- Existem enormes, colossais bancos de Matéria Escura espalhados por todo o universo, mas o que eu preciso que vocês entendam, antes que tirem conclusões precipitadas, meninos, é que isto não se trata de algo sobrenatural ou perigoso... Perigoso talvez seria se uma grande massa desta matéria desconhecida entrasse em nosso sistema solar, isso provocaria imediatamente alterações nos campos gravitacionais e nas órbitas dos planetas...
Uma garota na primeira fileira levantou a mão, o professor fechou os olhos delicadamente e acenou com a cabeça concedendo a permissão.
- Mas Professor Umbrella, do que se trata essa Matéria Escura afinal? Tanto ouvimos falar dela em quase todas as aulas do curso e pouco compreendemos do que se trata! Quanto mais falam, menos entendemos! – a garota era uma das mais “perguntonas” do curso, o professor de astrofísica com doutorado em cosmologia Christopher Umbrella tinha todos os motivos para explodir o monitor da primeira fileira que mostrava o rosto daquela jovenzinha rechonchuda de cabelos lisos e violeta-opaco. Mas havia algo que o impedia (fora o fato de ser contra a lei destruir o patrimônio da universidade), como por exemplo, o fato de ela ser meio-nipônica e ter os olhinhos levemente puxados.
- Então, Fábia... não é isso? – ele procurou apoio juntando as mãos diante do peito.
- Hanako, professor, Hanako!
- Tudo bem, “Hanako” – Hanako era apenas um codinome de Fábia Paola, mas ela insistia em ser chamada por ele. – para lhe ser sincero, minha cara, nenhum de nós saberia explicar do que se trata a Matéria Escura... Até o presente momento, com pouco menos de seis meses para a virada do século, não foram feitos avanços na tentativa de desvendar a Matéria Escura. Suas origens, suas funções, seus componentes, nada, absolutamente nada foi descoberto, tudo o que sabemos é que ela está lá fora, acumulada no que chamamos de “pontos de baixa pressão”, em outras palavras, pontos onde a Energia Escura se acumula, energia negativa...
“Mas o que eu quero que vocês entendam é que a Matéria Escura é conhecida assim por se tratar de trevas, quase uma escuridão física, não reagindo a nenhum tipo de luz ou radiação. Mesmo assim sabemos que ela está lá, por causa do comportamento das galáxias e estrelas que a rodeiam. Assim como corpos celestes normais causam depressões no espaço que atraem todo o tipo de matéria que “flutua” ao redor, a Matéria Escura faz o mesmo. Meu próximo livro a ser lançado no ano que vem vai tratar de um assunto relacionado a isto, há alguns anos venho formulando a teoria de que os buracos negros são resultado do acúmulo de Matéria Escura superconcentrada, criada no momento em que a energia liberada pela supernova recua, mas isto é assunto para a próxima aula!”
- Quer dizer que estamos liberados? – perguntou a desanimada Ray Ann, outra garota de cabelos curtos, magricela, cujo rosto sempre aparecia num dos monitores das últimas fileiras, por ligar a webcam das videoconferências sempre atrasada.
- Por enquanto, estão sim! – sorriu o Professor Umbrella.
Os monitores desligaram quase todos ao mesmo tempo, e por um único segundo, o Professor Umbrella sentiu saudades dos tempos em que os níveis das bancadas eram ocupados por corpos de verdade, pessoas de verdade, que andavam e falavam e interagiam com ele de verdade. No fundo, bem lá no fundo, toda essa tecnologia e essa comodidade o incomodavam violentamente. Quase todas as universidades do mundo estavam adotando aquele método de ensino friamente bizarro: os alunos ligam seus computadores e assistem às aulas na comodidade das suas casas, através de videoconferências ou aulas gravadas. Mas e o contato professor-aluno? E as relações humanas? Como era possível desenvolver qualquer tipo de relação com enormes telas de LCD onde os rostos dos alunos eram exibidos simulando as suas presenças? Coisas da nova era...
