ao longe não existia mais, era um branco, um grande vazio, aquela realidade não existia mais e estava sumindo. Lá embaixo, na cidade, as pessoas destruíam tudo num grande pandemônio instantâneo.
- Crianças, crianças! – exclamou Fábia Paola, trazendo Ray Ann e Christopher para um abraço de despedida – tudo isso aqui vai sumir daqui a alguns minutos, e se vocês não voltarem, irão sumir também! Junto conosco!
- Mas como vamos fazer isso?! – exclamou Ray Ann – e vocês?! Vão sumir para sempre?!
- Não! – riu Suzannah, pulando feliz em meio à chuva de fogos. – vamos voltar a existir depois que tudo estiver apagado, assim como nossas mentes, tudo estará de volta ao normal, assim como era no dia em que tudo aconteceu!
- Corram! Corram para o pilar antes que ele exploda e pensem em casa! – exclamou Ray Ann, a andróide enquanto empurrava-os para a luz. Chris tinha muitas perguntas. O que teria acontecido com a sua versão mais velha ao entrar neste pilar há alguns minutos atrás? Não era hora de pensar, era hora de agir! Os dois correram para a luz e fecharam os olhos, foi o que bastou para que todas aquelas explosões, aquelas risadas, aqueles sons, aqueles gritos de derrota e a chuva de fogo sumissem.De repente, tudo apagou, os dois estavam abraçados, muito juntos, os olhinhos apertados, e tudo ficou escuro.


(...)


The Big Machine - Epílogo.



Ao abrir os olhos, Christopher constatou que estava em frente ao já tão íntimo portão da frente da casa de Ray Ann, era noite estrelada e crianças corriam na rua. Suas mãos, seus braços, suas pernas, tremiam feito vara verde. As cabeças giravam, era impossível acreditar no que tinha acontecido, impossível engolir a rapidez com que aquilo teve fim, impossível crer no que tinham visto, o que tinham vivenciado, porque tudo fora tão rápido e ao mesmo tempo assustador, desde o momento em que os Cefalópodes os interceptaram no túnel e os levaram para o cérebro até a hora em que a versão andróide de Ray Ann havia jogado-os contra a luz para que eles não desaparecessem junto com aquele universo. Aquilo só poderia ser fruto de maconha, cocaína, crack ou alguma droga do gênero. Que viagem! Que loucura! E onde estavam as provas? O que havia acontecido após a volta dos dois afina, que final teve aquele mundo?! Eu posso contar a vocês!
Assim que Chris e Ray voltaram para sua respectiva época, o vazio alcançou a cidade enquanto uma verdadeira revolução acontecia. Maurice levantou-se e correu por toda a passarela prateada fugindo do vazio, e pulou de lá de cima. Mas foi pego no ar pelo branco. E o tal branco só alcançou a Fortaleza Digital de Asgard quando Don Hills “brincava” naquele robô gigante em que as garotas trabalhavam logo no começo da história. Ele travava uma luta contra a aranha inanimada. É claro que ele venceu, e em seguida desapareceu. Para aquelas pessoas, foi como despertar de um sonho lembrando-se apenas de uma única coisa: um branco intenso.
O fenômeno conhecido como “A Luz” abalou a concepção da sociedade quanto à muita coisa. Por praticamente um ano inteiro, os jornais, a tevê, a internet, todos só falavam nisso. Na Luz. Era impossível, incompreensível pela ciência que toda a população mundial, sem nenhuma exceção houvesse sonhado com a mesma coisa: um branco intenso. O fenômeno foi estudado durante muitos anos, mas nunca se chegou a nenhuma conclusão. A Luz tornou-se um mito, uma lenda, e uma equação complicada para todos os céticos. Algumas pessoas chegaram a se matar, foi pandemônio geral, porém, esta euforia inicial passou, mas marcou para sempre toda uma geração.
Quanto aos envolvidos, Christopher, Ray Ann, Fábia, Suzi, Augusta, Pietro, Carmen e Maurice, acordaram-se na manhã seguinte muito cansados após um forte clarão, e seguiram suas vidas normalmente. Chris tinha uma importante viagem para Paris, uma premiação literária pela sua grande série de livros que se tornou um ícone mítico do que era fantasia, uma releitura dos antigos padrões literários. Ray Ann ia inaugurar um shopping center projetado por ela, Fábia tinha uma importante viagem para Machu Pichu, enquanto que Suzannah iria operar uma pobre gatinha. Enfim, todos seguiram suas vidas normalmente, como se nada houvesse acontecido, partindo do ponto zero, de onde tudo havia começado.
Em 2009, Carmen era outra vez a garotinha engraçada das pernas finas, a escola estava inteira e os céus azuis. Ray Ann e Christopher contaram e recontaram a história várias vezes um para o outro, e reviram várias vezes tudo o que viveram. Pietro não se lembrava de nada, como era previsto, mas eles não, eles lembravam de tudo. Foi um pouco difícil explicar para seus pais o que afinal havia acontecido e porque eles haviam desaparecido durante dois dias, mas no final tudo deu certo, e um grande mistério foi resolvido.

Pouco antes do final das aulas, o Apocalipse Club sofreu seu próprio Apocalipse, uma briga dividiu o grupo em lados opostos. Estava explicada então o motivo da traição dos três e aquele futuro distorcido que isto havia criado. Sabendo a qual fim aquela divisão do grupo levaria, alguns meses depois, um acordo de paz incentivado por Ray Ann foi selado e a amizade verdadeira, restituída, em prol de um futuro pacífico para a humanidade...

Mas quanto ao FUTURO...
Só a DEUS cabe...






THE BIG MACHINE
FIM

Um comentário:

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