Bem vindos à minha fábrica de sonhos!

sábado, 21 de agosto de 2010

The Big Machine II - Parte Final!


- Mas como?! – Alberta lançou outra descarga elétrica em direção à garota desavisada, que pega de surpresa, voou longe, porém sem sequer levar o mínimo choque de tomada – como é possível?! Essa é a descarga mais alta de todas! Mataria 100 elefantes em menos de 30 segundos!
Maxine pôs-se de pé cambaleando, o escudo dobrou de tamanho e recobriu-a feito uma verdadeira carapaça negra de um escaravelho. Alberta continuava avançando e lançando mais e mais raios em direção à garota. A armadura estava absorvendo toda aquela eletricidade. Aquilo era fisicamente possível? Alberta estava a meio passo quando foi atingida por um verdadeiro trovão que a lançou para fora do salão branco da ESFERA. Ela grasnou alto feito uma gaivota.
Imediatamente, a liga metálica escura entrou em simbiose com as curvas e as formas do corpo esbelto de Maxine, tornando-se para a garota uma segunda pele, uma nova chance de vida, uma segunda consciência. Foi tomada repentinamente por uma força de vontade e uma sede de batalha totalmente desconhecida a pacíficas garotas adolescentes como ela, em seu peito, um coração celta batia, e diante dela não havia mais escuridão alguma que não pudesse ser iluminada pelo brilho de uma espada. Milhares de anos escorrendo da armadura para dentro do seu corpo. Ela se sentia bradando um sabre enquanto corria pelos campos verdes e banhados de sangue das ilhas da Bretanha, em direção ao inimigo voraz e violento, que ali naquele momento e naquele século psicodélico e metamórfico era representado pela imagem de uma cowgirl biônica de 64 anos chamada Alberta Veronese.
- Vamos dançar!
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- Operação Resgate Apocalíptico, estão me ouvindo? CÂMBIO! – gritava a voz nos alto-falantes dentro da cabeça do robô, onde uma menina gordinha e meiga de cabelos azuis pilotava sem um pingo de nervosismo.
- Eu estou ouvindo, Tio Pietro, não sou surda! – gritou Tifa de volta. A voz nos alto-falantes limpou a garganta – ah, desculpe, CÂMBIO SAMURAI NEGRO!
Outra voz gargalhou, dessa vez a gargalhada veio de cima.
- Dá pra se concentrar e ser um pouco mais profissional Miguel?! Estamos indo salvar o seu irmão!
- É que esse lance de codinome é muito ridículo! Que coisa mais ancestral!
- Ora, cale a boca Cebolinha Nº 2! – gritou a voz nos alto-falantes. Miguel se calou.
- Porque somos Cebolas? Poderíamos ser tomates, ou mesmo berinjelas! Porque cebolas?! – reclamava o garoto.
- Porque não temos tempo pra perder escolhendo codinomes, vocês já estão a meio caminho da cidade! – começou Pietro – Miguel! Você está encabeçando o compartimento remoto que pode ser deslocado do corpo principal do robô com um simples toque no campo amarelo na tela de touch-screen diante de você! Ele transforma-se numa mini-nave imediatamente, mas por enquanto trate de manter as suas mãos no colo para não se exaltar e fazer besteiras. TIFA!
- SOU EU! – riu a garotinha. – SOU EU!
- SIM, é você! Você é o cérebro da máquina, diante de você há três telas holográficas de onde você controla todo o sistema bélico do robô! Jamais toque nos fios que estão conectados ao capacete na sua cabeça, nas luvas e nas botas que você está usando! Eles controlam os movimentos do robô, por isso nada de gracinhas!
- Posso dançar hip-hop?!
- Nem pensar!
- Ah! Por favor!
- Quem sabe depois que sairmos dessa! – o velho Pietro gargalhou e continuou com as instruções – caso você queira voar, digite o código A5A-D3L7A na tela diante de você, duas asas vão se abrir e você vai parecer uma versão preta gigantesca do Buzz Lightyear!
