Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

PARTE QUATRO: COSMOGONY - METRÓPOLE ESPACIAL!




Provavelmente vocês já viram, na tevê ou na internet, aqueles estranhos prédios construídos nos emirados árabes. Gigantescos, colossais, verdadeiras metrópoles construídas na vertical, despontando na paisagem rumo ao céu como espigões de ferro e concreto, vestidos com vidro da base até às pontas, refletindo a luz do sol com toda a força, destacando-se há quilômetros de distância, podendo ser vistos até mesmo – vejam só – do espaço. Lugar onde nossos heróis atualmente se encontram.

Mas a Cosmogony. A Cosmogony era muito mais do que isso, embora a comparação seja válida – e muito – no caso. A estação espacial lembrava mesmo um enorme prédio vagando no infinito, levemente inclinado, porém absurdamente gigantesco. Ela superava qualquer construção humana em tamanho e altura, era colossal – e segundo a planta original, ainda estava em construção – o Burj Khalifa em Dubai não passava de uma espinha de peixe perto do monstro de metal que era a Estação Espacial Cosmogony.

Dois mil e quinhentos metros de uma ponta à outra do cilindro circundado por três anéis artificiais, cada um deles ligado à matriz pelo que de longe pareciam quatro grossos cabos. Na verdade, tratava-se de corredores utilizados pela tripulação para ir e vir entre as unidades cilindro-anel. Apesar da imponência e da tecnologia de ponta investida no projeto, a Cosmogony tinha apenas 20 anos de atividade, tempo utilizado pelos propulsores para atingir a órbita de Netuno e Caronte.

O interior de Cosmogony parecia ser fruto da mais distante ficção científica: seu cilindro era oco por dentro, um fosso que recebia as naves que iam e vinham o tempo inteiro enquanto a jornada de trabalho não findava. As paredes deste fosso eram repletas de janelas, para que os que chegassem e partissem pudessem ver a atividade no interior da estação, que pareciam nunca terminar. Janelas estas que davam vistas privilegiadas – tanto pelo lado de dentro quanto pelo lado de fora – aos que trabalhavam nos escritórios, lecionavam nas salas de aula, pesquisavam nas bibliotecas e concentravam-se nos laboratórios. As janelas para o fosso interno mostravam a atividade das naves, e as janelas para o espaço mostravam a beleza do estranho sistema planetário composto por Plutão, Caronte, Hydra a Nix, gigantescos, quase palpáveis.

- Preparar para acoplar – fez a voz chiada no piloto da Apocalypto-666 nos headphones dos passageiros. As mãos do atrapalhado e esquisito Professor Umbrella suaram. Em pensar que fora ele quem havia começado tudo aquilo, há exatos seis meses atrás, ao inscrever cada um dos alunos da sua querida turma no projeto Universidade Espacial Cosmogony. Quatro vagas foram liberadas, quatro vagas precisavam ser preenchidas, e um único professor para acompanhar a turma. Nem quando se inscreveu imaginava que chegaria tão longe.

Ali estava ele, diante da maior e mais cara construção da história da humanidade. Cada país havia dado um pouco do seu fundo milionário para bancar Cosmogony, que fora totalmente construída no espaço. Nenhum parafuso, nenhuma engrenagem fora colocada ali em território terráqueo. Desse modo, cada país tinha direito a desfrutar do que então havia sido construído, cada uma das nações possuía seu próprio laboratório, sua própria biblioteca, suas áreas de lazer e suas instalações de pesquisa e hospedagem. Havia até um hotel de luxo ali dentro, para receber os cosmonautas milionários que se arriscavam a passar umas férias “fora de órbita”. Eles vinham aos montes nas altas temporadas em ônibus espaciais exclusivos – sejam particulares ou empresariais – traziam família, amigos, vizinhos e até animais. Cachorros, gatos, periquitos e papagaios. Poucos sobreviviam à viagem: atravessar um buraco de minhoca não era uma experiência lá muito boa para humanos, imagine para animais!

Houve até mesmo casos em que pássaros de estimação explodiram em nuvens de penas coloridas após passarem pelo buraco de minhoca. Cenas pavorosas também ocorreram a gatos e cachorros. Outros animais apenas sangraram pelos orifícios e faleceram logo em seguida, até o presente momento os cientistas não conseguiram explicar o porquê dos eventos. Desde então é expressamente proibido trazer animais à bordo.

- Será que nós vamos ficar hospedados no hotel?! – Fábia cutucou as costelas de Ray Ann de leve com o cotovelo, já que as travas de segurança ainda estava bem apertadinhas.

- Duvido muito! Provavelmente vamos ficar junto dos outros alunos e professores nos dormitórios... – fez ela, forçando-se a enxergar através da janela do ônibus espacial. As estrelas estavam tão belas, tão próximas! Era tudo tão maravilhoso visto do espaço! Até a poeira da Via Láctea era visível, quase palpável. O céu noturno não parecia só mais um mito entre muitos, ele era real e tangível. Visto da cidade ele não passava de escuridão e frieza, como um grande manto pesado e negro cobrindo o mundo de uma ponta a outra, abafando tudo... Mas ali... Ali era tudo tão diferente! Tudo parecia tão cheio de vida e pulsante! A Via Láctea era como um rio correndo ao fundo de uma paisagem salpicada de estrelas grandes e pequenas, mundos distantes giravam longe das vistas de todos. No meio daquilo tudo a bolota que era Plutão e seu companheiro Caronte eram apenas um atrativo à parte.

- Espero que os dormitórios tenham janelas pelo menos! Já imaginou perder essa vista maravilhosa antes de dormir?! Eu to no espaço, mamãe! Não vou dormir olhando pras paredes, agora tenho as estrelas como companhia! – Fábia já lutava ferozmente contra as travas de segurança, queria se levantar, queria correr, queria gritar, fazer o que Fábias fazem de melhor!

- Tem razão Fábia! – exclamou o Professor Umbrella, logo à frente das duas – espero realmente que nossos “aposentos reais” tenham ao menos uma janelinha para vermos um pouquinho da Via Láctea antes de uma boa noite de sono!

Pietro e Augusta permaneciam calados. Estáticos, atônitos, em um estado de transe total, admirando o que seria sua nova vista daqui por diante neste último e longo ano na Universidade.

O ônibus espacial se aproximava lentamente de Cosmogony, e esta só se tornava mais gigantesca conforme a proximidade, comprovando que o seu tamanho de proporções colossais não era só uma ilusão. O cilindro oco era largo o suficiente para receber a nave com sutileza e delicadeza, como um carro entra numa garagem. O desembarque foi estranho e complicado, quinze minutos que pareceram horas foram gastos para que todos os procedimentos de segurança fossem tomados e as portas da nave finalmente abertas. As travas de segurança que praticamente prendiam o corpo dos passageiros às suas poltronas soltaram-se automaticamente, apenas as cabeças precisavam ser soltas com cuidado.

- Porque não estamos flutuando?! Cadê a gravidade zero?! – começou Fábia, toda apressada e curiosa. Seu cabelo violeta opaco parecia muito mais brilhante no espaço.

- As coisas aqui em cima não são como nos filmes Fá, o ônibus acabou de entrar numa das zonas de pressurização dentro do cilindro da Cosmogony, aqui a gravidade é regulada pelo sistema. – explicou Ray, desvencilhando-se da claustrofóbica poltrona, esticando as costelas e se levantando aos poucos. – que horror! Parece que eu corri uma maratona!

- Isso é normal quando se é “marinheiro de primeira viagem”! – pela primeira vez, o piloto e capitão da missão estava deixando a cabine de controle do ônibus espacial. Os passageiros ainda não o haviam visto uma única vez sequer desde que embarcaram, sua voz era a única evidência de sua existência, mas ali estava ele afinal dando o ar da graça: Donnick Wolfgang Hills, meio alemão e meio russo com ascendência nórdica, primeiro capitão da aeronáutica soviética escalado para esta missão por ser o homem de maior confiança do governo quando se tratava de viagens interplanetárias e missões espaciais. Era experiente, do alto de seus 39 anos tinha quase 20 só de pilotagem. Estava cruzando o sistema solar muito antes de Cosmogony entrar em atividade!

- Mas... Quem é esse gato?! – rosnou Fábia animada no ouvido da dolorida Ray.

- Ele foi o nosso piloto a viagem inteira... – ela teve a leve impressão de que sua coluna estalou alto demais no momento em que se espreguiçou – acho que fui a única que conheceu ele antes de embarcarmos...

- COMO ASSIM VOCÊ CONHECEU ESSE DEUS COSMONAUTA E NÃO ME CONTOU NADA?! – exclamou Fábia, um pouco mais alto do que o necessário para que um comentário fique em segredo mesmo que você o faça em público. Há um nível de discrição que a caricata Fábia costuma não seguir na maioria das vezes quando se exacerba. É incontrolável, ela sempre acaba aprontando das suas.

Ray Ann meteu a mão na cara. Todos estavam olhando para as duas.

- Ehm, Er, bem, meninos e... meninas – gaguejou o capitão, meio sem jeito e um pouco corado também, entrecortando sua fala com risadinhas nervosas. – sejam bem vindos à Estação Espacial Cosmogony! – ele colocou a mão para trás e estufou o peito, com um enorme sorriso nórdico estampando seu rosto – espero realmente que tenham curtido a viagem, foi um dos voos mais calmos e tranquilos que já fiz. Não tivemos complicação nenhuma e...

- Ao menos a cabeça de ninguém explodiu!

- Pietro! – fez o Professor Umbrella, com um bico de desaprovação. O rapaz revirou os olhos.

O capitão apenas riu, divertindo-se com aqueles jovens. Todos ali eram muito jovens, até mesmo o Professor acompanhante da turma, que não se excedia muito acima dos 25, anos estes gastos todos em pesquisas e viagens a observatórios na Sibéria e no Canadá.

- É, o rapaz tem razão, vocês não imaginam como é difícil limpar os miolos dos estofados brancos depois! – Augusta Franziu o cenho, desconcentrando-se do telefone pela primeira vez desde que livrara suas mãos das travas de segurança nos braços do assento. A brincadeira não pareceu muito divertida a ela, que levantou a mão nervosa

- Com licença! Gostaria de fazer uma perguntinha!

- Sim senhora, pois não? – o capitão Donnick ergueu o queixo.

- A cobertura das operadoras funciona aqui em cima? Meu telefone morreu, literalmente!

Todos riram juntos.

- Ué?! Qual é a graça?! Cadê toda a tecnologia de vocês?! – fez Augusta, guardando o aparelho no bolso de trás do estranho uniforme espacial que eles usavam. Lembrava e muito os macacões dos corredores de Fórmula 1, todo estofado por dentro e por fora. Ray Ann até havia reclamado de se sentir um colchão usando aquilo, e a própria Augusta se achara imensa de gorda nele. Era branco como as botas que acompanhavam o kit, que poderia ser trocado agora no vestiário pelo básico: jaqueta, calças e blusa da corporação. Tudo branco, tudo limpo, tudo clean.

- Infelizmente, Augusta, nós ainda não temos tanta tecnologia assim, mas você pode pedir para a Guia Turística levá-la até uma das salas de vídeo-conferência onde você pode falar em tempo real com seus amigos “terráqueos” direto daqui! – disse o Professor, todo animado. Tremendo dos pés à cabeça de excitação, estava louco para sair daquele ônibus espacial e conhecer a maravilha que aquele lugar era.

- Já que é assim... – Augusta deu de ombros.



DESEMBARQUE AUTORIZADO.



