Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

PARTE TRÊS: APOCALYPTO 666 - RUMO A PLUTÃO!


- Tripulação para a base, tripulação para a base, a sonda enviada acaba de recolher um objeto estranho.

- Objeto estranho, capitão?

- Exato.

- E com o quê isto se parece, capitão?

- Eu nunca vi algo igual... Jamais havia visto algo parecido... Parece uma grande caixa dourada. Está coberta por detritos e gelo principalmente, provavelmente estava aqui fora há séculos, talvez milênios, é um achado histórico! É um fóssil espacial!
O clima na sala de controle era de tensão. Os homens e mulheres em uniformes brancos colados ao corpo se entreolhavam apreensivos e confusos dentro da principal base do Comando de Exploração Espacial Beta localizada exatamente no centro da Estação Espacial Cosmogony que orbitava Plutão. Era a segunda equipe de exploração enviada ao espaço pelo governo terrestre em 30 anos, a última equipe enviada teve sucesso em estabelecer a base em Marte, porém o trabalho da Equipe Beta era muito mais complexo: explorar os limites do sistema solar tratava-se de muito mais do que um passo, era um salto ornamental na história da humanidade desde que se tornou possível atravessar o hiperespaço.

Os enormes hologramas mostravam em três dimensões o que estava acontecendo lá fora, há poucos anos de distância da estação espacial, anos estes cobertos por segundos utilizando o hiperespaço como atalho: uma pequena nave desviava cuidadosamente dos enormes meteoritos que compunham a nuvem de asteroides que circunda o sistema solar sigilosamente, como sombrias criaturas espreitando na escuridão, cercando-nos aos poucos. A pequena nave possuía dois pseudópodes – braços biônicos com a terminação em garras – que traziam entre seus dedos o tesouro recém-encontrado. Como um bebê nadando para a mãe, a navezinha traçava um perigoso caminho de volta até sua matriz, onde a tripulação de exploração aguardava ansiosamente sua chegada.

A pequena nave tratava-se de um robozinho em forma de foguete com braços, programado para explorar e coletar amostras dos meteoritos que compunham o cinturão de detritos e poeira espacial que circula o nosso sistema solar. Antes um mito, agora uma realidade, todas as especulações do passado agora precisavam ser tiradas a limpo, serem esclarecidas. Grandes teorias formuladas por cientistas ancestrais a respeito do que compunha aquele cinturão de detritos espaciais teriam sua ascensão total por confirmação ou cruel queda ocasionada pela prova do contrário.

A grande nave que carregava a tripulação de cientistas e astronautas recebeu sua cria de braços abertos, e o objeto estranho recolhido por ela foi acolhido por profissionais devidamente uniformizados e protegidos contra qualquer tipo de mal que aquilo pudesse trazer. Afinal de contas, poderia ser algum elemento radioativo ou algo pior, não é mesmo?

- O objeto está sendo levado ao laboratório neste momento, senhor. Estaremos de volta à Estação Espacial em poucas horas, as outras Exploradoras ainda não retornaram.

- E quantas ainda estão soltas pelo cinturão?

- Ao todo são sete, a oitava foi a que recolheu o nosso estranho objeto. Estava muito próximo à nave-mãe, por isso o rápido retorno...

- Preciso de um relatório a respeito disso, para hoje! Enviaremos à base em Marte que o repassará à Terra assim que for possível.
TRANSMISSÃO ENCERRADA.

Por um instante, todos pareceram respirar outra vez, e toda a apreensão esvaiu-se do lugar. A sala circular de controle agora era um burburinho só.

- Você acha realmente que isso pode ser uma descoberta significativa? E se for só mais um alarme falso? – perguntou uma das especialistas.

- Não sei, ainda está muito cedo para tirarmos conclusões precipitadas... Esperaremos o resultado das análises laboratoriais deste objeto, que se for o que parece ser, causará grande estrago na ciência atual, disso tenho certeza...

