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terça-feira, 19 de julho de 2011

As Sete Princesas Orientais


Hoje, contarei a vocês a história de um mundo distante, de um reino distante, de um país distante, que era governado por sete belas princesas. Elas eram conhecidas como As Sete Princesas Orientais, e governavam tudo o que havia após o Vasto Mar do Leste, incluindo um arquipélago de ilhas chamado Conjunto Vermelho e um continente montanhoso enorme chamado Espinha do Dragão.
As Sete Princesas Orientais eram conhecidas por sua beleza, pelo seu charme, pela sua riqueza e pela sua extravagância, eram elas: Yuuko, Fumiko, Mitiko, Sakurai, Yoona e Makoto. Dizia-se por aquelas bandas que as princesas eram as últimas descendentes restantes de uma linhagem ancestral de seres meio humano e meio deuses que estiveram ali na criação do mundo e ajudaram a moldar as montanhas da Espinha do Dragão.
Cada uma das sete princesas reinava no seu próprio castelo, no topo da sua própria montanha, de frente para seu próprio vale.


Yuuko era a Princesa de Fogo, e morava no topo da montanha mais alta do vale do fogo, montava um longo dragão vermelho com cabeça de lobo e chifres de veado. Yuuko era conhecida pelo seu temperamento explosivo e pela sua longa katana, a espada dos samurais, que estava sempre suja de sangue. Os homens que tiveram a chance de deitar-se no mesmo leito que ela acabaram mortos na manhã seguinte, ou então nunca mais puderam deitar-se com outras mulheres. Todos eles contavam a mesma coisa: Yuuko era um demônio sexual e nunca ficava satisfeita. Era cultuada pelo povo que morava nas montanhas do vale do fogo como a deusa da guerra e da vitória, em sua homenagem eram feitos grandiosos festivais e bailes.


Fumiko e Mitiko eram as Princesas Gêmeas dos Ventos, e juntas governavam o maior de todos os vales montanhosos, o Vale da Neblina. Dizia-se que elas possuíam o poder de controlar as tempestades e falar com os anjos, podiam ficar invisíveis e andar sobre as nuvens e a névoa como se as mesmas fossem o próprio solo pedregoso das montanhas. Porém, apesar de governarem o mesmo grande vale, moravam em palácios diferentes em lados opostos, ligados apenas por uma pinguela de madeira. Por viverem em constante pé de guerra, os ventos no Vale da Neblina sempre sopravam muito fortes: uma procurava derrubar o palácio da outra e governar sozinha toda a região. Tinham como montaria longos dragões azuis de escamas cintilantes com cabeça de carneiro, exímias lutadoras, eram cultuadas pelos guerreiros como as deusas das artes marciais, eram as governantes do povo do Vale da Neblina.


Sakurai era a Princesa da Terra, de modo que controlava as florestas, os animais e o movimento das montanhas. Era a controladora dos terremotos e das avalanches, e de todas as irmãs era a mais calma de todas. Porém, não tolerava injustiça ou deslealdade, o que castigava com o seu esmagador poder. Assentada de seu trono em seu luxuoso palácio controlava o Vale dos Gigantes, um lugar verde e paradisíaco onde chovia todas as tardes e onde as moitas sempre estavam floridas, onde as árvores davam os maiores frutos da face da terra e onde coelhos ficavam do tamanho de cachorros, e lobos do tamanho de cavalos. O seu povo lhe era muito grato, e lhe presenteava ao final de todas as colheitas. Sakurai montava um dragão esverdeado com cabeça de veado e chifres floridos, no lombo do qual passeava pelo vale visitando os vilarejos no topo das montanhas sempre úmidas e agradáveis.