A Neon City do ano de 2099 d.C. era uma cidade pacata e harmoniosa, exceto por uma incidência de assaltos elevada comum aos grandes centros urbanos, principalmente nestas grandes megalópoles, padrão em que esta selva de neon colossal se encaixava. A cidade fora projetada primeiramente como um enorme campus universitário em meio à selva amazônica, um centro ultra tecnológico com o foco voltado para pesquisas científicas que iam desde bioquímica a astronomia. Grandes laboratórios e observatórios foram montados ali, além de vilas e cidadelas inteiras compostas de luxuosos imóveis e complexos de edifícios para alojar estudantes, professores e turistas que vinham de muito longe conhecer a maior Universidade do mundo! Catalogação de novas espécies, desenvolvimento de vacinas, descobertas de exoplanetas e galáxias distantes, construção de protótipos de cérebros artificiais e androides inteligentes, cura para certos tipos de câncer, manipulação de vírus e até mesmo lançamento de satélites experimentais, além do maior acervo bibliotecário científico do planeta. Tudo aquilo era possível, tudo aquilo era real, tudo aquilo era parte da Universidade Mundial Sul-Americana, ou apenas UMA.
Aos poucos, aquele pequeno recanto de gloriosas descobertas revolucionárias para a história da ciência, que até então só possuía acesso através de vôos matinais e noturnos além de balsas que atravessavam diariamente o enorme delta do Amazonas foi se tornando uma cidade. Graças aos investimentos vindos diretamente da ONU e aos doutores e acadêmicos que decidiram ficar para sempre, montar residência fixa e viver para os estudos e descobertas, aquilo que mais tarde ficaria conhecida como “Neon City” por causa das suas luzes e cores foi crescendo e tomando proporções inimagináveis até então. Tudo em perfeita harmonia e sustentabilidade com o meio-ambiente, respeitando a natureza acima de tudo, através da energia renovável gerada pela luz solar e pelas grandes fossas subterrâneas e os projetos de arborização e preservação da mata nativa. Fora o centro universitário que ficava à beira-rio, o restante da megalópole que havia se desenvolvido na periferia era praticamente uma selva, onde as casas foram projetadas para coexistir em harmonia total com as árvores e os animais.
E quando a economia mundial finalmente entrou em colapso e ruiu, Neon City tornou-se a maior de todas as apostas, e o número de imigrantes aumentou assustadoramente! O mundo inteiro estava se mudando para lá! Aos poucos, a cidade foi se tornando um antro misto de ciência, arte e cultura, referência mundial em planejamento sustentável e desenvolvimento anti-predatório. Neon City, seus planejadores e seus governantes tornaram-se um exemplo para as demais cidades do mundo, e logo aquilo tornou-se capital mundial, o centro cosmopolita do planeta, um mix de culturas e nações através de um processo lento e complicado, mas que tornou-se verdadeiro. Esta é a realidade. A realidade do Estado do Amapá em outra dimensão, numa realidade alternativa onde o curso da história seguiu outro ramo naturalmente...
Nesta realidade alternativa, Christopher Umbrella é um simples professor universitário que está prestes a mudar seu destino em conjunto ao de seus alunos de uma maneira inacreditável, e isto começa hoje.
- Bom, pessoal, como professor de vocês, tomei a liberdade de inscrever a turma num concurso de bolsas! – ele junto as mãos diante do peito outra vez, como sempre costumava fazer sempre, quase um cacoete. Era o modo pelo qual ele havia conseguido, há muito tempo atrás, encontrar apoio em si mesmo para ministrar suas aulas sem ter uma síncope diante de quase sessenta rostos todos voltados para ele (em telas de LCD ou não) todos ao mesmo tempo. Ainda restava um pouco do pavor de plateias, muito bem controlado, logicamente.