- Adoro Toy Story! – riu a gordinha de cabelo azul.
- Agora é com vocês!
Nem bem a voz sumiu, Tifa atacou os controles, e em menos de trinta segundos o robô cruzava os céus do deserto em alta velocidade, espantando as criaturas que ali viviam nas ruínas e fazendo a poeira quente subir em nuvens amarelas, brancas e alaranjadas. Juntas vistas de longe, mais pareciam uma tempestade de areia mortal. Como um supersônico voando baixo, Tifa só acelerava em direção ao vulto negro da cidade de neon contra o céu azul rasgado pelas bombas das guerras, ignorando os gritos de um desesperado Miguel que pedia socorro enquanto chamava pela mãe e a xingava de louca. Não, Tifa estava pouco ligando, estava gargalhando alto, se divertindo à beça com toda aquela adrenalina, se sentindo poderosa e invencível, armada até os dentes, nem o muro intransponível de Neon City pararia a fúria do poder feminino da gordinha de madeixas azuis. Ela podia sentir o poder nas mãos dela. E era incrível.
- Esperem por nós, meninos, Max, Gabi e Nando, nós estamos chegando! – e mais gargalhadas. Tifa estava em surto.
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Uma espada brotou da mão da garota, manifestando-se a partir da armadura, e com um grito de guerra, ela partiu em direção à mulher ajoelhada de costas que levantava-se com dificuldade. Foi rápido demais para que os olhos de Maxine pudessem ver. Imediatamente a armadura eletrônica de Alberta Veronese entrou em modo de batalha, transformando-se esteticamente por completo num tipo de armadura romana de antes de Cristo, com direito a capacete, escudo e espada. A peculiaridade agora era que ela parecia bem mais jovial e mais robótica do que era antes, coberta dos pés à cabeça por titânio reluzente e carregado de eletricidade. A cada encontro dos metais furiosos das armaduras, dos escudos e das espadas pertencentes às duas ferozes mulheres de garra e coragem, trovoadas e relâmpagos inundavam o salão enchendo a atmosfera com uma tempestade artificial causada pelo embate de duas verdadeiras deusas da guerra. Como se séculos e mais séculos estivessem se repetindo num futuro não tão distante em que máquina e homem caminham lado a lado como iguais, e que raça, cor e classe social não sofrem diferenciação perante as leis dos homens, das máquinas e de Deus. Num mundo tão diferente, a mesma cena se repete como há milênios atrás. Uma verdadeira luta de gladiadoras sanguinárias nas areias banhadas pela morte do Coliseu de Roma. Agora transferidas para uma época diferente, para um lugar diferente, para um mundo diferente. Armadas e poderosas com todos os artifícios que a tecnologia poderia lhes proporcionar.
- Você acha que vai sair viva dessa, Maxine Fernandes?! Nem seu avô sobreviveu à minha vingança! – gargalhou a velhaca diabólica. Maxine desconcentrou-se e levou um golpe na cabeça, indo parar a metros de distância da mulher que correu feito um animal bradando agora uma clava em sua direção. A garota rolou para longe o mais rápido que pôde, e então a clava acertou o chão levantando cacos de azulejo, pedra e poeira formando uma cratera. Descargas elétricas atingiram as paredes com violência.
- Do que você está falando?! – foi a vez de Max atacar com uma cotovelada na nuca da vilã que cuspiu poças de sangue cambaleando até a parede no escuro, gargalhando em meio à dor.
- Seu avô! Christopher Umbrella, aquela bichona metida a intelectual! ESTÁ MORTO!
O peito de Maxine inflou e queimou em cólera e fúria, um rosnado formou-se ali dentro e ela urrou feito uma leoa feroz. Jamais sairia dali sem ver a cabeça da maldita Alberta-Homem rolando pelo chão, ensaguentando todo o salão branco. Poderia humilhar e xingar quem quer que fosse, mas que JAMAIS mexesse com alguém da sua família. A família era o berço da criação, era o que a jovem Maxine mais prezava acima de tudo, a família. E o seu avô era aquele que ela mais amava em todo o mundo. Alberta Veronese havia tocado no ponto mais fraco de Maxine. Aquilo renderia uma batalha ainda mais interessante e sangrenta.
