Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sábado, 27 de novembro de 2010

Por trás de um Chanel


- Então, quer dizer que foi você quem passou aquelas mensagens do telefone da sua avó...
- Eu não vou repetir isso de novo, eu tenho cara, mas não sou nenhuma moleca. Eu peguei o telefone à força da mão da Veronica, eu precisava fazer isso.
- Sabe que estará muito encrencada se não disser o que foi fazer naquele apartamento, e porque a fivela do seu sapato foi encontrada embaixo da cama, não sabe?
- É claro que eu sei, mas eu não me importo – ela deu de ombros e cruzou as pernas, mostrando boa parte das suas coxas grossas e lisas, macias como a pele de um bebê. – sei que não vou presa, sou menor de idade ainda... Serviço comunitário é o máximo que você e sua turma poderão me infligir, e além do mais, eu sou rica! – deu uma risadinha graciosa e inclinou seu queixo para baixo. Jovial, sedutora e provocante. O detetive Mimieux já havia ouvido isso antes, no mesmo dia.
- Você é incrivelmente parecida com a sua avó, tanto em aparência quanto em personalidade... Já lhe falaram isso antes?
- Eu ouço isso desde que tinha quatro anos, quando tingi meu cabelo acidentalmente mexendo nas coisas da vovó... Fiquei com os braços e o rosto amarelados durante uma semana, foi ótimo! – gargalhou.
- Conte-me exatamente o porquê de se passar por sua avó para invadir o apartamento de Lucas... Mostre-me o que está escondido por trás desse seu Chanel...
Aline deu uma risadinha e ajeitou o cabelo curto, na altura do queixo. Ela amava aquele penteado, brilhava feito uma ônix em noite de lua cheia.
- Eu precisava ter uma conversinha com ele...
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- Pode entrar... – fez o velho. Sequer olhou para a porta, continuou a revirar a mesma gaveta, procurando sabe-se lá o que. Ouviu os passos com atenção, eram delicados, mas firmes, porém incapazes de estalar a madeira embaixo do carpete. – Ah! Encontrei! – retirou da gaveta um estojo, abriu-o e retirou seus óculos de leitura, só para checar se estavam em bom estado, não iria usá-los de imediato, precisava dar atenção à visita antes, a visita que ele nem sequer sabia quem era. Não sabia de quem se tratava, mas sabia que havia alguém parado logo ali atrás, ao pé da cama. Não continuaria a ler seu livro tão cedo.
Havia acabado de entrar no apartamento e passar as mensagens para sua amada, deixara o telefone de lado e partira em busca dos óculos de leitura, aquele livro estava durando mais do que o esperado.
- Oh! Aline, meu bem, que surpresa! Quase você mata esse velho de susto! – ele riu, suas sobrancelhas grossas e brancas como nuvens cobriram seus grandes olhos claros. Era um vovô meigo e adorável, cheirava a violetas e parecia exigir um abraço. Mas nem esta aparência meiga e dócil fez Aline recuar de seu objetivo. – estou esperando a sua avó, viu ela por aí?
- Não era a vovó. Era eu nas mensagens.
Ele riu. Confuso.
- Como assim, meu anjo?
- Eu precisava falar com você. – a expressão facial da garota era dura em seu rosto de porcelana, de olhar frio e penetrante.
- Então fale de uma vez! Você está me assustando! Aconteceu alguma coisa com a sua avó? – ele levantou-se com dificuldade da beira da cama e caminhou até a garota, para abraçá-la, só por cortesia, mas a garota recuou um passo.
- Não se aproxime.
- O que...
- O que você acha que está fazendo?! Hein?! Você pensa que abraços, cortesias e cavalheirismo vão apagar o que você fez para a vovó no passado?!
As nuvens brancas se uniram entre os olhos e a testa do velho, como se uma tempestade estivesse por vir. Aline poderia jurar que elas ficaram acinzentadas, mas talvez fosse o efeito da iluminação do quarto.
- Você não sabe do que está falando, Aline, não se meta nos assuntos dos adultos! O que Stella lhe contou só diz respeito a mim e a ela resolvermos, e estamos dispostos a deixar o passado para trás de uma vez por todas! – disse o velho, sua voz engrossando como uma trovoada.
- Ela está velha e fraca, está quase morrendo! Porque não a deixa em paz e vai viver o que resta da sua vida longe dela?! – o tom de voz da garota estava subindo cada vez mais, feito a lava quente de um vulcão – você a persegue desde que eu me entendo por gente, e eu não entendo porque ela nunca o denunciou, nunca o entregou para a polícia! Você é psicótico, obcecado, inconveniente! Sabe Deus o que você não faria com ela fosse ela a estar agora, aqui, neste quarto com você!
- Ora, Aline, não diga asneira! Você está sendo grossa e estúpida! O que você diz não tem sentido algum! Se ela não me entregou para a polícia é porque seu amor por mim é verdadeiro e significa que ela não me esqueceu! – Eles estavam muito próximos agora.
- Ela não te entregou pra polícia por pena! Porque você é um pobre coitado! Isso sim! Ela é rica e tem a mim e não precisa de mais ninguém! Eu cuido dela! Ela não precisa de você!
O velho gargalhou.
- Você está com ciúmes da sua avó, Aline?! – ele riu e colocou suas mãos sobre os ombros da garota, que se sacudiu com violência.
- Me larga! Não toca em mim! – foi neste momento que a fivela dourada, já frouxa, se soltou do sapato e deslizou para debaixo da cama. A garota sequer sentiu. – já estamos cansados, todos nós, de vê-la sofrer, gritar e quebrar copos na parede com a mínima pronúncia do seu nome! Ela acabou de passar mal lá no apartamento só pelo simples fato de ter lhe visto esta manhã! Ela tem problema de coração sabia?!
- Oh meu Deus, isso só pode ser mentira! Ela parecia tão calma e serena, feliz em me ver ainda há pouco! – ele levou a mão à boca e desviou os olhos para o lado.
- Agora você sabe da verdade! Trate de ficar longe dela! – os olhos felinos de Aline dançaram furiosos pelos cômodos do quarto em busca da bolsa Louis Vuitton da avó, até encontrá-la sobre uma poltrona, largada. Pegou-a com violência e enfiou-a debaixo do braço, saindo em seguida, a passos firmes e estalados. Agora eles atingiam a madeira embaixo do carpete com facilidade...
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- Depois eu encontrei a Veronica, tirei os remédios de dentro da bolsa e fui para o quarto, mas ao chegar, encontrei a vovó dormindo, então eu desci e...
- Espera um instante, espera! – sobressaltou-se o detetive, assustando a jovem Aline que quase caiu da cadeira de susto.
- Ai! Seu ignorante! Não sabe que é falta de educação interromper uma dama no seu discurso?! – ela levou a mão ao peito, irônica.
- Você disse que devolveu a bolsa para Veronica?!
- Sim, devolvi! – Aline franziu a sobrancelha e entortou a boca.
- Então porque meus homens encontraram a bolsa suja de sangue no chão do quarto?!
Os olhos de Aline saltaram das órbitas. Ela pulou da cadeira num único movimento.
- Oh, meu Deus! Veronica é a assassina!

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