As portas finalmente abriram-se, revelando uma espécie de salão circular gigantesco com uma enorme abóbada de vidro que mostrava o espaço coroando-o, logo acima das cabeças dos viajantes espaciais. A vista dali era bela, estupenda, uma obra de arte da natureza, e aquilo ali era só uma amostra, apenas a “garagem” da Cosmogony! Pelo visto, o ônibus espacial havia entrado por cima do cilindro, ou seja, eles estavam naquele exato momento no topo da unidade principal da estação espacial. Assustadoramente, o teto foi se distanciando, a plataforma estava descendo para nivelar-se à entrada e saída de passageiros. As estrelas mostradas pela abóbada transparente estavam ficando cada vez mais distantes, e rostos curiosos começavam a surgir em janelas retangulares nas laterais que subiam e passavam por eles lentamente.

Fábia não se conteve, e teve de acenar para aquela gente, estava se sentindo uma estrela de cinema. Ray Ann até tentou controlá-la abaixando a mão da garota, sem sucesso, ela estava fazendo sucesso com os rapazes cosmonautas espectadores da sua chegada, o motivo disso é bem aparente e frontal, diga-se de passagem.

- Parece que já temos alguém que mal chegou e já está conquistando a atenção de todos! – exclamou o Professor Umbrella, colocando a mão sobre o ombro de Fábia.

- Mas isso é normal com qualquer garota que chega aqui, até porque estamos passando pelos setores das salas de aula e laboratórios... – fez o capitão Donnick – e nestes setores temos muitos rapazes que não veem garotas há um bom tempo, temos poucas mulheres aqui, e elas são muito duronas, não dão espaço para esses pobres coitados... – ele estalou a língua em desaprovação.

- Certas estão elas! – exclamou Ray Ann, levemente revoltada. Ativista feminista, qualquer comentário com um teor que pendesse a favor dos homens a beliscava feito a pinça de um siri – não é porque estão num lugar de maioria masculina que elas devem ceder aos apelos e provocações deles! Elas têm de mostrar quem manda, tem de mostrar que estão aqui para trabalhar e não para transar no meio do espaço! Mulheres não são pedaços de carne e...

- Tudo bem, tudo bem – foi a vez do Professor Umbrella interceder por Ray Ann, afinal de contas já havia controlado a exacerbada Fábia que insistia em se exibir (inocentemente) para os rapazes nas janelas – nós já entendemos, querida. Entendemos muito bem o que você quis dizer.

O capitão estava todo desconcertado.

- Sim, sim – começou ele, vermelho feito um tomate – peço desculpas pelo comentário e retiro o que eu disse então...

- Retira nada, você não disse nada demais! – foi a vez de Pietro interferir no rumo da conversa. – a viagem deve ter estressado demais a nossa colega, ou ela deve estar naqueles dias!

- Mais um comentário machista desses e eu... – antes que Ray terminasse a frase, a plataforma estancou com um solavanco, e eles se viram no fundo do fosso centro da Cosmogony, cercados de nada a não ser escuridão. Luzes azuis acenderam-se nas laterais e uma porta triangular abriu-se, revelando uma luminosidade intensa e a silhueta feminina e delicada de alguém que se aproximava. Ela tinha compridos cabelos negros ondulados, pele branca como leite e olhos claros de um verde cristalino (ou seria azul?) vinha uniformizada e com um enorme sorriso de dentes perfeitamente brancos estampado no rosto.

- Sejam bem vindos à Cosmogony, estudantes e Professor! – ela juntou as mãos diante do corpo – eu sou Elly Richter e estou aqui para guiá-los até a sala de reuniões onde serão recebidos. Depois, levarei os rapazes e as moças aos seus devidos dormitórios.

- Isso quer dizer que a suíte máster do hotel está fora de cogitação! – sussurrou Pietro no ouvido de Augusta, que relaxou os ombros decepcionada. Estava contando em seus sonhos com uma cama king size e um telão só pra ela.

- Exatamente! – fez a guia, dando um pulinho excitado – o Hotel é só para os hóspedes, vocês não são hóspedes, vocês são praticamente de casa!
Pietro quase entrou no ônibus espacial de novo de tanta vergonha. Nem o Professor Umbrella resistiu a dar umas risadinhas.

- Me acompanhem, por favor!

Eles seguiram por um longo e branco corredor de carpete vermelho, que terminava em uma porta dupla lembrando e muito as portas de um hospital – ou de um navio – com janelinhas redondas bem no meio delas. Elly empurrou-as majestosamente, revelando para os olhos famintos por novidade, algo impressionante: era o saguão do hotel. As paredes daquele lugar eram todas transparentes, com uma vista privilegiada da órbita de Plutão mais ao longe, encantador, poético e solitário nos limites do sistema solar.

O mais estranho, era o contraste que aquilo fazia com a decoração e os motivos daquele lugar totalmente inspirado num cruzeiro caribenho luxuoso e tropical. Poltronas, cadeiras e divãs dourados de estofado branco, vasos com plantas e flores exóticas e um enorme piano de cauda, girando no centro do salão em uma plataforma circular. Nas paredes que não mostravam o universo lá fora, quadros raríssimos de pintores clássicos enfeitavam as paredes perfeitamente brancas. Aquele lugar cheirava a um coquetel de fruta. Os olhos de Augusta quase marejaram ao lembrar de que não ficaria ali.

- Estamos usando o saguão do hotel porque a entrada facultativa principal está passando por alguns reparos! Espero que não se incomodem. – disse a sorridente Elly, seus brincos triangulares azuis balançando nervosos nas orelhas.

“Não, quê isso!” “Imagina!” “Não se preocupe! Que nada!” “Ora, querida!” foram exclamações soltas pelo deslumbrado grupo, que passeava os olhos cheios de prazer por aquele local de requinte impecável. As camareiras, faxineiras e mordomos que passeavam por ali eram tão sorridentes e felizes quanto os hóspedes! Estes rindo em grupos, sentados ao redor de mesinhas de mármore cutucando telas holográficas e fazendo vídeo conferências com os que ficaram na Terra, ou mesmo de pé, deliciando-se com a paisagem alienígena.

- Vamos usar o elevador de serviço para sair do hotel e entrar realmente na Cosmogony dessa vez! – alertou a guia, apontando para um corredor apertado escondido após mais uma porta dupla.

- Com licença, moça! – chamou Ray.

- Sim, querida?

- Onde compro brincos como os seus? São lindos!

- Oh, se você achou meus brincos bonitos espere só até ver o que você vai encontrar no shopping!

- Tem um shopping aqui no meio do espaço?! – exclamou Pietro, surpreso. Por essa ele não esperava!

- É claro que tem! Oras, como uma garota sobreviveria no meio do espaço sem um shopping para se distrair de vez em quando?! Temos pelo menos quinze praças de alimentação, mais de duzentas lojas, cinco salas de cinema e restaurantes que... hmmmmm... – ela fechou os olhos e beliscou o lóbulo da orelha de leve – são um must!

- E nós... podemos frequentá-lo?! – perguntou o Professor Umbrella, ansioso. Ele também gostava de fazer compras tanto quanto uma garota, já estava pensando nas livrarias e nas lojas de MP3. Elly foi a última a entrar no elevador, virou de costas para o grupo já bem acomodado (apertado, na verdade) e apertou o botão para subir.

- Claro que podem! É lá que toda a tripulação da Cosmogony se encontra diariamente! Cientistas, professores, doutores, alunos, viajantes do espaço, empregados do hotel, hóspedes e alienígenas! Todo mundo vai lá!

- Alienígenas?! – exclamou o grupo em uníssono! Apenas o capitão Donnick que permanecera calado até então soltou uma gargalhada gostosa.

- Claro que não seus bobos, eu só estou brincando!

O Professor levou a mão ao coração. Tinha pavor de ET’s. Até tirou seus óculos fundo de garrafa para limpá-los, embaçados pelo susto.

O elevador, após estancar em seu destino abriu suas portas para a lateral de um enorme, colossal corredor triangular. Suas duas paredes se encontravam no topo porque se recurvavam sobre os transeuntes. De um lado, o branco liso e impecável cheio de portas: eram os elevadores, as salas e os salões. Do outro, logo à frente do grupo, o espaço, as estrelas e o resto do universo. E entre estes dois mundos, as pessoas iam e vinham num dia comum e corriqueiro na Cosmogony. Algumas sérias, com ar preocupado passavam às pressas segurando maletas brancas e objetos estranhos, pastas e papéis, recipientes e ampolas. Outros vinham distraídos, admirando a paisagem ou conversando com seus companheiros, rindo com seus amigos ou usando os tablets e aparelhos portáteis para editar arquivos ou comunicar-se com pessoas que estavam do outro lado da Estação Espacial, distantes demais para dar um pulinho até lá.

Um mundo utópico e tecnológico perdido na órbita de Plutão.

- Isso é incrível!

- Isso é fantástico!

- Isso é maravilhoso!

- É impressionante!

Ninguém olhava para o chão, nenhum deles mantinha o foco, seus olhares se perdiam entre a multidão de pessoas em uniformes brancos, azuis, negros e prateados. Cada cor definindo uma categoria diferente de pessoas, cada cor limitando o indivíduo a suas áreas e identificando suas funções ali dentro daquele sistema complexo que era a Cosmogony. Vez ou outra um rosa choque despontava na multidão, um laranja pintava aqui e ali, um vermelho se distinguia mais ao longe. Operários levando peças enormes, arrastando caixas em carrinhos – de mão ou não – planando a poucos centímetros do chão em pequenas naves brancas ovais que lembravam os jipes da terra, com espaço para até três pessoas. Uma maneira de se movimentar mais rápido e chegar ao compromisso pontualmente, coisa de gente que vive atrasada (ou gente preguiçosa mesmo, a maioria dos gordinhos da estação estavam montados num daqueles meios de locomoção eficazes e velozes).

- Surreal! – finalizou o Professor Umbrella. As estrelas do paredão de vidro refletindo nas lentes dos seus óculos.

- Ei pateta, olha por onde anda! – exclamou um jovem em quem o Professor esbarrara, perdido naquela multidão.

- Nos desculpe, sim?! – disse a sorridente Elly ao passante, pegando Umbrella pelo braço e devolvendo-o ao grupo – não se distancie muito de nós, Professor! Além de atrapalhar o fluxo de pedestres você pode se perder! E aqui na Cosmogony quando alguém se perde levamos meses para encontrar! Certa vez encontramos um cara morando num armário de vassouras, um astronauta que achávamos haver se perdido numa missão há pelo menos dois anos atrás!

- Isso só pode ser brincadeira! – exclamou Pietro, desconfiado.

- Antes fosse! – ela deu uma pausa, ajeitou seu vestidinho azul de aeromoça e seu chapeuzinho para guiar o grupo pela avenida. – por favor, deem as mãos se este for o caso, mas não se percam! Acompanhem-me, sim?!

Ao longo do caminho, o grupo viu coisas mais fascinantes ainda. O fluxo de pessoas parecia não terminar nunca, ao que tudo indicava, eles haviam chegado à “Metrópole” (como os tripulantes costumavam chamar Cosmogony entre si) num dia de pico. Tudo ali funcionava como uma cidade. Havia prefeituras, subprefeituras, departamentos e diretorias para tudo. Elly Richter foi explicando ao longo do caminho num falatório sem fim que pareceu durar anos, mas pelo visto estavam todos muito interessados em como aquele lugar funcionava. O corredor era extenso e muito largo, como uma avenida, o chão era de uma polidez impecável graças aos robôs-enceradeiras que funcionavam direto, com pausa de meia hora apenas para recarregar as baterias. Isso deixava o piso tão branco e tão brilhante que era possível ver o reflexo de tudo ao redor bem ali, embaixo dos seus pés.

Aquela longa avenida frequentada por todos os tripulantes da estação espacial formava um verdadeiro labirinto espiralando ao redor Cosmogony desde sua base até o topo, sempre em subida inclinada, dando voltas ao redor do cilindro gigantesco. O terreno só se tornava “plano” quando se alcançava a área onde havia os portões de acesso aos anéis periféricos, onde se encontrava a maioria dos dormitórios e das enfermarias. Estes eram ligados à Cosmogony através de corredores suspensos no vácuo, conectando-se à sua matriz como apêndices. Para alguns era uma sensação apavorante atravessá-los, por terem suas paredes completamente transparentes, para outros, era como desafiar as leis da física e andar no meio do espaço.

