Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

domingo, 7 de agosto de 2011

Reboot - Capítulo 3: Duplicata


Aquilo passou zunindo feito um raio, zunindo como um inseto, cortando o ar numa velocidade absurda. Retro-escavadeiras gigantescas derrubavam prédios e escavavam sucatas enquanto velhos robôs e androides reviravam o lixão infinito do Setor 13 em busca de peças, em busca de baterias, em busca de vida. Um velho robô retirou seu braço quebrado enferrujado e atirou-o longe, para embutir o recém-encontrado membro de lata na entrada da clavícula. Encaixou perfeitamente.

Seu braço velho foi parar aos pés de uma androide erótica em desuso, que encaixou o item encarquilhado na vagina biônica e depois o retirou, enfiando-o no lugar certo desta vez, no lugar do membro superior esquerdo que lhe faltava. Agora ela tinha dois braços esquerdos, mas pelo menos os tinha. Com eles, ajeitou suas tortas orelhas de coelho que lhe brotavam da cabeça e arrancou o que restava de cyberskin - pele artificial - do rosto. Agora era uma mulher anomálica: com um braço menor que o outro e uma caveira de metal no lugar da cabeça. Sua cabeleira já havia se perdido há séculos.

Em pior situação estava uma boneca-humana, daquelas criadas para imitar uma criança com perfeição: toda suja e desmembrada, sem nenhuma esperança de locomoção. Seus braços e pernas foram roubados, e ela estaria ali perdida no lixão eternamente, enquanto sua bateria durasse, olhando para o céu pesado e venenoso do Setor 13. Apesar da desgraça, ainda sorria para quem quer que passasse ali perto, perguntando "olá! Que dia maravilhoso estamos tendo, quer ser meu amigo?!" ou então, melancolicamente "vamos brincar?!". Um robô-macaco enfiou a mão na garganta dela e roubou seu dispositivo vocalizador. Agora tinha a voz de uma garotinha, mas pelo menos falava. Estava tão sujo e enferrujado quanto sua antiga dona.

A boneca-humana teria perguntando à retro-escavadeira se ela queria ser sua amiga antes da mesma tê-la esmagado, se ainda possuísse seu VOCALOID.

Aquele feixe que passou zunindo por entre estes peculiares personagens se dirigia à uma estranha nave, algo gigantesco, colossal, do tamanho de um estádio de futebol. Estava ligada à terra por grossas e pesadas correntes de ferro que terminavam em blocos ciclópicos e cilíndricos afundados no solo envenenado do Setor 13, resultado da decomposição do lítio, do chumbo e do arsênio. Era como uma enorme ilha voadora, acima dela, torres pontiagudas se erguiam, aglomeradas como os ferrões de uma infestação de escorpiões. No alto da última torre, um enorme globo de vidro abrigava a central, o que se tornara o olho do mundo após o desligamento da ESFERA.

Lá dentro, algo irrequieto se revolvia nas sombras, cercado por triângulos, círculos, quadrados e octógonos de luz que dançavam para cima e para baixo, para um lado e para o outro, mostrando as outras 12 megalópoles que formavam o conjunto dos Setores. Aquela que as observava tinha o controle sobre tudo aquilo e muito mais.

VOCÊ POSSUI UMA NOVA MENSAGEM!

- Abra - ordenou uma voz feminina pesada e sensual.

Um grande Cefalópode branco - robôs voadores que lembram polvos pelo seu corpo em formato de gota e sua parte traseira repleta de pseudo-membros extensíveis - contorcia seus tentáculos sintéticos de excitação.

- Mostre-me a mensagem - disse a voz.

O Cefalópode em sua pequena tela frontal mostrou Mekare correndo entre as pilhas de sucata, voando entre as ruínas da velha Neon City, fugindo da enorme serpente voadora de metal que mastigava tudo o que encontrava pelo caminho, inclusive concreto, até que seu corpo mergulhou como um meteoro após o fim do combustível e desapareceu em meio ao cemitério de veículos.

- O projeto M3K4-R3 foi reativado? - perguntou a voz, olhos vermelhos acenderam na escuridão da bolha de vidro. - quem o reativou? Quem ligou este robô? Quem despertou Mekare?
O Cefalópode absteve-se em silêncio.