Querido diário, aqui quem lhe fala é a sua, sempre sua, Hanako xD
Depois de seis meses morando na Rússia, freqüentando um tipo estranho de academia militar, finalmente estou à bordo do ônibus espacial, à caminho de Plutão! Nem acredito que vou ver as estrelas de pertinho, como nos meus sonhos! *-*

De quase um milhão de acadêmicos concorrendo às cinco vagas, eu, Pietro Heinrich, Ray Ann e Augusta Montgomery acabamos ganhando O_O’ é inacreditável! Parece até maracutaia, mas num é não, viu?! Eu juro que só vim conhecer esses três pessoalmente na Rússia, e posso dizer que a Ray Ann é uma pessoa maravilhosa, ficamos muito amigas nesse pouco tempo em que convivemos juntas... Apesar de ela parecer meio aérea às vezes, afinal eu sou assim também!

Na academia de treinamento para astronautas (assim eu a apelidei, porque o nome é complicado demais :S) nós aprendemos que Plutão se trata de um planeta-não duplo, composto por ele próprio e Caronte, algo que eles pensavam antes ser um satélite natural qualquer. Ele possui mais duas luas que o orbitam, e mais recentemente, a Estação Espacial Cosmogony que se instalou em sua órbita para fazer companhia a este solitário planetinha nos confins do nosso sistema solar *-* estou tão ansiosa!

Neste exato momento, o Professor Umbrella e mais dois moços astronautas gentis estão dando instruções sobre a viagem, aquele papo de hiperespaço que viemos ouvindo nos últimos longos seis meses ¬¬ não aguento mais ouvir falar disso! Me poupe, eu já sei que o espaço é como a casca de uma maçã e nós estamos prestes a atravessar sua popa! Se vocês querem saber, por causa desses seis meses isolada do resto do mundo naquela academia já sou quase tão cientista quanto o Professor Umbrella e esses moços astronautas gentis.

Bom, agora vamos colocar os apetrechos de segurança, que vão muito além de um cinto qualquer. Irão prender também nossos pulsos, calcanhares e cabeça às poltronas para que ninguém saia desmembrado dessa viagem, afinal de contas não queremos braços nem pernas voando por nós enquanto estivermos atravessando a “Popa da Maçã do Universo”! xDD


- Recolham, por favor, todo o seu material de bolso e mão nos pequenos compartimentos acima das suas cabeças! Não se preocupem, eles estarão totalmente seguros durante a viagem. Lembramos que não nos responsabilizamos pos disfunções em aparelhos eletrônicos não preparados para viajar através do hiperespaço!



É, essa é a minha deixa! A “astromoça” está pedindo para guardar tudo. Tudo mesmo! Da próxima vez em que eu escrever no diário, estarei linda em uma suíte de luxo com vista para Plutão e Caronte diretamente da Estação Espacial Cosmogony para a Terra! Espero que me acompanhem! Até lá!

O assustador monstro de metal apelidado “gentilmente” de Apocalypto-666 foi uma nave projetada primeiramente para emergências: caso uma catástrofe nuclear ou natural viesse a trazer consequências drásticas para a vida na Terra, os sobreviventes seriam recolhidos e levados aos pontos de lançamento deste ônibus espacial (Estados Unidos, Rússia e Japão) onde seriam enviados diretamente para a base humana que se encontra em fase experimental no planeta Marte. Esta seria a sua segunda viagem em pouquíssimos anos: o último lançamento de Apocalypto-666 havia sido feito para levar os sortudos estudantes de Astrofísica para a estação espacial quando esta ainda se encontrava orbitando Netuno.

Agora, o ônibus espacial estava indo para um pouco mais longe: para Plutão, que encontra-se atualmente no distante cinturão de Kuiper, há 8 bilhões de quilômetros do sol. Como ele faria isto era simples, como cada passageiro reagiria a isto era o grande problema.