- Estamos chegando à ala dos laboratórios! – fez Elly Richter, ajeitando suas luvinhas azuis que combinavam com o vestidinho de ombreiras. Ela parecia ter saído de algum filme de ficção científica vestida naquelas roupas, e não era só ela por ali vestida assim: haviam várias outras garotas (e alguns rapazes também) em azul guiando grupos ao longo do corredor. Provavelmente parte de sua equipe. – aqui nós recebemos amostras de meteoritos para análise e fazemos outras coisinhas também, como testes de novas tecnologias para uso no espaço e mapeamento das áreas do sistema solar por onde a Cosmogony passou...

Uma grande movimentação começou naquele exato momento, interrompendo a explicação de Elly. Sua expressão sorridente mudou imediatamente para frio e sério, ela abriu os braços e parou a marcha do seu grupo imediatamente, como um freio humano.

- O que está acontecendo? – Ray Ann esticava o pescoço tentando ver o que estava acontecendo, parecia uma tartaruga tentando sair forçadamente de seu casco. Por várias vezes ela tentou escalar às costas de Pietro, sem sucesso. Fábia estava na mesma situação por ser baixinha como a amiga, de modo que ambas estavam completamente perdidas no meio daquele furor. Em menos de um minuto aquela ala do corredor lotou, e a avenida congestionou rapidamente, as pessoas se amontoavam e abriam espaço para algo que vinha mais adiante, algo como um tipo de cortejo.

- Ai, que susto! – o rosto sério de Elly se desfez no costumeiro sorriso caloroso de dentes perfeitamente brancos ao qual o grupo já estava habituado desde que ela surgira, há meia hora atrás, no portal de acesso ao hotel. – pensei que fosse alguma emergência!

- O que tá rolando aí na frente hein? – Augusta também era outra que tentava esticar o pescoço ao máximo, sem sucesso.

- A última sonda que enviamos ao cinturão de Kepler acaba de voltar, e os rapazes estão trazendo o material que foi coletado! Abram caminho, por favor! – ela indicou a direita com um gesto lânguido. O mais estranho em Elly era que ela parecia mais uma boneca do que uma humana, até os seus gestos pareciam minuciosamente programados. Talvez o treinamento para guia espacial fosse apenas bom demais...

Meio que se atropelando, o grupo liberou espaço para a passagem do cortejo que viria a seguir, por pouco o Professor Umbrella não foi arrastado junto com as berlindas que eram carregadas por homens devidamente uniformizados dos pés à cabeça como apicultores. Afinal de contas, não se sabia que tipo de material estranho poderia estar sendo manuseado por eles, se um novo tipo de elemento químico ou material orgânico extraterrestre, todas as possibilidades deveriam ser aceitas, e por medida de segurança era melhor manter certa distância. E esta distância era garantida por uma equipe de guias como Elly que afastavam a multidão para trás, espremendo-os uns contra os outros.

Por sorte, o grupo do Professor Umbrella não foi suprimido pela multidão, e acabou vendo o cortejo passar de camarote: bem à frente do público, na primeira fileira. Era como ver um desfile de alegorias de perto. Os três primeiros integrantes dele arrastavam carrinhos de carga, como aqueles encontrados em fábricas e distribuidoras para fazer transporte de mercadoria, carregando contêineres e enormes cilindros metálicos. Os que vinham em pares carregavam enormes berlindas transparentes seladas a vácuo. Pelo lado de fora, era possível ver grandes e pequenos pedaços de rocha e gelo flutuando lá dentro, tudo para que os materiais alienígenas não entrem em contato com o oxigênio e oxidem.

Mas o último carrinho do cortejo foi o que mais chamou atenção. Ele trazia uma enorme caixa de vidro, contendo um grande e estranho objeto dourado que parecia muito mais um fóssil do que qualquer outra coisa: estava coberto por camadas de detritos e gelo, muito gelo, era praticamente um cubo de gelo selando algo dentro de si, alguma coisa cheia de superfícies espelhadas e douradas que refletiam a luz de forma intensa. Lembrava um enorme pedaço de ouro bruto retirado das entranhas de algum planeta estranho.

E quando aquilo passou em frente à ele, seu cérebro deu um giro de 360 graus dentro da caixa craniana, foi algo repentino, instantâneo e desesperador no primeiro momento. Antes de perder a consciência por completo o Professor Umbrela viu os rostos, ouviu os gritos e teve noção de borrões e milhares de braços tentando ampará-lo na queda, dar apoio, segurá-lo antes que ele atingisse o chão. O único que estava próximo o bastante para socorrê-lo era o quieto capitão Donnick Hills, cujo primeiro reflexo foi agarrá-lo no ar.

Mas isso pouco importava, o que ele viu, o que ele sentiu foi muito mais do que isso. Aquela coisa girando dentro da caixa de vidro o perturbou de forma bizarra e estranha. No momento em que ele bateu os olhos naquilo, seu coração parou por um instante e o ar recusou-se a entrar em seus pulmões, um repuxo na mente fez sua cabeça girar feito um pião e enxergar muitas coisas ao mesmo tempo. Delírios ou não?

Havia o espaço, havia o silêncio, e havia aquele rosto. Aquele rosto tão belo intercalado por estrelas, cercado de vida e beleza, mas tão triste, choroso e amargo como nenhum outro. O que aquilo significava? O que tudo aquilo queria dizer?
Algo grande estava para começar, e Sybila Hikikomori sentiu isso. Recebeu a mensagem como um impulso elétrico enviado através do sistema nervoso do Universo.

- É ele!

Continua...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Expectativas




Okay, o ano está acabando e está chegando a hora das considerações finais!


Caros leitores, não tenho palavras para expressar a ternura e a emoção que sinto quando recebo um comentário em qualquer uma das postagens (geralmente recebo uma a cada 2 ou 3 meses, risos), e esse ano foi muito importante para mim e para o blog: graças a publicação do livro, The Fatcat House recebeu muitas visitas e ganhou novos leitores, novos admiradores, novos amigos que estão sempre de olho esperando por novidades nestas páginas tão cheias de conteúdo mas tão solitárias. As visitas triplicaram e hoje estou perto de atingir as 30.000 ao longo desses quase três anos de blog. Eu sei que comparado a certos blogs de histórias e crônicas que estão por aí na rede isso é muito pouco, mas pra mim, nossa, significa bastante (embora eu saiba que mais de 70% dessas visitas advém de pessoas procurando coisas no Google Imagens), e já serve de gás pra inflar o meu ego de artista.


Sei que não sou o melhor escritor do mundo, e como desenhista então sou uma lástima, para os mais exigentes talvez meu trabalho seja rústico, rebuscado e infantil, algo que precise ser trabalhado ainda. Mas para mim está perfeito como está, e daqui há mais 10 ou 20 anos estará mais perfeito ainda, porque estou evoluindo no meu próprio ritmo a cada dia. Sim, isso é autoconfiança de autor mesmo, admito, mas se eu não achar meu trabalho bom, quem vai achar?! Meu público se limita a pouco menos de uma centena de pessoas que abriu seu coração sem compromisso algum para apenas curtir, viajar e se deliciar com as aventuras de Afonsa e suas primas no livro, do Apocalipse Club aqui no blog e de uma família inteira de personagens que povoa o meu imaginário e as páginas de The Fatcat House. Essas pessoas são muito especiais para mim, qualquer um que se disponha a ler um pouco das minhas histórias está se dispondo a ler um pouco de mim, a me conhecer melhor, pois cada uma dessas histórias tem um pouco de mim, um pouco da minha vida.


Não acredito realmente que meu público um dia vá crescer para se tornar algo a nível dos fãs de Rowling ou Meyer, admito que isso um dia já foi meu grande sonho: ser um escritor famoso, reconhecido mundialmente com uma horda de fãs loucos e fanáticos pelos personagens, pelas histórias, sonhava em ver spin-offs vazados e capítulos nunca antes lidos por ninguém caindo na net só pro deleite dos fãs mais assíduos... Mas hoje, hoje penso completamente diferente. Posso dizer com todas as letras e muito seguro de mim que cresci, e estou muito mais pé no chão do que comecei este ano de 2011, talvez todos os tijolos que deus jogou na minha cabeça serviram para controlar esse meu ímpeto louco de criar expectativas em cima das coisas o tempo inteiro, de ficar me iludindo achando que tudo vem de uma hora pra outra na vida da gente, como vemos nos filmes e na TV e nos livros.


Hoje já tenho uma boa noção de que sou mais um entre um milhão de escritores anônimos que estão espalhados por aí na internet, mais um entre vários autores que se auto-publicam e aos poucos vão ganhando um pequenino, apertado espaço em um mundo de poucos leitores e gigantes da literatura. Hoje, sinceramente, não acredito que meu público limitado vá crescer muito, passar de duas centenas ou três centenas, tenho noção de que posso passar a vida inteira no setor "underground" do mundo literário ao lado de outros milhares de companheiros, e não espero muito mais que isso, talvez espere até menos. Mas isso não me desanima, não me intimida, eu gosto de saber que meu público é seleto, é escolhido, é feito de pessoas especiais com algo especial que as fez abrir seu coração para o meu trabalho, para as minhas histórias, para deixar que eu e meus personagens queridos, meus filhos adorados, entremos em suas vidas. Não escrevo para me aparecer, e sim porque gosto, e é a única coisa que faço razoavelmente bem.


2011 foi um ano intenso e doloroso pra minha vida pessoal, financeira e profissional, passei e ainda estou passando por uma fase difícil (que está até amena pra falar a verdade), mas com a ajuda de família e amigos estou passando por isso muito bem. Tudo o que me aconteceu acabou me ensinando uma grande lição: não criar expectativas em cima de nada, absolutamente nada, não esperar nada da vida nem de ninguém, pelo simples fato de a vida não ter nada a oferecer se não experiência nela própria.


Não espere nada, não anseie por resultados positivos em provas, propostas de emprego, relacionamentos, projetos, investimentos, simplesmente não espere. Não anseie. Esperar, ansiar e acreditar cegamente em idealizações feitas por você são o caminho perfeito para a decepção total.


Afinal de contas, foi assim mesmo que me formei no Ensino Médio, sequer estudei pro vestibular e hoje estou na Federal. Parece um absurdo, mas é a mais pura verdade. Nunca mexi um dedo pra me esforçar na escola, sempre odiei cadernos e assuntos desinteressantes que nunca irei usar na vida. Nunca esperei passar em todas as matérias no final do ano, nunca ansiei por entrar na Federal quando prestei o ENEM em 2010, não esperava nada. Nem resultados positivos nem negativos, fazia por fazer, porque era uma convenção. E olhem para mim agora.


O segredo para viver bem e sem frustrações é exatamente esse.


Não espere.


Não anseie.


Não crie expectativas.


Apenas deixe acontecer.


E tenha uma boa passagem de ano (não vou desejar Feliz Ano Novo porque isso é uma bosta, é claro que você não vai ser feliz, pelo menos não a longo prazo!).


Que venha 2012, e que por favor, a porra do mundo acabe logo de uma vez.








Antonio Fernandes

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

PARTE TRÊS: APOCALYPTO 666 - RUMO A PLUTÃO!


- Tripulação para a base, tripulação para a base, a sonda enviada acaba de recolher um objeto estranho.

- Objeto estranho, capitão?

- Exato.

- E com o quê isto se parece, capitão?