Um chute banhado à sangue e lágrimas lançou a velha Alberta aos ares, um pulo de gato alçou Max para o alto e um golpe de espada fez Alberta descer ao chão feito um meteoro, abrindo uma cratera maior ainda no meio do salão, perigosamente próxima ao ovo branco de brilho espectral azul.
- JAMAIS, JAMAIS FALE O NOME DO MEU AVÔ DE NOVO, SUA VELHA IMUNDA! VOCÊ NÃO TEM O DIREITO! VOCÊ NÃO O CONHECE! – ergueu-a e lançou-a ao alto outra vez. De lá, a velha Alberta lançou uma descarga elétrica tão poderosa que poderia ter deixado Maxine desacordada, mas não, a Witchblade estava protegendo-a, ela não era mais uma mera mortal, era a guerreira celta do novo milênio, era Maxine Fernandes.
- Conheço-o o bastante para saber que ele não valia nada, assim como eu, assim como você! Sua pivete miserável! E agora ele está morto, MORTO! Não sobreviveu aos ferimentos e chegou à delegacia MORTO, e ainda está lá, com seu pai e sua mãe do lado! – Alberta gargalhou, maléfica como nunca – os pobrezinhos ainda acham que ele vai acordar! BANDO DE IMBECIS! IMBECIS!
Maxine rugiu feito um animal selvagem e voou em direção à mulher que esquivou-se. A jovem abriu um buraco na parede, e de lá tomou impulso em meio à poeira. Sua espada triplicou de tamanho tornando-se um verdadeiro sabre. Alberta ainda gargalhava quando a arma atingiu o titânio da sua armadura romana biônica e por pouco não arrancou seu braço. A íris dos olhos de Maxine estavam vermelhas.
- Mas como isso é possível?! – resmungou a velha Alberta, sentindo o ferimento profundo que haviam lhe infligido.
- Esse metal não é da terra, o metal da minha armadura – Maxine pousou feito uma garça negra, tomada agora totalmente pelo espírito de guerra que possuía a Witchblade. – mas não cabe a você saber mais sobre ela, sua mortal indigna! Acha que esse titânio enriquecido que Maurice Lispector te deu vai te salvar de mim?! NUNCA! Saiba que a esta altura o mundo que Maurice Lispector regia com a sua The Big Machine desapareceu do cosmos, porque era uma realidade alternativa errada, as equações que levavam a ela estavam erradas! Christopher Umbrella e seus companheiros o derrotaram naquele mundo viajando através do tempo e do espaço, assim como a neta dele e seus amigos a derrotarão aqui nesse, sua bruxa imunda e encarquilhada!
- NUNCA! – Alberta Veronese lançou-se até a jovem, mas foi repelida por uma estranha força. Maxine gargalhou, já não era mais Maxine.
Não a mate!
Disse a voz.
Não a mate! Não deixe que a manopla celta domine sobre a sua humanidade, Maxine Fernandes! Não se iguale a ela! Não se iguale a Alberta!
A íris dos olhos de Maxine voltou a cor normal, e ela caiu de joelhos. Desacordada.
- Chegou a minha vez! – Alberta encheu o peito com o último resquício de suas forças. A armadura de titânio sobrecarregada e enriquecida estava enfraquecendo, o metal estava endurecendo, era hora de dar um ponto final àquele joguinho de criança, era hora de tirar aquele homem de dentro do ovo e assumir o lugar dele. Era hora de dominar o mundo. Mas não antes sem acabar com a vida daquela garota, agora indefesa e desacordada. Era hora do golpe mais baixo e mais mortal de todos, o futuro daquele mundo estava nas suas mãos. Ela ergueu sua clava, rodando-a no ar enquanto fagulhas azuis dela escapavam. – Chegou a hora de se juntar ao seu avô! Maxine Fernandes!