Suas instalações internas equiparavam-se a de um cruzeiro marítimo: academia, salão de festas, sala de jantar, sala de jogos, biblioteca, videoteca, suítes e piscina comunitária, tudo para o conforto e lazer dos sortudos passageiros, que apesar de tudo, digamos que não irão aproveitar a viagem tão bem assim.

- Muito bem, pessoal, em poucos minutos estaremos fora da atmosfera terrestre, e quando atingirmos o vácuo vocês obviamente sentirão a diferença – começou o Professor Umbrella, num misto de orgulho, ansiedade e medo. – a Apocalypto-666 começará a procurar as falhas no espaço-tempo quando ultrapassarmos nosso satélite natural, a lua, já que poderíamos causar um distúrbio na atmosfera do nosso planeta caso fizéssemos isso ainda aqui! Poderíamos abrir um buraco irreversível na ionosfera e em outras camadas, o que seria desastroso! Mas, enfim, estamos à caminho de Plutão, não é mesmo?!

- Dá pra ser mais rápido? Eu to me sentindo um paraplégico todo encaixado na maca, não consigo mexer um músculo! – exclamou Pietro – alguém se lembra daquela novela pré-histórica que vez ou outra reprisava no canal dos clássicos?! Como era mesmo aquela...

- LUCIANA MINHA FILHA, FICA CALMA, NÃO CHORA! – Ray Ann começou a imitar tragicomicamente à mãe da personagem que sofrera um acidente na trama televisiva, ficando consequentemente paraplégica. Os outros caíram na gargalhada, Fábia ficou vermelha dos pés à cabeça de tanto rir, e do modo como ela estava atarracada às travas de segurança mais parecia o Chowder do clássico desenho animado (para a época deles) de tão fofinha e apertada!

- Pessoal, pessoal! Vamos acalmar os ânimos e nos preparar para a partida! – o Professor Umbrella levantou a voz um pouquinho para se sobressair às risadas. Aos poucos elas foram cessando, e a tripulação do ônibus espacial iniciou os preparativos para a decolagem. Do lado de fora, a imprensa de todo o mundo fazia alvoroço, transmitindo tudo ao vivo, passo a passo, as câmeras internas da Apocalypto estavam todas ligadas, de modo que aquilo parecia mais um reality show do que uma viagem interestelar! Nossos heróis estavam tendo seus quinze minutos de fama e nem haviam se dado conta disso porque não estavam a par de nada, estavam completamente alheios ao mundo desde que esta jornada à Plutão havia se iniciado, há seis meses atrás.

Os preparativos para a decolagem – incluindo a acomodação do Professor Umbrella à sua poltrona, já que ele insistia em ficar se levantando e perambulando de um lado para o outro falando pelos cotovelos. – duraram aproximadamente 15 minutos, tempo suficiente para que Fábia tirasse um pequeno cochilo enquanto os outros assistiam aos vídeos educativos que estavam rodando em hologramas pouco acima das suas cabeças.

Pietro aproveitou para folgar um pouco as tiras de segurança que prendiam seus pulsos para pegar um pacote de bolachas recheadas no seu compartimento de bagagem de mão. A paz reinava por alguns minutos, até que...

- Alguém quer biscoito?...

Fábia abriu os olhos imediatamente, assustando a todos como um cadáver que desperta num filme de terror.

- MEU DEUS, MENINA! QUE SUSTO! NÃO TAVA DORMINDO NÃO?! – exclamou Augusta, que estava sentada ao lado da garota.

- Não, estava só tirando uma sonequinha! – ela sorriu – e sim, eu quero um biscoito!

- Nada de biscoitos para vocês, meninos – a “astromoça” passou recolhendo alimentos, bebidas e qualquer outro tipo de objetos enquanto apertava mais as travas de segurança que prendiam as extremidades do corpo dos viajantes estelares de primeira viagem.

A partida foi muito comemorada do lado de fora do ônibus espacial acoplado ao foguete. Mas do lado de dentro foi desesperadora! É muito diferente estar numa sala de testes dentro de uma cabine de simulação e estar REALMENTE dentro de um ônibus espacial a caminho de um lugar qualquer da galáxia, é apavorante!