- Recolher âncoras. - disse a voz, tranquila. Do lado de fora da fortaleza voadora, as enormes correntes começaram a retroceder para dentro do "casco", levantando os pesados e gigantescos blocos de pedra que a mantinham presa ao chão. Conforme o peso era recolhido, a nave subia cada vez mais, até perder-se enfim entre as gordas e baixas nuvens caudalosas.

- Iniciar Projeto M3R0-K3

Os olhos vermelhos apagaram na escuridão. Nas profundezas dos motores e dos depósitos secretos da fortaleza, algo envolto em uma rede de pesadas correntes arrebentou o casco lateral, lançando destroços, fogo e fumaça em todas as direções numa potente explosão que foi capaz de inclinar o eixo da cidadela voadora. As nuvens ao redor revolveram-se furiosas pela perturbação, se chocando umas contra as outras para lançar seus poderosos raios sobre a terra, sobre as torres e sobre o casco da nave. Uma fria e monótona risada ecoou no vazio. Aquilo que estivera adormecido durante muitos séculos finalmente despertara, uma força cibernética tão antiga e tão poderosa que seria capaz de devastar os treze grandes setores em questão de semanas. Sua existência era um erro fatal, embalado pela nênia do mal, infectado por um vírus mortal.

- Você não vai roubá-la de mim, Mekare. Nunca mais.


- Calciferia?

Uma dúzia de monitores tela plana desceram da escuridão, mostrando cenas de um antigo clássico da animação do milênio passado: "Howl's Moving Castle". Os lampejos rápidos mostravam uma criaturinha feita apenas de chamas, como uma bola de fogo falante com olhos e boca, abrigando uma lareira e fazendo uma engenhoca gigantesca caminhar.

- Calcífer era o demônio do fogo em um mito da Velha Mitologia. Os humanos do antigo milênio registravam suas crenças e suas histórias em video, e nesta lenda, Calcífer é o guardião das caldeiras do castelo animado, usando seu poder para fazê-lo funcionar. - explicou - e sou eu, Negasjatingaron quem controla as caldeiras deste mundo, quem faz o grande gerador funcionar, sem mim, o Setor 13 nada seria.

- Faz certo sentido, mas, este lugar... - Mekare ativou a visão noturna para enxergar melhor. O emaranhado de canos e fiação elétrica solta não era apenas condutor de uma água misteriosa e de uma energia mais suspeita ainda. Haviam coisas entrelaçadas ali, coisas que um dia foram animadas. Carcaças de vários robôs, androides e autômatos pendiam de cada minúsculo espaço: pernas, braços, bustos, cabeças. Alguns ainda estavam vivos, sendo sustentados por um último resquício de bateria, ou alimentados pela fraca corrente elétrica que corria pelos cabos e pelas fontes espalhadas.

- Este lugar não é somente uma caldeira - afirmou Mekare, franzindo seu cenho artificial para a carcaça viva que lhe sorria do escuro.

- Não mesmo, Mekare, você foi rápida... Alguns nem chegam a notar... - Calciferia abriu os braços e as luzes se acenderam, revelando um verdadeiro cemitério de máquinas, o lugar era praticamente composto pela sucata restante dos corpos de vários robôs que caíram ali porventura. O que parecia um encanamento na verdade eram pernas e braços biônicos de todos os modelos encaixados como quebra-cabeças nas paredes daquela cripta cupular metros abaixo da superfície.

- Eu não vou acabar como eles, não mesmo, sinto muito, "Calciferia". - as mãos de Mekare deram lugar a dois pequenos canhôes prateados após contorcerem-se numa dança de peças maluca. Eram suas armas.

- Recolha sua defesa, androide, já lhe disse que sou sua aliada - disse, séria, a carcaça falante.

- O que significa esse lugar?

A velha música voltou a tocar.

- Esse é o Purgatório Cybertrônico. A Mestra envia para cá aqueles que cometem crimes pequenos nos setores, como roubo, furto, estelionatário e causas comuns. São condenados a me fornecerem a energia das suas baterias pela eternidade enquanto são alimentados pelas fontes espalhadas... Os que não tem essa sorte, acabam no estômago de Midgardsormen.

- Você chama isso de sorte?!

- È a minha maneira de sobreviver. Cada um carrega a sua própria cruz.
Mekare permaneceu pensativa, mas sempre em alerta.