- Eu nunca vi algo igual... Jamais havia visto algo parecido... Parece uma grande caixa dourada. Está coberta por detritos e gelo principalmente, provavelmente estava aqui fora há séculos, talvez milênios, é um achado histórico! É um fóssil espacial!
O clima na sala de controle era de tensão. Os homens e mulheres em uniformes brancos colados ao corpo se entreolhavam apreensivos e confusos dentro da principal base do Comando de Exploração Espacial Beta localizada exatamente no centro da Estação Espacial Cosmogony que orbitava Plutão. Era a segunda equipe de exploração enviada ao espaço pelo governo terrestre em 30 anos, a última equipe enviada teve sucesso em estabelecer a base em Marte, porém o trabalho da Equipe Beta era muito mais complexo: explorar os limites do sistema solar tratava-se de muito mais do que um passo, era um salto ornamental na história da humanidade desde que se tornou possível atravessar o hiperespaço.

Os enormes hologramas mostravam em três dimensões o que estava acontecendo lá fora, há poucos anos de distância da estação espacial, anos estes cobertos por segundos utilizando o hiperespaço como atalho: uma pequena nave desviava cuidadosamente dos enormes meteoritos que compunham a nuvem de asteroides que circunda o sistema solar sigilosamente, como sombrias criaturas espreitando na escuridão, cercando-nos aos poucos. A pequena nave possuía dois pseudópodes – braços biônicos com a terminação em garras – que traziam entre seus dedos o tesouro recém-encontrado. Como um bebê nadando para a mãe, a navezinha traçava um perigoso caminho de volta até sua matriz, onde a tripulação de exploração aguardava ansiosamente sua chegada.

A pequena nave tratava-se de um robozinho em forma de foguete com braços, programado para explorar e coletar amostras dos meteoritos que compunham o cinturão de detritos e poeira espacial que circula o nosso sistema solar. Antes um mito, agora uma realidade, todas as especulações do passado agora precisavam ser tiradas a limpo, serem esclarecidas. Grandes teorias formuladas por cientistas ancestrais a respeito do que compunha aquele cinturão de detritos espaciais teriam sua ascensão total por confirmação ou cruel queda ocasionada pela prova do contrário.

A grande nave que carregava a tripulação de cientistas e astronautas recebeu sua cria de braços abertos, e o objeto estranho recolhido por ela foi acolhido por profissionais devidamente uniformizados e protegidos contra qualquer tipo de mal que aquilo pudesse trazer. Afinal de contas, poderia ser algum elemento radioativo ou algo pior, não é mesmo?

- O objeto está sendo levado ao laboratório neste momento, senhor. Estaremos de volta à Estação Espacial em poucas horas, as outras Exploradoras ainda não retornaram.

- E quantas ainda estão soltas pelo cinturão?

- Ao todo são sete, a oitava foi a que recolheu o nosso estranho objeto. Estava muito próximo à nave-mãe, por isso o rápido retorno...

- Preciso de um relatório a respeito disso, para hoje! Enviaremos à base em Marte que o repassará à Terra assim que for possível.
TRANSMISSÃO ENCERRADA.

Por um instante, todos pareceram respirar outra vez, e toda a apreensão esvaiu-se do lugar. A sala circular de controle agora era um burburinho só.

- Você acha realmente que isso pode ser uma descoberta significativa? E se for só mais um alarme falso? – perguntou uma das especialistas.

- Não sei, ainda está muito cedo para tirarmos conclusões precipitadas... Esperaremos o resultado das análises laboratoriais deste objeto, que se for o que parece ser, causará grande estrago na ciência atual, disso tenho certeza...

Querido diário, aqui quem lhe fala é a sua, sempre sua, Hanako xD
Depois de seis meses morando na Rússia, freqüentando um tipo estranho de academia militar, finalmente estou à bordo do ônibus espacial, à caminho de Plutão! Nem acredito que vou ver as estrelas de pertinho, como nos meus sonhos! *-*

De quase um milhão de acadêmicos concorrendo às cinco vagas, eu, Pietro Heinrich, Ray Ann e Augusta Montgomery acabamos ganhando O_O’ é inacreditável! Parece até maracutaia, mas num é não, viu?! Eu juro que só vim conhecer esses três pessoalmente na Rússia, e posso dizer que a Ray Ann é uma pessoa maravilhosa, ficamos muito amigas nesse pouco tempo em que convivemos juntas... Apesar de ela parecer meio aérea às vezes, afinal eu sou assim também!

Na academia de treinamento para astronautas (assim eu a apelidei, porque o nome é complicado demais :S) nós aprendemos que Plutão se trata de um planeta-não duplo, composto por ele próprio e Caronte, algo que eles pensavam antes ser um satélite natural qualquer. Ele possui mais duas luas que o orbitam, e mais recentemente, a Estação Espacial Cosmogony que se instalou em sua órbita para fazer companhia a este solitário planetinha nos confins do nosso sistema solar *-* estou tão ansiosa!

Neste exato momento, o Professor Umbrella e mais dois moços astronautas gentis estão dando instruções sobre a viagem, aquele papo de hiperespaço que viemos ouvindo nos últimos longos seis meses ¬¬ não aguento mais ouvir falar disso! Me poupe, eu já sei que o espaço é como a casca de uma maçã e nós estamos prestes a atravessar sua popa! Se vocês querem saber, por causa desses seis meses isolada do resto do mundo naquela academia já sou quase tão cientista quanto o Professor Umbrella e esses moços astronautas gentis.

Bom, agora vamos colocar os apetrechos de segurança, que vão muito além de um cinto qualquer. Irão prender também nossos pulsos, calcanhares e cabeça às poltronas para que ninguém saia desmembrado dessa viagem, afinal de contas não queremos braços nem pernas voando por nós enquanto estivermos atravessando a “Popa da Maçã do Universo”! xDD


- Recolham, por favor, todo o seu material de bolso e mão nos pequenos compartimentos acima das suas cabeças! Não se preocupem, eles estarão totalmente seguros durante a viagem. Lembramos que não nos responsabilizamos pos disfunções em aparelhos eletrônicos não preparados para viajar através do hiperespaço!



É, essa é a minha deixa! A “astromoça” está pedindo para guardar tudo. Tudo mesmo! Da próxima vez em que eu escrever no diário, estarei linda em uma suíte de luxo com vista para Plutão e Caronte diretamente da Estação Espacial Cosmogony para a Terra! Espero que me acompanhem! Até lá!

O assustador monstro de metal apelidado “gentilmente” de Apocalypto-666 foi uma nave projetada primeiramente para emergências: caso uma catástrofe nuclear ou natural viesse a trazer consequências drásticas para a vida na Terra, os sobreviventes seriam recolhidos e levados aos pontos de lançamento deste ônibus espacial (Estados Unidos, Rússia e Japão) onde seriam enviados diretamente para a base humana que se encontra em fase experimental no planeta Marte. Esta seria a sua segunda viagem em pouquíssimos anos: o último lançamento de Apocalypto-666 havia sido feito para levar os sortudos estudantes de Astrofísica para a estação espacial quando esta ainda se encontrava orbitando Netuno.

Agora, o ônibus espacial estava indo para um pouco mais longe: para Plutão, que encontra-se atualmente no distante cinturão de Kuiper, há 8 bilhões de quilômetros do sol. Como ele faria isto era simples, como cada passageiro reagiria a isto era o grande problema.

Suas instalações internas equiparavam-se a de um cruzeiro marítimo: academia, salão de festas, sala de jantar, sala de jogos, biblioteca, videoteca, suítes e piscina comunitária, tudo para o conforto e lazer dos sortudos passageiros, que apesar de tudo, digamos que não irão aproveitar a viagem tão bem assim.

- Muito bem, pessoal, em poucos minutos estaremos fora da atmosfera terrestre, e quando atingirmos o vácuo vocês obviamente sentirão a diferença – começou o Professor Umbrella, num misto de orgulho, ansiedade e medo. – a Apocalypto-666 começará a procurar as falhas no espaço-tempo quando ultrapassarmos nosso satélite natural, a lua, já que poderíamos causar um distúrbio na atmosfera do nosso planeta caso fizéssemos isso ainda aqui! Poderíamos abrir um buraco irreversível na ionosfera e em outras camadas, o que seria desastroso! Mas, enfim, estamos à caminho de Plutão, não é mesmo?!

- Dá pra ser mais rápido? Eu to me sentindo um paraplégico todo encaixado na maca, não consigo mexer um músculo! – exclamou Pietro – alguém se lembra daquela novela pré-histórica que vez ou outra reprisava no canal dos clássicos?! Como era mesmo aquela...

- LUCIANA MINHA FILHA, FICA CALMA, NÃO CHORA! – Ray Ann começou a imitar tragicomicamente à mãe da personagem que sofrera um acidente na trama televisiva, ficando consequentemente paraplégica. Os outros caíram na gargalhada, Fábia ficou vermelha dos pés à cabeça de tanto rir, e do modo como ela estava atarracada às travas de segurança mais parecia o Chowder do clássico desenho animado (para a época deles) de tão fofinha e apertada!

- Pessoal, pessoal! Vamos acalmar os ânimos e nos preparar para a partida! – o Professor Umbrella levantou a voz um pouquinho para se sobressair às risadas. Aos poucos elas foram cessando, e a tripulação do ônibus espacial iniciou os preparativos para a decolagem. Do lado de fora, a imprensa de todo o mundo fazia alvoroço, transmitindo tudo ao vivo, passo a passo, as câmeras internas da Apocalypto estavam todas ligadas, de modo que aquilo parecia mais um reality show do que uma viagem interestelar! Nossos heróis estavam tendo seus quinze minutos de fama e nem haviam se dado conta disso porque não estavam a par de nada, estavam completamente alheios ao mundo desde que esta jornada à Plutão havia se iniciado, há seis meses atrás.

Os preparativos para a decolagem – incluindo a acomodação do Professor Umbrella à sua poltrona, já que ele insistia em ficar se levantando e perambulando de um lado para o outro falando pelos cotovelos. – duraram aproximadamente 15 minutos, tempo suficiente para que Fábia tirasse um pequeno cochilo enquanto os outros assistiam aos vídeos educativos que estavam rodando em hologramas pouco acima das suas cabeças.

Pietro aproveitou para folgar um pouco as tiras de segurança que prendiam seus pulsos para pegar um pacote de bolachas recheadas no seu compartimento de bagagem de mão. A paz reinava por alguns minutos, até que...

- Alguém quer biscoito?...

Fábia abriu os olhos imediatamente, assustando a todos como um cadáver que desperta num filme de terror.

- MEU DEUS, MENINA! QUE SUSTO! NÃO TAVA DORMINDO NÃO?! – exclamou Augusta, que estava sentada ao lado da garota.

- Não, estava só tirando uma sonequinha! – ela sorriu – e sim, eu quero um biscoito!

- Nada de biscoitos para vocês, meninos – a “astromoça” passou recolhendo alimentos, bebidas e qualquer outro tipo de objetos enquanto apertava mais as travas de segurança que prendiam as extremidades do corpo dos viajantes estelares de primeira viagem.

A partida foi muito comemorada do lado de fora do ônibus espacial acoplado ao foguete. Mas do lado de dentro foi desesperadora! É muito diferente estar numa sala de testes dentro de uma cabine de simulação e estar REALMENTE dentro de um ônibus espacial a caminho de um lugar qualquer da galáxia, é apavorante!

É também diferente a sensação de olhar a Terra do espaço da sensação de vê-la simulada na janela de uma cápsula apertada em algum laboratório qualquer da Rússia. A emoção é indescritível. Tudo parece tão novo, tão belo e tão azul!

E passar pela Lua então? Alguns dos meninos juram que viram o Professor Umbrella derramar algumas lágrimas. Eles passaram tão perto dela! Quase podiam tocá-la se quisessem, e viram suas crateras e sua cor alva e delicada. Não parecia em nada a Lua amarelada que vemos aqui da Terra.

