Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Relógio Dolce&Gabbana


- Você está blefando! Eu sei que está! Está com medo de ir preso! De ir parar no presídio! Quer sair como testemunha e não como vítima! Eu conheço seu tipo, Stefan, o milionário mimado! Conheço muito bem!
- Tudo bem! Tudo bem! Eu posso não ter visto quem o matou! Eu posso realmente estar blefando cara! – iniciou um choro copioso e triste, como uma criança que perdera os pais, estava entrando em desespero – mas você tem que me dar um voto de confiança! Tem que me dar um voto de confiança! Por favor! Tem que acreditar em mim! Eu não matei ninguém, eu juro!
- Como posso acreditar nisso se tenho provas de que você o matou?
- Vem cá, chega mais, chega mais – sibilou ele. O detetive aproximou-se, agachou-se do lado de seu suspeito mais problemático até o presente momento e olhou-o nos olhos. – eu vi como você se sentou em mim naquela hora, eu senti como você me tocou... Eu sei o que você está querendo, tudo bem? Olha, eu te dou o que você quer e você limpa a minha barra, tudo bem? Saímos ganhando os dois, que tal?! – riu baixinho, as lágrimas escorrendo por todos os orifícios. Ele não estava nada sexy, como era nos filmes. Mimieux gargalhou alto e levantou-se, levantando a cadeira também, caminhou para perto do vidro escuro e apoiou-se lá, voltando-se para o suspeito em seguida.
- Vai aceitar a minha proposta?! – Stefan parecia radiante.
O detetive fechou os olhos e sorriu, deu três passos até a porta, colocou a cabeça pra fora e comunicou-se com os dois enormes guardas que estavam parados do lado de fora. Os dois entraram um a um, ergueram a cadeira e iniciaram uma marcha em direção à porta.
- EI! EI! EI! O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO?! SOLTEM-ME! ME LARGUEM AGORA! AGORA! PRA ONDE ESTÃO ME LEVANDO?! – gritava, se debatendo violentamente.
- Prisão provisória, babaca! – riu o detetive. – agora considere-se o nosso principal suspeito! E se não for preso pelo assassinato de Lucas Lustat, vai preso por desacato a autoridade! Onde já se viu?! Tentar me subornar com sexo! Que pessoa baixa e imunda que você é!
- NÃO, NÃO! TUDO BEM! EU CONTO! EU CONTO TUDO!
Os grandalhões interromperam a escolta da berlinda.
- Deixem-no. – fez, mandando baixá-lo. – espero que conte a verdade agora, se não, é daqui direto pra cela.
- Tudo bem, tudo bem – ele respirou fundo.

- Ei, Veronica, Veronica! – um jovem Apolo cruzava os corredores do hotel em toda a sua graça e sensualidade, correndo, saltando em direção ao vulto apagado, de preto, carregando uma bolsa maior que seu próprio corpo. – onde é o camarim da mamãe?
Veronica não falou, apenas apontou a direção. Stefan riu.
- Qual o número do quarto, sua boba?!
- 119 – grunhiu a búlgara anã.
- Dê-me a bolsa, eu entrego a ela, com certeza vai gostar da surpresa!
Veronica permaneceu séria, dura. Entrou no elevador e sumiu engolida pelas portas douradas logo em seguida. Stefan deu de ombros e virou-se para seguir seu caminho, porém, dois fortes estalos que ecoaram em alto e bom som como trovões furiosos cortaram os corredores do hotel, fazendo-lhe soltar um grito de pavor, lançando-se ao chão. Ele sabia o que aquilo era. Sabia o que era aquele som. Aquele som terrível. Tiros. Dois tiros e um grito de mulher, cortando seus tímpanos com violência.
Assim que lhe pareceu seguro, levantou-se e correu em direção de onde vieram os sons pavorosos, deparando-se após curta corrida com a porta da saída de emergência no final do corredor, escancarada. Olhou ao redor, procurou qualquer sinal de arrombamento em uma das portas dos apartamentos próximos, seu coração acelerado, sua cabeça latejando graças aos sons ensurdecedores dos tiros. Foi quando ele se deparou com um feixe de luz cortando o corredor escuro, uma fresta quase imperceptível de uma porta próxima, mais alguns passos e ele estaria lá.
Mais alguns passos nervosos e suados, ele estaria lá. Ele estava tremendo. Aquilo era realmente seguro? Estaria ele correndo perigo de vida? E se o assassino ainda estivesse com a arma em mãos? E se ele fosse morto no momento em que visse o rosto do matador, em que abrisse a porta? Ele tinha de arriscar, tinha de ver se tudo não passara de imaginação. Aquilo não poderia ser real, era impossível, era assustador. Ele recuou um passo atrás após ouvir algo se debater do outro lado da porta. Havia alguém agonizando. Uma voz grossa, gorgolejando, aquilo deixou seu coração minúsculo de medo.
Num impulso de adrenalina, seu pé encontrou a porta que escancarou-se, iluminando todo o corredor escuro. E então lá estava, um rio de sangue levando diretamente para um corpo, um corpo masculino, com o rosto coberto por um pano branco – já rubro pelo sangue – seus pés e suas mãos ainda se mexiam.
Stefan não aguentou nem mais um segundo naquela cena, ele não podia suportar tamanho horror, tamanha morbidez. A bolsa foi ao chão, e sua pulseira fora junto também, mas naquele momento ele não se importava com nada, não havia hotel, não havia quarto, corredor, portas, não, só havia ele e o corpo que agonizava, ele e aquela boca que abria e fechava, fazendo mexer de leve o pano que a cobria, como um pequeno animal tentando escapar da armadilha. Era nojento, ele iria vomitar.
E assim ele desceu as escadas de emergência, correndo como nunca havia corrido na vida, vomitando no primeiro lixeiro que lhe surgiu pela frente. Jamais iria revelar a alguém o que vira, o que presenciara, não, ele não passaria por suspeito! Não poderia! Que carreira brilhante ele tinha! Um escândalo como aquele acabaria com tudo! Pegou o primeiro táxi para fora da cidade, para casa, para um lugar onde ele pudesse se esconder de tudo e de todos, e esquecer o que havia visto.