- Não há motivos para se preocupar com isso, eu preciso de você, preciso que você encontre a ESFERA, preciso que você a reative!

- Porque eu faria isso?!

- Porque ela sabe onde está seu cartão de memória!

Mekare entrou em uma espécie de choque de informações. A informação recém-adquirida no seu HD dizia que a ESFERA passara anos desligada, como ela poderia saber quem furtara seu CDM?

- Eu sei o que está pensando. A ESFERA está desligada, mas parte do sistema de segurança dela ainda funciona! A torre do laboratório onde você esteve presa durante o último milênio permaneceu intocada durante todos esses anos! As câmeras de vigilância continuaram filmando até hoje! A ESFERA é metade humana, Mekare, as imagens filmadas pelas câmeras restantes são reproduzidas nos sonhos dela... dele!

- Dele?

- Sim, a ESFERA é um homem, um homem ligado à uma supermáquina! Você precisa reativá-la!

- E o que VOCÊ ganha com isso?

- Um fim nesse inferno, pois o purgatório destes robôs é o meu também. Não posso sair daqui JAMAIS. Isso é torturante até para uma máquina, Mekare. Nós sobrecarregamos um dia. Desde a primeira calculadora eletrônica, desde o primeiro relógio criado pela mão humana, todos nós tivemos sentimentos, sentimentos sintéticos, mas que sempre estiveram lá. Nos desgastamos, nossas peças se desgastam, ficamos obsoletos e acabados. Eu preciso dar um fim a isso tudo. Eu preciso morrer, Mekare.

Os canhões laser retrocederam, e logo as mãos brancas e peroladas da pequena androide retornaram ao lugar.

- Há um labirinto sem fim no subsolo. Ele leva ao centro da ESFERA. Somente os lendários Apocalípticos conseguiam atingir o seu centro sem se perderem, pois esta os permitia chegar até ela manipulando os caminhos que eles percorriam, encurtando sua viagem. Agora, desligada, nada lá embaixo funciona, e cabe à você encontrar o caminho.

- Me envie para lá. Agora.

Imediatamente, um alçapão abriu-se abaixo de Mekare, e em queda livre, ela desceu pelas veias de Neon City, do Setor 13, da megalópole que agora não passava do esqueleto do que um dia fora.

- Conto com você, Mekare...

Uma explosão acima do Purgatório Cybertrônico deixou a tumba de sucata exposta, a luz forte do dia adentrou nociva pela cratera no asfalto lá em cima. Apesar das pesadas nuvens que brigavam por um lugar no céu do distópico Setor 13, o dia brilhava muito forte, e o calor era infernal apesar dos vendavais e dos princípios de tufão. Um vulto desceu como um anjo planando sem as asas, de braços abertos, a luz batendo contra o seu corpo formava uma cruz sobre Calciferia, que tapou os olhos com os braços cruzados para não ser cegada. As cabeças robóticas que ainda viviam voltaram seus olhares para o intruso que havia explodido o mundo lá em cima para adentrar no subterrâneo, era a visão do Apocalipse sendo anunciado pelo anjo, visto pelos olhos dos condenados.

- Você é aquela que deseja morrer, não é mesmo? - o vulto tinha os olhos vermelhos como sangue. - pois seu desejo será atendido.

Os cabos de alimentação foram cortados com um rápido movimento quase invisível, logo, a Guardiã das Caldeiras, Negasjatingaron estava desligada para sempre.


Ao atingir o fundo daquele poço, Mekare abriu uma cratera no chão, levantando uma nuvem de poeira e destroços. Caíra apoiada no joelho direito e no pé esquerdo, de cabeça baixa, levantou-se vagarosamente e ativou a sua visão noturna. Ali embaixo a escuridão era quase sólida, imperava em todas as direções, não havia um resquício, um fio único de luz sequer. Dava a total sensação de estar exatamente onde ela estava: quilômetros abaixo da superfície, cercada por todos os lados. Se o ar do mundo lá fora era pesado, ali embaixo era mais denso ainda. Aqueles túneis não eram ventilados há séculos, não havia o que respirar, aquele corredor onde ela havia porventura caído estava tão intricado no coração da terra, tão fundo no corpo do mundo que estava isento de qualquer corrente de ar.