- Procurando falhas no espaço-tempo – disse uma voz aos seus ouvidos, nos fones. Todos a ouviram, e entraram em apreensão imediata! O desespero bateu no mesmo instante, os corações aceleraram, lágrimas misturaram-se ao suor do nervosismo iminente. Todos ficaram pálidos feito a Lua pela qual haviam passado há pouco! – BURACO DE VERME ENCONTRADO, ACELERAR PARTÍCULAS, HIPERESPAÇO ATIVADO!

Imagine ser esticado como uma goma de mascar. Imagine sentir seu estômago elástico como uma liga de borracha e seu cérebro apequenar-se ao tamanho de uma avelã. Imagine um princípio de cãibras em cada um dos músculos de seu corpo, até mesmo onde você sequer imaginava que eles existiam: pálpebras, língua, orelhas, pescoço, peitos, e por último um repuxão no topo da cabeça, como um arrepio. Todos os cabelos da sua cabeça virando em uma única direção como um girassol em busca da estrela-mãe. Era como ser sugado por um grande aspirador de pó e cuspido de volta em instantes. Segundos que pareceram horas, horas que pareceram semanas, semanas que pareceram meses. Uma vida inteira esticada e retraída em milésimos. Foi exatamente isto.

Os sacos de vômito caíram imediatamente sobre os passageiros, em sincronia eles o abriram e vomitaram tudo o que haviam comido antes de embarcar! E se não houvessem comido nada seria muito pior: colocariam para fora todo o suco gástrico!

Olhar pela janela do ônibus espacial teve o impacto do choque de uma facada no estômago, um frio na barriga inexplicável, um deslumbre, um deleite e ao mesmo tempo um desespero, um pavor, um medo inominável. Eles estavam a oito bilhões de quilômetros de casa. 20 anos de distância num tempo normal.

Plutão, Caronte, Hydra e Nix dançavam ao longe, entre novas estrelas, novas constelações, como quatro luas, quatro ninfas, quatro deusas perfeitas e ctônicas num ballet silencioso. O silêncio dos deuses. O silêncio dos limites do sistema solar, o silêncio de onde o território humano acaba para dar lugar ao instigante e apavorante desconhecido inexplorado e inexplorável.

Muito mais próximo que aqueles objetos ancestrais feitos de poeira, metal e gelo, uma anomalia flutuava como um cisto cintilante na escuridão entre as estrelas.
Era um enorme cilindro repleto de pontos luminosos amarelados, azulados e avermelhados, seus olhos, suas janelas. Aquela coisa era circundada por três anéis artificiais: dois de raio menor e outro de um raio quilométrico colossal que o abraçava pelo meio enquanto os menores circulavam as extremidades. Estes anéis brancos de reflexo prateado também possuíam olhos como o cilindro ao qual circundavam, muito mais brilhantes que os da matriz.

- Estes anéis são as instalações – lembrou Ray Ann – quartos, quadras, piscinas, cinemas, museus, pequenas vilas...

- E o cilindro – continuou Fábia – são os laboratórios, as salas de reunião, as salas de controle...

- Bem vindos à Estação Espacial Cosmogony, pessoal! – fez o Professor Umbrella através do seu microfone, para que toda a tripulação ouvisse – bem vindos à órbita de Plutão!






Continua...



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

PARTE DOIS: HIKIKOMORI EM FUGA!



- Arquiduquesa Hikikomori, filha de Sybila Alethea, a bruxa traidora do império, o que tem a dizer a seu favor? – perguntou a estranha anã magricela assentada em seu trono de ouro flutuando acima de todos na assembleia. De sua testa um par de cornos bovinos esticava-se para fora lhe proporcionando um ganho de altura desproporcional ao tamanho de seu corpinho. Entre os chifres, uma chama alaranjada bruxuleava.

- Nenhuma palavra direi, Aib’somar, além da mais pura verdade: o Cavaleiro Intergaláctico logo estará entre nós, e ele encontrará a Caixa Dourada como minha mãe predisse um dia, este dia está tão próximo quanto a chama que arde entre teus cornos! – bradou a incrivelmente alta mulher. Esta era um monumento, totalmente o oposto de sua repressora: Hikikomori possuía exatamente dois metros e vinte centímetros de altura, logos cabelos negros escorridos que lhe batiam pela cintura e uma estranha placa triangular prateada que pairava atrás da sua cabeça como uma auréola. Fazia parte da cultura de seu povo, todas as Sybilas deveriam passar pelo mesmo processo: conectar sua alma ao universo através daquele estranho objeto, que pairaria para toda a eternidade logo atrás da cabeça, emitindo um brilho espectral infinito. Seu corpo estava enlaçado por longos cordões de pérolas, sua nudez era tapada por apenas um triângulo invertido, enquanto seus mamilos eram ocultados por dois pequeninos cones de borracha salientes. Uma deusa interestelar.

- CALÚNIA! – exclamou uma criatura semelhante a um roedor verde pelado, encarquilhado e encolhido em seu manto branco, esticando seus asquerosos e longos braços que terminavam em três garras como a pata de um papagaio.

- MENTIRAS! – gritou uma criatura feminina, detentora de longo pescoço de girafa com a terminação em uma estranha cabeça felina de olhos amarelos. Suas membranas coriáceas que ligavam o dedo mindinho aos calcanhares vibraram de nervosismo.

- CALADOS, SEUS BASTARDOS – urrou Aib’somar, a pequena Arquiduquesa magrela com chifres de boi. De todas as criaturas com certeza ela parecia a mais estranha, um pequeno gnomo vestido em manto branco de pele amadeirada, nariz arrebitado e dentes de coelho. Seu cabelo tinha cor de cobre, tão liso quanto os de Hikikomori, mas esta era a única semelhança entre as duas. – apesar deste zoológico me irritar profundamente, eles têm toda a razão, Hikikomori querida. Quando juntou-se ao exército da Imperatriz Azura de Shantrya prometeu fidelidade total à ela até o final de sua existência, foi submetida a terríveis testes de vida ou morte nos Pilares da Criação e provou sua fidelidade ao Império com honra... Mas agora, o que vejo?! Você tornando-se uma traidora como sua mãe! E você JUROU que não era igual a ela!

- E EU NÃO SOU!

- É SIM! É SIM DE TODA CERTEZA! – Aib’somar levantou-se de seu trono e desceu flutuando até Hikikomori, que estava sendo contida por dois androides sem face do exército mortal. Aquelas criaturas eram feitas de uma estranha liga metálica encontrada apenas nas regiões mais inóspitas do universo, como berçários de estrela semelhantes à Nebula Carinae, e podiam assumir a forma que bem entendessem quando fosse necessário, transformar seus braços em armas ou se agruparem até formarem uma unidade seis vezes maior que eles não passava de brincadeira para aquelas coisas. – todas as Sybilas são iguais, todas! Vocês são falsas, ludibriosas e libidinosas! Criadas em templos e mosteiros intergalácticos, em luas inóspitas, treinadas para mentir, para controlar as forças ocultas do universo, para serem bruxas, feiticeiras!

- CALE A BOCA! – urrou a prisioneira, e seu urro de leoa ecoou por toda a assembleia circular. As constelações estranhas que banhavam aquela estranha versão do Coliseu de Roma pareceram tremer diante da fúria da Sybila – eu ainda sou uma Arquiduquesa! Eu ainda tenho minha autoridade, e pela legislação e regulamento estabelecido há milênios atrás pela Imperatriz Azura de Shantrya, eu AINDA SOU SUA SUPERIOR, AIB’SOMAR, VOCÊ DEVE RESPEITO A MIM!

Aib’somar gargalhou alto, jogando a cabeça pra trás freneticamente e depois voltando-se para seus congregados, convidando-os a acompanhá-la naquele riso debochado e sórdido. As outras criaturas alienígenas imediatamente começaram a rir também, até que a assembleia inteira estava contagiada por gargalhadas revoltantes e odiosas.

- CHEGA! – gritou a chifruda, interrompendo sua risada teatral no meio e fazendo calar toda uma multidão com uma mínima exclamação, sinal de que era temida e respeitada. Aproximou-se mais ainda de Hikikomori, com um sorriso maldoso no rosto.

Era patética a comparação entre as duas: Aib’somar não chegava nem à metade das canelas de Hikikomori em altura, seus chifres davam o ganho de alcançar a metade da barriga da Sybila, mas mesmo assim ainda era uma cena ridícula. Até os androides metamorfos eram mais altos que sua soberana e mais ameaçadores que ela. – Pobre, poooobre Hikikomori! Acha mesmo que nossa Imperatriz liga pra você? Que se importa com você ou com a sua autoridade?! ELA TE DESPREZA! Assim como eu e toda a corte d’Os Nove! Se ela estivesse desperta nesse exato momento, estaria rindo da sua cara votando a favor da sua condenação! TRAIDORA DO IMPÉRIO!

- Ele vai chegar, e vai abrir a caixa, e vai encontrar o coração, e vai amá-lo por guardar tanta dor e tanta solidão. Vai encontrar a metade de sua alma que faltava! Uma única alma foi dividida em duas no nascimento deste universo, e voltará a ser uma só! O Império logo cairá! – ela respirou fundo, e seus olhos que eram de um negro profundo tornaram-se cinzentos como uma tempestade. Era assim que se distinguia o momento em que uma Sybila fazia uma profecia – E VOCÊ NÃO SERÁ NADA ALÉM DE POEIRA ESPACIAL, ARQUIDUQUESA AIB’SOMAR!

- JÁ CHEGA! PRENDAM-NA! LEVEM ESTA TRAIDORA DAQUI! – as chamas entre os cornos da anã chifruda dobraram de tamanho em arderam e fúria meteórica, mas nem isto foi o bastante para deter Hikikomori. Ela era uma Sybila, ao longo de sua vida inteira fora treinada para controlar a matéria através de anos inteiros de meditação, transes que duravam eras. Foi assim que ela fez os indestrutíveis androides metamorfos liquefazerem-se ao seu lado, deixando seus pulsos livres para que ela corresse.

O estranho e futurístico coliseu tinha suas arquibancadas sustentadas por enormes arcos abatidos, e foi através deles que Hikikomori correu, esquivando-se dos androides que iam surgindo no caminho, daqueles que tentavam impedi-la de escapar, de frustrar seus planos de fuga. Logo, os gritos e urros de indignação da assembleia foram ficando para trás, e os brados furiosos de Aib’somar cada vez mais distantes. Mas isto não era motivo para alívio algum. Cercando-a pelos lados e por trás vinham batalhões inteiros de androides metamorfos do exército mortal, fechando o cerco ao redor dela, deslizando nas sombras, mudando de forma, aproximando-se e unindo-se numa massa disforme e elástica, moldando-se no corpo de uma enorme serpente prateada com olhos de fogo e presas letais. Ela rastejava furiosa entre os pilares de sustentação da estrutura do coliseu, caçando seu rato, caçando sua presa.

- Eu não permitirei... Jamais! – rosnou ela, aumentando sua velocidade, correndo o mais rápido que podia, para as luzes da saída, para as luzes do estranho mundo onde ela fora capturada pelo exército de Aib’somar, traída pelo seu próprio batalhão de androides designados para servir a ela e somente a ela. Metade desta corja vinha atrás dela em perseguição incorporados na serpente prateada. Ela não seria capturada assim, uma Sybila jamais desiste sem lutar, uma Sybila sabe ser um monge mas também pode ser uma amazona!

Assim, Hikikomori lançou-se através de um dos arcos de saída, que eram escassos ali, e em queda livre viu-se indo em direção ao chão, planando acima de uma cidade de estranha arquitetura, onde domos de vidro e pirâmides de pico arredondado dominavam a paisagem até o horizonte, a perder-se de vista. Onde as luzes eram de um violeta forte e as bizarras construções, em azul-turquesa e verde marinho; grandes e grossas pilastras brancas despontavam em direção ao céu no meio daquela utópica metrópole onde as ruas não passavam de enormes linhões e cabos que cruzavam a paisagem por cima dos prédios, sustentados por estruturas frágeis, vias de locomoção usada por esferas coloridas, o meio de transporte daquele povo.