Yoona era a Princesa da Lua, e portanto controladora das marés e das águas, habitava seu palácio no alto da montanha mais alta do Vale das Águas, onde haviam cachoeiras, pântanos, lagos, lagoas, riachos e córregos intercalados por ilhas de um verde esmeralda cintilante onde o povo daquele lugar costumava montar suas casas. O vale era habitado por sereias, sílfides, peixes e tartarugas gigantescos e monstros aquáticos de todos os tipos, uns bons, outros maus. Yoona era conhecida pela sua beleza ímpar e assombrosa, capaz de hipnotizar multidões inteiras, seu poder de sedução era tamanho que fazia cair de amores qualquer homem que porventura cruzasse seu caminho, tinha seios fartos e curvas sinuosas, lábios de rosa e olhos de gueixa. De longe era a mais extravagante das irmãs, seus adornos de cabelo eram verdadeiras alegorias e seus quimonos verdadeiros mantos infinitos. Ostentava muita riqueza e era a portadora da magia lunar, de modo que nas noites de lua cheia seu poder chegava ao ápice e ela se tornava a mais forte de todas as sete irmãs. Montava um longo dragão branco com cabeça e orelhas de lebre.


A última e mais delicada das princesas é Makoto, a Dama de Lotus. Sua magia era fraquíssima, a mais baixa de todas, e seu maior poder era o de causar alucinações nos desavisados. Fora isso podia hipnotizar com o seu cheiro forte e a fumaça de seus incensos, além de curar com um simples toque. Ao contrário das outras irmãs, morava num palácio no centro do vale, entre as altas torres de pedra que circundavam seu território, abaixo até mesmo dos vilarejos do seu povo, que ficavam nas encostas e nos cumes. Seu vale era alagado como o anterior, por ser vizinho ao vale de Yoona, recebia grande parte da água que brotava de suas fontes, e isso alimentava as flores aquáticas daquele lugar. Sua montaria era um dragão de dorso prateado e peito verde, garras de falcão, cabeça de cachorro e chifres de veado. Por ser a Dama de Lotus propriamente dita, dispensa-se comentários a respeito da sua beleza, poucos admitiam por medo, mas chegava a ser até mesmo mais bela que sua artificial irmã Princesa da Lua, que roubava o brilho das outras como o astro noturno para brilhar à noite. Era de uma doçura angelical e sua voz era aguda como a de uma menina, tinha os cabelos da cor da avelã e grandes olhos castanhos.
Juntas, estas sete princesas administravam um reino tão grande, tão grande que nem elas tinham noção de onde começava e onde terminava, e foi este conhecimento parco a respeito das próprias terras governadas que deu início a uma guerra.
Aquele mundo era muito grande, de modo que vastos pedaços de terra selvagem ainda existiam e pouco se sabia a respeito deles. A Espinha do Dragão era um grande continente que possuía uma península mais ao norte. Esta península se estendia mar adentro e se pronunciava para o ocidente como um longo dedo indicador apontando para o Oeste. O grande problema aconteceu quando um terremoto causado pela fúria de Sakurai emendou a península ao Reino de Olen’. O Reino de Olen’ equivaleria à Rússia do nosso mundo, se ela fosse tão grande quanto Olen’!
Olen’ era conhecido ao redor do globo por ser uma terra fria, que estava constantemente coberta por neve em grande parte do ano. Os invernos eram longos e rigorosos, mas isso jamais era motivo para que o povo daquele reino perdesse o grande sorriso que levava no rosto: o povo de Olen’ era hospitaleiro, leal e muito alegre, as festas dadas pela família real eram as mais cobiçadas e comentadas, duravam meses inteiros e eram relembradas por décadas, séculos, milênios, e rendiam histórias de deixar os olhos brilhando, ansiando para que outra festa acontecesse!