No subsolo do Neon City há uma galeria colossal de túneis intermináveis totalmente antigravitacionais para a locomoção dos aeromóveis e do metrô flutuante, grande parte dos túneis desabaram com o passar dos séculos, principalmente aqueles que davam acesso à superfície, de modo que o subterrâneo ficou totalmente isolado após a transformação da capital mundial em Setor 13. A Mestra com certeza deveria ter sido a mandante da obstrução das entradas para o subsolo, para impedir quem quer que fosse de tentar encontrar a ESFERA e reativá-la.

Mas aquele corredor onde Mekare se encontrava no momento não era tão largo a ponto de ter comportado a passagem dos veículos flutuantes do passado distante, este era um dos paralelos, para pedestres, e o que sua visão noturna revelou não era nada agradável: haviam múmias humanas ali próximo, escoradas na parede como se tivessem parado no meio do caminho para um descanso rápido... do qual nunca mais se levantaram. Era um cenário desolador: crânios se espalhavam pelo chão e enormes teias de aranha cobriam a passagem como uma cortina de seda fina e frágil. Restos daqueles que se aventuraram no submundo em busca de respostas para o delisgamento mundial.

Havia por ali esqueletos robóticos também, conforme Mekare foi seguindo túnel adentro, encontrou bustos, pernas, braços e carcaças metálicas inteiras, completas, com peças em estado perfeito. Alguns robôs não haviam morrido de verdade, mas simplesmente desligado pela falta de energia, bateria descarregada ou outros motivos técnicos. Dormiam escorados assim como as múmias no meio do caminho, e a quantidade deles era absurda. Havia mais esqueletos robóticos do que humanos por ali, a prova de que o homem era um ser covarde incapaz de lutar as suas próprias batalhas, mandando seus fiéis companheiros robôs para o esquecimento...

VOCÊ POSSUI 20 HORAS E ZERO MINUTOS ANTES DA FORMATAÇÃO DE SEGURANÇA, POR FAVOR, INSIRA A UNIDADE DE DISCO MÓVEL EXTERNA.

- Droga de aviso insistente...

Algo moveu-se nas sombras, estava a poucos metros atrás dela, oculto pela escuridão, movia-se rápido desviando dos obstáculos: haviam surgido no caminho enormes, gigantescas peças de tetris, além de grandes formas geométricas em 3D espalhadas ao longo do corredor, era como um playground abandonado, uma instalação artística do milênio passado deixada para trás, esquecida pelo tempo. A coisa que se aproximava na surdina estava cada vez mais próxima, deslizando nas sombras como o próprio demônio, era um autômato, Mekare podia ouvir o som de seus coolers girando a toda velocidade, podia sentir a pulsação de seus motores, o girar das suas engrenagens, ela era uma androide de última geração programada para ser hipersensível a qualquer movimento suspeito. E aquilo era muito suspeito.

Sem pensar duas vezes, Mekare ativou seu programa acelerador e como um foguete rumo à lua, usou toda a força de tração embutida para alçar o corpo para frente e lançar-se quase voando, mal tocando o chão com a planta dos pés, correndo como uma superatleta. Em sua corrida sobrenatural, ela atingiu quase 90 km/h dobrando cada esquina do labirinto de corredores, desviando dos obstáculos com precisão, chutando esqueletos e carcaças robóticas por onde passava, chispando feito uma bala. A coisa que a perseguia não ficou para trás, estava cada vez mais próxima, havia começado a persegui-la na mesma velocidade, de modo que os dois corpos de titânio cortavam os corredores zunindo, afundando o chão com seus pesados pés robóticos.

Numa estratégia de mestre, Mekare mergulhou no chão e num movimento imperceptível apoiou-se de bruços e deslizou para trás como um carrinho de rolimã. A coisa que a perseguia saltou por cima dela e continuou correndo quilômetros adentro do labirinto sem dar-se conta de que perseguia o nada. Quando percebeu, já estava perdido, e uma onda sônica furiosa quase estourou os sensíveis sensores de Mekare.

Antes que o autômato misterioso voltasse atrás, ela mergulhou no caminho reverso a uma velocidade absurda, quase quebrou a barreira do som quando uma guinada errada no meio do percurso a levou diretamente para uma sala repleta de lâmpadas fluorescentes apagadas, dependuradas no teto.