Foi então que algo inesperado aconteceu, algo que fez Alberta parar o que estava fazendo para olhar para o alto e se deparar com um teto que rachava aos poucos, como se cavoucado por cima por algo relativamente grande e rápido. Foi então que uma broca surgiu, uma broca de diamante puro, mais poderosa e mais forte que qualquer metal terrestre. Pois é sabido que para arranhar um diamante, só outro diamante. A broca então foi seguida de um braço mecânico negro gigantesco, e após isso outro braço mecânico enorme surgiu forçando a abertura do buraco. A esta altura, todo o salão estava repleto de escombro e poeira. Foi quando um enorme robô desceu com tudo, caindo com um estrondo tremendo e gigantesco que fez rachar tudo ao redor.
- Nossa, nossa! Puxa, puxa vida! – ria uma voz animada vinda de dentro da máquina – nunca poderia imaginar que a sala de controle central da ESFERA ficasse bem debaixo da escola! Que máximo! Nós andamos sobre a ESFERA todo esse tempo! Quer dizer, estava a milhares de metros de profundidade, mas ainda assim...
- MAS O QUE SIGNIFICA ISSO?! – gritou Alberta. Tifa se assustou dentro da máquina e imediatamente entrou em modo de batalha, transformando seus braços em dois potentes canhões atômicos.
- AH! ALBERTA VERONESE! – as armas estavam apontadas para ela – VIEMOS ACABAR COM VOCÊ, SUA MEGERA! – rugiu a voz feminina de dentro do imponente robô negro. – SOLTE MEUS AMIGOS E PERMITIREMOS QUE VOCÊ VIVA!
- É ISSO AÍ! – disse uma segunda voz masculina, vinda também de dentro do robô.
- Mas que diabos... – Alberta não terminou a frase, foi capturada por um braço extra do robô, totalmente revestido de borracha, como se feito para capturá-la e impedir as descargas elétricas. Foi naquele exato momento em que o mundo de Maurice Lispector virou um vazio eterno, e então tudo o que ele havia criado naquela realidade tornou-se nada e desapareceu como se nunca tivesse existido. Para desespero de Alberta Veronese, sua armadura estava incluída nesse meio cujo fim foi repentino e surpreendente. – OH MEU DEUS! EU ESTOU NUA!
As vozes dentro da máquina gargalharam.
- OLHA SÓ MIGUEL! ELA É CARECA! ELA É CARECA! – ria Tifa.
- AI NÃO! AI NÃO! MINHA PERUCA! MINHA PERUCA! – Alberta levou as mãos à cabeça lisa e branca, toda enrugada. Jamais havia passado por tal humilhação tremenda. Os cabelos loiros e encaracolados da boiadeira Alberta estavam perdidos agora entre os escombros ali embaixo. – MINHA LINDA PERUCA! NÃO! NÃO!



A luz do sol entrava fraca pelas falhas do teto. Lá na superfície era meio dia.
Fernando e Gabrielle entraram no salão carregando as velhas de guerra, Ray e Elly, abatidas e cansadas pelo esforço que fizeram. Maxine acordara então de um pesadelo para um sonho, um sonho de final cômico e inesperado onde uma velha cruel e maligna se balançava pra lá e pra cá num cipó de borracha completamente nua e careca. Os amigos se abraçaram às lágrimas, aliviados e cobertos por uma paz tremenda, felizes por terem sobrevivido às duras penas sem amargar o futuro. Estavam reunidos, iluminados pelos resquícios dos raios de sol de um meio dia confuso e aéreo para pessoas que percorriam as ruas apagadas da cidade de neon, completamente parada no tempo por um blackout como nenhum outro. Foi então que doze horas em estado de animação suspensa foram cumpridas, e o ligamento automático do sistema mundial foi acionado. A ESFERA entrou em ação novamente...

(...)

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