É também diferente a sensação de olhar a Terra do espaço da sensação de vê-la simulada na janela de uma cápsula apertada em algum laboratório qualquer da Rússia. A emoção é indescritível. Tudo parece tão novo, tão belo e tão azul!

E passar pela Lua então? Alguns dos meninos juram que viram o Professor Umbrella derramar algumas lágrimas. Eles passaram tão perto dela! Quase podiam tocá-la se quisessem, e viram suas crateras e sua cor alva e delicada. Não parecia em nada a Lua amarelada que vemos aqui da Terra.

- Procurando falhas no espaço-tempo – disse uma voz aos seus ouvidos, nos fones. Todos a ouviram, e entraram em apreensão imediata! O desespero bateu no mesmo instante, os corações aceleraram, lágrimas misturaram-se ao suor do nervosismo iminente. Todos ficaram pálidos feito a Lua pela qual haviam passado há pouco! – BURACO DE VERME ENCONTRADO, ACELERAR PARTÍCULAS, HIPERESPAÇO ATIVADO!

Imagine ser esticado como uma goma de mascar. Imagine sentir seu estômago elástico como uma liga de borracha e seu cérebro apequenar-se ao tamanho de uma avelã. Imagine um princípio de cãibras em cada um dos músculos de seu corpo, até mesmo onde você sequer imaginava que eles existiam: pálpebras, língua, orelhas, pescoço, peitos, e por último um repuxão no topo da cabeça, como um arrepio. Todos os cabelos da sua cabeça virando em uma única direção como um girassol em busca da estrela-mãe. Era como ser sugado por um grande aspirador de pó e cuspido de volta em instantes. Segundos que pareceram horas, horas que pareceram semanas, semanas que pareceram meses. Uma vida inteira esticada e retraída em milésimos. Foi exatamente isto.

Os sacos de vômito caíram imediatamente sobre os passageiros, em sincronia eles o abriram e vomitaram tudo o que haviam comido antes de embarcar! E se não houvessem comido nada seria muito pior: colocariam para fora todo o suco gástrico!

Olhar pela janela do ônibus espacial teve o impacto do choque de uma facada no estômago, um frio na barriga inexplicável, um deslumbre, um deleite e ao mesmo tempo um desespero, um pavor, um medo inominável. Eles estavam a oito bilhões de quilômetros de casa. 20 anos de distância num tempo normal.

Plutão, Caronte, Hydra e Nix dançavam ao longe, entre novas estrelas, novas constelações, como quatro luas, quatro ninfas, quatro deusas perfeitas e ctônicas num ballet silencioso. O silêncio dos deuses. O silêncio dos limites do sistema solar, o silêncio de onde o território humano acaba para dar lugar ao instigante e apavorante desconhecido inexplorado e inexplorável.

Muito mais próximo que aqueles objetos ancestrais feitos de poeira, metal e gelo, uma anomalia flutuava como um cisto cintilante na escuridão entre as estrelas.
Era um enorme cilindro repleto de pontos luminosos amarelados, azulados e avermelhados, seus olhos, suas janelas. Aquela coisa era circundada por três anéis artificiais: dois de raio menor e outro de um raio quilométrico colossal que o abraçava pelo meio enquanto os menores circulavam as extremidades. Estes anéis brancos de reflexo prateado também possuíam olhos como o cilindro ao qual circundavam, muito mais brilhantes que os da matriz.

- Estes anéis são as instalações – lembrou Ray Ann – quartos, quadras, piscinas, cinemas, museus, pequenas vilas...

- E o cilindro – continuou Fábia – são os laboratórios, as salas de reunião, as salas de controle...

- Bem vindos à Estação Espacial Cosmogony, pessoal! – fez o Professor Umbrella através do seu microfone, para que toda a tripulação ouvisse – bem vindos à órbita de Plutão!






Continua...



Nenhum comentário:

Postar um comentário

E então? O que achou?