Mas, voltando ao assunto em questão, um terremoto ocasional havia unido a costa sul de Olen’ com o extremo e desconhecido norte da Espinha do Dragão. Ambas as regiões eram pouco conhecidas por ambos os governos em atividade naquele momento: As Sete Princesas Orientas (que eram amigas íntimas da família real de Olen’ e sempre estavam presentes em todas as festas oficiais do reino vizinho) jamais haviam posto o pé na região norte de seu país, e o terremoto fora causado por Sakurai tentando fechar uma ravina que separava seu vale do vale de Yoona (a água que escorria de lá estava inundando as plantações do povo habitante de Vale dos Gigantes!), a energia mal canalizada acabou direcionando o terremoto que daria origem a uma nova montanha exatamente para o norte, o que empurrou a península rumo a costa sul de Olen’ (diz-se até hoje que um mosquito pousou no nariz de Sakurai naquele momento, e que este foi o motivo da sua má pontaria – diga-se de passagem).
Em contrapartida, Olen’ pouco ligava para as terras do sul. O povo daquele reino adorava o frio, a neve, as florestas fechadas, detestavam o calor, as praias, as palmeiras e as árvores tropicais tão espaçadas, de modo que a base do reino que ficava no sul ficou à mercê de um único duque e sua família – que coincidentemente eram os pais do atual rei de Olen’ que casara-se recentemente com a Rainha Solitária e lhe dera um filho – , duque este que viu-se sem saber o que fazer quando um pedaço enorme de terra pronunciou-se do oriente e derrubou parte de seu castelo num acidente que custou dois primos e um filho.
Aquele foi o estopim da guerra.
Pensou-se que o terremoto fora causado propositalmente, e para compensar os danos causados à família real, o rei sugeriu às Sete Princesas Orientais, suas grandes amigas, que cedessem aquele grande pedaço de terra – que antes era a península – para o território oficial de Olen’, de modo a perdoar a dívida do reino oriental para com a sua família.
Mas as princesas foram irredutíveis e negaram a culpa no acidente, defendendo a desastrada irmã Sakurai, e disseram mais: aquele pedaço de terra continuaria sendo parte da Espinha do Dragão porque assim o era desde o princípio dos tempos. O rei rebateu com o argumento de que aquela região sempre fora inabitada, e não custaria muita coisa a elas porque jamais fizeram questão daquele pedaço de terra. Aliás o terremoto destruíra um palácio milenar quase por completo e tirara a vida de três pessoas de sangue nobre! Era mais do que justo ceder a Olen’ aquele pedaço de terra desabitado, que ainda seria pouco perto do dano que fora causado ao reino.
O fato agora era que agora a Espinha do Dragão e o Reino de Olen’ estavam interligados por uma faixa enorme de terra firme que estava sendo disputada por ambos os governos. Assim a guerra começou.
O reino do oriente investiu em artilharia pesada: navios de guerra, dragões voadores, zepelins e feiticeiros poderosos trazidos dos cantos mais remotos do país.
Em contrapartida, Olen’ trouxe tecnologia do extremo ocidente para combater: os reinos que ficavam além do Vasto Mar do Oeste eram avançadíssimos nesse quesito, e possuíam máquinas extraordinárias criadas por exímios cientistas capazes de reviver até mesmo os mortos por meio de seus mecanismos semelhantes aos de um relógio comum. Estranhas naves voadoras movidas a vapor, tanques, canhões, catapultas e a boa e velha magia foram usadas pelos reinos do ocidente para defender a costa sul de Olen’. As Sete Princesas Orientais ficaram ultrajadas pelo que estava acontecendo: Olen’ estava sendo covarde aliando-se a outro reino para vencê-las, e como a própria Makoto vivia dizendo à Fumiko e Mitiko: “dois contra um não vale!”. Era hora de apelar.
Como foi dito no começo, pouco se sabia a respeito do que havia nas outras regiões inabitadas da Espinha do Dragão, mas Yuuko, geniosa como era, conhecia um pouco a respeito de tudo, e ouvira falar da terra perdida dos macacos, que ficava para além do gigantesco vale governado por Makoto. Este país desconhecido era habitado por macacos que haviam montado sua própria sociedade e viviam em verdadeiras metrópoles no meio da selva, mas com quem nunca houvera necessidade de contato anteriormente. Dizia-se que eles eram portadores de uma sabedoria a respeito da magia que excedia tudo o que era conhecido pela ciência e pela alquimia, logo Yoona ofereceu-se para as atividades diplomáticas.