- Mas professor, acho que o senhor está meio atrasado... – começou Augusta Montgomery, uma garota que quase sempre estava passando mensagens de texto pelo tablet, ela sequer disfarçava, sempre aparecia na tela do monitor de cabeça baixa, teclando. Tinha os cabelos lisos e escuros e a pele levemente queimada, às vezes costumava usar lentes verdes com as quais ficava realmente muito bonita – Acho que o concurso que sorteia bolsas entre os alunos da universidade já aconteceu... Há nove meses atrás.
Os outros alunos deram risinhos, que saíram dos alto falantes dos monitores como ruidosos chiados.
- Não, não, Augusta! Não tem nada a ver com o concurso de bolsas da universidade! – ele riu, nervoso, abanando o ar – o Centro Avançado de Pesquisas em Astrofísica tem um convênio com o governo russo, de modo que estão sempre recebendo verbas e propostas realmente valiosas... Quase todos os técnicos, astronautas, cientistas, operadores e pesquisadores residentes atuais da Estação Espacial Cosmogony, que atualmente está orbitando Plutão para os desinformados, tiveram diplomas daqui, ou seja, se formaram na UMA! O que quer dizer que e os russos meio que tem uma “dívida” conosco, então este ano, e somente este ano, eles estão oferecendo bolsas para os formandos cursarem o último ano no espaço!
O choque foi total e fatal. Todos estavam estáticos, e não demorou muito para o burburinho começar: como os monitores eram controlados à longa distância e poderiam mover-se em 360 graus de acordo com a vontade do conferente, os alunos poderiam conversar entre si à vontade, de modo que as telas funcionavam como extensões das suas cabeças. Neste exato momento, os monitores pareciam verdadeiros ventiladores, girando loucamente de um lado para o outro.
- O que o senhor quer dizer com isso?! – exclamou Pietro Heinrich, um jovem afro-americano alto e corpulento que quando não estava passeando em frente à webcam, estava dormindo em sua escrivaninha na frente do notebook ao invés de prestar atenção na aula. Apesar disso, era um dos alunos favoritos do Professor Umbrella, pelas perguntas interessantes e relevantes que costumava fazer quando não estava dormindo – NÓS VAMOS PRA ESTAÇÃO ESPACIAL? TIPO ESPAÇO? VAMOS PRO ESPAÇO MESMO?
- Pessoal, por favor, tenham calma, vocês não me deixaram terminar ainda!
- Ai, já imaginou a gente no espaço?! Que foda! Será que me deixariam ter minha própria nave espacial?! Sempre quis ter uma! – Fábia Paola já estava toda descabelada na frente da webcam, se sacudindo feito uma louca com os punhos fechados em frente à boca e o rosto gordinho vermelho de excitação. – se eu for escolhida, quero uma suíte com uma parede toda de vidro! Quero ter a melhor visão possível das estrelas! Sou louca por elas! – seus olhos brilharam.
- Eu só quero meu sabre de luz, que nem Luke Skywalker, só isso – fez a desinteressada Ray Ann, com a mão apoiada no queixo.
O burburinho foi se aquietando aos poucos.
- Ótimo. – ele respirou fundo – inscrevi a turma de vocês no concurso com o intuito de que todos fossem, mas após ler o edital com mais clareza, descobri que tinha deixado algo passar batido: há apenas uma única turma lá “em cima”, formada por acadêmicos do mesmo curso que vocês prestes a entrar em seu último ano, turma esta da qual apenas quatro alunos desistiram e resolveram voltar para a Terra. Por este motivo as quatro vagas foram abertas à quatro sortudos que, creio eu, sairão daqui desta sala! Tenho certeza!
A desanimação foi geral. Suspiros, estalos de língua, muxoxos, reviradas de olhos massificadas quase em sincronia, bufadas e exclamações de indignação se misturaram numa sopa de desapontamento que despejada pesadamente na face do professor, atacou sua consciência, que havia, sem querer, dado esperanças àqueles jovens cheios de expectativa.
- Não fica assim, gente, tudo bem? – ele próprio respirou fundo e fechou os olhos de braços cruzados, cansado e um tanto desapontado também. – vamos nos distrair um pouco e retomar a aula de hoje, ok? Vamos falar sobre buracos de minhoca, afinal de contas, não há outra maneira de chegar até Plutão... a não ser que vocês queiram passar 20 anos em sono criogênico!
