A viagem para o Rio de Janeiro, como já deixei bem claro nos posts anteriores, mudou minha vida de maneira que nada havia feito igual antes. Um enorme divisor de águas.
Isso tem me feito pensar em muitas coisas, e em como elas mudaram, e como elas vem mudando tão rápido com tão pouco tempo, isso me fez viajar até quatro anos atrás, no período em que comecei a escrever a história de Afonsa e companhia, quando, como todos sabem, eu era apenas um garotinho gordinho pouco desejado pelos colegas de classe.
Lembro-me de uma vez, que em um surto louco de autoconfiança, acabei fazendo uma coisa que deixou uma ferida enorme no meu coração, a qual não doeu nem um pouco na hora, e que acabou cicatrizando sem eu sequer perceber. Foi uma ferida que não senti no momento, mas que após ter sarado, cicatrizado e quase desaparecido, teve sua profundidade e gravidade reconhecida.
Lembrei-me do ocorrido por um acaso, enquanto estava tomando banho. Por algum motivo bobo isso me veio à cabeça e eu decidi dividir isso com vocês, pra vocês verem como as coisas mudam e como o mundo dá voltas... Não sei porquê, mas no ano de 2007, enquanto cursava a oitava série, decidi que queria ser representante de classe, o problema era que eu não percebia o óbvio, o óbvio que ficou explícito logo que as votações se encerraram:
De quase 42 alunos dentro de uma sala de aula, eu recebi um único voto. O meu próprio voto.
O mais engraçado foi que eu não fiquei nem um pouquinho magoado na hora. Muito pelo contrário, eu estava tão contente porque minha amiga havia ganhado! Ela era uma das minhas melhores amigas na época. Mas eu vi e senti as expressões de pena, dó, piedade e até um pouquinho de compaixão, mesmo da parte das pessoas que não simpatizavam muito comigo naqueles rostos que me rodeavam. Eu estava sentado na última cadeira da fila da parede, no lado esquerdo da sala, e todas as cabeças se voltaram para mim, cheias de pena. Teria sido uma cena terrível se eu não estivesse tão feliz pela minha amiga.
Incrível como a inocência de uma criança pode servir de anestésico para uma situação como aquela.
Hoje, já adulto, eu vejo o quão grave a situação foi: nem aqueles que se diziam meus amigos tiveram a coragem de votar em mim, ao menos por consideração. Eu lembro dos nomes e dos sorrisos de cada um deles. Lembro da falsa ilusão de companheirismo que eles me passavam, ou que eu mesmo gerava em minha cabeça infantil, só agora eu percebo o quão bobo eu fui em acreditar que eles eram meus amigos de verdade. Só agora eu percebo que para eles, eu pouco importava.
É, a minha vida mudou muito, muito mesmo.
Nunca pensei que fosse chegar onde eu cheguei, rodeado por pessoas que me querem bem de verdade, e não me fazem de um simples encosto para as horas mais cômodas.
Sou tão grato pelas amizades verdadeiras que fiz nesses últimos três anos, e pelas grandes conquistas que tive e pelos grandes passos que dei. A Universidade Federal, a Bienal no Rio de Janeiro, o lançamento do livro, as entrevistas para o jornal...
É, o mundo dá voltas mesmo! :)
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