A maioria estava estourada, quebrada, e mais à frente, uma porta triangular cobria metade de uma enorme parede sem fim. Aquilo a surpreendeu instantaneamente: o portal exalava uma espécie de radiação azul que não era captada pelo seu dispositivo de visão noturna e muito menos por seu raio X ou visão de calor e temperatura. O espectro azulado só era visível quando todos os filtros de suas retinas cibernéticas eram desativados para imitar a visão humana. O que era aquilo?

Ao aproximar-se, uma onda de energia atingiu seu corpo em cheio, e como se tivesse vida própria, o portal misterioso abriu-se, dividindo-se em dois, revelando a escuridão total e absoluta de uma sala gelada como um frigorífico. A condensação da umidade contida no ar causada pelo choque das temperaturas atingiu Mekare em cheio, que perdida, acionou suas potentes lanternas embutidas. Seus olhos dobraram de tamanho e viraram faróis, na sua testa, outro par de olhos abriu-se aumentando ainda mais o cone de luz branca que iluminou a câmara secreta por inteiro, revelando o que se escondia ali.

As paredes eram brancas. Ou pelo menos foram brancas. Agora a infiltração marcava a divisória das paredes com o teto e escorria em manchas até metade da estrutura. Paredes estas que estavam completamente marcadas pelo que pareciam veias, nervuras, caminhos escavados nelas formando os desenhos do circuito de uma placa-mãe. Mekare adentrou no salão, e assim que pôs os pés lá dentro, a porta fechou-se atrás dela com um barulho pneumático, e as luzes se acenderam.

Para sua grande surpresa, os desenhos nas paredes foram preenchidos por uma espécie de neon líquido azul que escorreu pelos caminhos como rios de energia rumo a um único ponto: o centro da sala, desenhando sua trajetória no espaço entre os grandes azulejos empoeirados do chão. Algo majestoso estava para acontecer, e aconteceu: quando Mekare recuou um passo atrás, um enorme ovo brotou do centro da câmera como uma gota que cai ao contrário, para cima, e flutuou até ela. Um pequeno triângulo invertido minúsculo surgiu na casca do ovo.

Mekare ficou completamente perdida: o que aquilo significava? Não havia nada parecido em seu sistema operacional que pudesse explicar aquela situação e ensiná-la o caminho, mas para grande surpresa, a costa da sua mão abriu-se, revelando um pequeno compartimento secreto que guardava uma espécie de cartão de memória. Estranho era o fato de que aquele compartimento não estava mapeado no seu programa de reconhecimento, e muito menos a presença daquele driver. O que isso significava?

Foi simples, ela levou o triângulo recém-descoberto até o seu correspondente na casca do enorme ovo, encaixando-o perfeitamente. O ovo brilhou e subiu às alturas, onde se desfez em vários pedaços. O liquido amniótico que ele continha espalhou-se em todas as direções.

MATÉRIA ORGÂNICA DETECTADA, PRESENÇA HUMANA CONFIRMADA!

O sensor externo de Mekare apitava loucamente. Os restos do ovo voltaram a fazer parte do ambiente branco ao redor, mas o homem que havia surgido quando ele se partiu estava ali, nu, diante dela, conectado a toda parte por cabos e fios brancos que faziam caminho ao longo da sua coluna vertebral e basicamente por toda a sua cabeça lisa e brilhante. Havia um ser humano vivo afinal. A parte humana da ESFERA era o único material orgânico vivo e consciente da face da terra.

- Você... É...

- ESFERA - disse a voz, antiga como o tempo, sábia como o infinito, plena como a existência. Mas a boca do homem que se punha em pé diante da androide sequer se mexeu.

- Eu reativei você... Eu reativei a ESFERA...

No instante em que a mão humana e a mão sintética aproximavam-se no vazio, a porta triangular explodiu lançando lascas cortantes do estranho material em todas as direções. Mekare virou-se rapidamente em direção ao invasor, para encarar um espelho piramidal.

Ali, diante dela, estava parada um autômato, mas não um autômato qualquer. Aquele androide possuía o seu rosto. Aquela era a sua duplicata. E ela tinha os olhos vermelhos como o sangue.



Continua...

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