Continua...
Uma garota na primeira fileira levantou a mão, o professor fechou os olhos delicadamente e acenou com a cabeça concedendo a permissão.
- Mas Professor Umbrella, do que se trata essa Matéria Escura afinal? Tanto ouvimos falar dela em quase todas as aulas do curso e pouco compreendemos do que se trata! Quanto mais falam, menos entendemos! – a garota era uma das mais “perguntonas” do curso, o professor de astrofísica com doutorado em cosmologia Christopher Umbrella tinha todos os motivos para explodir o monitor da primeira fileira que mostrava o rosto daquela jovenzinha rechonchuda de cabelos lisos e violeta-opaco. Mas havia algo que o impedia (fora o fato de ser contra a lei destruir o patrimônio da universidade), como por exemplo, o fato de ela ser meio-nipônica e ter os olhinhos levemente puxados.
- Então, Fábia... não é isso? – ele procurou apoio juntando as mãos diante do peito.
- Hanako, professor, Hanako!
- Tudo bem, “Hanako” – Hanako era apenas um codinome de Fábia Paola, mas ela insistia em ser chamada por ele. – para lhe ser sincero, minha cara, nenhum de nós saberia explicar do que se trata a Matéria Escura... Até o presente momento, com pouco menos de seis meses para a virada do século, não foram feitos avanços na tentativa de desvendar a Matéria Escura. Suas origens, suas funções, seus componentes, nada, absolutamente nada foi descoberto, tudo o que sabemos é que ela está lá fora, acumulada no que chamamos de “pontos de baixa pressão”, em outras palavras, pontos onde a Energia Escura se acumula, energia negativa...
“Mas o que eu quero que vocês entendam é que a Matéria Escura é conhecida assim por se tratar de trevas, quase uma escuridão física, não reagindo a nenhum tipo de luz ou radiação. Mesmo assim sabemos que ela está lá, por causa do comportamento das galáxias e estrelas que a rodeiam. Assim como corpos celestes normais causam depressões no espaço que atraem todo o tipo de matéria que “flutua” ao redor, a Matéria Escura faz o mesmo. Meu próximo livro a ser lançado no ano que vem vai tratar de um assunto relacionado a isto, há alguns anos venho formulando a teoria de que os buracos negros são resultado do acúmulo de Matéria Escura superconcentrada, criada no momento em que a energia liberada pela supernova recua, mas isto é assunto para a próxima aula!”
- Quer dizer que estamos liberados? – perguntou a desanimada Ray Ann, outra garota de cabelos curtos, magricela, cujo rosto sempre aparecia num dos monitores das últimas fileiras, por ligar a webcam das videoconferências sempre atrasada.
- Por enquanto, estão sim! – sorriu o Professor Umbrella.
Os monitores desligaram quase todos ao mesmo tempo, e por um único segundo, o Professor Umbrella sentiu saudades dos tempos em que os níveis das bancadas eram ocupados por corpos de verdade, pessoas de verdade, que andavam e falavam e interagiam com ele de verdade. No fundo, bem lá no fundo, toda essa tecnologia e essa comodidade o incomodavam violentamente. Quase todas as universidades do mundo estavam adotando aquele método de ensino friamente bizarro: os alunos ligam seus computadores e assistem às aulas na comodidade das suas casas, através de videoconferências ou aulas gravadas. Mas e o contato professor-aluno? E as relações humanas? Como era possível desenvolver qualquer tipo de relação com enormes telas de LCD onde os rostos dos alunos eram exibidos simulando as suas presenças? Coisas da nova era...