A serpente prateada também lançou-se atrás da Arquiduquesa renegada, e em plena queda dividiu-se em milhares de estranhos seres cuja tipologia física lembrava muito um morcego. Logo aquilo tornou-se uma nuvem de coisas prateadas voadoras cujo bater das asas lembrava o som de lâminas de tesoura raspando uma na outra. Hikikomori não hesitou dessa vez e fez o que deveria ser feito. A auréola triangular que pairava logo atrás da sua cabeça emoldurando o seu rosto dobrou de tamanho, esticando-se para as suas extremidades até que tomasse a forma de uma enorme asa-delta, e com a ajuda daquele meio de transporte improvisado, Hikikomori planou sobre a capital daquele planeta desértico em plena noite. O frio era cortante. Se Yura já era quente por orbitar Aldebaran mesmo à distância, imagine aquele inferno de dia!

- Preciso escapar deste lugar, preciso encontrar uma maneira... Uma forma...

Com a nuvem de tesouras voadoras em seu encalço, a solução caiu do céu, literalmente: uma MiniBat 3000 passava voando por ali naquele exato momento. Nave para turistas que não pretendem fazer viagens muito longas através dos atalhos de hiperespaço, mas ainda assim a melhor de todas as soluções para aquela situação emergencial e desesperadora. Hikikomori planou ao redor dela, desceu sobre o meio de transporte interestelar e rendeu a família de estranhos seres humanoides com asas de morcego que ocupava-o.

- Me perdoem, mas acreditem em mim, é por uma boa causa! – colocou-os para dormir com a ajuda de seus poderes paranormais e estourou uma das pérolas dos cordões que a envolviam, formando uma bolha gigantesca e artificial imediatamente, onde pôs a família com cuidado soprando-a para longe. A nuvem de tesouras assassinas já se aproximava. – hasta La vista, baby!

E com um enorme sorriso no rosto, a ex-Arquiduquesa, agora inimiga número 1 do Império, ativou o dispositivo de viagem acelerada e forçou a falha mais próxima no espaço-tempo para atravessar o buraco de minhoca, deixando o estranho planeta artificial que orbita à distância a gigante vermelha Aldebaran para trás...

- Preciso encontrar o cavaleiro... Eu vou encontrar o cavaleiro! – aos poucos, a constelação de Touro foi desaparecendo às suas costas no hiperespaço. Hikikomori teve vontade de parar para admirar o aglomerado das Plêiades no meio do caminho, já que ele parece muito menor naquela versão compacta do universo chamada hiperespaço. As estrelas que o compõem não passam de um mero e belo conjunto de lâmpadas admiráveis ali, uma verdadeira obra de arte da natureza. Mas ela tem uma missão a partir de agora, e ela vai até o fim, mesmo que sua vida dependa disso.

- Alteza – fez uma criatura com corpo de foca e cabeça de bagre em reverência – a Arquiduquesa Hikikomori conseguiu escapar, infelizmente nosso exército não foi páreo para a esperteza de uma Sybila.

- Deixe Arganack, deixe que ela acredite que está livre, deixe que ela pense que escapou! Faço questão de caçá-la pessoalmente, nem que eu tenha de ir até os cantos mais escuros deste universo! Nem que eu tenha de atravessar o Multiverso! Hikikomori morrerá pelas minhas mãos! – ela virou-se para a criatura que ainda a observava com seus olhinhos perolados negros – prepare o exército, escolha as melhores naves do Império, vamos partir amanhã mesmo!

Continua...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PARTE UM: PROFESSOR UMBRELLA!



- Existem enormes, colossais bancos de Matéria Escura espalhados por todo o universo, mas o que eu preciso que vocês entendam, antes que tirem conclusões precipitadas, meninos, é que isto não se trata de algo sobrenatural ou perigoso... Perigoso talvez seria se uma grande massa desta matéria desconhecida entrasse em nosso sistema solar, isso provocaria imediatamente alterações nos campos gravitacionais e nas órbitas dos planetas...

Uma garota na primeira fileira levantou a mão, o professor fechou os olhos delicadamente e acenou com a cabeça concedendo a permissão.

- Mas Professor Umbrella, do que se trata essa Matéria Escura afinal? Tanto ouvimos falar dela em quase todas as aulas do curso e pouco compreendemos do que se trata! Quanto mais falam, menos entendemos! – a garota era uma das mais “perguntonas” do curso, o professor de astrofísica com doutorado em cosmologia Christopher Umbrella tinha todos os motivos para explodir o monitor da primeira fileira que mostrava o rosto daquela jovenzinha rechonchuda de cabelos lisos e violeta-opaco. Mas havia algo que o impedia (fora o fato de ser contra a lei destruir o patrimônio da universidade), como por exemplo, o fato de ela ser meio-nipônica e ter os olhinhos levemente puxados.

- Então, Fábia... não é isso? – ele procurou apoio juntando as mãos diante do peito.

- Hanako, professor, Hanako!

- Tudo bem, “Hanako” – Hanako era apenas um codinome de Fábia Paola, mas ela insistia em ser chamada por ele. – para lhe ser sincero, minha cara, nenhum de nós saberia explicar do que se trata a Matéria Escura... Até o presente momento, com pouco menos de seis meses para a virada do século, não foram feitos avanços na tentativa de desvendar a Matéria Escura. Suas origens, suas funções, seus componentes, nada, absolutamente nada foi descoberto, tudo o que sabemos é que ela está lá fora, acumulada no que chamamos de “pontos de baixa pressão”, em outras palavras, pontos onde a Energia Escura se acumula, energia negativa...

“Mas o que eu quero que vocês entendam é que a Matéria Escura é conhecida assim por se tratar de trevas, quase uma escuridão física, não reagindo a nenhum tipo de luz ou radiação. Mesmo assim sabemos que ela está lá, por causa do comportamento das galáxias e estrelas que a rodeiam. Assim como corpos celestes normais causam depressões no espaço que atraem todo o tipo de matéria que “flutua” ao redor, a Matéria Escura faz o mesmo. Meu próximo livro a ser lançado no ano que vem vai tratar de um assunto relacionado a isto, há alguns anos venho formulando a teoria de que os buracos negros são resultado do acúmulo de Matéria Escura superconcentrada, criada no momento em que a energia liberada pela supernova recua, mas isto é assunto para a próxima aula!”

- Quer dizer que estamos liberados? – perguntou a desanimada Ray Ann, outra garota de cabelos curtos, magricela, cujo rosto sempre aparecia num dos monitores das últimas fileiras, por ligar a webcam das videoconferências sempre atrasada.

- Por enquanto, estão sim! – sorriu o Professor Umbrella.

Os monitores desligaram quase todos ao mesmo tempo, e por um único segundo, o Professor Umbrella sentiu saudades dos tempos em que os níveis das bancadas eram ocupados por corpos de verdade, pessoas de verdade, que andavam e falavam e interagiam com ele de verdade. No fundo, bem lá no fundo, toda essa tecnologia e essa comodidade o incomodavam violentamente. Quase todas as universidades do mundo estavam adotando aquele método de ensino friamente bizarro: os alunos ligam seus computadores e assistem às aulas na comodidade das suas casas, através de videoconferências ou aulas gravadas. Mas e o contato professor-aluno? E as relações humanas? Como era possível desenvolver qualquer tipo de relação com enormes telas de LCD onde os rostos dos alunos eram exibidos simulando as suas presenças? Coisas da nova era...

A Neon City do ano de 2099 d.C. era uma cidade pacata e harmoniosa, exceto por uma incidência de assaltos elevada comum aos grandes centros urbanos, principalmente nestas grandes megalópoles, padrão em que esta selva de neon colossal se encaixava. A cidade fora projetada primeiramente como um enorme campus universitário em meio à selva amazônica, um centro ultra tecnológico com o foco voltado para pesquisas científicas que iam desde bioquímica a astronomia. Grandes laboratórios e observatórios foram montados ali, além de vilas e cidadelas inteiras compostas de luxuosos imóveis e complexos de edifícios para alojar estudantes, professores e turistas que vinham de muito longe conhecer a maior Universidade do mundo! Catalogação de novas espécies, desenvolvimento de vacinas, descobertas de exoplanetas e galáxias distantes, construção de protótipos de cérebros artificiais e androides inteligentes, cura para certos tipos de câncer, manipulação de vírus e até mesmo lançamento de satélites experimentais, além do maior acervo bibliotecário científico do planeta. Tudo aquilo era possível, tudo aquilo era real, tudo aquilo era parte da Universidade Mundial Sul-Americana, ou apenas UMA.

Aos poucos, aquele pequeno recanto de gloriosas descobertas revolucionárias para a história da ciência, que até então só possuía acesso através de vôos matinais e noturnos além de balsas que atravessavam diariamente o enorme delta do Amazonas foi se tornando uma cidade. Graças aos investimentos vindos diretamente da ONU e aos doutores e acadêmicos que decidiram ficar para sempre, montar residência fixa e viver para os estudos e descobertas, aquilo que mais tarde ficaria conhecida como “Neon City” por causa das suas luzes e cores foi crescendo e tomando proporções inimagináveis até então. Tudo em perfeita harmonia e sustentabilidade com o meio-ambiente, respeitando a natureza acima de tudo, através da energia renovável gerada pela luz solar e pelas grandes fossas subterrâneas e os projetos de arborização e preservação da mata nativa. Fora o centro universitário que ficava à beira-rio, o restante da megalópole que havia se desenvolvido na periferia era praticamente uma selva, onde as casas foram projetadas para coexistir em harmonia total com as árvores e os animais.

E quando a economia mundial finalmente entrou em colapso e ruiu, Neon City tornou-se a maior de todas as apostas, e o número de imigrantes aumentou assustadoramente! O mundo inteiro estava se mudando para lá! Aos poucos, a cidade foi se tornando um antro misto de ciência, arte e cultura, referência mundial em planejamento sustentável e desenvolvimento anti-predatório. Neon City, seus planejadores e seus governantes tornaram-se um exemplo para as demais cidades do mundo, e logo aquilo tornou-se capital mundial, o centro cosmopolita do planeta, um mix de culturas e nações através de um processo lento e complicado, mas que tornou-se verdadeiro. Esta é a realidade. A realidade do Estado do Amapá em outra dimensão, numa realidade alternativa onde o curso da história seguiu outro ramo naturalmente...

Nesta realidade alternativa, Christopher Umbrella é um simples professor universitário que está prestes a mudar seu destino em conjunto ao de seus alunos de uma maneira inacreditável, e isto começa hoje.

- Bom, pessoal, como professor de vocês, tomei a liberdade de inscrever a turma num concurso de bolsas! – ele junto as mãos diante do peito outra vez, como sempre costumava fazer sempre, quase um cacoete. Era o modo pelo qual ele havia conseguido, há muito tempo atrás, encontrar apoio em si mesmo para ministrar suas aulas sem ter uma síncope diante de quase sessenta rostos todos voltados para ele (em telas de LCD ou não) todos ao mesmo tempo. Ainda restava um pouco do pavor de plateias, muito bem controlado, logicamente.

- Mas professor, acho que o senhor está meio atrasado... – começou Augusta Montgomery, uma garota que quase sempre estava passando mensagens de texto pelo tablet, ela sequer disfarçava, sempre aparecia na tela do monitor de cabeça baixa, teclando. Tinha os cabelos lisos e escuros e a pele levemente queimada, às vezes costumava usar lentes verdes com as quais ficava realmente muito bonita – Acho que o concurso que sorteia bolsas entre os alunos da universidade já aconteceu... Há nove meses atrás.