- O pano que você viu cobrindo o rosto do cadáver era um vestido branco, Versace... Suspeitamos que o assassino usasse para tentar enxugar o sangue... Mas o que nos deixa intrigados é o fato de o vestido pertencer à sua mãe! Como ele foi parar lá?! Temos tantas pontas soltas! – se fosse dada certa atenção àquela cena, qualquer um poderia jurar que a cabeça do detetive estava soltando fumaça de tão duro que ela estava trabalhando para resolver aquele mistério, uma verdadeira Hidra de milhares de cabeças: quando uma era cortada, várias outras nasciam e ficavam ali, rosnando e mordendo. Era um pesadelo. Um pesadelo assinado com as marcas mais famosas do mundo da moda... Seria difícil para o detetive entrar numa loja cara dali por diante, era traumatizante!
- Mamãe não faria isso... Ela amava Lucas, amava muito, só não sabia conviver com esse amor porque o orgulho dela é muito grande, gigantesco, o ego dela sempre fala mais alto...
- Quem você acha que faria uma coisa dessas?
- Não faço ideia...
- E ainda temos o relógio de pulso, o maldito Dolce&Gabbana da história! Não fazemos ideia de quem está por trás deste relógio, quem é seu verdadeiro dono... É uma pedra no nosso caminho...
- Eu posso... ver o relógio?
O detetive fez que sim, fechou os olhos e levantou o braço, fazendo um sinal para os oficiais que assistiam à entrevista por detrás do vidro escuro. No mesmo instante, a porta abriu-se, e um dos grandalhões que tentaram carregar Stefan para a cela entrou com um pacote plástico transparente em mãos, contendo um relógio de pulseira amarela, analógico, com o visor grande e chamativo, cheio de pequenas pedrinhas de brilhante ao seu redor. Puro luxo.
- Não, não! Impossível! Impossível! Não! – ele virou o rosto, não queria olhar, ele jamais aceitaria aquilo. Era loucura demais
- O que houve, Stefan?! O que houve?! Fale! – o coração do detetive voltou a acelerar.
- Este relógio... Foi um presente...
- O que?!
- Foi um presente que dei a minha mulher no natal do ano passado!
- SUA MULHER? VOCÊ QUER DIZER... – Mimieux estava bestificado.
- Sim, Gabriela, ela é a dona desse relógio! – Stefan abaixou a cabeça e voltou a chorar, dessa vez mais baixo, mais doloroso do que antes.
O detetive voltou-se para o grande gorila vestido de policial, suspirou e disse:
- Eis mais um mistério... Corta-se uma das cabeças da Hidra, e outras duas crescem no lugar...
- Oi?! – grunhiu o homem.
- Ora, esqueça Abner, você não faz ideia do que seja mitologia grega, faz?
Abner abaixou a cabeça, triste.
- Tudo bem, não fique assim. – deu dois tapinhas em seu ombro – Pausa para um café!

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