A Neon City do ano de 2099 d.C. era uma cidade pacata e harmoniosa, exceto por uma incidência de assaltos elevada comum aos grandes centros urbanos, principalmente nestas grandes megalópoles, padrão em que esta selva de neon colossal se encaixava. A cidade fora projetada primeiramente como um enorme campus universitário em meio à selva amazônica, um centro ultra tecnológico com o foco voltado para pesquisas científicas que iam desde bioquímica a astronomia. Grandes laboratórios e observatórios foram montados ali, além de vilas e cidadelas inteiras compostas de luxuosos imóveis e complexos de edifícios para alojar estudantes, professores e turistas que vinham de muito longe conhecer a maior Universidade do mundo! Catalogação de novas espécies, desenvolvimento de vacinas, descobertas de exoplanetas e galáxias distantes, construção de protótipos de cérebros artificiais e androides inteligentes, cura para certos tipos de câncer, manipulação de vírus e até mesmo lançamento de satélites experimentais, além do maior acervo bibliotecário científico do planeta. Tudo aquilo era possível, tudo aquilo era real, tudo aquilo era parte da Universidade Mundial Sul-Americana, ou apenas UMA.
Aos poucos, aquele pequeno recanto de gloriosas descobertas revolucionárias para a história da ciência, que até então só possuía acesso através de vôos matinais e noturnos além de balsas que atravessavam diariamente o enorme delta do Amazonas foi se tornando uma cidade. Graças aos investimentos vindos diretamente da ONU e aos doutores e acadêmicos que decidiram ficar para sempre, montar residência fixa e viver para os estudos e descobertas, aquilo que mais tarde ficaria conhecida como “Neon City” por causa das suas luzes e cores foi crescendo e tomando proporções inimagináveis até então. Tudo em perfeita harmonia e sustentabilidade com o meio-ambiente, respeitando a natureza acima de tudo, através da energia renovável gerada pela luz solar e pelas grandes fossas subterrâneas e os projetos de arborização e preservação da mata nativa. Fora o centro universitário que ficava à beira-rio, o restante da megalópole que havia se desenvolvido na periferia era praticamente uma selva, onde as casas foram projetadas para coexistir em harmonia total com as árvores e os animais.
E quando a economia mundial finalmente entrou em colapso e ruiu, Neon City tornou-se a maior de todas as apostas, e o número de imigrantes aumentou assustadoramente! O mundo inteiro estava se mudando para lá! Aos poucos, a cidade foi se tornando um antro misto de ciência, arte e cultura, referência mundial em planejamento sustentável e desenvolvimento anti-predatório. Neon City, seus planejadores e seus governantes tornaram-se um exemplo para as demais cidades do mundo, e logo aquilo tornou-se capital mundial, o centro cosmopolita do planeta, um mix de culturas e nações através de um processo lento e complicado, mas que tornou-se verdadeiro. Esta é a realidade. A realidade do Estado do Amapá em outra dimensão, numa realidade alternativa onde o curso da história seguiu outro ramo naturalmente...
Nesta realidade alternativa, Christopher Umbrella é um simples professor universitário que está prestes a mudar seu destino em conjunto ao de seus alunos de uma maneira inacreditável, e isto começa hoje.
- Bom, pessoal, como professor de vocês, tomei a liberdade de inscrever a turma num concurso de bolsas! – ele junto as mãos diante do peito outra vez, como sempre costumava fazer sempre, quase um cacoete. Era o modo pelo qual ele havia conseguido, há muito tempo atrás, encontrar apoio em si mesmo para ministrar suas aulas sem ter uma síncope diante de quase sessenta rostos todos voltados para ele (em telas de LCD ou não) todos ao mesmo tempo. Ainda restava um pouco do pavor de plateias, muito bem controlado, logicamente.
- Mas professor, acho que o senhor está meio atrasado... – começou Augusta Montgomery, uma garota que quase sempre estava passando mensagens de texto pelo tablet, ela sequer disfarçava, sempre aparecia na tela do monitor de cabeça baixa, teclando. Tinha os cabelos lisos e escuros e a pele levemente queimada, às vezes costumava usar lentes verdes com as quais ficava realmente muito bonita – Acho que o concurso que sorteia bolsas entre os alunos da universidade já aconteceu... Há nove meses atrás.