Os outros alunos deram risinhos, que saíram dos alto falantes dos monitores como ruidosos chiados.

- Não, não, Augusta! Não tem nada a ver com o concurso de bolsas da universidade! – ele riu, nervoso, abanando o ar – o Centro Avançado de Pesquisas em Astrofísica tem um convênio com o governo russo, de modo que estão sempre recebendo verbas e propostas realmente valiosas... Quase todos os técnicos, astronautas, cientistas, operadores e pesquisadores residentes atuais da Estação Espacial Cosmogony, que atualmente está orbitando Plutão para os desinformados, tiveram diplomas daqui, ou seja, se formaram na UMA! O que quer dizer que e os russos meio que tem uma “dívida” conosco, então este ano, e somente este ano, eles estão oferecendo bolsas para os formandos cursarem o último ano no espaço!

O choque foi total e fatal. Todos estavam estáticos, e não demorou muito para o burburinho começar: como os monitores eram controlados à longa distância e poderiam mover-se em 360 graus de acordo com a vontade do conferente, os alunos poderiam conversar entre si à vontade, de modo que as telas funcionavam como extensões das suas cabeças. Neste exato momento, os monitores pareciam verdadeiros ventiladores, girando loucamente de um lado para o outro.

- O que o senhor quer dizer com isso?! – exclamou Pietro Heinrich, um jovem afro-americano alto e corpulento que quando não estava passeando em frente à webcam, estava dormindo em sua escrivaninha na frente do notebook ao invés de prestar atenção na aula. Apesar disso, era um dos alunos favoritos do Professor Umbrella, pelas perguntas interessantes e relevantes que costumava fazer quando não estava dormindo – NÓS VAMOS PRA ESTAÇÃO ESPACIAL? TIPO ESPAÇO? VAMOS PRO ESPAÇO MESMO?

- Pessoal, por favor, tenham calma, vocês não me deixaram terminar ainda!

- Ai, já imaginou a gente no espaço?! Que foda! Será que me deixariam ter minha própria nave espacial?! Sempre quis ter uma! – Fábia Paola já estava toda descabelada na frente da webcam, se sacudindo feito uma louca com os punhos fechados em frente à boca e o rosto gordinho vermelho de excitação. – se eu for escolhida, quero uma suíte com uma parede toda de vidro! Quero ter a melhor visão possível das estrelas! Sou louca por elas! – seus olhos brilharam.

- Eu só quero meu sabre de luz, que nem Luke Skywalker, só isso – fez a desinteressada Ray Ann, com a mão apoiada no queixo.

O burburinho foi se aquietando aos poucos.

- Ótimo. – ele respirou fundo – inscrevi a turma de vocês no concurso com o intuito de que todos fossem, mas após ler o edital com mais clareza, descobri que tinha deixado algo passar batido: há apenas uma única turma lá “em cima”, formada por acadêmicos do mesmo curso que vocês prestes a entrar em seu último ano, turma esta da qual apenas quatro alunos desistiram e resolveram voltar para a Terra. Por este motivo as quatro vagas foram abertas à quatro sortudos que, creio eu, sairão daqui desta sala! Tenho certeza!

A desanimação foi geral. Suspiros, estalos de língua, muxoxos, reviradas de olhos massificadas quase em sincronia, bufadas e exclamações de indignação se misturaram numa sopa de desapontamento que despejada pesadamente na face do professor, atacou sua consciência, que havia, sem querer, dado esperanças àqueles jovens cheios de expectativa.

- Não fica assim, gente, tudo bem? – ele próprio respirou fundo e fechou os olhos de braços cruzados, cansado e um tanto desapontado também. – vamos nos distrair um pouco e retomar a aula de hoje, ok? Vamos falar sobre buracos de minhoca, afinal de contas, não há outra maneira de chegar até Plutão... a não ser que vocês queiram passar 20 anos em sono criogênico!


Continua...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O PRÓLOGO DE AZURA!


Esta é a história de uma princesa. Mas não uma princesa comum, não uma princesa qualquer. Seu castelo não fica entre campos verdejantes salpicados de flores coloridas e árvores frondosas, onde os coelhos fazem das raízes suas tocas. Não.

O castelo de Azura – este era o nome da princesa – ficava no vazio, flutuando no espaço, cercado por densa poeira cósmica e inúmeras estrelas brilhantes, tão brilhantes quanto os mais preciosos diamantes. Seu reino, que ela herdara de seus pais pouco antes dos dois morrerem em um trágico acidente atravessando o campo magnético de um sistema solar distante, se estendia por grande parte do universo, e resumia-se a cadeias inteiras de sóis e planetas – habitados ou não – galáxias e cinturões de asteróides. Muitos buracos negros também se encontravam em seus domínios, e Azura administrava tudo isto com a calma e paciência necessárias para lidar com este tipo de situação. O universo era bem vasto, metade dele era seu, e para cuidar de um território tão colossal eram necessários intrincados sistemas de governo: secretarias, departamentos, principados e monarquias.

Todos eles eram leais ao legado dos pais de Azura, todos eles eram leais a ela.
Mas Azura sentia-se muito solitária, muitíssimo solitária, apesar de viver cercada de pessoas o tempo inteiro que lhe davam a mão para praticamente tudo e lhe serviam de apoio nas horas em que ela mais precisava. Mesmo assim, algo sempre estava faltando o tempo inteiro.

Segundo a lenda, Azura tinha uma jóia para cada planeta conquistado em seu nome. Juntas elas enchiam um salão inteiro da sua gigantesca nave, e o mesmo valia para os vestidos: closets que eram verdadeiros corredores repletos das peças mais distintas e elegantes da moda intergaláctica. Dizia-se o mesmo também dos tesouros e pertences que ela tinha em mãos, Azura era uma princesa intergaláctica extremamente rica, e nenhum de seus pertences foi comprado por ela, todos eles, sem exceção, haviam lhe sido presenteados. Até a grande nave na qual sua corte cruzava o espaço fora lhe dada de presente pela Casa Real no último encontro entre as famílias. O que significava que a quantia de riquezas em nome de Azura extrapolava os limites da imaginação de qualquer um, isso inspirava muito respeito dos outros seres habitantes das galáxias que seu império comandava.

Mesmo assim, Azura sentia-se constantemente desamparada, solitária, amargurada, chorando dores do passado e dores que ainda viriam, sofrendo por guerras que eclodiram e que eclodiriam. Tinha o coração muito bondoso e gentil para suportar qualquer tipo de mal alheio, pobreza e doença deixavam seu coração partido em mil pedaços, Azura era um alguém realmente muito bom, e as pessoas não conseguiam entender porque ela estava sozinha o tempo inteiro. Quem a conhecia pessoalmente passava a lhe admirar imediatamente, pela sua personalidade, pela sua aparência, pelos seus gestos, pelas suas opiniões, pelo seu jeito de lidar com as pessoas, ela era um ser admirável, uma criatura amabilíssima, por este motivo as pessoas não conseguiam entender porque ela estava sempre sozinha.

Era uma moça inteligente, culta, dona de uma biblioteca assustadoramente gigantesca que ocupava alas inteiras do cruzeiro espacial onde a corte residia, se vestia bem, era bela e incrivelmente alta, tinha as formas bem definidas e fartas, além de cheirar como uma mesa repleta de doces. Mas nada disso parecia atrair os cavalheiros intergalácticos. Incrivelmente os homens não davam a mínima para ela, lhe admiravam, lhe respeitavam, nutriam muitas vezes um carinho especial pela sua imagem, mas não a ponto de amá-la como uma dama merece ser amada. Isso fazia com que as pessoas se perguntassem o que havia de errado com a Princesa Azura, que era quase uma divindade encarnada, e se destacava entre as outras de maneira que nenhuma outra criatura poderia roubar-lhe o brilho, era rica, era culta e era distinta. O que estava errado em Azura? Porque ninguém a desejava?

Cansada de sofrer em sua solidão eterna, Azura certa vez, enquanto a nave imperial cruzava um cinturão de asteroides que cercava lentamente um enorme buraco negro, pediu ao Real Cirurgião Eliakim que servia à corte muitos éons antes de Azura nascer, que lhe retirasse o coração do peito e o trancafiasse numa caixa dourada com lacre de diamante. Desta maneira, nada nem ninguém no universo poderia abri-la. Reza a lenda que a caixa era como um dado enorme possuidor de 36 faces diferentes, uma para cada coração partido que a Princesa Espacial Azura guardava em sua memória e alma, e seu lacre cintilante tinha o exato formato de seu coração.


O Real Cirurgião Eliakim questionou ferrenhamente aquela decisão, criatura nenhuma no universo inteiro sobreviveria sequer um segundo sem um coração, Azura morreria deixando um império milenar órfão de sua única e amada princesa! A Princesa por sua vez apenas riu tristemente e disse-lhe que sabia o que estava fazendo, certa de sua decisão, afirmou que apesar de sua pouca idade era possuidora de conhecimentos ocultos muito mais antigos de que qualquer império espacial, e saberia a maneira certa de continuar viva sem um coração que lhe bombeasse o sangue. O importante era não mais sentir, o importante era tornar-se oca, vazia de sentimentos, para que a solidão não a perfurasse tanto e lhe trouxesse esta dor sem fim, que parecia só se prolongar ao longo dos séculos.


Isso porque as pessoas no espaço vivem muito mais do que as pessoas na terra, elas podem hibernar durante eras e acordar milênios no futuro, para elas será como se uma sesta de 30 minutos houvesse passado – e por isso, ela preferia viver sem um coração, para que a dor não parecesse sem fim.


Sendo Eliakim o cirurgião a serviço do império e consequentemente fiel às ordens de sua Princesa, ele jamais poderia lhe negar algo que ela pedisse com tanta convicção, e assim foi feito. Azura teve seu pedido atendido, seu coração retirado e trancafiado na caixa.


Assim que o peito de Azura tornou-se vazio, algo negro, pastoso e sem vida escapou do buraco negro pelo qual o cruzeiro espacial passava próximo, era de consistência grudenta como asfalto e odor repugnante, atravessou o cinturão de asteroides se espalhando no espaço como um fungo e alcançou a nave em questão de segundos. Aquela coisa maligna e odiosa criou vida no exato momento em que conheceu a luz, fora do buraco negro em que habitava, e ao sentir a existência de outro lugar vazio tão profundo e doloroso quanto o sepulcro da estrela onde vivia, ele invadiu a nave e espalhou caos até encontrar sua nova morada: o buraco onde antes estava o coração de Azura.


Lá ele se alojou, e antes do último suspiro da Princesa, ele a dominou por completo e a despertou de sua quase-morte, tornando-se tão parte dela quanto ela própria, e em poucos segundos os dois eram um só, corpo e alma. Não havia distinção entre Azura e o mal agora.


A Princesa despertou da morte totalmente diferente de como havia partido: sua pele tornou-se quase transparente, suas veias tomaram a tonalidade violeta e estavam tão marcadas na pele que pareciam raízes de alguma planta parasita terrível enlaçando braços, pernas, peito e rosto. Seus olhos dourados agora eram de um púrpura profundo e cintilante, sua expressão sempre doce e dolorida havia dado lugar a algo pretensioso e maldoso. Já não era mais Azura, e seu império não fora mais o mesmo desde aquele dia.


As guerras frias eclodiram, o império foi devastado, os planetas foram explorados até o último recurso natural. Seus súditos foram escravizados do mais velho até o mais jovem, postos para trabalhar em pedreiras estelares espalhadas pelo universo inteiro, luas e planetas habitados foram virando desertos aos poucos, e as criaturas que antes viviam neles foram escolhidas a dedo para habitarem planetas usados como zoológicos cobertos por selva de um pólo ao outro.