Foi difícil achá-los no meio de toda aquela mata, mas assim que suas cidades e vilarejos foram encontradas, Yoona logo tratou de procurar pelo líder daquele estranho povo macaco. É claro que eles não resistiram ao poder de sedução da Princesa da Lua e se entregaram aos seus encantos. Quase instantaneamente, eles aliaram-se ao reino da Espinha do Dragão, e partiram rumo ao ocidente para lutar em defesa das sete belas jovens que estavam em apuros. O povo macaco era tão forte quanto rezavam as lendas, eles eram capazes de destruir os aparelhos sofisticados e vaporosos dos príncipes do ocidente com um único braço, e a magia deles era algo sensacional. As baixas foram muitas no exército de Olen’.
O rei até então não havia intervindo na guerra nenhuma única vez, e no momento em que ele decidiu botar o pé no campo de batalha, os príncipes do ocidente lhe ofereceram a última palavra no que se tratava de tecnologia de ponta para o apoio naquela batalha: o Gigante de Ferro! Uma criatura movida a vapor, totalmente artificial, humanoide, com poderosos e longos braços e pernas, um peitoral indestrutível equipado com todo o tipo de armas desde canhões até explosivos, que poderia ser controlada como um trator ou um carro qualquer!
O rei não hesitou e partiu para o campo de batalha montado em seu novo monstro de metal. Nem a magia nem os braços fortes do povo macaco eram páreos para a sua arma indestrutível, com ele à frente do batalhão, era muito mais fácil para os valentes combatentes que vinham logo atrás.
Mas tudo mudou no momento em que o Gigante de Ferro que soltava fogo pelas ventas e vapor pelas orelhas foi atingido pela chicotada da cauda de um dragão prateado. Era Makoto, a Dama de Lotus. Montada em seu dragão, ela havia vindo para defender o seu reino, e também ficara abismada ao dar-se conta de quem pilotava aquele monstro de metal, seu velho amigo de infância. O rei de Olen’ e a Dama de Lotus haviam se reencontrado após longos anos de distanciamento. Era verdade, os dois já se conheciam há muito tempo, costumavam brincar juntos correndo entre os convidados nas festas que eram dadas pelo pai do rei, o duque, naquelas mesmas areias das praias onde agora os exércitos se chocavam, quando os reinos rivais ainda eram aliados.
No mesmo instante, a guerra foi suspensa. Tratados foram feitos às escuras naquela noite e papéis foram assinados à luz das velas, a trégua durou uma semana inteira, e após aquele hiato, a guerra foi dada como vencida pelo ocidente, e o rei, como desaparecido. Ninguém soube o que havia acontecido de verdade, tudo ficara muito confuso após aquela tarde em que o dragão prateado e o monstro de metal bateram de frente, os dois líderes dos exércitos rivais cara a cara, pedindo por uma trégua mútua. No meio da confusão, com os batalhões retrocedendo, pessoas desapareceram. Entre elas, Makoto e o rei.
Dizem as más línguas que naquele momento de trégua o rei de Olen’ montou no lombo do dragão prateado e fugiu para muito além das terras dos homens-macaco com seu verdadeiro amor. Outros dizem que muitos acordos foram feitos durante uma semana inteira. Entre eles, foi decidido que o rei se casaria com a princesa Makoto em troca da paz entre os reinos, e para a família real ele seria dado como morto em campo de batalha. Alguns dizem que ele realmente morreu naquela tarde, que o dragão da princesa Makoto alimentou-se dele, mas isto pode ser apenas outro modo de interpretar mais uma metáfora, das muitas que são encontradas nestas estranhas histórias, sem pé nem cabeça...




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Apenas mais um conto de fadas, que complementa a história que está na página secreta deste blog. Os mais sábios já perceberam!

xoxo

L.M.




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