Os outros alunos deram risinhos, que saíram dos alto falantes dos monitores como ruidosos chiados.
- Não, não, Augusta! Não tem nada a ver com o concurso de bolsas da universidade! – ele riu, nervoso, abanando o ar – o Centro Avançado de Pesquisas em Astrofísica tem um convênio com o governo russo, de modo que estão sempre recebendo verbas e propostas realmente valiosas... Quase todos os técnicos, astronautas, cientistas, operadores e pesquisadores residentes atuais da Estação Espacial Cosmogony, que atualmente está orbitando Plutão para os desinformados, tiveram diplomas daqui, ou seja, se formaram na UMA! O que quer dizer que e os russos meio que tem uma “dívida” conosco, então este ano, e somente este ano, eles estão oferecendo bolsas para os formandos cursarem o último ano no espaço!
O choque foi total e fatal. Todos estavam estáticos, e não demorou muito para o burburinho começar: como os monitores eram controlados à longa distância e poderiam mover-se em 360 graus de acordo com a vontade do conferente, os alunos poderiam conversar entre si à vontade, de modo que as telas funcionavam como extensões das suas cabeças. Neste exato momento, os monitores pareciam verdadeiros ventiladores, girando loucamente de um lado para o outro.
- O que o senhor quer dizer com isso?! – exclamou Pietro Heinrich, um jovem afro-americano alto e corpulento que quando não estava passeando em frente à webcam, estava dormindo em sua escrivaninha na frente do notebook ao invés de prestar atenção na aula. Apesar disso, era um dos alunos favoritos do Professor Umbrella, pelas perguntas interessantes e relevantes que costumava fazer quando não estava dormindo – NÓS VAMOS PRA ESTAÇÃO ESPACIAL? TIPO ESPAÇO? VAMOS PRO ESPAÇO MESMO?
- Pessoal, por favor, tenham calma, vocês não me deixaram terminar ainda!
- Ai, já imaginou a gente no espaço?! Que foda! Será que me deixariam ter minha própria nave espacial?! Sempre quis ter uma! – Fábia Paola já estava toda descabelada na frente da webcam, se sacudindo feito uma louca com os punhos fechados em frente à boca e o rosto gordinho vermelho de excitação. – se eu for escolhida, quero uma suíte com uma parede toda de vidro! Quero ter a melhor visão possível das estrelas! Sou louca por elas! – seus olhos brilharam.
- Eu só quero meu sabre de luz, que nem Luke Skywalker, só isso – fez a desinteressada Ray Ann, com a mão apoiada no queixo.
O burburinho foi se aquietando aos poucos.
- Ótimo. – ele respirou fundo – inscrevi a turma de vocês no concurso com o intuito de que todos fossem, mas após ler o edital com mais clareza, descobri que tinha deixado algo passar batido: há apenas uma única turma lá “em cima”, formada por acadêmicos do mesmo curso que vocês prestes a entrar em seu último ano, turma esta da qual apenas quatro alunos desistiram e resolveram voltar para a Terra. Por este motivo as quatro vagas foram abertas à quatro sortudos que, creio eu, sairão daqui desta sala! Tenho certeza!
A desanimação foi geral. Suspiros, estalos de língua, muxoxos, reviradas de olhos massificadas quase em sincronia, bufadas e exclamações de indignação se misturaram numa sopa de desapontamento que despejada pesadamente na face do professor, atacou sua consciência, que havia, sem querer, dado esperanças àqueles jovens cheios de expectativa.
- Não fica assim, gente, tudo bem? – ele próprio respirou fundo e fechou os olhos de braços cruzados, cansado e um tanto desapontado também. – vamos nos distrair um pouco e retomar a aula de hoje, ok? Vamos falar sobre buracos de minhoca, afinal de contas, não há outra maneira de chegar até Plutão... a não ser que vocês queiram passar 20 anos em sono criogênico!
Continua...
Cadê capítulo 2 cadê
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