Azura também mandou construir um exército de estranhos androides que pareciam ter a mesma consistência da Matéria Escura que havia tomado o lugar em que seu coração habitava. Estes podiam assumir a forma que quisessem no momento em que desejassem, e jamais poderiam ser destruídos, a forma verdadeira destas criaturas era como uma estátua móvel de chumbo líquido e ambulante, algo pavoroso. Para controlar este exército, Azura nomeou Os Nove, para os quais ela deu o título de Arquiduques das Trevas, e para cada um deles ela deu terça parte de seu exército artificial, sobrando ainda milhões em seu poder.


Mais tarde, veio a descobrir-se que a Matéria Escura está espalhada por todo o universo e se acumula em pontos de “baixa pressão”, onde há muita energia negativa concentrada. O espaço vazio deixado pelo coração da princesa foi fruto da mágoa, e por isso foi ocupado e tomado pela Matéria Escura...


A Casa Real – que era composta por milhares de famílias da realeza espacial – uniu forças para tentar derrotar Azura e seus Arquiduques... sem sucesso. Cada um dos braços da realeza intergaláctica foi erradicado dos quatro cantos do universo, e seus descendentes e herdeiros foram caçados e mortos assim que localizados, um a um. É claro que este trabalho durou milênios, e enquanto o império cruel da nova Azura se alastrava como uma sarna demonstrando poder e mão de ferro por todo o espaço sideral, planetas inteiros foram ruindo, desaparecendo, morrendo, tornando-se nada mais nada menos que pedra flutuante em meio ao vazio. Sistemas solares inteiros foram mortos.


E então a história da princesa que trancafiou seu coração numa caixa dourada e lançou-a no espaço tornou-se um mito nos quatro cantos do universo, a lenda da doce e bondosa princesa que virou a maléfica e cruel imperatriz das trevas após ter o vácuo em seu peito transformado na morada da Matéria Escura. Durante milênios a fio, Azura da Família Real Shantrya dominou com mão de ferro grande parte das constelações e galáxias que já estavam em seu poder antes, e também as que foram conquistadas depois, até que ela simplesmente desapareceu, sem deixar vestígios.


A grande nave usada como palácio, o Cruzeiro Espacial Frontier Δ (Delta) nunca mais foi visto, e os nove Arquiduques também evaporaram sem deixar vestígios, embora seus exércitos e sub-generais tenham continuado a exercer o seu poder e representá-los em cada planeta conquistado...


Reza a lenda, que a Caixa Dourada que contém o Coração de Azura vaga pela imensidão do universo sem rumo, e pode ser vista como um cometa de cauda arco-íris quando entra em contato com a atmosfera dos planetas que cruzam seu caminho. Há quem diga também que a viu perdida entre os escombros de um planeta extinto, nos limites de um sistema solar abandonado, nas proximidades de Alpha Centauri, onde antes funcionava a principal pedreira do império de Azura.


Os mais otimistas e fantasiosos acreditam na profecia de que um guerreiro misterioso irá encontrar a caixa e abri-la. Encontrando o coração da Princesa Espacial Azura de Shantrya Soberana de Todas as Galáxias, apaixonar-se-á por ela de imediato, conhecendo quem ela foi um dia, por ela cairá de amores, e derrotará os nove arquiduques com a ajuda dos quatro Escolhidos. Esta profecia foi feita por Sybila Alethea, guardiã do Compêndio das Eras, que desapareceu misteriosamente logo após a profecia ser revelada. Alethea costumava dizer que Azura e Os Nove estariam em sono criogênico, esperando o momento de despertar, com a CEFΔ vagando entre a poeira cósmica de alguma nebulosa distante.


Mas a verdade... A verdade é que o futuro é tão incerto quanto o presente!




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Arte:
img01: Anja Millen (editada por Cezar A. & Louie Mimieux)
img02: Louie Mimieux

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Aguarde...




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The Big Machine Keeps Rolling On! - Arte Conceitual: Esboços & Mais

Enfim, chegamos ao final deste especial, que incluiu uma série de postagens sobre música, cinema, moda, HQ, Mangá e afins, além de um post exclusivo sobre o surgimento da ideia, os envolvidos no "projeto" e a matriz de The Big Machine! Abaixo você confere a última parte do Especial de Aniversário de 3 anos da principal série deste blog (o que é meio estranho, já que a primeira série que estreou nas páginas de The Fatcat House foi Draconius Nefastus, que ganhou até uma segunda parte esse ano), já que cancelei a postagem que conteria os spin-offs porque estou trabalhando atualmente numa série nova, como vocês podem perceber. Bom, espero que tenham gostado porque dei muito duro por isso e dei o meu máximo para que as publicações mantessem uma qualidade regular e não tivessem um espaço de tempo muito longo entre elas. É isso, enjoy it!

Estes são os esboços da Planária 3XD, o meio de transporte oficial do Apocalipse Club desde o primeiro The Big Machine. Ela aparece em cores e modelos diferentes ao longo dos três episódios da saga mas não deixa de ter o mesmo design aerodinâmico inspirado na estrutura física deste tipo curioso de Platelminto. Pra quem não se lembra da primeira aparição do veículo, aqui vai um refresco para a memória: logo nos primeiros capítulos, quando o Pietro do futuro leva Christopher e Pietro do passado para a sua época, eles são atacados no moinho de vendo voador por uma Célula gigantesca e enferrujada, Saturno Revenge e Fábia Paola aparecem montados na perigosa Planária pela primeira vez para resgatá-los!




Eis aqui a tal Célula, mas não a que atacou nossos heróis viajantes do tempo. Este aqui é um modelo comum de patrulhamento fabricado para compor exércitos e ficar nas ruas, mas existem outros tipos de Células construídas para cada tipo de trabalho. São chamadas assim porque juntas compoem o organismo de The Big Machine, e foram todas feitas à imagem de sua mestra, sua criadora: Carminha Parafuso :D



Este foi o robô-besouro gigante que atacou a escola no dia em que o mundo parou. Pietro Heinrich veio do futuro para avisar o jovem Apocalipse Club da desgraça que estava prestes a acontecer, mas foi seguido através da linha do tempo por essa coisa que pôs parte do Centro de Ensino Cyclone abaixo, praticamente estuprando a escola por dentro, já que ele surgiu no banheiro assim como a sua presa. Ele possui os mesmos sapatinhos bicudos da Célula, percebem?! :D



Um dos primeiros robôs que criei: os Cefalópodes são espiões equipados com mini-metralhadoras internas e raios lasers, além de cabos USB flutuantes que podem se infiltrar em qualquer sistema e coletar informações preciosas. Fazem a guarda do interior da torre de The Big Machine também, são uma espécie de faz-tudo da Carminha e compõem um exército gigantesco. Eles aparecem em Reboot também!


Isso é um esboço incompleto da base da torre de The Big Machine, lutei durante uma semana inteira tentando desenhar estas malditas engrenagens e nunca acertava fazer esta porcaria, mas no final deu tudo certo. A torre de controle universal foi construída no exato lugar onde os robôs enviados do futuro por Carminha destruíram a escola, de modo que as ruínas do colégio ainda estão lá embaixo, pelo menos o andar térreo está praticamente intacto, o Apocalipse Club até o usa como porta de entrada para o interior da "CPU" do Mundo...






E então começamos a invadir o universo de The Big Machine 2... se bem que o segundo episódio da saga não se passa em um universo diferente, mas sim no futuro deste. No futuro em que Carminha não interferiu para se tornar imperatriz. Esta que vocês veem aí em cima é a cowgirl idosa lésbica e louca dona de uma empresa de alimentícios que detesta essa história de comunhão homem + máquina e vota por uma supremacia humana sobre os robôs. Acontece que ela é totalmente contra o fato de o mundo ser controlado por um supercomputador que calcula e faz tudo pelo homem, inclusive projetou uma cidade totalmente futurística e auto-sustentável para fazer florescer a raça humana outra vez. Este computador é...



A ESFERA! (não me perguntem o porquê do nome, nem eu até hoje inventei um significado para ele). Este supercomputador é a junção de um cérebro eletrônico e um cérebro humano, ou seja: a existência perfeita, isenta de falhas e erros, algo extremamente poderoso. Seu lado humano é ninguém mais ninguém menos que Donnick Wolfgang Hills (nunca havia escrito o nome dele completo), ou simplesmente Don Hills, irmão/primo de Ray Ann na história (e na vida real também, a inspiração para o personagem foi Rildon, meu amigo s2). Este supercérebro sozinho conseguiu projetar Neon City, o berço perfeito para que a humanidade pudesse nascer outra vez após o colapso que pôs fim ao sistema falho da sociedade capitalista e consequentemente causou uma anarquia total. Interessante, não?!



Como todo bom vilão, Alberta Veronese também tem seus capangas. Este é Cabeça de Touro, um enorme minotauro-robô que com a ajuda de seu comparsa (logo abaixo) capturam Maxine, Gabrielle e Fernando - bisbilhoteiros netos de Christopher, Pietro e Ray Ann - e os levam diretamente para sua mestra, em The Big Machine 2. Quando não está executando o serviço sujo da vaqueira sapatão pirada, perambula pelo supermercado mugindo e divertindo as crianças como um simples brinquedo animatrônico de beira de estrada.




Cara de Cavalo é a "metade da laranja" do Cabeça de Touro, juntos são uma dupla dinâmica a serviço do mal, com potência e força inigualáveis. Para ser sincero, eles nem são tão importantes assim, têm uma curta aparição na saga se restrigindo a um pedacinho de um capítulo decisivo de The Big Machine 2, mas achei interessante representá-los e colocá-los aqui principalmente, por serem inspirados num mito chinês de dois demônios com aparência física e nomes semelhantes a eles, baseados nos quais me inspirei para criar estes dois robôs. Como seu parceiro, quando não está trabalhando para Alberta, banca o brinquedo animatrônico colocando criancinhas no colo.



Chegamos em "The Big Machine 3 - Apocalipse"! Este é o Mapinguari, um robô gigantesco com 15 andares de altura projetado pelo governo internacional com propósito exclusivo de destruição total em caso de guerra contra quem quer que fosse. Estava em fase experimental numa base secreta do exército no extremo-norte do estado até Alberta Veronese, vinda do futuro exclusivamente para acabar com a raça Apocalíptica (até então no corpo de uma boneca maligna graças ao implante de um cérebro artificial contendo suas memórias no tal brinquedo) hackear os computadores das Forças Armadas e assumir o controle da engenhoca de seus "filhotinhos", um exército de oito mil gorilas de metal do tamanho de tanques de guerra vietnamitas!



Este é um modelo primordial dos D.K. (Donkey Kongs, literalmente, já que assim foram batizados pelos sobreviventes à catástrofe que sitiou todo o até então Estado do Amapá), raça de robôs construída para acompanhar o gigantesco Mapinguari em sua marcha do caos que destruiria tudo e qualquer coisa que se metesse no seu caminho. Ao todo são oito mil, e vêm equipados com canhões lasers, lança-míssil e muito mais, podem ter o tamanho de um tanque de guerra ou de um carro popular, mas isto não é documento para o tamanho da sua força destrutiva.




Este é o esboço do modelo de uma armadura ultra-tecnológica usada pelos Apocalípticos no resgate dos prisioneiros isolados em campos de concentração onde as pessoas eram hipnotizadas para se tornarem zumbis à serviço da conquista de Alberta Veronese. Posteriormente foram descritas de forma muito diferente por mim no capítulo em que aparecem, mas a aparência original delas é esta que vocês estão vendo mesmo =^.^= nossos heróis tiveram de se deslocar entre as linhas paralelas do tempo para atingirem o futuro alternativo de The Big Machine 1, onde Saturno Revenge comanda a rebelião e possui poder bélico suficiente para ajudá-los a derrotar Alberta. Esta armadura faz parte da frota de robôs deles!



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ESPERO QUE TENHAM GOSTADO!


=^.^=